CAPÍTULO 4 – DIA-A-DIA DA DISLEXIA NA SALA DE AULA
1. Intervenção
Intervenção é o temo mais utilizado para descrever um conjunto de procedimentos que poderão ajudar na aquisição dos processos requeridos para a aprendizagem da leitura e da escrita. O que interessa ao professor é saber como atuar e o que fazer para ensinar o seu aluno disléxico. Para (Serra, 2008) não existem porções mágicas ou tratamentos adaptáveis a todos os casos: pelo contrário cada caso deve ser encarado na sua especificidade e singularidade.
No entanto Teles (2004) relembra que avaliar sem intervir não faz sentido, porque não permite ultrapassar as dificuldades. Após a avaliação e com base nos resultados obtidos deverão ser implementadas as medidas de intervenção adequadas a cada caso.
Lobo Antunes (2009) refere que não existem comprimidos que curem a dislexia, pelo que a solução é trabalho! Após a confirmação do diagnóstico compete aos técnicos criar materiais atraentes, formas divertidas de a criança descobrir o mundo da escrita, utilizar técnicas multissensoriais, aproveitar os interesses da criança. Os professores podem apoiar um aluno disléxico utilizando as seguintes estratégias:
Instruções explícitas; Ensino mais intenso;
Ler tudo: marcas de produtos nos supermercados, indicadores de localidades, histórias aos quadradinhos, revistas, jornais e livros;
O material de leitura deve estar ao nível real da criança, não ao nível que “deveria” estar. A ideia é instalar um sentimento de confiança e competência, não o inverso; Não há qualquer vantagem em expor a criança ao ridículo e troça de toda a turma. A
leitura em voz alta pode ser causa de tremendo stress e humilhação. A criança poderá “treinar” previamente a leitura do texto e corrigir pequenas falhas. O papel principal dos professores é encontrar o caminho do sucesso para as crianças que têm a obrigação (e o privilégio), de educar;
É importante mostrar à criança que há coisas fantásticas guardadas nos livros que esperam por ser lidos. Alguém terá de lhos ler primeiro;
A criança poderá ter vinte minutos por dia de leitura silenciosa obrigatória;
Poderão ser dadas pistas que indiquem para onde vai o texto, através, por exemplo, de conversa sobre o que se imagina que se vai suceder a seguir;
Utilizar todos os materiais, incluído o próprio corpo, para desenhar as letras. Quem tem a paixão de ensinar transmite o gosto pela matéria que ensina, cria adeptos; A matéria mais complexa deve ser ensinada de manhã, e a que exige atividade física à
tarde;
Os enunciados devem ser claros, curtos, com letras bem legíveis e espaços adequados entre as palavras. Se necessário as instruções deverão ser completadas com informação oral. As perguntas são feitas para aferir compreensão e conhecimentos de factos, associações, ideias, etc.
Segundo Teles (2004) é possível através de intervenção especializada, melhorar as competências leitoras dos disléxicos. Os resultados dos estudos de Sally Shaywitz provaram que é possível “reorganizar” os circuitos neurológicos se for implementado um programa reeducativo concebido com base nos novos conhecimentos neurocientíficos, este programa será referido no próximo ponto. Atualmente verifica-se um grande consenso, quer em relação aos princípios orientadores, estratégias educativas, quer em relação aos conteúdos, o que ensinar. Esta autora refere que a Associação Internacional de Dislexia promove ativamente a utilização dos métodos multissensoriais, indicando os princípios e os conteúdos educativos a ensinar:
Aprendizagem multissensorial: a leitura e a escrita são atividades multissensoriais. As crianças têm necessidade de olhar para as letras impressas, dizer, ou subvocalizar os sons, fazer os movimentos necessários à escrita e usar os conhecimentos linguísticos para aceder ao sentido das palavras. Sendo utilizadas em simultâneo as diferentes vias de acesso ao cérebro; os neurónios estabelecem interligações entre si facilitando a aprendizagem e a memorização.
Estruturado e cumulativo: a organização dos conteúdos a aprender segue a sequência do desenvolvimento linguístico e fonológico. Inicia-se com os elementos mais fáceis e básicos e progride gradualmente para os mais difíceis. Os conceitos
ensinados devem ser revistos sistematicamente para manter e reforçar a sua memorização;
Ensino direto e explícito: os diferentes conceitos devem ser ensinados direta, explícita e conscientemente, nunca por dedução;
Ensino diagnóstico: deve ser realizada uma avaliação diagnóstica das competências adquiridas e a adquirir;
Ensino sintético e analítico: devem ser realizados exercícios de ensino explícito da “fusão fonémica”, “fusão silábica”, “segmentação silábica” e “segmentação fonémica”;
Automatização das competências aprendidas: as competências aprendidas devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem atenção consciente e com mínimo de esforço e de tempo. A automatização irá disponibilizar a atenção para aceder à compreensão do texto.
Embora a escola procure a inclusão, seguindo as políticas de igualdade de oportunidades, continua a tem de preparar os seus alunos para atingir os objetivos estandardizados, mas deve também atender às diferenças dos alunos, e conduzi-los a determinados objetivos, é aqui que surgem as dificuldades quando se consideram os alunos disléxicos. Como é do conhecimento geral a responsabilidade na prevenção do insucesso escolar recai sobre a escola, logo sobre os professores. Um aluno disléxico ter direito a obter sucesso escolar, mas se não o alcança porque não consegue aprender da forma como o professor o ensina, então este tem de o ensinar da forma que ele aprende. Se o aluno não consegue aprender a ler com o método de leitura dos seus colegas então é necessário que o professor utilize outro método.
Sem esquecer que cada caso é um caso. Não há receitas nem recomendações infalíveis e apropriadas a todas as situações. No entanto existem orientações facilmente aplicáveis e reconhecidas como válidas. É importante que o aluno beneficie de apoios que reforcem as suas aprendizagens, e de apoios educativos especializados que envolvam avaliação do seu perfil desenvolvimental e académico bem como intervenção individualizada, de modo a que o aluno desenvolva as suas competências de leitura e escrita, treinando-as recorrendo a atividades e/ou exercícios específicos.