• Nenhum resultado encontrado

INTERSECCIONALIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE,

TRANSVERSALIDADE NA VISÃO DAS PROFESSORAS

No cenário do cotidiano escolar, relatos e ações são praticadas pelas professoras e equipe técnico pedagógica e observadas por mim, pesquisadora, em torno da construção de um comportamento praticado coletivamente para entender, interpretar e construir o real vivido, tornando familiar o não-familiar. Além disso, é o espaço sobre a discussão de gênero, pluralidade cultural, diversidade, sexualidade e orientação sexual, além da crítica promovida pelo Movimento Escola Sem Partido ao se referir a “ideologia de gênero” que me interessa. Nesse processo de compreensão, o espaço do pensamento reflexivo constituindo e sendo constituído pelo conceito “interseccionalidade interdisciplinar transversal”, será possível?

Para situar o terreno do desconhecido para o do conhecido, produzindo conhecimento sobre aquilo que é nosso objeto de interesse e cuja representação simbólica nos interliga à prática das mulheres professoras, como indivíduos sociais, que compartilham, com os grupos com os quais fazem parte, conhecimentos, pensamentos e atitudes, e que são determinados pelas representações sociais.

As respostas que passamos a registrar em torno do questionamento acima são mediadas pelos estímulos lançados por mim durante a entrevista (a forma de perguntar, os sons no local da entrevista, as interferências durante as falas etc.) que gerou percepções, ideias e reações às perguntas, portanto mediadas pelas representações sociais, por ser um tipo de conhecimento socialmente produzido e partilhado, proporcionando a formação de uma realidade comum a um determinado grupo social. (JODELET, 2001).

Para Moscovici (2003) a representação que apresentamos de um dado objeto não é simplesmente o nosso próprio pensar, nem algo que foi imposto e transmitido unilateralmente a nós, mas um produto socialmente construído. DaMatta, na análise de Velho (1978, p. 39), nos ajuda a refletir sobre: “o que sempre vemos e encontramos pode ser familiar, mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico, mas, até certo ponto, conhecido”.

193 No contexto das entrevistas a identidade coletiva das professoras e equipe técnico administrativa entrevistadas se formalizam/ constituem porque deixam as marcas sobre os termos apresentados na tese. Há desconhecimento sobre o que significa “interseccionalidade interdisciplinar e transversal” quando os termos aparecem juntos como um conceito.

Separadamente, o entendimento das professoras e equipe técnico-pedagógica sobre o termo interseccionalidade foi em alguns momentos relacionado a ideia de interseção ou intersecção. Termo utilizado em teoria dos conjuntos ao se referir a um conjunto de elementos que pertencem a dois ou mais conjuntos, simultaneamente. Ou ainda de acordo com o Dicionário online de Português (2019),

ação ou efeito de cortar ao meio; corte; o corte que se faz ao meio de alguma coisa; ponto estabelecido em que se transpõem ou cruzam duas linhas, planos e/ou superfícies; [Matemática] Operação através da qual se consegue um conjunto composto por elementos comuns a outros (dois) conjuntos.

Como apontado por BFC-PR na tentativa de nos dar uma resposta: “Interseccionalidade, isso aí na Matemática é quando uma coisa passa pela outra, né? Em Matemática eu sei. Na Educação eu não sei como se aplica. Não tenho assim uma... não tenho isso concreto na minha cabeça, né? Bem subjetivo isso.

Da mesma forma, as demais professoras não souberam dizer o que entendem por interseccionalidade – o que significa que o termo não circula no debate da escola pública. A Prof. RMCCO-PR diz: “não sei te responder”; para a Prof. RTRA-PR “intersexualidade63 é você respeitar, porque eu sou muito a favor do respeito. O

respeito do gênero, do sexo de cada um [...]”; “Eu acho que o mais difícil é a interseccionalidade” (CMNM-OE); “interseccionalidade é um termo para mim desconhecido, mas vou em cima da palavra, tem a ver com a questão das escolhas, escolhas sexuais das crianças ou não?” (JSO-PR); “Isso não sei o que é que é!” (AFCA-PR); “[rsrs] a orientação educacional, do recebimento dos pais, isso? Esse trabalho social?” (MCSF-DG); “os outros eu não sei”, “eu nunca trabalhei sobre isso” dizem CCR-AE e MPSS-AE, respectivamente referindo-se aos conceitos interseccionalidade e transversalidade. MSB-AE e MCFO-PR não se referem aos termos fixando-se somente no termo interdisciplinaridade. No instante da entrevista MSB-AE solicita retirar-se da entrevista, pois tem que pegar sua filha na escola e

63 A Prof. RTRA-PR entendeu intersexualidade ao invés de interseccionalidade quando foi realizada a

194 MCFO-PR lembra que já deu a hora para voltar à tarde. No não-dito pode ser uma forma de “escapar” às próximas perguntas?

