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A Questão É: Sentenças Universais ou Genéricas?

2.2.4. As semânticas do Operador Genérico

2.2.4.4. Interpretações modalizadas

A abordagem da modalização utiliza a semântica de mundos-possiveis para analisar as sentenças genéricas (c f Dahl, 1975; Numberg e Pan, 1975; Heim, 1982; Delgrande, 1987; 1988, apw í/K rífka et alii, 1995). Segundo esta abordagem, “characterizing generic sentences resemble conditional sentences (...)[:] ^ lion has a bushy tail can be rephrased as

I f something is a lion, it has a bush ta ir (Krifka et alii, 1995:49). Em Heim (1982, apiid

tratadas como contendo quantificação modal. Também sentenças lawlike (com predicados disposicionais; be soluble in water, por exemplo; falaremos sobre estas sentenças no próximo capítulo) são analisadas como sentenças com modalização.

A propósito, é este também o caso de sentenças com ‘to d o 7 ’todos’, em bora os autores não abordem a questão. Veja que uma sentença como ‘Todo homem é m ortal’ se traduz pelo condicional: se algo é homem, então algo é (necessariamente) mortal. O que aproxima mais uma vez a genericidade da quantificação universal.

Ao tratar dos operadores modais nas línguas naturais, K ratzer (1981, a p u d K nüia

et alii, 1995) distingue três parâmetros; (i) a relação modal, (ii) a hase m odal (ou ^'conversational background'’)', (iii) a fo n te de ordenação (ver também Chierchia &

McConnell, 1996). O primeiro parâmetro vem distinguir a classe dos operadores necessidad

{deve) - “necessity” (“must”) da classe dos operadores ""possibilidade’' {pode) - “possibility”

(“may”).

O segundo parâmetro, ou seja, a base m odal “is a function which maps a possible world (the one considered the actual world) onto a set o f possible worlds (...) the modal base is simply the accessibility relation for possible worlds in modal logic” (Krifka et alii,

1995:50). Consideremos a sentença (42):

(42) John m ust have a car.

E sta sentença pode ser interpretada conforme diferentes bases modais:

a. Epistemic modalüy: Given the evidence we have (e.g., that John wa^ in Tübingen at 5:00 and in. Stuttgart at 5:30), it is necessary that John has a car.

b. Deontic modality: In order to fulfill some requirement (e.g., ío be a saJesperson), it is necessary that John has a car.

C. IntrumeiUal modalily: In order to achwve some goal (e.g., commutmg between Tübingen and Stuttgarl) is necessary that John has a car. {Kúíksietalii, 1995:50)

Apesar de ser, normalmente, não-especificada (vem estabelecida pelo contexto), a base modal pode vir especificada (se considerarmos o exemplo (40)) por expressões como ‘em vista do que sabemos’, ‘conforme as normas da companhia para vendedores’, ou ‘dado que não há outros meios de transporte’.

O terceiro parâmetro vem complementar os dois primeiros. No exemplo (42), tem os uma interpretação epistêmica que diz que João não poderia ter usado um helicóptero ou lançado mão de bruxaria para chegar ao seu destino. Contudo, “its analysis as an epistemic modality does not contradict the existence o f such possible worlds” (Krifka et alü, 1995:51); só que tais mundos possíveis não estão tão acessíveis. N este momento é que precisamos do parâmetro fo n te de ordenação para podermos formalizar uma “ordenação” entre os mundos possíveis. N o caso de (42), e dado que o mundo pode vir especificado por expressões como as mencionadas no parágrafo anterior, a interpretação epistêmica dirá, baseada em tal ordenação, que “worlds in which John uses a helicopter and in which he resorts to witchcrafl; (and in which witchcraft works!) are more abnormal than w orlds in which he uses a car” {id ibid, p. 51).

Assim, dados estes três parâmetros, é possível definir o operador modal de necessidade deve/“m ust’ e o operador modal de possibilidade pode/“may”, conforme (43) e (44), respectivamente:

(43) must <I> é verdadeiro no mundo w com relação a um a base modal Bw e um a fonte de ordenação ( ‘ser no mínimo tão normal quanto’) sob a seguinte condição:

Para todo mundo w ’ em B,,. há um mundo w ” em Bw tal que w ’’ w ’, e para todo outro w ” ' ^ w ” , O é verdadeiro em \ v '“ .

(44) may O é verdadeiro em w com relação a uma B„ e ^ se e somente se não é o caso que

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must not-O é verdadeiro em w com relação à B*

Segundo esta abordagem, então, sentenças condicionais contêm um operador modal que pode ser visível ou não. Compare:

(45) a. If John is in Stuttgart now, he must / may / could have a car, b. Maybe / Possibly, if John is in Stuttgart now, he has a car.

c. If John is in Stuttgart now, he has a car.

Fica estabelecido, assim, que a cláusula condicional

restricts the modal base B w to those ivorlds ivhich are compatible ivith the conditional dause’s semantic content. (...) the modal base o f [(43a)] is restricted to the set ofpossible ivorlds which are in B w and for which J o h n is in S tu ttg a r t now is true. The matrix sentence then is evaluated with respect to this modified. modal basis. (Krifka et alii, 1995:52)

(45c) claramente expressa algo mais forte que (45a) e (45b). N este caso, o operador não- visível é o de necessidade (must), pois, dado que John está em Stuttgart agora, então ele deve ter um carro (não se trata simplesmente de haver uma possibilidade de).

