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CAPÍTULO 1. Pteridófitas do Parque Estadual do Itacolomi, Minas Gerais, Brasil:

1. INTRODUÇÃO

As pteridófitas são as plantas vasculares sem sementes, que se reproduzem por esporos, com marcada alternância de duas gerações em seu ciclo de vida. Por compartilharem tais características, eram tratadas em uma única divisão denominada “Pteridophyta”, que reunia classes evolutivamente distintas, constituindo assim um táxon parafilético (Stevenson & Loconte, 1996; Pryer et al., 2004; Smith et al., 2006a).

Atualmente, através dos estudos filogenéticos, reconhecem-se duas linhagens monofiléticas: Lycophyta e monilófita (Pryer et al., 2004). O termo Pteridophyta como uma divisão dentro das plantas vasculares está em processo de desuso, mas ainda é utilizado na literatura científica e coloquial.

De acordo com Roos (1996), a diversidade estimada para as pteridófitas varia entre 12.000-15.000 espécies, das quais 10.000 a 12.500 estariam nos trópicos. Aproximadamente 75% dessa riqueza tropical ocorre em duas grandes regiões: a mais rica compreende o sudeste da Ásia e a Australásia, com cerca de 4.500 espécies, e a outra abrange as Grandes Antilhas, o sudeste do México, a América Central e a região dos Andes do oeste da Venezuela ao sul da Bolívia, com aproximadamente 2.250 espécies (Tryon & Tryon, 1982).

A região Neotropical concentra importantes áreas geográficas de pteridófitas (Tryon, 1972). Tryon & Tryon (1982) apresentaram quatro grandes regiões com alta diversidade de espécies, sendo que cada uma apresenta aproximadamente 40% de endemismo: uma nas Grandes Antilhas, com cerca de 900 espécies; uma na região Sul do México e na América Central, também com cerca de 900 espécies; uma na região Andina, com cerca de 1.500 espécies; e a última na região Sudeste e Sul do Brasil, com aproximadamente 600 espécies. O endemismo brasileiro está concentrado, sobretudo, nas regiões úmidas da Serra do Mar e nos campos limpos das regiões areníticas de Minas Gerais (Tryon, 1972; Tryon & Tryon, 1982).

Segundo Moran (1995a), na América do Sul ocorrem cerca de 3.000 espécies de pteridófitas, das quais aproximadamente 1.200-1.300 estão presentes no Brasil (Prado, 1998). Atualmente, sabe-se que a estimativa de Tryon & Tryon (1982) no que se refere ao Sudeste e Sul brasileiro está desatualizada, tanto que Prado (1998) estimou a ocorrência de 500-600 espécies de pteridófitas para o estado de São Paulo. Alexandre Salino & Thaís Elias Almeida (no prelo), 683 espécies para o estado de Minas Gerais. Para o estado do Paraná existe uma estimativa de 390-420 espécies, e para a Ilha do Mel, neste estado, foram registradas 114 espécies (Salino et al., 2005).

As pteridófitas ocorrem nos mais variados ecossistemas, em uma grande variedade de ambientes: do nível do mar a elevadas altitudes, de regiões

árticas-alpinas ao interior de florestas tropicais úmidas, de áreas subdesérticas no interior dos continentes até regiões rochosas costeiras e mangues (Page, 1979). Porém, 80% das espécies de pteridófitas ocorrem em áreas tropicais (Roos, 1996) e possuem como ambientes preferenciais os montanhosos bastante úmidos dos trópicos e subtrópicos que não apresentam períodos secos prolongados durante o ano (Holttum, 1938; Page, 1979; Tryon, 1986a; Roos, 1996). Segundo Alexandre Salino & Thaís Elias Almeida (no pelo), o Sudeste e Sul do Brasil foi considerado um dos centros de diversidade e endemismo da América Tropical por Tryon & Tryon (1982), provavelmente, pelo fato de que parte dessa região apresenta a combinação de clima tropical úmido, montanhas e ecossistemas florestais.

Além de promover o aumento da riqueza de espécies de pteridófitas, as montanhas influenciam na distribuição destas, agindo como barreiras à migração, gerando endemismo (Moran, 1995b). Observa-se que as regiões ricas em diversidade e endemismo que possuem mais de 500 espécies de pteridófitas coincidem com as regiões montanhosas do Neotrópico (Tryon, 1986a).

Ademais, quando se compara o número de espécies até então registrado para os estados de Minas Gerais e São Paulo com as terras baixas da Amazônia brasileira, considerada a região com menor diversidade de pteridófitas no Neotrópico, corrobora-se a constatação de que nas regiões montanhosas a diversidade do grupo é maior (Moran, 1995b).