Ainda, de acordo com DaMatta (1978) e Velho (1978), aquilo que está próximo, na maioria das vezes, está embaçado pelos preconceitos, hábitos e estereótipos que formam a rotina do senso comum; ao contrário, aquilo que está distante, relativo a uma outra sociedade e cultura, como por exemplo, o estilo de vida pode ser conhecido em decorrência da intensidade e frequência com que é noticiado e representado pela televisão, cinema, jornal etc.

Assim como o termo Transversalidade também foi considerado desconhecido no primeiro momento da pergunta: “eu nunca trabalhei sobre isso” (RMCCO-PR); “transversalidade, eu acho que ... tem uma importância; você trabalhar com o que está acontecendo na sociedade, dentro do contexto da criança...” (RTRA-PR); “Isso, transversalidade, também teve muito estudo, muito trabalho nessa área, mas que também não é aplicado” (CMNM-OE); “já transversalidade não sei não!” (JSO-PR); “Transversalidade é um assunto que vai atravessando as matérias, não é isso?” (AFCA-PR); “Acho que transversalidade seria o que você determina um tema que vá atender a essa interdisciplinaridade” (MCSF-DG). Já a Prof. BFC-PR disse que sabia chamando atenção para o período do final dos anos 1990 em que os temas transversais foram trabalhados nas escolas:

Transversalidade eu sei porque a gente trabalhou muitos anos com currículos transversais e [...] você dá um texto e aí aproveita aquele texto para isso, para História, para Geografia, para aprender como se escreve e vai uma coisa pegando a outra.

Para as professoras que diziam não saber o que era o termo transversalidade, citava “Temas Transversais” e, assim, havia a lembrança do que significa, assunto antigo que “brevemente” passou pela escola quando o tema era pluralidade cultural: “só na época que saiu os temas transversais, que aí foi obrigado a montar trabalhos em cima dos temas e depois disso tudo se passou” (CMNM-OP); “uma parte, uma parte, acho que não como deveria, acho que a gente poderia até trabalhar mais, mas eu acho que é muito pouco inserido... demanda outras questões. Até por falta mesmo de conhecimento por a gente não ter muito acesso a esse tema também” (MPSS-AE); “agora foi! Sim os temas transversais. Na outra escola a gente trabalhava com os temas transversais, fazia projetos” (JSO-PR). Já a Prof. AFCA-PR comparou a transversalidade com o currículo oculto. Considerado oculto porque não podia citar em seu planejamento como conteúdo, mas estava presente a partir do momento que

195 era acionado em sala de aula por uma situação na hora do recreio ou até mesmo no debate dos conteúdos abordados. Diz a professora sobre os temas transversais:

[...] trata porque está presente de alguma forma porque quando eles colocam certas coisas que a gente tem que trabalhar parece meio redundante, porque tem coisas que parece redundante porque vai ter que entrar, naturalmente faz parte, vai entrar, quando você está falando de assuntos e vai puxar outras coisas você vai ter que abordar aquilo porque pelo menos quando a criança pergunta alguma coisa, você está falando deste assunto e ela relacionou por algum motivo a uma outra coisa e ela pergunta, eu respondo a ela, e eu respondo para o grupo e todo mundo participa e acrescenta, porque a gente tem que aproveitar essa curiosidade, então eu acho que é natural de sala de aula isso acontecer, não tem que dizer: “você precisa trabalhar com isso” porque isso está no nosso meio de qualquer forma, faz parte, a gente só precisa ter um pouco mais de atenção de não ficar presa assim no meu conteúdo, não vou sair disso, não, pelo contrário a gente tem que abraçar tudo! Tá entrando, vai entrando, traz, puxa, e vai colocando tudo ali.

