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4.1 Intervenção do Serviço Social junto aos usuários em processo de separação conjugal

A partir da prática de estágio realizada no Escritório Modelo de Advocacia – EMA observou-se nos estudos socioeconômicos, por meio das triagens, uma grande demanda de separação conjugal e conseqüentemente muitas dúvidas referentes a guarda, pensão alimentícia, visitas, entre outros. Essas questões nortearam o interesse pelo tema durante o Estágio Curricular I.

Desta forma, considera-se fundamental orientar os usuários sobre o processo de separação conjugal, publicizando e garantindo os direitos das crianças e dos adolescentes. Deve-se informar os pais sobre guarda e guarda compartilhada, o direito de visita do cônjuge e dos avós.

Portanto, é de extrema importância que os usuários conheçam os procedimentos da separação conjugal, bem como as demais questões que envolvem esse processo. Pensou-se, então, que uma maneira de essas pessoas acessarem essas informações seria por meio do Serviço Social no EMA.

O Assistente Social e os estagiários são executores diretos dos estudos socioeconômicos realizados no EMA, por meio da triagem, sendo responsáveis pela referência ético-politica, teórico-metodológica e técnico-operativa presente na intervenção profissional. Essa intervenção tem um caráter fortemente educativo, pois busca a “quebra” de estigmas, preconceitos, além da reflexão sobre os novos arranjos da família. Lidar com sentimentos de medo, vergonha, revolta, culpa, afetividade, respeito, quebra de vínculos, dentre tantos outros que perpassam os membros da família que estão em processo de separação, exige também do profissional um compromisso com a ética e com a competência.

Compreender esses novos arranjos nos possibilita pensar em novas formas de intervenção profissional que possam gerar resultados positivos efetivamente nas novas configurações familiares. Deve-se contribuir para orientá-las quanto à melhoria das inter-relações e à organização entre os membros da família.

Nesse sentido, desenvolveu-se o projeto de intervenção “Trabalhando com grupo de cônjuges em processo de separação conjugal”. O objetivo geral do projeto foi proporcionar conhecimento sobre os direitos da criança e do adolescente aos usuários em processo de separação conjugal atendidos no EMA no município de Palhoça. Os objetivos específicos levantados foram: identificar com os pais a situação da criança no processo de separação; orientar os pais sobre a guarda e a guarda compartilhada; esclarecer as dúvidas dos pais referentes à pensão alimentícia e à execução de pensão; e informar quanto ao direito de visita do cônjuge que fica sem a guarda e dos avós.

Portanto, a orientação realizada ao cônjuge em processo de separação conjugal torna-se de fundamental importância; este trabalho pretende contribuir com as ações de intervenção do Serviço Social na sua relação com o usuário do sistema sociojurídico, especificamente no EMA, por meio de ações socioeducativas de reflexão e orientação das famílias que estão em processo de separação. Priorizando orientar sobre os direitos e os deveres desse processo, a ação profissional desenvolvida vai além da garantia dos direitos sociais no seu sentido material/concreto, abrangendo uma atividade essencialmente educativa.

Em consonância com as dimensões técnico-operativas, teórico- metodológicas e ético-políticas do curso de Serviço Social, essa intervenção buscou trabalhar com a concepção de perceber o espaço de atuação profissional como uma oportunidade de desenvolver por meio de oficinas a discussão e a reflexão sobre os direitos dos filhos, pais e avós acerca da convivência familiar a partir da separação. Nas oficinas foram aplicadas dinâmicas, discutidos casos e esclarecidas as principais dúvidas dos cônjuges sobre o tema proposto.

Marsiglia (2001) ressalta que as respostas às demandas existentes, elaboradas por meio do projeto de intervenção, necessitam possuir bases teóricas e científicas, centralizadas também no processo histórico da demanda existente. Com base nisso, o Assistente Social será capaz de realizar um projeto de intervenção eficaz.

Com base nessa intervenção do Serviço Social, Iamamoto afirma que o Assistente Social precisa

buscar ser um profissional criativo, no sentido de desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho

criativas [...] evitando permanecer somente como executor de tarefas e determinações (apud FÁVERO, 2004, p. 90).

A intervenção se deu por meio de oficinas, nas quais foram oportunizados dois encontros de 1 hora e 30 minutos com grupos de cônjuges diferentes em processo de separação conjugal. Essa intervenção foi coordenada pelas acadêmicas de Serviço Social nos dias 1 e 7 de outubro. O primeiro convite aos usuários aconteceu durante o estudo socioeconômico e, posteriormente, por meio de contato telefônico, pelo qual 10 (dez) usuários foram convidados a participar das oficinas.

O primeiro encontro aconteceu no dia 1 de outubro de 2008 no Escritório Modelo de Advocacia. No entanto, contou com a participação de apenas 2 (duas) usuárias, de um total de 10 (dez) usuários convidados. Apesar da frustração de terem poucos participantes e de acreditar que o motivo do não comparecimento foi devido ao mal tempo, a discussão foi muito interessante, as usuárias presentes demonstraram bastante interesse e agradeceram por terem sido convidadas.

