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Todas as SEVs adquiridas na campanha de campo foram posteriormente invertidas, e os resultados foram incorporados na base de dados SIG sob a forma de um shapefile contendo: coordenadas UTM dos centros dos arranjos; dados topogr´aficos provenientes do modelo digital do terreno e; as profundidades do embasamento, obtidas com as invers˜oes das SEVs (Figura 5.1).

Inverter um dado de eletrorresistividade consiste em calcular as profundidades e as espes- suras de camadas geoel´etricas consideradas horizontais, isotr´opicas e homogˆeneas, a partir dos valores de resistividade aparente medidos para diferentes espa¸camentos.

A invers˜ao pode ser realizada de forma autom´atica ou a partir de um modelo geol´ogico, utilizando informa¸c˜oes obtidas com dados de po¸cos, por exemplo. Como n˜ao existem po¸cos que atinjam o embasamento dentro do vale emerso do Itapicuru, optou-se pela invers˜ao autom´atica, realizada com o Software RES-1D .R

Com os resultados provenientes das invers˜oes das SEVs foi elaborada uma se¸c˜ao ge- oel´etrica SW-NE (Figura 5.2) e um mapa de espessura de sedimentos (Figura 5.3). No centro de cada SEV foi acrescido o valor da altitude, extra´ıdo do dado topogr´afico SRTM.

Na regi˜ao do vale em que foi realizada a se¸c˜ao geoel´etrica existem cortes de estrada que mostram que tanto o rio Itapicuru quanto o rio Cruma´ı praticamente correm diretamente sobre o embasamento cristalino. Esta informa¸c˜ao foi utilizada tanto para o controle de qualidade da aquisi¸c˜ao das SEVs quanto das invers˜oes.

Os limites do vale emerso quatern´ario mapeados por Esquivel (2006) s˜ao bem vis´ıveis atrav´es das diferen¸cas topogr´aficas no modelo SRTM, no qual a Forma¸c˜ao Barreiras apresenta um relevo mais alto, cujo limite com os dep´ositos quatern´arios se d´a atrav´es de uma paleo- fal´esia (Figuras 5.1 e 5.2).

Figura 5.1: Localiza¸c˜ao das SEVs (raios pretos). A BA-099 est´a destacada na linha cont´ınua de cor amarela. O limite quatern´ario do vale do Itapicuru pode ser vislumbrado atrav´es do desn´ıvel topogr´afico.

A se¸c˜ao geol´ogica criada a partir das invers˜oes das SEVs mostra que a geometria do topo do embasamento el´etrico, correlacion´avel com o embasamento cristalino, n˜ao tem uma rela¸c˜ao direta com os limites do vale emerso escavado no Quatern´ario (Figura 5.2).

Esta se¸c˜ao mostra que: a) o vale emerso do Itapicuru n˜ao est´a condicionado a uma regi˜ao rebaixada do embasamento; b) o rio Itapicuru corre sobre uma fina camada de sedimentos, depositada sobre um pequeno baixo do embasamento, exibindo altitudes de poucos metros acima do n´ıvel do mar; e c) existe um rebaixamento brusco da topografia do embasamento el´etrico, aparentemente sem nenhuma rela¸c˜ao com a geometria do vale emerso do Quatern´ario na extremidade sudoeste da se¸c˜ao.

A por¸c˜ao SW da se¸c˜ao geoel´etrica ´e caracterizada por um espesso pacote sedimentar, localmente com espessuras superiores a 100 metros. Esta por¸c˜ao passa bruscamente para um trecho onde a espessura dos sedimentos raramente ultrapassa os 10 metros.

Esta mudan¸ca brusca nos valores de espessuras de sedimentos (Figura 5.3), pode estar associada a uma zona de falha, um gr´aben ou a um vale mais antigo do que o vale Quatern´ario.

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Figura 5.2: Se¸c˜ao geoel´etrica SW- NE, acima, apresentando as espessuras de sedi- mentos no interior e nas bordas do Vale do Itapicuru. A diferen¸ca entre a topografia do terreno (linha preta) e a profundidade do embasamento, obtida com as SEV s, permite estimar as is´opacas e definir um poss´ıvel cˆanion ou uma poss´ıvel zona de falha, discordante do Vale.

No mapa da figura 5.3 este limite brusco apresenta um padr˜ao linear de dire¸c˜ao WSW /ENE. A sua proje¸c˜ao offshore coincide com a cabeceira do vale inciso do Itapicuru (Domin- guez et al., 2012), uma fei¸c˜ao geomorfol´ogica claramente visualizada na batimetria.

Nos cap´ıtulos anteriores foi mencionado o deslocamento existente entre os eixos do vale emerso e do vale inciso. A interpreta¸c˜ao de uma fei¸c˜ao (zona de falha, gr´aben ou vale mais antigo) ligando o vale emerso com a cabeceira do vale inciso submerso sugere um controle geol´ogico pr´e-Quatern´ario para o vale do Itapicuru, o qual poderia ter se ”encai- xado”aproveitando uma zona de fraqueza preexistente.

O controle geol´ogico presente abaixo dos vales emerso e submerso do Itapicuru poderia ter se manifestado pela eros˜ao diferencial entre as rochas sedimentares que preenchem a regi˜ao rebaixada do embasamento e as rochas do embasamento cristalino adjacente, mas tamb´em poderia ser sido originada como consequˆencia de uma tectˆonica miocˆenica (Bezerra et al., 2001; Rosseti et al., 2013).

Na ´area de estudo, no modelo digital de eleva¸c˜ao, n˜ao existem indica¸c˜oes de lineamentos estruturais de dire¸c˜ao WSW /ENE. Ou seja, n˜ao existe uma indica¸c˜ao de falhas de orienta¸c˜ao WSW /ENE no topo erodido e laterizado (Rosseti et al., 2013) da Forma¸c˜ao Barreiras, o que sugere que a regi˜ao onde o embasamento encontra-se mais rebaixado ´e de idade ante- rior `a eros˜ao do topo do Barreiras, ou ent˜ao foi completamente apagada pelo processo de peneplaniza¸c˜ao que afetou o topo dos tabuleiros.

Esta discuss˜ao ser´a complementada ap´os a apresenta¸c˜ao dos dados obtidos com as outras ferramentas geof´ısicas e elaborado em maior detalhe no cap´ıtulo de interpreta¸c˜ao integrada.

Figura 5.3: Mapa de espessura total de sedimentos (topo do modelo SRTM ao topo do embasamento cristalino). As cores quentes representam as regi˜oes com embasamento praticamente aflorante, enquanto as cores frias representam zonas com as maiores espessuras de sedimentos. A linha preta representa a regi˜ao onde ocorre uma varia¸c˜ao brusca na espessura de sedimentos

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