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Primeiramente, cabe observar que o CDC, quando distingue os direitos transindividuais (art. 81, parágrafo único), utiliza-se dDVH[SUHVV}HV³LQWHUHVVHVRXGLUHLWRV´DR se referir às três categorias da classificação que por ele é feita.

Conforme ressaltam Didier e Zaneti (2009, S   ³QD OHJLVODomR EUDVLOHLUD UHYHOD-se FRPXPDGHQRPLQDomRFRQMXQWDµGLUHLWRVHLQWHUHVVHV¶UHIHULQGR-se a direitos difusos, direitos FROHWLYRVHLQGLYLGXDLVKRPRJrQHRV DUWLQF,,GD&)&'&/$&3HWF ´

Face à dupla terminologia empregada no ordenamento jurídico pátrio, sobretudo pela legislação consumerista, cumpre tecer alguns esclarecimentos acerca desses conceitos, no intuito de se evitar qualquer compreensão equivocada quanto à classificação que no decorrer deste capítulo passa a se expor.

A seguinte distinção entre os termos ³GLUHLWRV´H³LQWHUHVVHV´é apresentada por Carlos Henrique Bezerra Leite

É quase sintomático que a palavra direito suscita em nossa mente a idéia dos direitos subjetivos, historicamente utilizados para designar os interesses juridicamente protegidos, cuja titularidade era atribuída apenas ao indivíduo. Daí a expressão direito individual, vinculada ao liberalismo [...]

Já a palavra interesse, seguindo a trilha da doutrina nacional, representa algo que interliga uma pessoa a um bem da vida, em virtude de um determinado valor que esse bem possa representar para aquela pessoa. A nota comum é sempre uma situação de vantagem, que faz exsurgir um interesse na posse ou fruição daquela situação (2001, p. 43-44).

Nesse sentido, Didier e Zaneti (2009, p. 87-88) afirmam, valendo-se das lições de Celso Neves, a clássica noção de direito subjetivo ³FRPRSRGHr de vontade vinculado a um interesse pessoal ou individual ao qual o Estado, mediante o ordenamento jurídico, confere FRHUFLELOLGDGH FRPR IRUPD GH DWXDomR´ (P FRQWUDSDUWLGD RV LQWHUHVVHV FDWHJRULD QmR tutelada pela direito, são desprovidos de coercibilidade, uma vez que seus titulares não detêm o poder de vontade para a prevalência de seu interesse a configurar direito subjetivo.

Dessa forma, historicamente sempre se afirmou que o direito assumiu uma posição de supremacia sobre o interesse, na medida em que aquele interesse que não é qualificado como direito subjetivo, sequer possuiria alguma relevância jurídica (LEITE, 2001, p. 44).

A dupla nomenclatura empregada pelo CDC para fazer referência aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, recebe críticas por parte da doutrina jurídica, vez que alguns preferem a utilização de um dos termos em detrimento do outro. Nesse sentido, Antônio Gidi (1995, p. 17) anota que ³R &yGLJR GR &RQVXPLGRU IRL PHQRV WpFQLFR TXH FDXWHORVR´DRHPSUHJDUDPEDVDVH[pressões.

ATXHOHVTXHGHIHQGHPDXWLOL]DomRGDH[SUHVVmR³LQWHUHVVH´RID]HPMXVWLILFDQGRTXH os interesses transindividuais, pela indivisibilidade de seu objeto e imprecisa determinação de seus titulares, não se enquadrariam na rígida delimitação conceitual do direito subjetivo como fenômeno de subjetivação do direito objetivo. Logo, para os adeptos dessa corrente, não haveria como se designar esses interesses, mesmo que juridicamente protegidos, como sendo ³GLUHLWRs´ 24 (GIDI, 1995, p. 17-18).

Em contrário, há quem entenda ser inadequado não se designar esses interesses (que, inclusive, são juridicamente protegidos) também como direitos subjetivos em sentido amplo.

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Nessa linha, conforme dispõem Didier e Zaneti (2009, p. 87), utilizando-se dos ensinamentos de Ricardo de Barros Manoel HGH-RVp0DUFHOR0HQH]HV9LJOLDU³DJUDQGHPDLRULDGRVMXULVWDVQDFLRQDLVWHPSUHIHULGRPDQWHUDH[SUHVVmRµLQWHUHVVHV¶ porTXHD µDH[SUHVVmRGLUHLWRVWUD]XPDJUDQGHFDUJDGHLQGLYLGXDOLVPRIUXWRPHVPRGHQRVVDIRUPDomRDFDGrPLFD¶E Ki µHYLGHQWHDPSOLDomRGDVFDWHJRULDVMXUtGLFDVWXWHOiYHLVSDUDREWHQomRGDPDLRUHIHWLYLGDGHGRSURFHVVR¶´

Nesse sentido, propõe-se um alargamento do conceito tradicional do direito subjetivo enquanto aquele pertencente a um titular determinado, inserindo-o numa perspectiva contemporânea, admitindo-se que também a coletividade indeterminada de indivíduos possa vir a ser sujeito de direitos (Ibidem, pag. 17-18).

