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A cultura da mobilidade em que pessoas, objetos, tecnologias e informação hibridizam-se possui uma dimensão física, relativa ao transporte de dados, informações, objetos e commodities. Esses sistemas infocomunicacionais podem ser observados nas redes móveis dos dispositivos de saúde (bem-estar social, físico e mental), dos aparatos tecnológicos com acesso a redes sem fio, transmissão de dados (USB); bem como nos sistemas de geolocalização. São objetos e dispositivos conectados a indivíduos e, a fim de compreendê-los, é necessário observar as suas associações e trajetórias (Lemos, 2012). Na observação de um dispositivo móvel, como por exemplo, de um smartphone, são estabelecida diferentes associações e inúmeras trajetórias, considerando que esses dispositivos e aparatos tecnológicos são compostos de muitos outros objetos que remetem a funções e experiências distintas. Essas conexões ou associações são relevantes para analisar as tecnologias e o contexto atual da Internet das Coisas e suas dinâmicas nas Redes Sociais na Internet (RSIs).

São práticas culturais de deslocamento e interações entre redes que possibilitam novas dinâmicas entre objetos, dispositivos móveis, redes de conexão e indivíduos. Assim, novas formas de apropriação dos espaços urbanos são colocadas em vias através de marcações de espaços físicos, lugares e objetos. Sendo assim, as formas de significação e a apropriação dão sentido aos espaços e suas

conexões. São “rastros” deixados nas diferentes vias destes fluxos territorializantes em que circulam dados e informações. Desta forma, a Internet das Coisas (Internet

of Things - IoT) tem conectado indivíduos em outras esferas infocomunicacionais.

Assim, não são apenas transformadores dos espaços públicos e privados, mas de novas formas de socialização e de apropriação dos artefatos integrados ao corpo, como roupas, acessórios, telefones, sensores, etiquetas NFC (Near Field

Communication), entre outros.

Deste modo, o conjunto de dispositivos móveis, as tecnologias e os processos infocomunicacionais vinculados a um determinado lugar determinam as mídias locativas. Estes dispositivos informacionais móveis têm características definidoras da mobilidade de emissão e recepção de informações a partir de um determinado local, implicando, assim, “uma relação entre lugares e dispositivos móveis digitais até então inédita” (Lemos, 2007). Processadas por artefatos, estas informações “são utilizadas para agregar conteúdo digital a uma localidade, servindo para funções de monitoramento, vigilância, mapeamento, geoprocessamento (GSI), localização, anotações ou jogos” (Lemos, 2007, p. 1-2). Estes objetos participam da cultura do nomadismo (Maffesoli, 1997) da nossa sociedade atual, em que transitar pelas cidades, espaços físicos e virtuais é estabelecer conexões com redes de pessoas e tecnologias híbridas. Os “nômades virtuais” buscam, então, os territórios informacionais para sua locomoção (Lemos, 2009).

Os novos nômades virtuais criam territorializações em meio a movimentos no espaço urbano. Os nômades possuem um território, eles seguem trajetos costumeiros, passando de ponto a ponto [...] e esses pontos só existem para serem abandonados. O que vale é o que está entre os pontos (LEMOS, 2009, p. 30 – 31).

A Internet das Coisas (IoT) traz as possibilidades de ações infocomunicacionais que um objeto adquire (Lemos, 2012). Desta forma, os objetos comunicam, trocam e se associam a alguma coisa para a IoT. Com o intuito de tornar as coisas mais simples e com o acesso amplo da Internet às associações que são realizadas através de objetos, indivíduos e dispositivos móveis hiperconectam em redes de conexão. A IoT, portanto, é composta, na sua estrutura, por pessoas, processos, coisas e dados. Estes fluxos e vias são trocados entre pessoas e

pessoas (redes P2P), pessoas e máquinas (P2M) e máquinas e máquinas (M2M). A figura 1 apresenta este processo em diferentes vias, sejam elas nos negócios (espaço público), em casa (espaço privado) e no móvel (em espaços púbicos e privados).