Para relatar a experiência vivenciada na oficina “Trabalhando com grupo de cônjuges em processo de separação conjugal”, foram escolhidos os momentos marcantes e significativos do encontro. No dia 1 de outubro de 2008, foi realizada a 1a oficina. Na semana anterior, foi planejado pelas estagiárias um roteiro que seria seguido ao longo do encontro que compreendia as seguintes etapas: apresentação das estagiárias; esclarecimento dos objetivos do grupo; dinâmica de apresentação; elaboração dos slides com apresentação em power point do conteúdo a ser discutido com o grupo; entrega do questionário para preenchimento no final da oficina; mensagem final; agradecimentos pela participação; e finalização do encontro com um coffe-break.

Notou-se que, no primeiro encontro, houve grande entusiasmo por parte dos usuários, que demonstraram bastante interesse no tema discutido na oficina. Esse entusiasmo pode ser percebido por meio das falas e da participação das usuárias quando expuseram suas experiências vivenciadas no decorrer do casamento e durante o processo de separação. Durante a apresentação dos slides, as usuárias verbalizaram suas dúvidas, sentimentos e angústias decorrentes do processo de separação conjugal. O slide de apresentação iniciou contextualizando as novas formas de organização familiar, que ao longo do tempo vem se transformando e trazendo relevantes mudanças na organização e na dinâmica

familiar. Nesse momento, as usuárias verbalizaram como suas famílias se organizaram após a separação, o que pode ser percebido pelas falas das Usuárias U4 e U5:

Hoje vivo com meus filhos e netos [...] (U5).

[...] agora mora somente eu e meu filho, pois não quis mais ter um companheiro [...] (U4).

No relato acima, identificam-se duas novas formas de organização familiar, a família ampliada e a família monoparental.

Na seqüência foram apresentados a diferença entre separação e divórcio, o que é união estável, quais os tipos de guarda, os mitos e as verdades sobre pensão alimentícia e o direito de visita. Esse momento acabou superando as expectativas, pois muitos assuntos foram debatidos, o que proporcionou uma riqueza de informações a respeito da visão desses usuários.

No término da oficina as usuárias agradeceram pelo convite e pelos conhecimentos adquiridos com as apresentações. Apesar de poucos participantes, o encontro foi significativo e de suma importância para os usuários e também para as acadêmicas.

O trabalho com grupos exige o ordenamento dos aspectos ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo da profissão. O Assistente Social com grupos faz acontecer a temática, mantendo uma relação profissional de práxis, em que teoria e prática estão ligadas de forma a atender às necessidades do grupo. Esse profissional tem o papel de coordenador com o objetivo de mostrar, motivar e facilitar o desenvolvimento e a organização do grupo de uma forma criativa, instigante e organizada.

Nesse sentido, é necessária a compreensão da totalidade dinâmica e autônoma do grupo, bem como do contexto social em que ele está inserido, respeitando-o em razão desse contexto e das ideologias que o cercam no nível cultural, simbólico e de expectativas expressas pelo grupo, e desenvolvendo o processo de trabalho na perspectiva de mudança social, que só se efetivará quando emergir o próprio grupo.

É necessário por meio de ações educativas garantir a efetiva ampliação dos direitos sociais do cidadão; entende-se que o Serviço Social precisa se

posicionar diante desse novo espaço de trabalho. Afinal, o Serviço Social consegue intervir em questões que resultam das várias expressões da questão social.

Considera-se fundamental o contato com esses usuários que estão fragilizados por conseqüência da separação conjugal, pois essa ação educativa possibilita a desmistificação dos preconceitos que ainda se têm em relação à separação conjugal, principalmente em relação aos novos arranjos e rearranjos que incidem significativamente na organização da família.

Além desse encontro, foi realizada mais uma oficina que ocorreu no dia 7 de outubro de 2008. Nesse dia compareceram 3 (três) usuários dos 8 (oito) convidados.

O roteiro da 2a oficina foi o mesmo já mencionado no primeiro encontro, pois se trata de grupos com diferentes participantes.

Nesse segundo encontro se discutiram a pensão alimentícia e o direito de visita. Vejamos o que podemos perceber das falas dos usuários mencionados.

a pensão é um dever, eu tenho que participar [...] e quanto a visita é bem bom ver meu filho, ele fica contente [...] achei que só a mulher tinha direitos em relação ao filho e a pensão (U3).

a pensão é necessária, uma ajuda boa, nem sempre a mãe tem condições (U2).

eu achava que se não pagasse a pensão não poderia ver meu filho, não tinha visto por esse lado como um direito (U1).

Percebeu–se que esse encontro extinguiu muitos preconceitos, servindo também como um espaço de troca de experiências e aprendizado. A intervenção do Serviço Social nos grupos possibilitou aos usuários uma nova percepção de enfrentamento ao processo de separação conjugal, bem como os direitos dos filhos nesse processo. A seguir seguem as fotos do 2º encontro:

Figura 1 − Momento de integração do grupo em Palhoça, 2008 Fonte: Arquivos do Serviço Social do EMA, 2008.

Figura 2 − Momento de resposta do questionário em Palhoça, 2008 Fonte: Arquivos do Serviço Social do EMA, 2008.

A intervenção profissional empreendida pelo grupo “Trabalhando com grupo de cônjuges em processo de separação conjugal” traz uma proposta muito interessante visto que complementa e amplia a atuação profissional do Assistente Social, que busca alternativas para novas ações mais focalizadas na família.

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