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4. Perturbação do Espetro do Autismo

4.2. Intervenção Assistida por Animais: Atividades Assistidas por Animais como

A utilização de animais como alternativa de terapia iniciou-se no século XIX, quando os médicos perceberam que o contacto com os animais trazia benefícios, ao nível da socialização, para os pacientes que tinham algum tipo de deficiência (Mendonça et al, 2014). Posto isto, nas últimas décadas, este tipo de intervenção começou a ter mais destaque e a ser mais utilizado, sendo que, atualmente, tem vindo a desenvolver-se uma abordagem com recurso a animais, designada por Intervenção Assistida por Animais (IAA). Dentro desta, existe uma dimensão muito particular,

32 nomeadamente, as Atividades Assistidas por Animais (AAA), onde estes são utilizados em contextos terapêuticos e como auxiliares, com o intuito de minimizar alguns efeitos de diversos tipos de deficiência (Lima & Sousa, 2004).

De acordo com os mesmos autores, as AAA são intervenções sem cariz terapêutico que visam, de modo informal, a aquisição de benefícios motivacionais, educativos e recreativos, estimulando e melhorando a qualidade de vida dos indivíduos envolvidos nas mesmas. Estas atividades podem ser adaptadas a diversos contextos e, portanto, decorrer em inúmeros ambientes distintos, e realizam-se com base na relação entre o homem e o animal, uma dupla que é creditada e formada especificamente para este efeito (Nogueira, 2015). As AAA são realizadas de forma casual, por meio da incorporação de um animal com determinadas características, sendo que o mais comummente utilizado é o cão. Assim sendo, este tipo de atividades não requer o estabelecimento prévio de objetivos específicos, uma vez que o encontro com o animal é totalmente espontâneo, não sendo realizados quaisquer registos do que ocorre durante o encontro ou da evolução do sujeito (Pet Partners, 2012, citado por Nogueira, 2015).

De realçar que, no contexto escolar, as AAA podem desempenhar um papel fundamental, na medida em que permitem que o aluno compreenda que o ser humano se encontra, biológica e socialmente, relacionado com as restantes espécies de seres vivos e que, também estas, demonstram comportamentos e necessidades idênticas às do Homem. Ou seja, o uso adequado de animais em contexto educativo leva a que seja feita uma reflexão, no sentido de valorizar o animal como um elemento indispensável em todas as fases do processo. Assim, o animal pode ser considerado uma fonte de inspiração e um modelo de atuação para os alunos (Lima & Sousa, 2004).

É do conhecimento geral que a presença de um cão proporciona bem-estar, satisfação e companhia às pessoas. Porém, muitos deles desempenham um papel que vai mais além do fiel acompanhante. A área dos cães de ajuda social tem vindo a ter cada vez mais relevância, na medida em que, para além de um auxílio, estes cães constituem uma companhia imprescindível e muito necessária para aqueles que lidam, diariamente, com diversas problemáticas. Assim, estes cães criam uma relação amistosa com o público com NEE, sendo que o animal não evidencia qualquer juízo de valor perante as limitações do usuário, aceitando-o pelo que é e respeitando o seu ritmo. De realçar que os cães de ajuda social prestam auxílio às pessoas com dificuldades, no que diz respeito

33 à diminuição do stress e da sensação de isolamento, proporcionando-lhes uma vida com mais qualidade (Associação Kokua, 2017). 2

De acordo com a Associação Kokua (2017), nos últimos anos, a interação humano-animal tem sido alvo de muita investigação científica, que corrobora o sentimento de bem-estar que o contacto com os animais nos produz, sendo muito comum referirmo-nos ao cão como o melhor amigo do Homem. Mas surge, assim, a necessidade de compreender de que forma é que a intervenção do cão contribui para o desenvolvimento de pessoas com deficiência, mais concretamente, com PEA.

Os cães possuem habilidade e disposição para ajudar as pessoas com dificuldades, através de duas formas distintas – cães de terapia e cães de assistência. Os cães de terapia, através de treino e orientação profissional, possuem certas características e desempenham habilidades que permitem a melhoria da motivação, envolvimento e desempenho dos usuários, em contexto terapêutico ou educativo (Associação Kokua, 2017). Por sua vez, e para abordar os cães de assistência, surge a necessidade de referir o DL nº 74/2007 de 27 de março, que consagra, às pessoas com deficiência sensorial, mental, orgânica e motora, o acesso a locais, transportes e estabelecimentos públicos, acompanhadas de cães de assistência. Esta legislação veio, assim, revogar o DL n.º 118/99, de 14 de Abril, que apenas reconhecia o direito de acesso das pessoas com deficiência visual acompanhadas de cães-guia a locais, transportes e estabelecimentos de acesso público. Deste modo, de acordo com o DL que vigora atualmente, os cães de assistência, através de treino profissional, são detentores de determinadas características e habilidades “que permitem a melhoria da autonomia, autossuficiência e independência das pessoas com deficiência sensorial, mental, orgânica ou motora”. Estes cães, para além de prestarem apoio emocional e companhia ao seu parceiro, desempenham um apoio físico, havendo uma adaptação do animal à situação ou fase da deficiência (Associação Kokua, 2017).

Neste sentido, e dado que existem diversos tipos de cães de assistência, tal como existem cães que são treinados para auxiliar pessoas com deficiência visual (cão-guia) ou deficiência auditiva (cão-sinal), alguns cães têm sido preparados para dar assistência a pessoas com PEA, adquirindo a designação de cães de serviço para crianças com autismo. Estes são treinados para auxiliar crianças com PEA e respetivos familiares, no que diz respeito à segurança vial e apoio comportamental, prestando apoio à pessoa com

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Informação obtida através de documentos escritos e facultados pela Associação “Kokua – cães de ajuda social”

34 PEA no desempenho de funções consideradas desafiantes, tais como, a interação com outras pessoas em locais públicos. De realçar que alguns cães de serviço são treinados para reconhecer e interromper, de forma suave, os comportamentos autoagressivos ou ajudar a ultrapassar episódios de pânico. Portanto, ao identificar uma situação de risco, o cão atua, calmamente, utilizando o toque – encosta-se à pessoa, senta-se, deita-se ou simplesmente pousa-se no seu colo. O cão de serviço possui uma “capa” que o identifica como tal, a qual lhe permite aceder e acompanhar a pessoa com PEA a todos os locais, contribuindo, assim, para a diminuição da sua ansiedade em situações como, visitas médicas ou dentárias, atividades escolares, compras e/ou viagens (Neuroconecta, 2017).

Posto isto, através do estabelecimento da relação “humano-animal”, verifica-se um desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas (verbais e não-verbais) e comportamentais da pessoa com PEA (Neuroconecta, 2017).

Para além dos cães que são classificados como “cães de serviço”, ter um cão como animal de estimação em casa, traz muitos benefícios para a pessoa com PEA, nomeadamente, emocionais, sociais, psicológicos e físicos. O cão é considerado um animal leal, companheiro e amigo, sendo que pode transformar a vida de uma pessoa com PEA, na medida em que é um elemento que transmite afeto, calma e amor incondicional, acabando por ser uma influência positiva (Neuroconecta, 2017).

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Capítulo II

Enquadramento metodológico