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3 O PERCURSO DA COMPLEXIDADE E DA TRANSDICIPLINARIDADE

3.3 Transdisciplinaridade: articulação aberta entre os contrários

3.3.4 Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade possui uma maior variação de conceitos, existindo um pluralismo de sentido (SUANNO, 2015; FAZENDA, 2008) e “conflitos de interpretações” (GADOTTI, 1999, p. 5). Para Fazenda (2008, p. 22) “a pesquisa interdisciplinar somente torna- se possível onde várias disciplinas se reúnem a partir de um mesmo objeto”, que ao ser problematizado, possa convergir para uma pesquisa que denota o sentido da questão-problema e não para uma resposta estática e final como uma verdade intacta. Para isso, é capital que a “ideia de projeto nasça da consciência comum, da fé dos investigadores no reconhecimento da complexidade” concernente à problemática, consequentemente, ao projeto e ações empenhadas na busca por respostas, cientes de que novas questões surgirão, por isso, ampara-se na “disponibilidade destes em redefinir o projeto a cada dúvida ou a cada resposta encontrada” (FAZENDA, 2008, p. 22).

Gadotti (1999, p. 2) entende que a “interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas”, e exprime proximidade com Suanno (2015, p. 107) a qual expressa que a “interdisciplinaridade demanda interação entre duas ou mais disciplinas na busca da superação da fragmentação do conhecimento” bem como informa que a

“Sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; cooperação, mas sem coordenação” (SILVA, 2002 apud SOMMERMAN, 2003,

p. 88).

interação interdisciplinar pode se construir a partir da comunicação de ideias de uma disciplina a outra ou da integração mútua dos conceitos da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes à pesquisa e ao ensino (SUANNO, 2015, p. 107-108).

Esse pensamento coaduna com o que afirma Nicolescu (1999, p. 52), em que a interdisciplinaridade “diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra”. Este autor ainda distingue três graus para a interdisciplinaridade: a) um grau de aplicação, quando se transfere métodos de uma disciplina à outra, por exemplo, no ensino de geografia, utilizar-se de noções conceituais da matemática acerca de espaço, de modo a aplicar esse conhecimento; b) um grau epistemológico, quando a transferência do método de uma disciplina a outra contribui para análises no campo do fundamento do conhecimento, como por exemplo, o uso da lógica formal no direito, e c) um grau de geração de novas disciplinas, quando ao se transferir métodos de uma disciplina a outra, gera um novo parcelamento do conhecimento, como por exemplo, os fundamentos da matemática para explicar fenômenos da natureza relativos à meteorologia, colaborou para o surgimento da teoria do caos.

Nicolescu (1999) ainda expressa, que embora a interdisciplinaridade busque superar as barreiras disciplinares, ultrapassando-as e de modo corajoso, ousando andarilhar pelos territórios proclamados pelos muros limítrofes de cada parcela de especialidade, sua finalidade ainda se encontra circunscrita na pesquisa disciplinar, podemos mesmo contribuir para gerar mais especializações, tendo em vista o seu terceiro grau.

Suanno (2015) ao citar Gusdorf, nos informa que a interdisciplinaridade pode ser entendida como uma busca pela totalidade do conhecimento, posto que a expressividade desmedida de especialização torna a visão do todo limitada, deixando turva a compreensão de sua relação com o mundo. Nesse sentido, Schimidt Neto e Petraglia (2010), também corroboram com a ideia de que a inter busca a totalidade do conhecimento e entendem que ela se dá nos limites das disciplinas, e ainda sinalizam que valoriza a condição de interação no contexto, no todo, ou seja, busca compreender o objeto em seu contexto, e conforme ressalvam, talvez essa noção até questione o princípio de identidade presente na lógica clássica, ao conceber as singularidades do objeto num contexto específico.

Schimidt Neto e Petraglia (2010), ao pontuarem a questão do princípio da identidade, utilizam-se da metáfora do rio para ilustrar o conhecimento interdisciplinar sobre este, e dizem que ao olharmos para qualquer rio, o Tocantins por exemplo, sabemos dizer que é um rio, mas se o observarmos em seus diferentes estágios: de nascente até sua foz, visualizamos seus diferentes contextos, a nascente é diferente do corpo do rio, assim como da foz, e o momento

de sua desembocadura, onde as águas do rio se encontram com as do mar, já não torna possível identificar onde rio é rio e onde mar é mar, este é um momento de grande interdisciplinaridade, por isso, é que se posicionam dessa forma ao princípio de identidade que afirma que: rio é rio, e mar é mar, em que também se fazem presentes a Não-contradição, onde o rio não pode ser sua negação, Não-Rio, ou seja, ele não é mar; e o Terceiro Excluído: ou é rio ou é mar, o que encerra o rio em uma visão dicotômica e fragmentada.

Se considerarmos a assertiva de Heráclito de que não nos banhamos duas vezes nas mesmas águas de um rio, referendamo-nos, desta forma, à mudança, às relações e interações que possuímos com o meio, o contexto.

Desse modo, a constituição da lógica clássica de pensamento, que em seu silogismo aponta os três princípios ontológicos: o da identidade (A é A e não outra coisa), da não contradição (A não é NÃO-A, A não pode ele mesmo e sua negação), e o Terceiro Excluído (A não pode ser e não ser ao mesmo tempo, não existe um termo intermediário, ou é isto ou aquilo, o que não é verdadeiro, é falso, contudo, não explicita o que é falso ou verdadeiro). Temos que esses princípios trazem uma compreensão do objeto do conhecimento fora do espaço e do tempo, considerando-o em referência a si mesmo, independente do meio, como se estivesse isento de sofrer influências deste.

Entretanto nos parece acertado dizer, que o objeto Rio, possui sua identidade, mas pode modificar-se em função das relações que estabelece com o entorno, podendo ser sua negação, isso mostra que outra lógica é necessária para tal compreensão.

Figura 6 - Representação gráfica da interdisciplinaridade