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4. PORTAL LITERAL E PARALELOS: ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS NA REDE

4.1.2 Pautas e objetivos

Como na maior parte dos sites, os profissionais que atuam no Portal Literal desenvolveram suas carreiras no meio impresso e são consagrados por tais atividades. Dessa forma, pode-se dizer que foi decisivo para a escolha desses profissionais sua credibilidade nesse meio como forma de garantir, em um ambiente de excesso de informações dispersas e com poucos “filtros” qualificados, o diferencial necessário para atrair a atenção dos internautas.

No caso do Portal Literal, os editores responsáveis pela publicação vieram da grande mídia – o jornalista Luis Fernando Vianna, o primeiro editor, trabalhava no caderno cultural do jornal O Globo e Cristiane Costa que assumiu o Portal Literal em 2004 desenvolveu atividades no Globo e Jornal do Brasil. Segundo Heloisa Buarque de Holanda, desde o início buscou-se que esses profissionais fossem jornalistas.

A Idiossincrasia é uma revista on-line. Há o compromisso de pauta, da notícia, do artigo, da resenha, das notas de

lançamento, da atualização diária. O perfil é de uma revista impressa, uma revista que vem impressa e que nós damos um ar de virtual. Mas é uma revista on-line. É amarrado em notícia, manchete(...)Se fosse um escitor não ía dar certo. Tem que ter um timing, redação, a prática de notícia, entrevista. Um escritor jamais faria isso. Faria algo mais lento.77

Tal idéia vai de encontro a muitas opiniões que acreditam que a internet trouxe justamente um espaço menos rígido no que diz respeito ao necessário exercício de funções como essa por parte de jornalistas. Para Luis Fernando Vianna, as técnicas jornalísticas podem ajudar a estabelecer uma idéia de hierarquia, prioridades e, dessa forma, colaborar para a edição, mas não é uma opção fundamental.

A atividade de articulação com o meio literário , bem como com as demais áreas nas quais o exercício do jornalismo se dá, representa uma das principais funções da profissão. Propor a pauta é tão importante quanto conhecer os nomes indicados para compor a matéria, o que, em alguns casos, muitas vezes pode ser exercido por um escritor ou entusiasta e conhecedor do assunto e não necessariamente um jornalista. Na análise do site Paralelos, tal fato será verificado com maior clareza.

Ponto pacífico entre os profissionais do Portal Literal é a maior liberdade que o profissional tem ao escolher as pautas a serem oferecidas aos internautas. A lógica da inserção das grandes empresas de comunicação numa cadeia de consumo cultural é apontada como a principal limitação para o desenvolvimento de determinados assuntos na mídia impressa ou televisiva. Nos suplementos sobre literatura a questão é ainda mais desanimadora, uma vez que há a necessidade de se resenhar ou criticar a enxurrada de publicações, filmes, discos etc que são enviados para os editores todos os dias. Muitas vezes, a própria presença necessária dos anunciantes amplia ainda mais a lista do que precisa ser incluído na pauta do dia.

Dessa forma, há a preocupação por parte dos profissionais que editam o Portal Literal em inovar, aproveitar o espaço da web para discutir outras questões, apresentar novos escritores e convidar, com mais liberdade, os colaboradores mais diversos e especializados para falar sobre os temas78.

O jornal está muito amarrado – ainda que nos últimos anos tenha havido uma tentativa de reação – a uma cadeia de consumo. Logo nós, jornalistas, temos que informar aos leitores

77

Entrevista na íntegra com Heloisa Buarque de Holanda no anexo C. 78

A única preocupação por parte do patrocinador do Portal (a Petrobrás) diz respeito ao número de page views ou visitações que o site obteve. Dados do último trimestre analisado indicam que cerca de 1.400.000 páginas do Portal foram visitadas.

as opções culturais que eles têm. A internet não tem essa necessidade. Você pode até fazer sites que tenham essa preocupação de manter atualizado o internauta quanto aos lançamentos, mas na verdade não tem nem porquê. Não tem como e não deve competir com os jornais. É uma outra coisa. Há maior liberdade de temas, de abordagem dos temas (mais agressivo, mais adjetivo)(...) Os sites sobre cultura e as pessoas que vão até o Portal estão buscando outras coisas sobre cultura, coisas diferentes, pessoas diferentes, abordagens diferentes.

Por que você tem que cobrir coisas como novelas e as demais variedades pseudo-culturais se já há tantos jornais e revistas fazendo isso?O que você vai acrescentar? Se você quer entrar na seara aonde os jornais impressos já estão, então que você entre com um olhar diferente. Se não, foge! Aí não é nem jornalismo,você só está oferecendo pílulas para compor esse mosaico de amenidades que você vê hoje79.

Pode-se dizer que, de certa forma, o jornalismo sobre literatura na web está ampliando o papel do jornalismo no segmento literário, ao desenvolver temas de análise e (re)descobrir campos de atuação e de interesse do público leitor. A maior parte dessas descobertas não são aproveitadas pelas mídias tradicionais, mas já é grande o número de matérias e temas que são posteriormente analisados e publicados pelos jornais. Ou seja, há cooperação entre esses dois meios, que se enxergam atualmente como fonte de consulta e sugestão de pautas, inclusive. No caso do Portal Literal, a cooperação também se deu no sentido inverso: foi no impresso que se consagraram os cinco grandes nomes que atualmente são responsáveis pela atração de público para o site na web por representarem nomes que garantem a “oficialidade” do Portal Literal, adicionando valores como tradição e confiabilidade.

Dessa forma, baseando-se nessas noções do que não ser e do que se deveria buscar, o Portal Literal apresenta, segundo Cristiane Costa, a proposta de, resumidamente: “não ser um caderno de resenhas, não ter preocupação com o que está sendo lançado e sim com o que ainda vai ser notícia” (na parte da revista eletrônica, a Idiossincrasia respondem por esse objetivo, especificamente, a seção “De olho neles”, “Exercícios Urbanos” etc) e “trabalhar muito a literatura off-line” (representada pelos sites dos escritores).

Recentemente tem-se buscado também ampliar o espaço dado às novas gerações de escritores, que se originaram nos blogs, fanzines etc. É também notória a preocupação do Portal Literal em publicar matérias que discutam as inovações e potencialidades da própria

rede. Seja através das oficinas (recentemente, por exemplo, foi oferecida uma oficina sobre como fazer uma narrativa não-linear) ou pautando reportagens e entrevistas sobre o tema.

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