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3.1 INTERNET

3.1.1 A Internet no Brasil e no mundo

Em 2005 comemorou-se 10 anos de Internet comercial no Brasil. A história teve início em 1º de maio de 1995, com o lançamento de um projeto-piloto da Embratel, que visava oferecer acesso às cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No dia 31 daquele mesmo mês, em nota conjunta, os então ministros Sérgio Motta (Comunicações) e José Vargas (Ciência e Tecnologia) transferiram o acesso à Internet das mãos das estatais de telefonia para a iniciativa privada e criaram o Comitê Gestor da Internet no Brasil (http://www.cgi.br), o que permitiu um crescimento explosivo da rede mundial no país. A partir daí, além dos centros urbanos, a Internet chegou também a locais como a aldeia indígena em Parelheiros (SP) e algumas populações ribeirinhas do Amazonas. Hoje, o desafio da Internet brasileira é crescer atendendo à população de baixa renda. (CRUZ, 2005).

No Brasil o acesso ainda insuficiente é muito desigual. Segundo o primeiro ranking mundial de acesso à Internet e outras tecnologias da informação, publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em novembro de 2003, o Brasil encontrava-se em 65º colocado entre os países com maior acesso digital. Este estudo foi realizado pela UIT (União Internacional das Telecomunicações), agência ligada à ONU. De acordo com o levantamento, que levou em conta cinco quesitos - infra-estrutura, preço, alfabetização (grau de instrução), qualidade e número de usuários-, o acesso a tecnologias da informação no Brasil é inferior ao de nações como Kuwait (60º), Costa Rica (58ª), Jamaica (57ª), Argentina (54ª), Uruguai (51º) e Chile (43º). Comparando-se as áreas geográficas e a população destes países é possível se ter uma idéia do quanto ainda é necessário caminhar neste sentido no país.

Ainda sobre acessibilidade, segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado em abril de 2003, no Brasil são quase 150 milhões sem acesso a computadores.

Estes números colocam o país em posição próxima a Índia e África do Sul. O estudo concluiu que a informática ainda é um privilégio de poucos brasileiros e sua relação com a pobreza é direta. O estudo da FGV foi elaborado a partir do cruzamento de dados do Censo 2000 e da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD) de 2001, do IBGE, além de projeções de crescimento feitas pela própria Fundação.

Quanto ao número de usuários, de acordo com o relatório Information Economy

Report 2005, publicado pela ONU, no final de 2004 o Brasil tinha 22 milhões de usuários de

Internet, o que o colocou no décimo lugar no ranking dos países com maior população de internautas. O primeiro lugar coube aos Estados Unidos, com 185 milhões de cidadãos conectados. Em segundo lugar vem a China, com 95 milhões. Os dados da ONU também indicam que dos cerca de 900 milhões de usuários existentes no mundo na época, 57% das pessoas conectadas encontravam-se nos países ricos. (ONU, 2005).

Ainda de acordo com o documento da ONU, em 2004 havia 19 milhões de computadores no Brasil. Doze em cada cem brasileiros tinham acesso à Internet, enquanto que somente 8,9% possuíam um computador. Em contrapartida, a realidade dos países ricos é outra. Na Suíça, também em 2004, 74% da população tinha um computador. No entanto, embora haja discrepância entre o Brasil e os países economicamente mais desenvolvidos, houve crescimento em relação à porcentagem da população brasileira conectada. Em 2000 esse percentual era de 2,9%, chegando a 12,2% em 2004. A média mundial era de cerca de 14%.

Apesar de não haver um acesso democrático, a organização em rede (Internet) passou a ser um elemento importante e comum a todos os segmentos da sociedade. Por isso, aqueles que não têm acesso a ela, ou têm apenas um acesso limitado, assim como os que são incapazes de utilizá-la de modo eficaz passam a ficar à margem. Trata-se do que é chamado de gap, brecha ou divisão digital, assunto que vem sendo muito discutido, principalmente por

pesquisadores, governos e pela sociedade civil organizada. (CAPRA, 2002; CASTELLS, 2003).

