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2 Capítulo II – Revisão Bibliográfica

2.2 Relação escola-família: conceitos e interacções

2.2.3 Interacção escola / família

As relações estabelecidas entre a escola e a famílias, desde algum tempo, têm vindo a ser prestigiadas, principalmente por alguns pais e professores, talvez por terem tomado consciência que este tipo de relações, se foram bem sucedidas, poderão ser benéficas para o desenvolvimento do processo educativo, assim como para o sucesso educativo dos alunos. Segundo Ballion (1982: 132), “os pais estão cada vez mais convencidos da importância da Escola para o futuro dos filhos”. No dizer deste mesmo autor, “é muito mais elevado o número destes pais que se interessam pelos resultados escolares dos seus filhos do que o que se verificava no tempo dos seus próprios pais” (Ibid: 133). Talvez os pais de hoje tenham tomado mais consciência da importância e da responsabilidade que eles têm perante a escolarização dos seus filhos.

Uma vez que depois de qualquer criança atingir a idade escolar, a “família e a escola partilham a tarefa de a educar e socializar” (Montandon, 1991: 99), tornar-se-á benéfico e aconselhável, para uma boa integração e desenvolvimento da criança, que as relações entre a família e a escola sejam o mais amigáveis e cordiais possíveis, para que haja colaboração, coordenação e continuidade na educação e socialização da criança. No entanto, “o envolvimento dos pais na educação dos filhos é uma temática que nasce da insatisfação com a escola pública e ganha cada vez mais importância na procura de soluções para modificar essa situação” (Villas-Boas, 2002: 148).

Segundo Marques (1993 a): 33), “a melhor maneira de criar continuidade entre as escolas e os valores e culturas das famílias é abrir as escolas aos pais, criar espaço para eles se reunirem, proporcionarem comunicação frequente, tratá-los como verdadeiros membros da comunidade educativa e dar-lhes a conhecer o currículo escolar”. Nesta perspectiva, os pais sentir-se-iam mais uma parte integrante e necessária ao processo educativo. É neste sentido que “os professores esperam, também, que os

pais contribuam para que os filhos sejam bem comportados na escola e desenvolvam atitudes favoráveis à aprendizagem” (Ibid: 30). Esta pretensão, por parte dos professores em relação aos pais, poderá ser posta em prática se a família passar mais “tempo com os filhos, conversar com eles sobre o que fizeram na escola, encorajá-los a cumprirem os deveres e adoptarem, na escola, formas de comportamento correctas” (Ibidem).

No entanto, estudos realizados em Portugal, por Davies em 1988, “mostraram que a comunicação entre a escola e os pais é pouco frequente” (Ibid: 40). Os dados recolhidos mostram que “os professores tendem a assumir uma atitude culpabilizadora dos pais difíceis de envolver no processo educativo” (Ibidem). Todavia, os problemas que a relação escola-família possa desencadear não serão todos por culpa dos pais. Bastantes poderão vir do próprio sistema que decide muitas das questões (programas, avaliação, formação etc.) antes de chegarem ao conhecimento quer dos professores ou dos pais. Algumas dessas questões serão desencadeadas pelos próprios professores que, devido à pouca autonomia que já têm (a gestão da sua sala de aula), não se encontram tão abertos a encarar os pais como parceiros no acto educativo, constituindo mais um problema que os pode afectar (Silva, 1993). Também a comunicação professor/escola com os pais não é fácil e eficaz para a generalidade, uma vez que “as estratégias de comunicação utilizadas são mais eficazes com os pais da classe média do que com os pais pertencentes a grupos sociais desfavorecidos” (Ibid: 91).

Embora, como referimos, a relação escola-família possa ser susceptível de apresentar alguns problemas, pensamos que os pontos positivos dessa relação superam, em muito, os pontos negativos, uma vez que “quase todos os estudos concluem que uma boa relação entre a escola e os pais é uma variável de peso no aproveitamento escolar” (Marques, 1993 c): 107). Portanto, uma boa relação entre a escola e a família, em que ambas as partes se encontrem seriamente empenhadas, é um factor muito importante para o sucesso educativo dos alunos e para a consequente melhoria do ensino.

Tendo-se dado, de há uns anos a esta parte, uma importância significativa às relações da escola com família, alguns autores já escreveram sobre o assunto, e “salientaram o benefício resultante das interacções professores-pais para a escolaridade dos filhos” (Montandon, 1991: 31).

Todavia, o tipo de contactos estabelecidos entre os professores e os pais está dependente de determinados factores, como “a formação dos professores, a sua experiência, o tamanho e organização das escolas, bem como o estatuto social dos pais ou o seu nível de instrução, (...)” (Ibidem). Montandon, no estudo que fez em Genebra,

verificou que “os contactos com as famílias variam conforme a idade dos professores e o grau que eles leccionam” (Ibidem) e verificou, também, que “quanto mais jovens são os professores maior número de reuniões de pais organizam, enquanto que os mais velhos mostram uma preferência pelas conversas individuais” (Ibidem).

Os tipos de contactos que os pais têm com os professores dos seus filhos podem assumir diversas formas, como “encontros individuais ou em grupo, formais ou informais, por iniciativa dos pais ou dos professores” (Ibid: 32). Será conveniente referir que se entende por contactos formais encontros e reuniões para os quais foram convidados e por contactos informais conversas fortuitas, telefonemas, encontros em espectáculos, etc.

Os contactos individuais poderão assumir um carácter formal ou informal, tomando eles a forma de entrevistas (marcadas pelos professores ou pais) ou de conversas informais em qualquer sítio que se encontrem que o permita, respectivamente. Uma grande maioria dos pais considera estes tipos de contactos positivos. Poder-se-á dizer que existe um maior conhecimento da situação e ambas as partes ficam informadas com mais pormenores da situação e poderão assim tirar melhor proveito.

Os contactos colectivos formais são recomendáveis e úteis em determinadas situações, como no iniciar dos anos lectivos. Terão mais um carácter informativo de ordem geral, ainda que os pais, na sua generalidade, os considerem úteis. Os contactos colectivos do tipo informal são considerados positivos pelos professores (Montandon, 1991).

Será, portanto, a partir do tipo de contactos estabelecidos entre a família e escola que a participação dos pais se poderá desenvolver progressivamente.