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Os relatos oficiais afirmam que “quatro membros da diretoria da Sociedade foram ao ponto de tentar arrancar das mãos de Rutherford o controle administrativo. A situação chegou a um ponto culminante no verão de 1917, com o lançamento de The Finished Mystery (O Mistério

Consumado), o sétimo volume de Studies in the Scriptures”.87

Figura 4: Diretores da Sociedade Torre de Vigia após a morte de Russell

Em cima (esquerda para direita): J.A. Bohnet, R.J. Martin, Giovanni DeCecca, F.H. Robinson, C.J. Woodworth Em baixo: A.H.MacMillan, J.F.Rutherford, W.E. VanAmburg

88 FRANZ, Crise de Consciência, p. 75.

89 RUSSELL, The Finished Mystery. Brooklyn, N.Y. USA: International Bible Students Association, 1917, p. 144:

“Pastor Russell has passed beyond the veil, he is still managing every feature of the Harvest work”.

90 Proclamadores..., p. 67. 91 Los Testigos…, p. 72.

92 PENTON, Apocalypse Delayed, p. 51: “Even the basic outline given in Watch Tower accounts is not accurate”. 93 FRANZ, Crise de Consciência, p. 75.

94 Ibidem, p. 75.

95 PENTON, Apocalypse Delayed, p. 51: “Rutherford’s commissioning of the writing and publication of The Finished

Mystery was a high-handed, unilateral action which certainly ignored the rights granted and prerogatives of the board and several members of the society’s editorial committee”.

Essa obra foi escrita por Clayton J. Woodworth e George H. Fisher.88 Tratava-se de um

comentário dos livros de Apocalipse, de Cantares de Salomão e de Ezequiel. Russell é apresen- tado nela como o sétimo mensageiro do Apocalipse, na seguinte ordem: Paulo, João, Ário, Val- do, Wycliff, Lutero e Russell, nas páginas 23-72. Além disso, no comentário de Apocalipse 8.3 afirmava-se que “Pastor Russell passou além do véu e ele ainda dirige cada detalhe da obra da colheita”.89 Em outras palavras, Russell, depois de morto, comunicava-se com o mundo dos vivos.

A organização afirmava que era desejo de Russell produzir o sétimo volume de Estudos

das Escrituras, mas não o fez em vida, por isso a Comissão Executiva da Sociedade providen- ciou que dois associados, Clayton J. Woodworth e George H. Fisher, preparassem esse livro, baseado na produção de Russell, com comentários adicionais. Segundo o mesmo relato, “o ma- nuscrito foi completamente aprovado para a publicação por diretores da Sociedade”.90 Porém,

seu lançamento caiu como uma bomba na sede da organização.91

Os críticos discordam dos relatos oficiais. Segundo Penton, o relato da Sociedade Torre de Vigia e de Macmillan não passam de completa distorção da verdade, chamando a versão oficial da organização, sobre os eventos de 1917, de falsa história, “mesmo a descrição básica dada nos relatos da Torre de Vigia não é exata”.92 Raymond Franz, também, questiona alguns

pontos dos relatos da organização. 93 Ele afirma que quatro dos sete diretores questionavam o

modus operandi, o comportamento arbitrário do novo presidente, pois “não estava reconhe- cendo a Diretoria e nem trabalhando com ela como um corpo, mas estava agindo unilateral- mente, tomando medidas e informando-lhe só depois o que havia delineado como o procedi- mento a ser seguido... Ter eles expressado objeção resultou em sua eliminação sumária da Diretoria”.94 Penton afirma que “a designação que Rutherford fez para escrever e publicar O

Mistério Consumado foi uma ação de exercício de autoridade demonstrando falta de conside- ração, unilateral, que certamente ignorou os direitos e prerrogativas da diretoria de vários membros da comissão editorial da Sociedade”.95

96 PENTON, Apocalypse Delayed, p. 53: “Just before Johnson was forced to leave Bethel on 27 July 1917, the deposed

directors and Vice-President Pierson claimed that Rutherford rushed at him in a rage and attacked him physically”.

97 Ibidem, p. 53.

98 MACMILLAN, op. cit., p. 78-80. 99 Proclamadores..., p. 63.

100 PENTON, Apocalypse Delayed, p. 54.

101 Ibidem, p. 53: “No doubt it was Rutherford´s personal behaviour, however, rather than that of his party which caused

most of problems”.

