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Quadro geopolítico da República Popular de Angola

2. A REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA

2.2. Enquadramento Geopolítico

2.2.1. Quadro geopolítico da República Popular de Angola

Existem três autores estruturais para a geopolítica clássica. Cada um assumiu a importância de uma dimensão no que ao controlo do espaço respeita. Vamos começar por abordar muito resumidamente a forma como integram o espaço Africano nas suas reflexões.

Em termos de superfície e linha costeira, Angola localiza-se nas bacias hidrográficas do rio mais longo da África Ocidental (ver figura 1). A longa linha costeira angolana com 1.600 quilómetros e os seus portos conferem ao país uma importância estratégica para as rotas comerciais que pretendem alcançar as regiões central e austral de África. Geograficamente, está localizada na costa ocidental da África Austral, cujo território principal é limitado, a norte, pela República do Congo e por uma parte da República Democrática do Congo (ex- Zaire); a leste, pela República da Zâmbia e por outra parte da República Democrática do Congo; a sul, pela República da Namíbia e a Oeste, pelo Oceano Atlântico.

As fronteiras terrestres de Angola correspondem a 4.837 quilómetros. O país está dividido em províncias, sendo Luanda a sua capital. O valor geopolítico da República de Angola resulta da sua dimensão territorial, do seu elevado potencial em recursos e sua localização geográfica que pode desempenhar simultaneamente um importante papel de potencia regional aos níveis marítimo e continental. A sua posição atual entre o heartland africano e o Atlântico Sul não foi, durante muito tempo, objeto de considerações geopolíticas

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pelas correntes tradicionais de geografia moderna, que depois deu origem á geopolítica. Houve apenas uma pequena consideração do posicionamento da Africa do Sul do Sara, que posteriormente foi considerada como a Ilha do mundo.

Na escola de geopolítica inglesa encontramos Halford J. Mackinder, professor de geografia da Universidade de Oxford que desenvolveu a teoria do “heartland” (Coração da Terra), tendo sindo o primeiro geógrafo a abordar o desenvolvimento da geografia moderna no âmbito do poder nacional numa perspetiva global, considerando o poder marítimo como mais relevante, em oposição ao poder terrestre. O conceito de heartland abrange o continente europeu e asiático. Sobre o poder terrestre, Mackinder fez vários contributos relativos ao continente africano: primeiro, situou-o no World Island, inevitavelmente ligado à Europa e à Ásia; segundo, definiu no seu interior austral o “heartland do Sul”; terceiro, considerou a África Mediterrânica como parte do “Crescente Interior”; por último, definiu “World

Promontory”, em que o corredor central Norte-Sul assume uma importância vital para o

equilíbrio do “Velho Mundo” (Almeida, 1990: 113).

O Almirante Thomas Mahan, nas suas teses sobre a importância do poder marítimo, advogou que o domínio do mar só poderá ser alcançado com a posse de bases terrestres, muitas das quais á sua época, sob domínio colonial das grandes potências europeias. Numa época em que o colonialismo britânico dominava a cena internacional, Mahan argumentou que a África se afigurava como valiosa por aí se poderem constituir colónias proporcionadoras de desenvolvimento comercial, e por consequência do crescimento das marinhas (Almeida, 1990: 113).

Nicholas Spykman, com o seu conceito de “rimiland”alterou significativamente a conceção de Mackinder sobre a relação existente entre “heartland”e da “Ilha-mundial”. Para Spykman, quem controlasse a Eurásia, dominaria o mundo. Spykman apontava já para a importância do “Cone Austral”, no qual Angola poderia desempenhar um papel crítico e onde a África do Sul possuía importância quase hegemónica (Almeida, 1990: 117 e 118).

De acordo com Almeida (1990), o continente africano pode ser dividido em África Mediterrânica, África do “Middle Ocean”, África do “Shatterbelt”,África Subsaariana, África Insular e África ao Sul do Saara. A área da África Austral que está entre heartlands e

rimlands e poderá vir a ser uma das mais importantes zonas geopolíticas independentes do

futuro devido aos seus imensos recursos, posição estratégicas no Índico, Ártico e no Atlântico Sul, vitais para o Trade Dependent Maritime World (Almeida Políbio Valente, 1990). O

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Rimland engloba a parte costeira de Angola e de Moçambique assim como a África do Sul,

Lesoto e Suazilândia. O “Sudan Grassland” constitui-se numa região de pastagens, onde é possível a agricultura permanente, constituindo-se como uma zona amortecedora nas relações entre o Norte e o Sul africanos (Almeida, 1990: 117 e 118). O Cone Austral abarca o

heartland e parte dos rimlands, pelo que se constitui como uma das mais importantes e vitais

regiões africanas (Almeida, 1990: 117 e 118).

Já a tese das “Pan-Regiões” defendida por Haushofer, considera que o limite Sul da Europa coincide com o deserto do Sahara, procurando demonstrar que uma pan-região euro- africana seria um grande espaço geopoliticamente compensado por abarcar uma ampla faixa de latitude, beneficiando dos equilíbrios que se geram ao longo dos meridianos (Almeida, 1990: 114).

Deste modo, podemos concluir que, apesar de o território angolano não ter sido considerado como uma área privilegiada por parte das primeiras análises teóricas da geopolítica, este pensamento foi alterado no decorrer da Primeira Guerra Mundial com a fundação de novas escolas de geopolítica que passaram a olhar para a região como detentora de uma grande importância.

O continente africano é riquíssimo em recursos naturais, e tem sido ao longo dos anos um importante produtor de várias matérias-primas de elevado valor industrial, uma vez que possui no seu subsolo a maioria dos minerais mais importantes do mundo e muitos deles em quantidades notáveis.

A característica geológica africana mais importante é o Great African Rift Valley (Grande Vale do Rift), uma depressão alongada que forma um vale de norte a sul na África Oriental (Etiópia, Uganda, Quénia, República do Congo, Tanzânia, Malawi e Moçambique) criada há milhões de anos com a separação das placas tectónicas africana e arábica. É nessa região da África Oriental que se encontram os maiores lagos do continente, biodiversidade, circundados por altas montanhas, com grandes depressões e solo vulcânico com os seus pontos mais altos entre eles o Quilimanjaro (5895 metros), o monte Quénia (5199 metros) e o

Ruwenzori (5109 metros). Alguns vulcões do Rift Valley dispõem de numerosos recursos

naturais, (kimberlites e carbonatites). Na região setentrional do Marrocos, da Argélia e da Tunísia as suas montanhas cujos picos chegam a atingir 4000 metros de altura, no subsolo apresenta significativas reservas de petróleo, gás natural, ferro, urânio e fosfato entre outros minerais (Campos, 1963).

41 Fonte: Google Earth (2018)