O currículo oculto é definido por Giroux (1986, p. 71), como o conjunto de normas sociais, princípios e valores transmitidos implicitamente por meio do processo de escolarização. Por isso, até as mudanças ocorridas na educação a partir da LDB/1996 e dos movimentos sociais dos anos 1990 e 2000, um conjunto de normas sociais, princípios e valores não apareciam explicitados nos planos educacionais, mas produziam resultados não acadêmicos igualmente significativos na vida discente. Em outros termos, representavam a operacionalização, não declarada, da função social de controle que a escolarização exercia sobre o que a sociedade considerava como legítima, na ordenação e transmissão do conhecimento no processo escolar. De acordo com Torres Santomé (1995), o currículo oculto em uma dada situação histórica chegou a organizar os hábitos e significados do chamado senso comum, com o poder de direcionar indivíduos e grupos, tendo como instrumento ideal a escola, via currículo escolar. Será que o questionamento sobre a necessidade de se trabalhar os temas transversais na escola não seria um retorno a essa perspectiva de revelar o currículo oculto visto que as Prof. demonstram insegurança e dificuldades de trabalharem determinados temas/assuntos que aparecem em sala de aula?

Termo apontado como conhecido por todas as Prof. e Equipe Técnico- Pedagógica é o termo Interdisciplinaridade ao afirmarem mesmo com insegurança, que é um assunto estudado na faculdade e em cursos realizados durante a atuação no magistério, de acordo com a Orientadora Pedagógica, “é uma coisa mais fácil de ser aplicada, mas que não quer dizer que seja aplicada por ele”, não definindo o termo. (CMNM-OP). Assim como, apontam que conseguem visualizar que praticam na ação

196 docente, no caso as professoras, definem: “[...] eu acho que você está fazendo um conjunto de todas as disciplinas juntas, não é isso? [...] isso pode acontecer por conta acho do professor, na maneira que ele está explicando mesmo, ele puxa outras disciplinas dentro do conteúdo dele, e ele expande o assunto. Eu entendo dessa forma, não sei se estou certa [rsrs]” (MPSS-AE); “[...] eu procuro trabalhar, né, eu trago um assunto, às vezes estou dando um conteúdo que é português, mas nada me impede de eu levar os temas para outras áreas [...]” (VCSB-PR); “[...] estar intercalando; às vezes é um assunto que pode estar prolongando para outras disciplinas, é bem amplo” (JSO-PR); “a interdisciplinaridade [...] é mais interessante de tratar, é mais fácil porque a gente faz sem perceber muitas vezes, né, porque você está tratando um assunto na sala de aula e lembra de alguma coisa relacionada e aí traz aquilo, eu gosto muito de fazer assim, a gente está tendo aula de ciências está falando da água e a gente falou da importância de regar as plantas lá na geografia porque tinha que regar as plantas, está trazendo tudo isso e é interessante ver que as crianças lembram [...]” (AFCA-PR); “Eu acho que a interdisciplinaridade é quando atravessa uma matéria na outra. A ciências, com matemática, com português” (CCR- AE); “é para trabalhar um tema em várias disciplinas, né? E aponta o mesmo assunto de diversas maneiras, né? E aí é legal por isso”. (MSB-AE); “[...] é você trabalhar o mesmo assunto nas várias áreas, por exemplo, se eu der matemática, vou ver o número de famílias que tem na casa dele, entendeu, quantas coisas eles trabalham lá, que eles têm, objetos, se for da alfa; na história, a profissão do pai; nas ciências, vou trabalhar a higiene na família; é tudo dentro, os conteúdos todos interdisciplinares, juntos, é você trabalhar um conteúdo dentro de todas as áreas” (RMCCO-R); “[...] é o trabalho feito onde todos trabalham a mesma situação. Ah, o professor de português lançou um texto, só o português pode trabalhar? Não, matemática também pode trabalhar, então interdisciplinaridade seria isso, todos trabalhando em conjunto.” (MCSF-DG).

As professoras ilustram a dificuldade de definir o termo ao transitar pela transversalidade, o que nos indica que a tentativa de superar o paradigma da disciplinaridade pode ter feito surgir outro, o do esvaziamento das disciplinas a medida em que a proposta horizontal e interdisciplinar acaba por integrar as disciplinas superficialmente na organização escolar.

197 As falas não reconhecem as disciplinas como áreas de conhecimento que se completam visando superar a compartimentalização dos saberes e que a interdisciplinaridade é justamente o esforço de se colocar em prática esse reconhecimento, não valorizando a matemática e o português em detrimento das demais disciplinas, assim como, desvalorizando o trabalho em equipe e integrado com a professora de Educação Física, os Professores de Apoio Especializado, a professora da Sala de Leitura.

