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Introdução ao conceito de confiança

2. BASE TEÓRICO-EMPÍRICA

2.2. Confiança

2.2.1. Definições de confiança

2.2.1.1. Introdução ao conceito de confiança

Confiança, como já relatado por diversos autores em ciências sociais é uma variável, ou constructo, ainda não completamente definida, o que pode ser considerado natural para um fenômeno complexo que é objeto de estudos em diversas disciplinas (BHATTACHARYA, et. al., 1998). Nooteboom (1996) classificou confiança como um termo tênue, esquivo e de senso comum, caracterizando um conceito que é demasiadamente sutil e difícil de explicar, que escapa ao pesquisador, mas que por outro lado é muito difundido, tanto nas ciências como popularmente.

Para alguns autores, confiança é tida como variável universalmente presente nas relações sociais. Giddens (1991) percebeu que a confiança é que permite o desencaixe entre as dimensões tempo e espaço, característica marcante da vida moderna. Arrow (1974) faz o mesmo ao afirmar que a confiança é um lubrificante das relações sociais, quaisquer que sejam. Já para Luhmann (1979), a confiança, entre outros fatores, permite a ordenação do mundo social.

Na presente seção deste estudo pretende-se expor as dificuldades de seu entendimento e definição do conceito de confiança, para desta maneira justificar a definição adotada neste estudo. Para tanto, expõe-se o que é confiança e o que não é confiança, mas com ela se confunde. Para facilitar o entendimento e a construção

3 Como durante a realização de revisões bibliográficas é comum ainda não se ter definido o objeto de pesquisa e, como, mesmo que se tenha é possível que o pesquisador ainda não o conheça tão profundamente a ponto de saber se as relações interorganizacionais ocorrem nesses níveis, acredita-se ser mais adequado, caso utilize-se o termo APL, qualificá-lo como maduro se isto for verificado empiricamente.

teórica parti-se do conhecimento não especializado, encontrado nas definições dos dicionários.

No dicionário Houaiss de língua portuguesa (2001) o verbete confiança recebe oito assertivas que apontam o mesmo número de sentidos ao termo, sendo dois destes regionalismos. Os outros seis auxiliam o entendimento da abrangência que o termo confiança apresenta. O Quadro 01 aponta tais assertivas.

Este conhecimento não especializado oferecido pelo dicionário Houaiss Quadro 01: Sentidos de confiança segundo o dicionário

1 crença na probidade moral, na sinceridade afetiva, nas qualidades profissionais etc., de outrem, que torna incompatível imaginar um deslize, uma traição, uma demonstração de incompetência de sua parte; crédito, fé

Ex.: <ter profunda c. num amigo> <a terna c. dos casais bem ajustados> <ter c. no médico>

2 crença de que algo não falhará, é bem-feito ou forte o suficiente para cumprir sua função

Ex.: <tem c. nos freios para correr assim?>

3 força interior; segurança, firmeza Ex.: sempre demonstrou grande c. em si

4 crença ou certeza de que suas expectativas serão concretizadas; esperança, otimismo

Ex.: ter c. no futuro, na vida

5 sentimento de respeito, concórdia, segurança mútua Ex.: o acordo foi assinado num clima de c.

6 comportamento não facultado a alguém de posição considerada inferior, ou sem intimidade suficiente para assim se comportar; atrevimento, insolência

Ex.: que c. é essa agora, de pedir meu carro emprestado!

6.1 Regionalismo: Brasil.

ousadia nas iniciativas amorosas Ex.: a moça é séria e não admite c.

7 (sXX)Regionalismo: Nordeste do Brasil. confim, limite (mais us. no pl.) Ex.: o tiroteio se deu nas c. do Mato Preto

v substantivo masculino

Regionalismo: Rio Grande do Sul.

8 empregado (ou outra pessoa) de confiança

Fonte: HOUAISS (2001)

Este conhecimento não especializado oferecido por Houaiss (2001) fornece auxílio à explanação do que é confiança e das variações que o termo toma nos estudos acadêmicos que se ocupam em estudá-la, como se vê a seguir, partindo da segunda assertiva4.

A segunda assertiva trata da confiança do ator em um conhecimento especializado, o que é caracterizado por Giddens (1991) como um sistema abstrato para aquele que não é detentor do conhecimento capaz de desenvolver o artefato, no caso do exemplo do dicionário, o freio. Para Giddens, a confiança nos sistemas peritos, derivada da credibilidade da ciência aplicada, é fator decisivo para a existência do desencaixe tempo-espaço, característica marcante na era moderna.

No sentido da segunda assertiva similar ao que é tomado por Giddens, confiança é também fé ou crença. No quadro resumo de Blomquist este tipo de confiança enquadra-se como fé e confidência.

A terceira e quinta assertivas, não são pertinentes aos estudos interorganizacionais, entretanto úteis por demonstrar que confiança também é uma propriedade individual, da qual pode-se depreender que se torna objeto para a ciência da psicologia. Além disto, a quinta assertiva permite a interpretação de que a confiança relaciona-se com a prospecção do futuro, o que fica mais claro na quarta e principalmente na primeira assertiva. A quarta assertiva deixa claro que confiar é também uma aposta e, desta maneira, interrelaciona-se à incerteza e risco.

Por fim, a primeira assertiva é a conceituação mais ampla e mais complexa de confiança e que, de certa forma, inclui as principais variações acadêmicas do termo.

Ao definir confiança como a “crença na probidade moral, na sinceridade afetiva, nas qualidades profissionais etc., de outrem, (...)” Houaiss (2001) dá uma amplitude ao termo que revela seu caráter substantivo, interpessoal e relacional e na retidão moral de outrem ou em sua capacidade técnica, competência. E ao complementar o texto afirmando que confiar “ (...) torna incompatível imaginar um deslize, uma traição, uma

4 A sexta, sétima e oitava trazem sentidos regionais brasileiros de uso informal que serão deixados de lados neste estudo.

demonstração de incompetência de sua parte; (...)” apontar para uma das principais implicações da confiança nas relações interorganizacionais.

Certamente a definição da primeira assertiva não deve ser tomada como base para um estudo acadêmico devido a questões de rigor científico. A contribuição de citá-la aqui é demonstrar o escopo da variável no senso comum e as várias correlações que podem se realizar com as teorias que tratam das relações interorganizacionais.