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Intervenção do Enfermeiro de Família na gestão ao regime medicamentoso do

CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4. Intervenção do Enfermeiro de Família na gestão ao regime medicamentoso do

A adesão ao regime medicamentoso surge na atualidade, como um dos territórios de atenção importantes para a prática de cuidados de enfermagem e prioritárias em saúde (OE, 2011a). A gestão ao regime terapêutico medicamentoso operacionaliza-se através do cumprimento e seguimento do que é indicado, traduzido na ação e conduta da pessoa relativamente à toma dos medicamentos prescritos e ainda as indicações terapêuticas fornecidas pelos profissionais de saúde (WHO, 2003).

O sistema de saúde português tem vindo a sofrer rápidas e profundas transformações nas últimas três décadas, onde integrou uma das mais significativas reformas, as dos CSP assumindo várias fases e considerado como o pilar central do sistema de saúde pela sua ligação ao utente (Pisco, 2011), em que o EF assume um papel importante e reconhecido.

Vivendo-se um período de grandes mudanças e de rápida evolução, é importante que exista um novo olhar às necessidades atuais das famílias. Neste sentido, “a enfermagem de família pode ter como objetivo a família como contexto, a família como um todo, a família como um sistema ou a família como um componente da sociedade” (Hanson, 2005, p. 8). A primeira referência legal ao EF surgiu com o regulamento das USF no Decreto – Lei nº 298/2007 (Ministério da Saúde, 2007), que veio consagrar a prática do enfermeiro de família.

O EF, segundo este Decreto-Lei, nº118/2014 (Ministério da Saúde, 2014), assume como principais competências:

 O cuidado da família como unidade de cuidados e a prestação de cuidados gerais e específicos nas diferentes fases da vida do individuo e da família, ao nível da prevenção primária, secundária e terciária, focalizando-se tanto na família como um todo quanto nos seus membros individualmente;

 A contribuição para a ligação entre a família, os outros profissionais e os recursos da comunidade, nomeadamente, grupos de voluntariado, serviços de saúde e serviços de apoio social, garantindo maior equidade no acesso aos cuidados de saúde;

A relação terapêutica estabelecida entre EF e o individuo/família pressupõe um relacionamento com base na reciprocidade e em pressupostos colaborativos que promovem a participação dos membros da família em todas as etapas do processo de enfermagem (Figueiredo, 2009)

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Associado aos cuidados centrados na pessoa com doença respiratória surge o papel do EF como agente privilegiado de intervenção a nível individual, familiar e social, pois são estes os profissionais de saúde que acompanham de forma mais próxima os processos de saúde/doença e, nomeadamente, os que desenvolvem os seus cuidados através da educação para a saúde. A enfermagem, inserida numa sociedade em constante mudança, tem a necessidade de acompanhar através da formação dos seus profissionais uma melhoria na qualidade dos cuidados prestados às pessoas, família e sociedade. A terapia inalatória tem uma serie de vantagens, mas exige que os pacientes usem e dominem o uso do dispositivo inalatório (Lavorini, 2014).

Neste processo, o EF é responsável na prestação de cuidados de saúde, esta é envolvida na procura de soluções, funcionando como facilitador da autonomia da família/individuo. Como referido no Decreto de Lei nº 118/2014 de 5 de Agosto (Ministério da Saúde, 2014), é reconhecido ao enfermeiro dos CSP a sua contribuição na saúde individual, familiar e coletiva implementando a atividade do EF nas diferentes unidade funcionais, evidenciando a importância do seu papel. A preocupação em promover boas práticas e melhorar o controlo da doença respiratória levou ao desenvolvimento de várias recomendações, tal como a Norma 016/2011 de 27/09/2011 (DGS, 2011) e da Orientação 010/2013 de 02/08/2013 (DGS, 2013a) e grupos de apoio como o GRESP, (n.d.), Grupo de Estudo de Doenças Respiratórias

O coordenador do GRESP (Costa, 2016b), defende que a atualização de conhecimentos e a melhoria da gestão de tratamento das doenças respiratórias nos CSP são de extrema importância, pois, diariamente, são assistidas pessoas com este quadro nas diferentes unidades funcionais. A avaliação bem informada e reavaliação frequente sobre o uso de inaladores, juntamente com a educação de pacientes, cuidadores e profissionais, podem melhorar significativamente os benefícios decorrentes da terapia inalatória (Lareau & Hodder, 2012). Como refere Costa (2016a, p. 6), “os EF podem ter um papel importante na educação acerca da doença (…) no ensino regular monitorização da técnica inalatória (…) e no suporte e apoio do doente, cuidador e família na gestão da doença respiratória.” Também defende que a formação profissional contínua é muito importante e torna-se essencial envolver e capacitar a família, idem.” A manipulação inadequada do inalador, continua a ser comum em pacientes de ambulatório, contudo as instruções por parte dos profissionais de saúde é o único fator modificável e útil para reduzir (Melani et al., 2011). Segundo Goris (2013), num estudo comparativo que levaram a cabo, o grupo que foi instruído sobre o uso de um inalador por ensinos, demonstração e folhetos mostrou que 82,4% usaram o inalador corretamente em comparação com o grupo de controle em que todos usaram incorretamente. As evidencias revelam então que ensino planeado poderá diminuir a frequência das exacerbações respiratórias levando à perceção de uma melhoria da qualidade de vida.