Figura 1- Internet das Coisas

Fonte: Cisco.com

O fenômeno da Internet das Coisas está evoluindo em diferentes áreas na sociedade (medicina, cuidados preventivos, práticas para o bem-estar físico, tecnologias em roupas e acessórios com sensores, etc.) a que objetos têm acesso e conexões às diferentes redes na Internet. No entanto, este contexto exposto da ubiquidade infocomunicacional ainda não está totalmente conectado à Internet. De todo modo, é ampliado para uma Internet de Tudo (Internet of everything – IoE) na

perspectiva otimista de Dave Evans (2012). Esta Internet de Tudo é aquela em que as coisas vão ganhar consciência, contexto, poder de processamento e capacidade maior de detectação. A IoE seria uma imensa “rede de redes”, em que as conexões

designariam oportunidades econômicas sem precedentes para diversos setores da sociedade, indivíduos e países, além de possibilitar experiências “mais ricas”, criando uma rede relevante, reunindo indivíduos, processos, dados e coisas, realizando conexões. A diferença entre a Internet das coisas, partindo da definição anteriormente exposta, refere-se ao fato, segundo Evans (2012), da aplicação do conceito de “efeitos de rede”. Quando mais coisas, pessoas e dados tornam-se conectados, assim o poder da Internet cresce exponencialmente.

A Internet, com sua inerência de rede de redes, amplia-se dessa forma. Assim, o poder das redes aumenta e o crescimento da IoE é essencialmente mais amplo. A plataforma CISCO13 afirma que, nesta perspectiva, “o fenômeno chamado „Internet de Tudo‟ (figura 2) irá acordar tudo o que você pode imaginar”. Numa perspectiva para 2020, “37 bilhões de coisas inteligentes estarão conectadas a Internet”. Assim, a IoE “conecta o mundo físico com a Internet”. Utilizando “microssensores na rede, objetos do cotidiano tornam-se conectados e inteligentes”. Figura 2 - Internet das Coisas

13 Acesso em 19 de janeiro de 2013. <http://blogs.cisco.com/news/how-the-internet-of-everything-will-

Fonte: Cisco.com

Nesta perspectiva, as possibilidades de ascensão dos dois fenômenos apresentados acima estão em consonância com as redes formadas pelo atual panorama ubíquo da sociedade, uma vez que o acesso, as empresas de tecnologia e as pesquisa científicas expandem-se. O crescimento do acesso gratuito em muitos espaços das cidades, a ampliação das redes de Internet (sem fio e 3G) e o barateamento dos dispositivos móveis (smartphones e tablets), possibilitam uma inserção ampla de novos artefatos tecnológicos na ubiquidade comunicacional. São objetos, acessórios e vestimentas que têm como inerências dar maior conectividade, mobilidade e onipresença aos indivíduos ubíquos. A hibridização dos objetos nos ambientes hiperconectados proporciona novas formas de agregação com objetos, redes e indivíduos e apropriações cognitivo-sensoriais. As vestimentas também informam. Com a miniaturização dos dispositivos móveis, ganham espaço os artefatos tecnológicos, possibilitando maior mobilidade dos indivíduos, sem deixar que as atividades cotidianas sejam compartilhadas e sem impedir que espaços públicos e privados não sejam vividos. Imprimir sentido aos lugares já vem sendo atualizado pela ubiquidade, no entanto, trata-se de uma nova esfera informacional, em que tecnologias e pequenos artefatos móveis estão, agora, acoplados ao corpo do indivíduo ubíquo. Não mais como extensões, mas como parte, estando, por consequência, conectados a diversas redes de conexão, outros objetos e pessoas.

