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Interpretando os significados das percepções dos participantes

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 80-98)

História do Empreendimento Econômico Solidário

1.1- Cooperativa do Tatuapé

Os membros da cooperativa são em sua maioria oriundos da ocupação do Parque Oziel, este local recebia anteriormente entulho da construção civil e outras matérias recicladas como plástico, papel, madeira, metais ferrosos e não ferrosos etc.

Em 1997, muitos dos integrantes das cooperativas trabalhavam no lixão recolhendo material reciclado, nesse período as moradias em torno do lixão eram de madeira, havendo um movimento por urbanização da área, que resultou na

legalização do bairro e acesso a serviços públicos como linhas de ônibus, rede de esgoto, telefone público, farmácia, mercado etc.

O grupo que recolhia material reciclado junto com o Programa de Economia Solidária do município buscou o apoio para construção de um galpão. A cooperativa passou por um processo de incubação pela ITCP- da Unicamp e esse processo foi marcado por dificuldades que levaram o grupo deixar a incubadora. As palavras do presidente da cooperativa explicam esse fato:

Tiramos a ITCP porque estava destruindo o grupo, por causa da rotatividade dos técnicos, que era muito grande, hoje vinha um depois outro, mudavam toda a metodologia que já tinha sido construída”. (José Carlos de Souza).

A cooperativa está legalizada desde 2003. Em 2004, por intermédio de uma parceria com a SENAES, foi aberto um espaço para depósito de entulho da construção civil possibilitando a atuação da cooperativa nesse mesmo espaço. De acordo com entrevista de campo realizada com o presidente da cooperativa, no qual relata que a princípio estava previsto um projeto para confecção de blocos que acabou não dando certo por questões políticas. No período o prefeito que estava investindo nos projetos de economia solidária no município foi assassinado e isso dificultou a continuidade de muitos programas.

Este mesmo presidente da cooperativa, que participou desde o início do movimento da economia solidária em Campinas, relata a importância do prefeito para o início da economia solidária e das cooperativas.

O prefeito era uma pessoa super inteligente, ajudava e dava visibilidade para a economia solidária de Campinas e a inclusão social. Não queria que a prefeitura fosse paternalista com os empreendimentos, teria que ser assim: vou te dar a vara e a isca e você pesca. Se eu pegar o peixe e colocar na sua boca você não vai querer se desenvolver. Esse foi o processo de economia solidária que começamos em Campinas. De lá para cá não paramos mais. (Presidente da Cooperativa)

No início da cooperativa do Tatuapé eram 58 pessoas. Hoje são 23 cooperados, dos quais 18, cooperados estão desde o início em 1997, 4 cooperados estão há três anos e, 1 há dois anos.

Dos 23 cooperados: 4 são homens e 19 são mulheres.

A renda mensal dos cooperados é em media de R$ 700,00 a R$ 800,00 reais. A cooperativa realiza o recolhimento para a previdência social de todos os cooperados.

Os cooperados têm o direito de tirar um dia por mês para ir ao médico, quando as cooperadas estão em licença maternidade têm direito a receber metade do valor do seu salário.

Em março de 2011, o valor líquido recebido por cada cooperado foi de R$ 680,00 reais já com os descontos da previdência.

No dia a dia da cooperativa, os cooperados chegam por volta de 6h:30min da manhã, param às 7h e às 9h da manhã para tomar café, às 12h param para 1 hora de almoço e trabalham até as 16h:40min, de segunda a sexta-feira.

A cooperativa retira o material reciclado da construção civil que não é muito diferente da reciclagem comum, a vantagem é que tem em maior quantidade sucata de aço e os canos de PVC.

A cooperativa Tatuapé está filiada à ACOOP – Associação das Cooperativas e dos Grupos Associados de Coleta e Manuseio de Materiais Reciclagem de Campinas e Região. Está situada na estrada de Mão Branca, s/n- São Caetano- Campinas.

Nos depoimentos a seguir apresentamos os conteúdos da experiência de geração de trabalho e renda na perspectiva da inclusão social.

Conforme afirma José Carlos da Silva, presidente da cooperativa e da ACOOP:

Nós brigamos por melhores condições para essas cooperativas: galpão, equipamentos e eliminação de algumas formas de tração humana.