102 Sobre esses dissidentes, Penton remete seus leitores para as seguintes obras: MELTON, J. Gordon. The Encyclopedia

of American Religion (Enciclopédia da Religião Americana), p. 487-491; ROGERSON, Alan. Qui est Schismatique? (Quem É Cismático?), p. 33-43 (PENTON, Apocalypse Delayed, p. 320).

e os diretores demitidos foram expulsos da sede da organização, entre eles: J. D. Wright, A. I. Ritchie, I. F. Hoskins e R. H. Hirsh. Estes e o vice-presidente Andrew N. Pierson escreveram Light After

Darkness (Luz Após as Trevas), publicação independente, no Brooklyn, em 1917. Penton, baseado no relato deles, afirma: “imediatamente antes de Johnson ter sido obrigado a sair de Betel, em 27 de julho de 1917, os diretores depostos e o vice-presidente Pierson afirmaram que Rutherford voltou-se contra ele num acesso de raiva e atacou-o fisicamente”.96 Isso porque eles queriam fazer, na despedida, uma

declaração e ler uma carta do vice-presidente, Pierson, afirmando apoiar a antiga diretoria, mas foram impedidos. O relato deles afirma que Rutherford apelou para a agressão física.97

Segundo Penton, Rutherford mandou Macmillan chamar a polícia para expulsar Wright, Hoskins, Ritchie e Hirsh da sede, na Hicks Street, mas a essa altura eram reconhecidos como diretores da Sociedade Torre de Vigia.98 Uma avalanche de panfletos, cada um contando a sua

versão dos fatos, era distribuída por toda parte depois dessa expulsão. Eles procuraram se organizar para a assembléia geral anual da corporação de janeiro de 1918, sugerindo Menta Sturgeon, secre- tário particular de Russell,99 para a presidência, mas não obtiveram êxito, pois Rutherford agiu com

mais eficiência e conseguiu votos da maioria.100 Penton considera Rutherford o principal responsá-

vel pela crise interna na organização, “sem dúvida, foi o comportamento pessoal de Rutherford, em vez do comportamento dos seus partidários, o que causou a maior parte dos problemas”.101

A crise deu origem a vários cismas, muitos grupos independentes foram formados, alguns sob a liderança dos diretores demitidos. Jonhson fundou o movimento The Laymen’s Home Missionary Mo- vement (Movimento Missionário da Casa do Leigo). R. H. Hirsh, I. F. Hoskins, A. I. Ritchie e J. D. Wright fundaram o grupo Pastoral Bible Institute (Instituto Bíblico Pastoral). Durante muito tempo, outros grupos surgiram, uns, oriundos da Sociedade; outros, de movimentos subdivididos com o passar do tempo. Esses movimentos rejeitavam qualquer vínculo com a Sociedade Torre de Vigia. Muitos deles existem ainda hoje, nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa.102 Há no Brasil um desses grupos, a

Associação dos Estudantes da Bíblia da Aurora, os “auroristas”, com sede em São José dos Pinhais, no Paraná, que já publicou os dois primeiros volumes de Estudos das Escrituras, em português.

103 RUSSELL, The Finished Mystery, p. 144, 256.

104 Um panfleto mensal com gravuras e ilustrações, criado por Russell em 1909, intitulado The People’s Pulpit (O

Púlpito do Povo), depois foi mudado para Everybody’s Paper (Jornal de Todo o Mundo), e, finalmente, The Bible Students Monthly (REED, Jehovah´s Witnesses Literature…, p. 52).

105 Anuário... de 1976, p. 94.

A causa inicial da crise interna foi a destituição sumária dos diretores e não a publicação do livro O Mistério Consumado, segundo Raymond Franz. Esse livro, lançado no dia 17 de julho de 1917, é uma interpretação alegórica com lentes russelitas e rutherforditas dos livros de Apocalip- se, de Cantares de Salomão e de Ezequiel. O que desejava salvar eram as profecias de Russell, legitimar sua autoridade tentando convencer a todos de que Russell, mesmo no além, estaria dando apoio e se comunicando com a organização. A interpretação alegórica de Apocalipse 8.3 e 16.16 afirma que Russell, mesmo além do véu, dirige e supervisiona a Sociedade Torre de Vigia.103 Rutherford transferiu para 1918 os acontecimentos que seu antecessor havia profetiza-

do para 1914, visto que o mundo experimentava os horrores da Primeira Guerra.