A Prof. MCSF-DG ao definir interdisciplinaridade relaciona o termo ao trabalho conjunto, mas mantém o conceito envolto na transversalidade.

As Prof. Regentes entrevistadas (JSO-PR, BFC-PR, MCFO-PR, RTRA-PR, AFCA-PR, RMCCO-PR, VCSB-PR) valorizam a leitura e a escrita, portanto, a prática disciplinar justificada em suas falas pelas dificuldades do sistema de ciclos fazem com que privilegiem a área do Português em detrimento das demais disciplinas assim como apontam a falta de tempo para articularem projetos pedagógicos em conjunto com as demais turmas no cotidiano escolar. Ocorrendo somente quando é determinação da Direção Geral e/ou da Secretaria Municipal de Educação.

A Prof. Orientadora Educacional SFF-OE diz que conhece os três termos e os define com uma única palavra: “respeito”, apontando que esse é o grande desafio que encontra no discurso da educação que só será superado quando “o ser humano aprender a respeitar o outro.

VCSB-PR não responde o que entende por cada termo individualmente como as demais professoras tentaram fazer, lê a pergunta em voz alta “o que você entende por interseccionalidade interdisciplinar e transversal?” Ao fazer uma relação com a prática pedagógica, na tentativa de responder à questão, destaca que procura articular os conteúdos escolares com os temas que surgem no dia a dia de sala de aula. O que nos faz pensar que essa prática fica muito a mercê ao que surge no cotidiano de sala de aula e somente aí há a ação de desenvolver um debate ou intervenção pedagógica para proteção, pois é feito de forma inconsciente. Ao mesmo tempo sua fala registra a prevenção de algumas questões já identificadas na realidade da escola na turma em que se encontra atualmente e nas turmas anteriores, estabelecendo parceria com o Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD)64 realizando

64 O Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD) é um programa sustentado pelo

esforço cooperativo entre a Polícia Militar, a Escola e a Família presente em todo o país, objetiva evitar que crianças e adolescentes, em fase escolar, iniciem uso abusivo das diversas drogas existentes na

198 semanalmente palestras na turma sobre assuntos relacionados a questões familiares e interpessoais, uso de drogas, bullying, preconceito; e, com os alunos do Instituto Superior Anísio Teixeira (ISAT), que realizam residência pedagógica por meio das oficinas “contação de histórias, espaço maker e brinquedoteca”.

Neste ponto destaca-se em sua fala, assim como nas falas de Prof. AFCA-PR, RMCCO-PR, MCFO-PR, RTRA-PR a importância da escola desempenhar um papel mais ativo como espaço de resistência e de denúncia, indicando o “forte compromisso social e político” das professoras, ao articularem conscientemente um “currículo integrado”, pois o conhecimento “que está sendo construído na atualidade demanda um sistema escolar capaz de educar uma cidadania para aprender a se mover na complexidade, para ensinar a conviver na incerteza”. (TORRES SANTOMÉ, 2011 apud SILVA e DELBONI, 2012, p. 280).

Mesmo desconhecendo os três termos teoricamente todas as professoras consideram que é possível, “sim”, realizar uma prática pedagógica “interseccional interdisciplinar e transversal”. Segundo a Prof. JSO-PR é possível tal prática pedagógica aproximar-se dos desafios da escola da complexa realidade escolar, mas para isso

[...] precisa muito de dedicação, muita paixão, você tem que estar apaixonada por aquilo, entendeu e essa turma está me trazendo isso, essa vontade. A turma da tarde já é diferente, a maioria consegue ler, tem uns três ou quatro lá que não conseguem ler, só que aqueles que conseguem ler estão me dando mais trabalho do que esses; estes são agitados mas os de tarde são muito mais, até eu estou jogando isso para eles, não gosto, mas eu comparei, a turma da manhã, eu falei da dificuldades deles, eles estão felizes porque eles estão começando a fazer sozinhos, tudo que eles querem fazer o dever fazem sozinhos, mostrar que conseguiu, “consegui ler, consegui fazer uma frase”, “vocês que conseguem , ficam de graça”, às vezes eu jogo essa responsabilidade para eles acordarem, entendeu, então assim...