As memórias de cada indivíduo também começam a ser arquivadas em objetos. Pesquisadores do “The Hexagram Insitute”14 da Universidade Concordia de

Montreal mantém o projeto “Wearable Absence”, o projeto colaborativo relata a

“ausência de vestir” ao criar uma roupa capaz de reproduzir as sensações físicas de um determinado momento. A jaqueta com biosensores, adaptadores, sistemas de conexão sem fios e cabos flexíveis (para gravar reações físicas de um indivíduo) é ainda um protótipo. A “Wearable Absence” ainda não tem previsão de venda, mas

trata-se de um objeto que exemplifica este fenômeno da ubiquidade informacional e da hibridização entre indivíduo, corpo e tecnologias móveis. Capaz de captar e memorizar a temperatura corporal, umidade da pele, frequência cardíaca e ritmo

respiratório, a roupa envia os dados via dispositivo móvel ou qualquer outro banco de dados. Quando o indivíduo quer relembrar as mesmas sensações daquele momento vivido, as informações são retransmitidas à jaqueta para lembrar. Ainda, através dos biosensores, é possível gravar os sons do momento e registrar memórias de pessoas para, posteriormente, obter as memórias físicas da pessoa ausente. Essas ações são possibilitadas por sistemas que estimulam as reações físicas.

Design, interfaces amigáveis, possibilidades de onipresença nas redes e interações nos diferentes espaços transformam estes artefatos em conexões. O

“Project Glass” Googleglass já apresentou seus primeiros protótipos no início de

2013, que devem ser vendidos a partir de 2014 ao preço de US$1.500; todavia, para o produto final, a Google ainda não tem uma previsão exata de comercialização. Os óculos utilizam sistemas de realidade aumentada e GPS, possibilitam compartilhar imagens nas redes sociais, acessar informações como a previsão do tempo, rotas, localização, além de mensagens diretamente nas lentes dos óculos. A interação ocorre via comandos de voz, permitindo responder a mensagens e saber a localização de um amigo próximo. Ainda, há outros projetos sendo desenvolvidos por artistas e designers, como vestidos com acoplamento de chip que tem as mesmas funções de um telefone celular. Um software embutido ao tecido do colete

Ping15 permite a sincronização com a rede social Facebook, podendo compartilhar

mensagens pré-definidas na rede. A ideia é da americana Jennifer Darmour, objetivando aumentar a conectividade entre pessoas, através da integração de dispositivos e roupas com o indivíduo.

O que se observa como análise deste panorama e que os próximos capítulos irão trazer como reflexão –, são as dinâmicas estabelecidas entre esses artefatos tecnológicos, os dispositivos móveis e os indivíduos, visto que as tecnologias tornam-se obsoletas, mas suas alterações permanecem nas redes. Quanto mais uma tecnologia torna-se transitória e relevante no modo de comunicar, interagir, informar e trocar dados, como no caso da perspectiva da mhealth, dos artefatos tecnológicos que compartilham dados de saúde e da ascensão dos dispositivos móveis e aplicativos na área da saúde, são necessárias as análises dinâmicas nos fluxos comunicacionais entre objetos, indivíduos e corpo. É importante considerar

15 Acesso 19 de janeiro de 2013. <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI236480-

que, ainda que as relações aconteçam por meio da tecnologia, elas se estabelecem na vida offline, e, portanto, em ambientes físicos.

As empresas de tecnologias móveis e a comunicação científica, através das pesquisas e análises, estão fazendo exatamente isto: mostrando aos indivíduos as tecnologias para um futuro próximo. O ato de “vestir a tecnologia” direcionará o setor de inovação para novos produtos neste contexto ubíquo. Corpo e máquina interagindo com tamanha naturalidade e ainda mais acoplados ao corpo, como uma vestimenta ou, segundo direciona Maffesoli (2012), uma “segunda pele”, que não é apenas um acessório, fazendo parte de todo um contexto corporal, privado – mas, ao mesmo tempo, público –, estético, com uma identidade própria do sujeito e que vai se transformando ao incorporar novas tecnologias16.