Desde 2008, estamos fazendo várias propostas de marcos legais, para construção de pólos, galpões, para que reúna uma cadeia produtiva que concentre tudo no mesmo lugar e esse destino seja o fabricante.

Ainda vendemos muito para o intermediário, costumo dizer que vivemos como uma pirâmide de cabeça para baixo, nós os cooperados trabalhamos, mas quem ganha mesmo é quem está em cima.

Analisando a fala apresentada é possível identificar que o acesso aos meios de produção e local próprio para o trabalho, que são essenciais para o sucesso das cooperativas, ainda representa objeto de luta desses trabalhadores.

A fala acima encontra fundamento na relação capital e trabalho, na análise marxista sobre o modo de produção capitalismo. Os meios de produção e o capital não pertencem ao trabalhador, a força de trabalho significa para o capitalista apenas um instrumento para gerar cada vez mais lucro.

José Carlos da Silva prossegue:

Se você pensar que antes era empregado, tinha uma carga horária definida e tinha que fazer tudo que o patrão queria e quando o patrão precisa de você, você é importante para o patrão, mas quando você já não é mais importante, ele te manda embora, você perde seus direitos.

A cooperativa tem diversos impostos, a contribuição para previdência é realizada mês a mês de cada cooperado, na retirada deles já vem abatido o valor da previdência.

Com relação o primeiro depoimento, Marx (2004) vem de encontro ao apresentar que o trabalhador por ser um “capital vivo” tem necessidade de estar integrado nas relações de trabalho e quando isso não se realiza, ele “perde seus juros e, com isso, a sua existência”. O desemprego provoca na classe trabalhadora um estado de insegurança e incertezas, tendo em vista, que os novos campos de trabalho não estão sendo criados para absorver a mão de obra disponível para o mercado.

É possível perceber no segundo depoimento que o trabalho cooperado busca ser uma saída para a instabilidade do mercado e o desemprego A cooperativa tem sido uma oportunidade de sair da informalidade, possibilitando os direitos mínimos do trabalho formal como a contribuição para a previdência.

O presidente da cooperativa ao realizar uma análise sobre a exclusão e inclusão expõe:

Exclusão social é a coisa mais horrível que existe, Quando pensamos em morador em situação de rua, sabemos que há doutores na rua, advogados, pessoas se drogando porque de repente não conseguiram emprego, ou perderam tudo que tinham por causa da bebida e da droga. Eu acredito que precisamos trabalhar muito a inclusão social. Inclusão social não é dar um prato de arroz, dar um cobertor, descobrir a cabeça para cobrir o pé e deixar ele dormindo lá. Há negligentes, mas a maioria não teve oportunidade de um apoio maior. Para isso nós lutamos, para que as pessoas tenham dignidade, para que essas pessoas tenham um futuro, para que possam se desenvolver através da economia solidária, tendo um apoio dos próprios companheiros. A pessoa não precisa de coberta para dormir na rua, ela precisa de dignidade, precisa de um trabalho e mostrar que ela também é um ser humano. Para mim, a exclusão social no Brasil ainda é muito grande. A Assistência Social não presta um trabalho adequado, porque ainda está subordinada ao que o político quer e não ao desejo da maioria de lutar pelos seus direitos.

Analisando a fala acima sobre o que significa a exclusão social é possível perceber que o desemprego e a ausência de oportunidades de trabalho são os grandes causadores da exclusão social. Demo (2006), apresenta que os pobres não estão apenas privados dos bens matérias mais das vantagens e oportunidades sociais.

Nesta mesma fala é enfatizado o respeito à dignidade humana, que pressupõe a todos a possibilidade de igualdade de oportunidades e o reconhecimento do ser humano enquanto pessoa. De acordo com Cucurutto (2008), a dignidade estrutural visa afastar o ser humano de toda forma de exclusão social, garantindo a todos o acesso aos direitos básicos de sobrevivência.

Nas falas das três cooperadas é destacado outro elemento para compreender o processo de inclusão social:

Estar incluído é poder participar!

