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No decorrer deste capítulo, serão apresentadas a motivação que despoletou o estudo, a questão de partida delineada e os respetivos objetivos, bem como o contexto, a pertinência e a relevância do presente ensaio investigativo.

1.1.

MOTIVAÇÃO PARA O ESTUDO

A leitura ou a escuta de obras literárias, a sua interpretação e atribuição de significados em harmonia com a vida, o misto entre o real e o imaginário, o cruzamento sublime entre o que se lê/escuta e o que se vive, sempre foi algo que me fascinou. Os livros sempre se

43 revelaram para mim um passaporte para viagens, de dentro para fora, e de fora para dentro de mim própria, marcadas pelas maravilhosas descobertas e sensações que vagueiam entre o ler, o sentir e o ser!

Contemplando as maravilhas da escuta de obras literárias, ainda na minha infância, fui aprofundando esta relação, até que, com o passar do tempo, pegar numa caneta e desenhar numa folha os grafemas que traduziam imagens e emoções, que a leitura e a compreensão das obras me despertavam, se manifestou uma forma inexplicável de ser e sentir, o que quisesse, quando quisesse e como quisesse.

Talvez esta relação fosse para mim um amor à primeira vista, e é! Mas nem sempre o foi, pois, a escola numa tentativa de formatar o sentir que é pessoal e intransmissível, quase fez desvanecer este encantamento. No 12.º ano de escolaridade, as classificações dos elementos de avaliação, relativos à disciplina de Português diminuíram drasticamente. Sentindo-me injustiçada, tentei compreender quais as dificuldades a superar, ao que me foi respondido que tinha de apostar mais na análise dos poemas, uma vez que estavam insuficientes, pois não se aproximava da análise que a docente considerava correta. Daquele dia em diante seria suposto que existisse apenas uma análise, previamente delineada, para cada poema. Foram tempos delicados, mas mesmo com classificações injustas, continuei a analisar os poemas por mim. No entanto, poderia ter-me sentido receosa, a não o fazer, e era apenas mais uma, que perdia a oportunidade de me envolver com a leitura e com a escrita, como tantos o fizeram.

Confusa com este método de ensino, mas certa desta relação entre a leitura, a escrita e a vida, senti-me sempre interessada em, no meu futuro profissional, proporcionar aos alunos momentos em que pudessem ser eles próprios perante as suas leituras, auxiliando- os a (re)descobrirem-se e a (re)construírem-se, sempre que possível, através desses momentos, tornando-os prazerosos.

Ainda em busca de oportunidades que pudessem vir a despoletar um estudo neste sentido, na PP do 1.º CEB II, foi-me proposta a exploração da obra literária O beijo da palavrinha, de Mia Couto, seguindo algumas diretrizes presentes no manual de português. E assim foi, mas na verdade foi muito mais do que isso, pois, ao permitir que essa relação, entre os alunos e o texto acontecesse, que as partilhas de ideias fluíssem, os alunos foram-se

44 mostrando cada vez mais motivados em interpretar e compreender a obra, em relacioná- la com as suas vidas, em atribuir-lhe significados.

Na tentativa de minimizar nos alunos o sentimento que a escola me havia feito sentir, decidi aprofundar mais esta questão, partindo para a realização do presente ensaio investigativo. Para isso recorri à exploração de obras literárias, através de diferentes abordagens didáticas, não só promovendo atividades de maior interação entre o texto, o leitor e o contexto, como também de interações, mais reduzidas e limitadas, onde apenas eram contempladas interações entre o leitor e o texto, sem a influência do contexto, para entender, se, no fundo, a forma como a escola desafia os alunos, tem ou não influência no seu desenvolvimento e aprendizagem.

1.2.

QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO E OBJETIVOS

O presente ensaio investigativo foi desenhado com o intuito de responder à seguinte questão de investigação: “De que forma diferentes abordagens didáticas influenciam a CL dos alunos acerca das mesmas?”

Para melhor encontrar possíveis respostas à questão de investigação acima referida, foram definidos os seguintes objetivos:

1) Perceber qual o tipo de abordagem didática das obras que mais influencia a compreensão leitora dos alunos sobre a obra.

2) Constatar se diferentes abordagens didáticas à leitura e exploração de propostas, em torno da leitura de obras literárias, influenciam ou não a compreensão leitora dos alunos, e, em particular, a compreensão da obra estudada.

3) Compreender como se comportam os alunos mais e menos competentes face a duas abordagens didáticas distintas.

1.3. J

USTIFICAÇÃO E PERTINÊNCIA DO ESTUDO

No início desta PP, no decorrer da exploração da obra O beijo da palavrinha, de Mia Couto, através de algumas propostas didáticas mencionadas no manual de português, em vigor na respetiva turma, foram por mim observados diversos interesses por parte dos alunos, em explorar a obra posicionando-se criticamente sobre a história, numa interação

45 constante entre o seu intelecto, a sua vida e a mensagem presente na obra. Assim sendo, e tendo em conta que a sociedade contemporânea exige cada vez mais a participação dos cidadãos no exercer dos seus direitos e deveres, necessitando por isso, que sejam dotados de competências, não só especificas de determinada área, mas transversais, como é o caso da resolução de problemas, do trabalho em cooperação, da autonomia, do pensamento crítico, da solidariedade, da democracia, do respeito pelo outro, da partilha de ideias e opiniões, da sensibilidade e da argumentação, cabe à escola potenciar uma vasta panóplia de atividades que lhes permitam tornar-se aptos para corresponder a estas necessidades, tornando-se assim cidadãos proativos e responsáveis. (Gomes, Brocardo, Pedroso, Carrillo, Ucha, Encarnação, Horta, Calçada, Nery & Rodrigues, 2017; Gomes, 2016). Assim sendo, estimular a comunicação com o outro, a cooperação, a partilha, a interação, a reflexão, a argumentação, o espírito crítico, a escrita conferindo-lhe diversas funcionalidades, torna-se extremamente vantajoso, da mesma forma que , confrontar os alunos com diferentes tipos de propostas e estratégias, os torna mais seletivos, permitindo-lhes formular opiniões de acordo com preferências, ao mesmo tempo que os torna dotados de estratégias para enfrentar as adversidades, e a frustração, bem como, em situações de sucesso, os leva a sentirem prazer ao realizar este exercício (Niza e Martins, 1998; Santana, 2007; Solé, 1998).

Ainda assim, permitir que coloquem a leitura e a escrita em interação, no sentido de promover a CL, quer das obras literárias, quer de si próprios e do mundo envolvente, além de os tornar bons leitores, permite-lhes contactar com as várias funcionalidades da leitura e da escrita, estimula a comunicação, auxilia-os a escrever com diferentes intenções e destinados aos diversos públicos, bem como os torna autónomos e proficientes, quer ao nível destas competências, quer ao nível de outras transversais, acima mencionadas. (Batista, Viana e Barbeiro, 2011; Soares, 2010; Weaver, 1988, cit. Por Sim-Sim, 2006; Sequeira, 1990; Torres, 2008).

Deste modo, e tendo em conta que “[…] o leitor não nasce, faz-se”, cabe à escola permitir que cada aluno possa ser um bom leitor. Dioniso (2000, p. 41)

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