Encontros internacionais são realizados a fim de se discutir o que está acontecendo e os rumos que devem ser tomados pela Sociedade da Informação a fim de se reduzir a exclusão. Por exemplo, na reunião da Cúpula Mundial da ONU sobre a Sociedade da Informação (CMSI), realizada em Genebra, em dezembro de 2003, algumas metas prioritárias foram apresentadas pela ONU e pela UIT visando a aceleração do processo de inclusão digital nas nações. Entre as medidas definidas no encontro, foi proposto que todas as comunidades deverão estar conectadas até 2010 e até 2015 devem estar equipadas com pelo menos um acesso comunitário, telecentro9.

A interligação de universidades, centros de pesquisas, hospitais, centros de saúde, escolas secundárias e primárias, bibliotecas, museus e centros culturais também foram previstas pela CMSI de 2003. No encontro de Genebra, esperava-se ainda que todos os departamentos de governos federais tivessem um website e endereço de e-mail até 2005. Aos demais órgãos governamentais, foi concedido um prazo até o ano de 2010.

Na segunda reunião da Cúpula, realizada em novembro de 2005, na Tunísia, os compromissos assumidos em 2003 foram reafirmados, com o foco em mecanismos para o financiamento para diminuir a exclusão digital. Nessa reunião, tal qual sustentado pelo plano de ação de Genebra, reafirmou-se também os papéis e as responsabilidades dos governos na sociedade da Informação.

O documento final elaborado nesse evento, chamado “Compromisso da Tunísia”, entre outras coisas, afirma que a comunidade internacional deve tomar medidas para que

9 De acordo com o Livro Verde (TAKAHASHI (Org.), 2000), o termo “telecentro” tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações que prestam serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas, especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais distantes.

todos os países do mundo disponham de um acesso eqüitativo às novas tecnologias. No entanto, o documento não aponta caminhos para que isso seja feito. (WSIS, 2005).

Conforme exposto, há muitas disparidades relativas ao acesso e diversas metas a serem alcançadas para uma maior inclusão digital global. Porém, paralelo a este cenário, a Internet não deixa de avançar no mundo dos negócios. Desde que surgiram os computadores, ela é a tecnologia que anuncia mais mudanças nessa área. (VASSOS, 1997). De acordo com Goldberg (2001, p. 57), “avanços na tecnologia de transportes e de comunicações interligaram o mundo e transformaram os negócios em atividade global”. Nesse ambiente, as transformações ocorridas afetaram todas as etapas do processo:

A Internet está transformando a prática das empresas em sua relação com os fornecedores e compradores, em sua administração, em seu processo de produção e em sua cooperação com outras firmas, em seu financiamento e na avaliação de ações em mercados financeiros. Os usos adequados da Internet tornaram-se uma fonte decisiva de produtividade e competitividade para negócios de todo tipo. (CASTELLS, 2003, p. 56).

O crescente entusiasmo dos comerciantes em relação à Internet também pode ser motivado pelo fato de que é muito mais fácil rastrear as atividades do consumidor. (DYSON, 1998). Sobre esta possibilidade oferecida pela tecnologia, pode-se dizer que:

Os websites podem manter informações sobre o que a pessoa vê, por quanto tempo, quais os anúncios, quais os anúncios que provocam melhores respostas, com quem ele se comunica, o que diz (em grupos de discussão públicos), como seu computador muda no decorrer do dia. [...] As possibilidades de se verificar tudo por pessoa são infinitas. (DYSON, 1998, p. 203).

No entanto, apesar de muitos processos terem sido transformados, nem todos foram totalmente substituídos devido ao uso da Internet. No caso do consumo de bens materiais, por

exemplo, formas tradicionais de se fazer compras10 coexistem hoje com o comércio eletrônico (CE), onde o consumidor acessa os sites das empresas para fazer suas compras ou para acessar informações sobre produtos. A Internet é, sim, uma forma de ganhar dinheiro, no entanto não substitui as formas já existentes. Não se trata apenas de um canal de vendas, mas de “um canal que torna os negócios possíveis”. (PENZIAS, 2001, p. 43).

De acordo com Drucker (2001), o impacto da revolução da informação está apenas começando e a força motriz desse impacto é o comércio eletrônico, algo que ninguém foi capaz de prever no final dos anos de 1980 ou no início da década dos anos de 1990. O autor aponta a “Internet como um canal importante, talvez principal, de distribuição mundial de produtos, serviços [...]”. (DRUKER, 2001, p. 86).