Didier e Zaneti (2009, p. 92) sustentam DSUHYDOrQFLDGDXWLOL]DomRGRWHUPR³GLUHLWR´ principalmente por ser aquela mais consentânea com o texto constitucional, que em seu art. ž;;;9GLVS}HTXH³DOHLQmRH[FOXLUiGDDSUHFLDomRGR3RGHU-XGLFLiULROHVmRRXDPHDoDD GLUHLWR´

A despeito dessa divergência, Kazuo Watanabe, um dos autores do anteprojeto do CDC, aduz, afastando qualquer discussão quanto à terminologia a ser adotada, que os termos ³GLUHLWRV´ H ³LQWHUHVVHV´ IRUDP XWLOL]DGRs como VLQ{QLPRV ³GHVDSDUHFHQGR TXDOTXHU UD]mR prática, e mesmo teórica, para a busca de uma GLIHUHQFLDomR RQWROyJLFD HQWUH HOHV´25 (WATANABE apud LEITE, 2001, p. 45).

Dessa forma, não haveria motivos para se sustentar a tradicional posição que defende a preponderância do ³direito´ sobre o ³interesse´,VVRSRUque, devido ao reconhecimento dos chamados interesses de massa (metaindividuais), conforme aduz Carlos Henrique Bezerra Leite S ³DFOiVVLFDGLVWLQomRHQWUHGLUHLWRVHLQWHUHVVHVSHORPHQRVQRWRFDQWHDRV µQRYRVGLUHLWRV¶GHL[DGHWHUUHOHYkQFLDSDUDDGRJPiWLFDMXUtGLFD´

Segundo ensinamento de Barbosa Moreira

Desde que se esteja persuadido [...] da necessidade de assegurar aos titulares proteção jurisdicional eficaz, não importará tanto, basicamente, saber a que título se lhes há de dispensar tal proteção. Afinal de contas, inexiste princípio a priori segundo o qual toda situação jurídica subjetiva que se candidate à tutela estatal por meio do processo deva obrigatoriamente exibir carta de cidadania entre os direitos, no sentido rigoroso da palavra (MOREIRA apud GIDI, 1995, p. 17).

Vale também observar que a própria Constituição de 1988 ora utiliza a expressão ³LQWHUHVVHV´, ora utiliza a expressão ³GLUHLWRV´, sem, contudo, apresentar qualquer distinção de

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:DWDQDEH DLQGD DVVHYHUD TXH ³&RP R WHPSR D GLVWLQomR GRXWULQiULD HQWUH µLQWHUHVVHV VLPSOHV¶ H µLQWHUHVVHV OHJtWLPRV¶ permitiu um pequeno avanço, com a outorga da tutela jurídica a estes últimos. Hoje, com a concepção mais larga de direito subjetivo, abrangente também do que outrora sH WLQKD FRPR PHUR µLQWHUHVVH¶ QD yWLFD LQGLYLGXDOLVWD HQWmR SUHGRPLQDQWH ampliou-se o espectro de tutela jurídica e jurisdicional. Agora, é a própria Constituição Federal que, seguindo a evolução a GRXWULQDHGDMXULVSUXGrQFLDXVDGRVWHUPRVµLQWHUHVVHV¶ (art. 5º, LXX, b µGLUHLWRVHLQWHUHVVHVFROHWLYRV¶ DUWQ,,,  como categorias amparadas pelo Direito. Essa evolução é reforçada, no plano doutrinário, pela tendência hoje bastante acentuada de se interpretar as disposições constitucionais, na medida do possível, como atributivas de direitos, e não como PHUDVPHWDVSURJUDPiWLFDVRXHQXQFLDo}HVGHSULQFtSLRV´ :$7$1$%(DSXG$/0(,'$S-487).

significação entre as mesmas (ex.: art. 5º, LXX, b, art. 129, III). Daí, conclui Gregório Assagra de Almeida (2003, p. 486) que o legislador infraconstitucional, quando utiliza indistintamente DPERV RV WHUPRV R ID] ³SDUD HYLWDU PDLRUHV SROrPLFDV LQWHUSUHWDWLYDV DV quais poderiam surgir em totDOSUHMXt]RDHVVDVFDWHJRULDVWmRUHOHYDQWHVGHGLUHLWRVVRFLDLV´

Dessa forma, neste trabalho, para efeito de tutela jurisdicional coletiva, não se distinguirá um termo do outro, empregando-os, pelas razões aludidas, como expressões sinônimas.