As causas da alta riqueza e endemismo nas montanhas são pouco conhecidas. Presumivelmente, elas resultam da variedade de ambientes criados por diferentes tipos de solos, rochas, elevações, inclinações, exposições à luz e microclimas (Moran, 1995b).

As pteridófitas formam um importante componente da flora de florestas tropicais úmidas, compreendendo cerca de 10% do total do número de espécies de plantas vasculares (Grayum & Churchill, 1987). Segundo Foster (1990), o grupo apresenta um número de espécies superior ao de que qualquer família de angiospermas herbáceas.

A ampla distribuição e representatividade das pteridófitas em diversos ambientes devem-se, principalmente, à facilidade de dispersão dos esporos a longas distâncias (Smith, 1993). De outro lado, os padrões de distribuição geográfica dessas plantas dependem mais de condições micro e macroclimáticas adequadas à sua sobrevivência do que da capacidade de dispersão (Marquez et al., 1997).

Smith (1972), comparando a distribuição das pteridófitas com a das angiospermas, observou que a porcentagem de gêneros e espécies endêmicas é bem

menor no que diz respeito às pteridófitas do que quanto às angiospermas, o que se explica pela ampla capacidade de dispersão e estabelecimento daquelas.

Estudo sobre pteridófitas no estado de Minas Gerais

Em Minas Gerais, Christ (1900) deu início aos estudos nessa área ao publicar um trabalho sobre as pteridófitas de Minas Gerais, na obra de Schwacke intitulada “Plantas novas mineiras”.

Posteriormente, Brade (1942) realizou levantamentos na Serra do Caparaó. Em 1949, esse autor realizou uma excursão ao Município de Passa Quatro. Lisboa (1954), utilizando-se da coleção do Prof. José Badini, que, à época, encontrava-se depositada no Herbário da Escola de Farmácia de Ouro Preto, elaborou uma listagem para Ouro Preto e região; Badini (1978) descreveu as espécies de Ophioglossum L. de Ouro Preto.

Nas décadas de 80 e 90, os estudos com pteridófitas se concentraram na Cadeia do Espinhaço, dos quais se destacam os seguintes trabalhos: Carvalho (1982), com o gênero Anemia na Cadeia do Espinhaço; Camargo (1987), com as pteridófitas rupícolas e saxícolas do sudeste de Minas Gerais; bem como os trabalhos de Windisch & Prado (1990); Windisch (1992a); Prado (1992); Prado & Windisch (1996) e Prado (1997), com as famílias Cyatheaceae; Hymenophyllaceae; Pteridaceae, família Cheilanthoideae; Dennstaedtiaceae e Pteridaceae, Sub-família Adiantoideae e Taenitoideae, respectivamente, realizados no “Projeto Serra do Cipó”.

Além dos trabalhos na Cadeia do Espinhaço, Krieger & Camargo (1990) realizaram um estudo florístico na região da Zona da Mata e Graçano et al. (1998), apresentaram uma lista preliminar das pteridófitas do Parque Estadual do Rio Doce. No início do século XXI, Melo & Salino (2002) pesquisaram as pteridófitas do Parque Estadual do Rio Doce e da Estação Biológica de Caratinga; Figueiredo & Salino (2005), na APA-Sul RMBH, localizada na bacia hidrográfica do São Francisco e Rio Doce; Garcia (2006) revisou a família Dryopteridaceae em Minas Gerais; Melo & Salino (2007), por sua vez, realizaram o trabalho na APA Fernão Dias; e Salino (com. pessoal) cita trabalhos que estão sendo realizados na APA-Sul RMBH (incluindo o Parque Natural do Caraça), no Parque Estadual do Rio Preto, no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e no Parque Natural Municipal do Ribeirão do Campo; além do

checklist de pteridófitas para o estado de Minas Gerais, que está sendo realizado por

Quanto ao Parque Estadual do Itacolomi, os trabalhos existentes tratam basicamente da flora de Angiospermas, conforme Messias et al. (1997), que, em um inventário florístico de todas as famílias de plantas vasculares, mencionaram 24 espécies de pteridófitas. Estudos específicos com o grupo restringem-se à monografia de Rolim (2004), que inventariou 62 espécies distribuídas em quatro fragmentos florestais, e Casarino (com. pessoal), que registrou 13 espécies de Schizaeaceae. Entretanto, nenhum desses trabalhos foi publicado.