A participação é entendida pelas entrevistas como uma ferramenta de inclusão social: poder fazer parte do processo de decisão e estar integrado a um grupo, significa um caminho para fortalecer as formas de participação e inserção social. Teixeira (2002), aponta que a participação cidadã necessariamente precisa incluir todos os afetados, dando voz e vez, possibilitando igual direito de participação e de oportunidades.

Segundo José Carlos da Silva:

Nós conseguimos legalizar o bairro depois da ocupação. Elegemos um vereador da comunidade e podemos dizer que hoje estamos muito bem, temos quatro linhas de ônibus, rede de esgoto, temos telefone, farmácia, três mercados, hoje é um bairro com 3600 famílias. O que a ocupação avançou em 10 anos, tem bairro em Campinas que em 40 anos não tem nem a metade do que conseguimos. A cooperativa acabou contribuindo com esse processo, pois tinha gente que não tinha nenhuma perspectiva para se desenvolver, para trabalhar e sustentar a sua família. Tiramos aquela desorganização que havia, no aterro, com a presença de marginal de bandidos. Hoje nós somos um empreendimento reconhecido.

O processo de participação se realiza da vida cotidiana das comunidades, parte de decisão pessoal e coletiva de se integrarem na luta pela concretização dos direitos sociais, possibilitando conquistas nas dimensões individuais e coletivas.

José Carlos da Silva ainda relata:

Faço parte do Fórum de economia solidária, Sou militante do Partido dos Trabalhadores, Sou diretor da ONG Esperança do Amanhã que nós construímos, embora ela ainda não esteja em funcionamento. Nós nos preocupamos com a questão social em Campinas, a questão da saúde, da educação, a questão do HIV.

Eu informo para o grupo o que está acontecendo sem ter que parar o grupo inteiro. Realizamos reunião a cada dois meses, quando a situação é mais difícil, fazemos reunião no sábado. No dia 15 de janeiro, fizemos uma reunião sobre o funcionamento geral da cooperativa, realizamos um bate papo no dia a dia, na hora do almoço e do café. Realizei uma conversa com duas cooperadas que estão como representantes, falei da importância delas de falar em nome do grupo e passar para o grupo. Eu participo de outras reuniões fora da cooperativa

Falei para o grupo que esse ano é o último ano que vou ficar como presidente. Para dar espaço para quem assumir fazer melhor que eu. Eu não fiz faculdade, nós vamos aprendendo, lutando para contribuir para o desenvolvimento dos empreendimentos, isso é economia solidária.

As cooperadas assim se manifestam.

Participamos apenas da reunião da cooperativa. Decidimos juntos e fazemos juntos.

Participamos de cursos, começamos um curso, tivemos que parar porque temos muito serviço.

Um dos caminhos para fortalecer a participação da sociedade civil é a promoção da participação nos pequenos grupos, nas cooperativas, organizando as bases e realizando um exercício contínuo de descentralização de poder. Participar faz parte de um processo de aprendizagem democrática que vai do local às instâncias maiores de decisão e disputa política. É possível perceber na trajetória do presidente da cooperativa as diversas instâncias e espaços de participação dos quais faz parte. As cooperadas participam apenas de decisão da cooperativa, sendo que ainda não avançaram para instâncias mais amplas e diversificadas de participação.

José Carlos da Silva afirma:

Nós não precisamos de dinheiro, precisamos de dignidade, dignidade para o pobre hoje é poder ganhar seu sustento, cuidar da sua família, é poder ir nas Casas Bahia, na magazine Luiza, tirar uma televisão nova, uma geladeira, uma máquina de lavar roupa tudo isso é dignidade. Ele vai deixar de acessar programas da prefeitura como uma cesta básica que durante 10 dias que vai sustentar 5 pessoas e

depois não terá nada. O que nós precisamos é gerar renda e trabalho e dizer que essa economia solidária é forte.

Conforme apresentam as cooperadas:

Para nós melhorou 100%, melhorou em renda, já erguemos um pouco a cabeça. Quando a gente não trabalhava na cooperativa não poderíamos fazer um crédito, nem nada, não tinha crédito para comprar, agora temos crédito vamos às casas Bahia vamos a lojas. Falamos sempre temos crédito e, graças a Deus, onde vamos somos bem recebidas, fazemos empréstimo, pagamos e depois renovamos.

