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4. PORTAL LITERAL E PARALELOS: ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS NA REDE

4.1.1 Interações e hipertextualidade

Como se observa, a própria maneira pela qual se estrutura o Portal Literal indica múltiplas possibilidades de entradas para o internauta: do professor ou estudante que está em busca de maiores informações sobre um dos escritores, ao jornalista que quer ver alguns inéditos desses grandes autores, passando por internautas que se interessam pelas últimas notícias do mundo literário. Heloisa Buarque de Holanda chama a atenção para o fato de que não se tem, no impresso, a possibilidade de “entradas” tão diversas. No caso do impresso, a questão da escolha de uma fonte específica de informação (de qual jornal será lido pela família etc) limita a quantidade e a variedade do público leitor. Há, nesse meio, fidelidade a uma determinada publicação, competição que não se verifica na web, entre os sites que produzem jornalismo sobre literatura. Logicamente as preferências continuam a demarcar territórios, mas não excluem a diversidade de fontes de informação para um mesmo leitor.

Com isso, fala-se através do Portal Literal com um público bem variado que o lê por motivos bem diversificados. Além disso, o Portal Literal Literal é, dentre os sites que trabalham o jornalismo sobre literatura, manifestamente um portal que se preocupa em explorar as potencialidades da narrativa hipertextual. Além dos links espalhados pelo texto, as conexões com sites parceiros ou outros determinam sua presença em vários “nós” da rede, chegando a um total de 31 sites, segundo sua editora, a jornalista Cristiane Costa73.

As mudanças na concepção do texto para a web são, para os profissionais do Portal Literal, uma preocupação central. Ainda que no início a questão tenha ficado um pouco de lado, principalmente pela pouca experiência profissional com o meio, com o passar do tempo e a renovação da equipe, escrever reportagens, resenhas etc passou a incluir a atividade de pesquisa e busca de sites que complementassem o texto, que oferecessem mais informações ao internauta.

Você tem a preocupação com o hiperlink. No jornal você coloca uma foto e pronto, tá ilustrada a matéria. Na internet você não precisa tanto da ilustração, uma coisinha pequena resolve. Mas a sua matéria tem que puxar para outros lugares...Você (jornalista) precisa saber de outros endereços porque ela também é um serviço. A própria matéria é um serviço(...) A matéria não pode ser fechada74.

Em 3 de março de 200575, o Portal Literal publicou uma matéria intitulada “Tecnosubversivos” que, ademais de apresentar uma temática bastante atual e por isso mesmo bastante incomum nos sites de jornalismos sobre literatura, oferecia ao internauta a chance de explorar através de links dispersos pelo texto ou ao final deste, algumas referências trabalhadas, bem como de se aprofundar na questão visitando uma boa seleção de sites que discutem o tema.

Essa interatividade advinda da estrutura do hipertexto é, pode-se dizer, essencial, se o que se pretende é reconfigurar a estrutura do texto jornalístico sobre literatura na web. Isso porque se torna possível que um texto se faça mais “compreensível” aos olhos de internautas mais ou menos ilustrados no tema abordado. A partir do momento em que conceitos-chave podem ser esclarecidos se acessado um determinado link, o texto passa a não ser redundante

73A seção “Blogteca, por exemplo, se encarrega de dar ares de novidade a um Portal “pesado”, carregado pelas

figuras dos autores consagrados. É um convite à literatura de blogs e novos escritores que publicam pela ou através da Web. Consequência direta é o fato desses blogs se reportarem também ao portal através de links, principalmente.

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Entrevista na íntegra com Cristiane Costa, editora do Portal Literal, no anexo B.

para aquele que está familiarizado com determinado conceito (uma vez que este não acessará o link) e ao mesmo tempo mais informativo para aquele que pela primeira vez toma contato com determinado assunto ou personagem do ambiente literário. Logicamente não se está, com isso, supondo que a compreensão do texto possa se dar apenas com uma “colagem” de pequenas definições, mas certamente colabora na interpretação e aquisição de conhecimentos transmitidos no texto.

A primeira conseqüência visível disso é a modificação do próprio texto, que pode ser menos “explicativo” em muitos aspectos, inclusive valendo-se dos recursos multimídias que a internet permite e que podem favorecer a compreensão e memorização do assunto tratado. A editora do Portal Literal expõe, na prática, como isso altera o trabalho jornalístico:

Você tem muito mais vocabulário narrativo na internet. Você trabalha com hipertexto, você pode trabalhar com tudo. Se você faz uma matéria sobre um seminário e coloca arquivo sonoro, você precisa falar menos, porque uma coisa é um cara lendo o jornal e explicando o que foi aquilo e outra coisa é você ouvir o sujeito falando(...)O leitor, o internauta, tem a experiência ao vivo, e isso é uma tendência...

No Portal Literal, a interação com os leitores efetivamente tem diversificado suas formas. Não apenas explorando a liberdade de construção de conteúdo, mas também por meio da multimídia, como a recém-inaugurada “TV Literal”, que oferece vídeos com entrevistas, uma rádio administrada por Luis Fernando Veríssimo e a oferta de uma oficina literária, da qual participam ativamente muitos leitores. A participação dos internautas nas discussões é possível em mais de uma seção: no “Pardeão”, “E-mail dos leitores” e no próprio “Exercícios Urbanos”, que é um espaço para publicar a própria literatura de quem lê o Portal Literal76.

A nota explicativa que aparece no link da TV Literal, no site do Portal Literal, define bem o papel desse recurso multimídia utilizado: “Uma coisa é ler uma entrevista com um autor. Outra é ver o entrevistado, acompanhar suas reações, perceber o tom de sua voz”. Neste sentido, pode-se dizer que se trata de características típicas do jornalismo televisivo. A internet, aqui, é aproveitada no sentido de efetivamente funcionar como uma mídia que

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No transcurso da produção deste trabalho o Portal Literal aprofundou a exploração de recursos multimídias e tem aumentado os recursos de interface com o leitor. A rapidez nas mudanças e adaptações é mais uma característica diferenciadora permitida pelo meio digital em comparação ao impresso. A resposta às mudanças feitas para atender às necessidades do internauta são mais efetivas e não implicam necessariamente numa reestruturação de toda a publicação, podendo ser realizadas eventuais correções específicas.

converge inclusive os interesses mais diferentes em um mesmo ambiente. Dos textos mais longos e analíticos (típicos de revistas de crítica literária etc), “pílulas” de informação (presentes na grande maioria dos sites espalhados pela rede), entrevistas com áudio e vídeo (produção televisiva), edição e transmissão musical (produção radiofônica) etc, os leitores, telespectadores, ouvintes e demais “receptores tradicionais” de informação, podem se sentir contemplados em suas preferências comunicacionais e, ao mesmo tempo, experimentar diferentes maneiras de se consumir um determinado assunto, como o jornalismo sobre literatura.

A discussão da interatividade também perpassa a questão da conquista de novos internautas. No ambiente digital, esse aspecto passa a ser uma preocupação também entre os jornalistas, ao contrário do impresso, no qual busca-se, principalmente, conquistar leitores através de iniciativas de departamentos de marketing. Como afirma Cristiane Costa, “no impresso, o editor não tem que pensar nisso (em como chamar novos leitores). No impresso o editor não tem interatividade, que é um conceito caro aos sites, quanto mais interatividade você tive, melhor, quanto mais você puder se comunicar com o leitor, melhor”. Criação de oficinas literárias, produção de newsletters, parcerias com sites e promoções passam a ser atividades idealizadas e realizadas pelos próprios jornalistas do Portal Literal.

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