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2. A REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA

2.3. As Relações da República Popular da China com o Continente Africano

2.3.5. Interesses Económicos da China em África

A política externa chinesa é condicionada pelas suas necessidades económicas internas, como a manutenção do crescimento do produto do país, responsável por 8% do fluxo de comércio mundial (Visentini; Olivera, 2012). Estas circunstâncias obrigam à procura de recursos energéticos, matérias-primas e bens alimentares para sua vasta população. À superpotência exportadora de produtos industrializados que se afirmou nos últimos anos, corresponde um gigante da importação mundial, sobretudo de produtos primários que alimentam que permite este crescimento económico: a indústria e o comércio. Um dos momentos mais simbólicos desta viragem foi o fim da autossuficiência petrolífera nos anos 90, algo que obrigou à procura de recursos em mercados nos quais os Estados Unidos tinham dificuldades de se inserir (Visentini; Oliveira, 2012). Como Taylor (2006) descreveu, os interesses económicos chineses no continente africano passaram a ser baseados em três fatores: 1) a visão positiva da China sobre a situação macroeconómica da África que, em grande medida, seria um reflexo da adoção da política económica semelhantes aquelas postas em prática por Pequim; 2) a crença da indústria e dos comerciantes chineses de que os seus variados produtos (eletrodomésticos, vestuário, entre outros) teriam um grande potencial para ingressar no mercado africano, que não é tão desenvolvido quanto o dos países ocidentais, o que tornaria os seus consumidores mais recetivos à mercadoria chinesa mais barata; e 3) a importância de a África, rica em recursos naturais, principalmente petróleo, minérios e outras matérias-primas, para fornecer empresas, manter o crescimento económico e, por consequência, sustentar a razoável estabilidade doméstica da China.

Nos anos 80, a participação chinesa era quase nula no total das importações africanas. No início dos anos 90, as importações eram de 900 milhões de dólares, tendo aumentado 1.000 milhões de dólares, em 1995, para 1.900 milhões, em 1999 (Ribeiro, 2015).

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Em linha com esta evolução, o então ministro da econonomia da China Zhu Rongij, realizou uma visita em 1995 a seis países africanos (Botswana, Maurícia, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué), no intuito de consultar dirigentes africanos sobre as novs formas de cooperação economicas sino-africanas, realizando posteriormente uma conferência Nacional de Trabalho para Reforma da Assistência a Países estrangeiros (IDE). (Taylor 2006) Uma estratégia que foi muito bem-recebida pelos governos dos países africanos, tendo como resultado imediato sido criados, em 1996 os Centros para Investimento e Comércio em dez países africanos. No ano seguinte, o Ministério do Comércio Exterior e da Cooperação Económica convocaria a primeira conferência nacional sobre cooperação económica e comercial com a África. (Ribeiro, 2015)

Entre 2004 e 2010, o crescimento do Investimentos Direto Estrangeiro (IDE) foi de mais de 500%, segundo o Statistical Bulletin of China’s Outward Foreign Direct Investment (2010). Além de parceiros comerciais e de recetores de IDE, os países africanos também se foram posicionando como importante destino de grandes quantidades de fluxos financeiros chineses, através de créditos e empréstimos concedidos aos governos africanos a partir das instituições financeiras chinesas, como o EximBank.

Segundo dados do Trade Law Center for Southern Adrica (TRALAC), o comércio sino-africano cresceu de 10,6 mil milhões para 39,8 mil milhões de dólares entre 200 e 2005, chegando a 106,75 mil milhões em 2008. Apesar de em 2009 se ter registado uma queda para os 90.000 mil milhões de dólares. Mais de metade desses valores, cerca de 56% foram concetrados em cinco países: Angola, África do Sul, Nigéria, Sudão e Egito. A tabela 2 resume estes resultados.

Tabela 5 - maiores importadores africanos da China (2011)

País % nas importações totais

Angola 30,5%

África do Sul 39,3%

Líbia, Congo, Nigéria, Guiné Equatorial 12,2%

Outros 8%

Fonte:UNComtrade, 2013; NBSC, 2012

Segundo dados da China-Africa Research Iniatiative, as trocas comerciais (exportações e importações) entre África e China passaram de corresponder a um total de cerca de 140 mil milhões de dólares em 2016 para 200 mil milhões em 2018 (China-Africa

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Research Iniatiative, 2019). Os últimos dados disponíveis para consulta na International

Trade Statistics Database da Organização das Nações Unidas remontam a 2013; nesse ano, o

valor anual das exportações africanas para a China era de 73, 186 milhões de dólares. Nesta base de dados, é possível observar que a China é o principal parceiro comercial do continente, seguindo-se os Estados Unidos, a Itália e a França. Os valores disputando a liderança com os Estados Unidos e França. Dentro de África, os maiores exportadores para a China são a África do Sul (que representa 48, 38% das importações totais da China) e Angola (31, 97%). (UN Comtrade, 2013)

Do total de importações da China, 219660 milhões foram provenientes, em 2013, da importação de petróleo, que provém em primeiro lugar da Arábia Saudita (42, 368 milhões de dólares) e, em segundo, de Angola (31, 809 milhões de dólares) (UNComtrade, 2013). É importante referir que, em 2018, a China importava, no total, 9, 26 milhões de barris de petróleo por dia. (CEIC, 2018) Estimava-se, em 2015, que 22% das importações de petróleo da China (correspondendo a 1,4 milhões de barris por dia) proviessem de África. (EIA, 2015)

De facto, a coincidência de interesses políticos e económicos transformou o continente africano num parceiro cada vez mais importante para os vetores da política externa chinesa no século XXI. Como se vê, a expansão comercial da China em África tem sido muito acentuada. Porém, como salientou Ian Taylor, embora não seja o único, o principal interesse chinês no continente é o mercado de petróleo, uma vez que o país necessita de matérias- primas de todo o tipo, especialmente o cobre, bauxita, urânio, alumínio, manganês e minério de ferro (Taylor, 2006).

Para suprimir as suas necessidades em recursos energéticos, a China vem reforçando a sua parceria com Estados africanos produtores de matérias-primas, através de um modelo denominado Angola mode que se baseia em trocar infraestrutura (fornecidas pela China) por recursos energéticos (fornecidos pelos países da África). Para expandir e aprofundar a relação sino-africana por meio de ajuda económica, investimentos em infraestrutura e diplomacia, a China criou o Fórum de Cooperação China-África o (FOCAC)8.