Entre esses desafios, o que foi unanimemente citado foi o “problema familiar”, “abandono familiar”, acompanhado dos problemas de aprendizagem dos alunos matriculados, a questão da disciplina e a autoestima. Muitas crianças são criadas por avós/tios, estudam na escola com mais um ou dois irmãos, moram em localidades de risco e apresentam elevado número de faltas, são repetentes, se sentem discriminados, apresentam problemas neurológicos identificados pelas professoras65

sociedade, despertando a consciência também para a questão da violência. A rede municipal de São Gonçalo realizou a formatura no último dia 05 de julho do corrente ano de 300 discentes. (MOREIRA e TRINDADE, 2015; SÃO GONÇALO, 2019).

65As Prof. MPSS-AE, BFC-PR, AFCA-PR, a partir das necessidades identificadas nas turmas nos

199 e pela orientação educacional – apesar de não terem formação específica para diagnosticar –, outras crianças apresentam laudos, são muito agitadas, ansiosas, sem noções básicas de higiene etc. (JSO-PR, VCSB-PR, SFF-OE, RTRA-PR, BFC-PR, CMNM-OP, AFCA-PR, RMCCO-PR). Além desses desafios que precisam ser superados, o que seria necessário para se colocar em ação a prática pedagógica “interseccional interdisciplinar e transversal”? Respondem, o “respeito” (SFF-OE); “[...] dá trabalho você sair da mesmice, [...] sair do cuspe e giz [...] mas acho que o rendimento seria muito maior, [...] se saísse da sala de aula, se ultrapassar a questão da sala de aula [...]” (MCSF-DG); “eu acho que a gente deveria ter alguns projetos relacionados a esse plano para que a gente possa vir aplicar [...]” (MPSS-AE); “através de projetos, né!” (CCR-AE).

As professoras que atuam nos primeiros anos de escolaridade do 1º segmento do Ensino Fundamental têm formação generalista, cursaram Formação de Professores no nível Médio e/ou Pedagogia, em nível Superior. Essa formação possibilita que lecionem as mais variadas disciplinas que compõem a grade curricular dos anos de escolaridade em que vão atuar, do 1º ao 5º ano.

Possíveis falhas na formação do conhecimento específico na formação das professoras para os anos iniciais da Educação Básica podem indicar a ocorrência de problemas conceituais tanto nos Cursos de Ensino Médio quanto no Ensino Superior. (MEGLHIORATTI, BORTOLOZZI e CALDEIRA, 2005; BULOS e JESUS, 2006).

A possível insegurança, percebida nas falas das professoras em torno dos conceitos presentes na perspectiva “interseccional interdisciplinar e transversal”, pode acarretar a compreensão da interdisciplinaridade como transversalidade e talvez por isso as professoras não consigam definir, não considerando o termo familiar. Talvez por isso, também se perceba a ausência em suas falas da presença das equipes multiprofissionais, ao deixarem de citar a parceria entre elas, Professoras de Apoio Especializado e Professoras Regentes, mesmo elas se encontrando juntas em sala de aula; deixam também de pensar na articulação com outros profissionais, como por exemplo, os de Saúde vinculados ao Programa Saúde da Família (PSF), que vão à escola para desenvolver palestras sobre os temas mutilação e suicídio; os professores

desenvolver um trabalho diferenciado com determinados alunos mesmo sabendo que não têm habilitação específica/autorização para realizar diagnósticos, mas entendem que é uma forma que encontraram para ajudar as crianças em suas dificuldades de aprendizagem.

200 do PROERD e PROFESP que visam o desenvolvimento de um projeto específico e/ou comum a todos da escola (1º e 2º segmentos do EF).

É recorrente a culpabilização das famílias. Toda vez que uma pergunta era feita as professoras normalmente procuravam destacar o (não) envolvimento ou participação dos responsáveis na educação dos alunos – o que era medido pelo comparecimento às reuniões de pais/responsáveis (VCSB-PR, RTRA-PR, BFC-PR, JSO-PR), por saber o nome da professora (VCSB-PR), pela atenção dada à comunicação escola-casa, referente a comparecer às reuniões específicas com a Orientação Educacional (SFF-OE, CMNM-OP, BFC-PR, JSO-PR, RMCCO-PR, VCSB-PR, MSB-AE), atendimento aos encaminhamentos aos setores, como o Centro de Inclusão Municipal Hellen Keller (CIM)66 (SFF-OE, CMNM-OP, BFC-PR, JSO-PR,

VCSB-PR, AFCA-PR, MSB-AE), por exemplo, e, sobretudo, acompanhamento dos