A inclusão nas relações de trabalho representa para o cooperado mais do que o acesso à renda, é o reconhecimento de sua identidade inerente ao sujeito de direito e ao cidadão participante.

O reconhecimento da dignidade humana está vinculado às novas necessidades criadas com o desenvolvimento das sociedades. Na fala das cooperadas é valorizado o acesso ao crédito, o direito ao consumo, a possibilidade de responder pelas suas necessidades básicas, bem como o reconhecimento de ser pessoa, de ser um trabalhador.

É possível identificar nas falas a compreensão da dignidade e do direito, como uma possibilidade de deixar a condição de assistidos para enfim estarem inseridos na economia como detentor do direito de ser consumidor. Conforme Demo (2002), o indivíduo pode se sentir desmobilizado não só por ter perdido o trabalho, mas igualmente por se encontrar em condição de assistido. Na fala das cooperadas é possível identificar que a inserção no mundo do trabalho também significa a possibilidade de ter o acesso a crédito e a relação de consumo.

Cabendo destacar que a dignidade não se limita aos bens de consumo que são resultados das conquistas humanos genéricas, como afirma Barzotto (2010), a dignidade está vinculada a condição de pessoa humana, ao reconhecimento do ser humano enquanto pessoa, a importância do outro como igual simplesmente por ser parte da humanidade.

Os meus desejos são os desejos dos cooperados: é ter uma vida melhor, fazer com que estes empreendimentos cresçam, que eles se tornem patrão, mas que não façam os outros de escravos. É um desejo pessoal. Outra coisa é que eles tenham moradia, que no dia de amanhã não tenham só a sua casa para morar, mas que tenham uma reserva para viver tranquilo, que tenham um envelhecimento adequado, que vivam a vida realmente. Esse é o meu desejo, não só para mim, mas para todos eles.

Para que o projeto de vida, os sonhos e desejos sejam realizados, precisamos necessariamente do outro. Essa relação produz laços de pertencimento e de solidariedade, sendo também um campo de disputa de poder.

É possível perceber na fala do presidente da cooperativa, a importância do valor da solidariedade, em que não aparece apenas o seu desejo individual, mas o desejo de uma vida melhor a todos.

De acordo com Assmann (2000), a esperança humana está ligada ao desejo de uma vida mais digna para todos. O reconhecimento recíproco e o respeito entre grupos e pessoas.

José Carlos da Silva continua:

A minha vida era ruim até eu conhecer o social, que é compartilhar com outros, Eu era uma pessoa fechada, quase não conversava com os vizinhos. Eu não conheci apenas a cooperativa Tatuapé, eu conheci boa parte do país, já conheço bastante coisa sobre os países, hoje estou sendo convidado para ir para África. A minha vida nesse período de estar mexendo com reciclagem, desenvolvendo a questão social, foi muito gratificante é uma riqueza maior do que o dinheiro, embora eu precise do dinheiro, mesmo não sendo capitalista, eu preciso dele. O ser humano é a coisa mais preciosa que existe no mundo, ele pode ajudar e também ser ajudado. O prazer de contribuir com o outro é um prazer humano, ajudar e ser ajudado, precisamos de troca humana, de relacionamento humano.

É possível perceber por meio da fala acima que ser parte de um grupo possibilitou a formação da consciência “do outro, do nós” configurando a própria consciência do “eu”, assim como nos apresenta Heller (2008), é somente no

cotidiano que o indivíduo pode se elevar do ser particular para o ser genérico realizando uma ação consciente com sua comunidade.

Conforme expressam as cooperadas:

Nós temos uma relação de família.

De vez em quando temos uns arranca rabos. Antes, era bastante, agora está mais sossegado.

Cooperativa é trabalhar em conjunto. Nós precisamos ser todos unidos, um respeitar o outro. Cooperativa é uma coisa muito fina, se um não respeitar o outro e não souber levar não vai não, temos que trabalhar todos com partes iguais, não esperar pelo outro. Todos temos que lutar porque ganhamos igual. A cooperativa é assim: se você está trabalhando e eu estou parada, eu estou ganhando a mesma quantidade que você, não é certo e nem justo.