Considerando que uma sentença genérica expressa a mesma proposição da sentença condicional correspondente^®, podemos, então, aproximar a semântica modal das sentenças condicionais para o domínio das sentenças genéricas sem um advérbio quantificacional explícito"”’. Assim, a semântica do operador G E N será a seguinte:

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Se não é verdade que João não deve comer chocolate, então ele pode comer chocolate.

Lembremos que no início desta sub-seção, foi colocado que uma sentença genérica como ‘A lion has a bushy ta ir tem as mesmas condições de verdade que ‘If something is a lion, it has a bushy tail’.

Heim (1982) discorda de Krifka et alii (1995) com relação ao fato destes tratarem o operador não-^dsível de sentenças condicionais e o operador abstrato de sentenças genéricas como sendo os mesmos. Segundo a autora {apud Krifka et alii, 1995:53), ‘'a conditional sentence must be interpretetd with respect to a ‘realistic’ modal base and ordering soiuce, which includes the actual world and hence entails imiversal

(46) GEN[xi,...,Xj;yi,...,yj] (Restritor; Matriz) é verdadeiro em w relativo à base modal Bw e uma fonte de ordenação se e somente se:

Para todo e todo w’ e Bw tal que R estritor[xi,...,xj] é verdadeiro em w ’, há um mundo w” em B^ tal que w” ^ w’, e para todo mundo w’” w’% 3 yi,...,yj Matriz[{xi},...,{ Xj}, yi,...,yj]] é verdadeiro em w” ’.

Por exemplo, uma sentença genérica como ‘A lion has a bushy tail’ seria representada como em (47):

(47) GEN[x;y] (x is a lion; y is a bushy tail & x has y) é verdadeiro em w relativo à B^ e se e somente se:

Para todo x e todo w’ e B„ tal que ‘x é um leão’ é verdadeiro em w’, existe um mundo w” em Bw tal que w” w’, e para todo mundo w’” w” , 3y[y é um rabo com pêlos na extremidade & x tem y] é verdadeiro em vv" \

A representação em (47) diz que “a w orld which contains a lion w ithout a bushy tail is less normal than a world in which that lion has a bushy tail” (Krifka et alii, 1995:52). A existência de exceção é captada, nesta abordagem, através da noção de modalidade, e a quantificação universal restringe-se aos mundos “normais” : para todo leão, em mundos normais, é válido que ele tem um rabo com pêlos na estremidade.

2.2.4.5. Situações

Esta abordagem “modela” as sentenças genéricas a domínios menores que o dos mundos possíveis: a restrições sobre situações {constraints on situations)!^^ P ara esta

quantification with respect to the actual world. A characterizing sentence, however, allows for exceptions; and hence its covert operator can be interpretetd with respect to modal bases which are not ‘realistic’”. (cf. Kriíka et alii. 1995, para maiores detalhes)

Barwise (1986, opi/í/Kriíka et alii, 1995:57) aplica esta Semântica de Situação a sentenças condicionais. Estabelecido que sentenças genéricas são basicamente condicionais, as mesmas também poderiam ser analisadas segundo esta abordagem.

proposta, restrições são relações entre tipos de situações. Dada uma restrição como E => I ’ (em que I e E ’ são tipos de situações que podem conter parâmetros ancorados a entidades específicas, localizações ou tipos), temos que I envolve S’, ou seja, sempre que houver uma situação a do tipo I há também uma situação & do tipo I ’. Sempre que / é uma âncora para I e temos uma restrição I I ’, então também temos uma restrição Z( / ) => S ’( / ). O utra questão a se considerar é que uma restrição pode se aplicar somente com relação a

dXgam backgroundB.

Integrando a Semântica de Situação à formulação já apresentada para as sentenças genéricas, temos:

(48) GEN[xi,...,Xj;yi,...,yj] (Restritor; Matriz) é verdadeiro relativo a um background B em que xi,...,xj, e possivelmente outros, ocorram como parâmetros (i. e., relativo a B[...,{xi},...{ xj},...]) sse:

Há uma âncora/ para os parâmetros em B tal que para toda situação a que é do tipo B( / ) aplica-se que: se R estritor(/ ) é verdadeiro, então / pode ser estendida a / ’ tal que Matrix ( / ' ) é verdadeira.

Tomemos uma sentença genérica como (49). B pode ser restrito a situações que contenham animais fêmeas, pois a sentença nos diz algo sobre “dar a luz”, coisa que só animais fêmeas podem fazer. Mas considerar apenas situações que contenham animais fêmeas não significa que se descartem situações em que existam tanto faisões machos quanto fêmeas.

(49) A pheasant lays speckled eggs.

GEN[x,s;y] (x é um faisão em s; x põe y &. y são ovos pintadinhos em s) é verdadeiro com relação ao background ‘s é uma situação de dar a luz' sse:

Para toda situação a que é uma situação de “dar a luz” é verdade que para qualquer x que é um faisão em a, há um y que são ovos pintadinhos. e x põe y em a.