O EF cuida da família como unidade de cuidados e estabelece ligações com outros profissionais (Ministério da Saúde, 2014). Essa ligação passa por “envolver os doentes como parceiros ativos

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na gestão da respetiva doença, facultar informação e educação aos doentes (…), facilitar o autocuidado e a gestão pelo doente e desenvolver relações com os doentes e os cuidadores” (OE, 2010, p. 36).

Tendo o enfermeiro um papel de destaque no ensino do doente e família, implica que ele próprio detenha conhecimentos corretos sobre a utilização e técnica inalatória.

Segundo Tratto (2014), num estudo desenvolvido a nível hospitalar, cerca de 75% dos enfermeiros não seguiram todas as etapas de terapia respiratória corretamente, chegando à conclusão que existe um conhecimento comprometido no que respeita ao ensino da técnica inalatória. Um único workshop educativo eficaz sobre a técnica inalatória melhora significativamente a capacidade a longo prazo dos profissionais de saúde para demonstrar estas habilidades (Basheti et al., 2014).

O correto desempenho da técnica inalatória, bem como o manuseamento dos materiais envolvidos neste procedimento, para além da adequação ao doente já anteriormente referida, depende de vários fatores que são da responsabilidade dos profissionais de saúde, como o desconhecimento e a não revisão das técnicas inalatórias utilizadas nos vários dispositivos. Estes dois fatores estão diretamente relacionados com a adesão, otimização da terapêutica inalatória e controle da doença. Assim o EF que faz o ensino ao doente e família deve conhecer os diferentes dipositivos e funcionamento para poder ensinar, corrigir, identificar erros ou técnica inadequada por parte do doente. Com esta afirmação se subentende que se o doente e família não souberem utilizar corretamente os dispositivos inalatórios indicados, nenhum destes modelos será eficiente no tratamento da afeção respiratória que compromete o seu estado de saúde. O número de dispositivos inalatórios e a gravidade da doença respiratória são preditores do uso incorreto de dispositivos inalatórios em pacientes com DPOC (Machado et al., 2015). Os enfermeiros são o grupo profissional que, de acordo com as suas qualificações e competências, procedem ao ensino do utente e família na administração e utilização dos medicamentos (OE, 2015b). A necessidade de os pacientes usarem um novo dispositivo, implica serem adequadamente treinados e avaliados no momento do início, por reforço periódico da formação e também a necessidade de assegurar que o dispositivo selecionado é adequado para o paciente (Chauhan et al., 2016).

O processo educativo dirigido ao doente/família com afeção respiratória, mais especificamente com respeito à utilização da terapêutica inalatória, compreende o desenvolvimento de competências inalatórios por parte do EF. Um passo fundamental, para melhorar o nosso conhecimento sobre este tópico, seria o desenvolvimento de lista de verificação padronizada para cada dispositivo (Chrystyn et al., 2017).

A competência é uma aptidão para cumprir alguma função, dominar conhecimentos, mobilizá- los e aplicá-los de modo pertinente e constrói-se através de um conjunto de fatores centrando-- se na relação enfermeiro, utente, família ou comunidade. Neste contexto, os enfermeiros devem

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ser detentores de competências para o ensino da capacitação do utente do foro respiratório, com respeito à utilização da técnica de terapia inalatória.

A equipa de saúde, nomeadamente o enfermeiro, envolvendo a pessoa e a família, poderá delinear estratégias que promovam a adesão ao regime medicamentoso, a todos os níveis educacional, comportamental e motivacional (Abel Martins et al., 2017), dado que é ele quem assegura que estes possuem um conjunto de conhecimentos, capacidades e habilidades aplicados no contexto prático (OE, 2012).

Entende-se, assim, que a intervenção do EF poderá contribuir para a reabilitação respiratória, suscitando a motivação para a autogestão do seu regime terapêutico, com implicações na melhoria do seu bem-estar (Morujão et al., 2019).

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