De acordo com o relato das cooperadas, a cooperativa representa um ambiente de troca, do desenvolvimento da solidariedade partindo do princípio da igualdade, mas também é o local do conflito, da disputa de poder e de contradições, onde o diálogo e o respeito são valores fundamentais para a convivência social e a manutenção do trabalho coletivo.

Foi possível identificar na fala das cooperadas e do presidente, a presença das contradições e conflitos durante o período de existência da cooperativa. Os entrevistados também relataram momentos de muitas dificuldades, por exemplo, o grupo teve que tirar um cooperado que estava no cargo de presidente e fazendo desvio de verbas. O presidente também relatou que ficou um período afastado da cooperativa por divergência com o presidente que estava na cooperativa.

Para Singer (2000), as empresas autogestionárias vão além do entendimento que se tem das empresas tradicionais, pois se assemelham a uma família, assim como apresentaram as cooperadas.

José Carlos da Silva relata:

Como presidente, eu ganho a mesma quantia, só tenho mais responsabilidades, quem tem 65 anos ganha igual a quem tem 30 anos. Todos os 23 cooperados ganham a mesma coisa que o presidente, a secretária, o administrativo e o financeiro.

A ACOOP como uma organização política das cooperativas faz projetos que atinjam todas as cooperativas, não deixamos de pensar que cada caso é um caso, uma cooperativa de repente precisa de um carrinho, tem outra que precisa de um caminhão, então, reunimos projetos e cada seis meses, vem edital de projetos. Um dos primeiros passos da ACOOP foi filiar à UNISOL/Brasil. A Tatuapé já era filiada a UNISOL/Brasil. Conheço a UNISOL desde 2005, eu quero incluir mais cooperativas na UNISOL, para geração de trabalho e renda. Fizemos um projeto junto com a UNISOL de R$ 200 mil reais das extrusoras, transformação de plásticos, e um outro, de 740 mil de do Banco do Brasil. Foram contemplados os dois para Campinas. Chamamos os empreendimentos, falamos com eles, que não podemos obrigar por serem autogestionários e convidamos para se filiarem a UNISOL que está vinculada à economia solidária. Os empreendimentos acharam legal e nos filiamos à UNISOL.

A tendência é que a ACOOP luta hoje por marcos legais, estruturação das cooperativas. Não veem a cooperativa como cesta básica ou a prefeitura como paternalista, mas veem a cooperativa como uma empresa, como qualquer outra, desde que ela seja autogestionaria, nós não admitimos que as cooperativas fujam da autogestão e se torne uma coopergato, que digam: o fulano ganha bem, mas o outro cooperado passa fome, esse papel da economia solidária é explícito, é igualdade das cooperativas e dos cooperados. Nós perguntamos: quem é seu patrão? Eu sou o meu patrão e o meu companheiro não é meu empregado, por isso temos que ter igualdade. Eu não falo, eu sou responsável, mas a cooperativa Tatuapé é responsável. Eu só vou fazer coisas erradas se vocês aprovarem e só vou fazer coisas boas que vocês aprovarem. Tudo que acontece na autogestão depende de cada um de nós para pensar, para aprovar, para dialogar e discutir. Eu sou presidente, o meu voto é igual, eu também só tenho um voto, a assembleia geral está acima de todos, a decisão é coletiva.

Analisando a fala apresentada, a formação de associações de grupos de cooperativas tem por objetivo facilitar a vinda de recursos para as cooperativas, procurando se adequar aos editais. José Carlos da Silva, revelou também como valor fundamental da cooperativa, a autogestão, que visa uma construção coletiva da gestão, o exercício da participação nas decisões da cooperativa e a busca da igualdade entre os cooperados.

O exercício da democracia, a busca pela igualdade e a gestão coletiva do trabalho são fatores chaves para caracterizar o desenvolvimento da economia solidária como uma alternativa à produção capitalista.

Conforme Singer, nas empresas que realizam a autogestão “o trabalhador não é apenas operário coletivo, mas também empresário coletivo” (2001:233). Assim como apresentou José Carlos, ao relatar a igualdade na cooperativa.

Para José Carlos da Silva:

O que estamos falando é que a economia solidária não se limita as cooperativas. A economia solidária, como uma segunda economia de alternativas, é o desenvolvimento local no bairro, em sua

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 80-98)

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