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A Sintaxe se ocupa do estudo das relações que as palavras estabelecem entre si nas orações e das relações que se estabelecem entre as orações nos períodos. Quando se relacionam palavras e orações, criam-se discursos, ou seja, utiliza-se efetivamente a língua para que se satisfaçam todas as necessidades de comunicação e expressão. O conhecimento da Sintaxe é, portanto, um instrumento essencial para o manuseio satisfatório das múltiplas possibilidades que existem para combinar palavras e orações. 1 FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO

Dispor as palavras em frases é o primeiro passo para a construção dos discursos. Isso significa que a frase se define pelo seu propósito de comunicação, isto é, pela sua capacidade de, num diálogo, numa tese, enfim, em alguma forma de comunicação lingüística, ser capaz de transmitir o conteúdo desejado para a situação em que é utilizada. Na fala, a frase apresenta uma entoação que indica com clareza seu início e seu fim; na escrita, esses limites são normalmente indicados pelas iniciais maiúsculas e pelo uso de ponto (final, de exclamação ou interrogação) ou reticências. O conceito de frase é, portanto, bastante abrangente, incluindo desde estruturas lingüísticas muito simples, como:

Ai!,

que em determinada situação é suficiente para transmitir um conteúdo claro, até estruturas complexas como:

Assim, a idolatria da máquina de matar que corresponde a certas fantasias do te/espectador mas que nada tem a ver com a função de zelar pela segurança pública, acaba contribuindo para o surgimento dos valentões enlouquecidos dentro da tropa.

As frases de estrutura mais complexa geralmente se organizam a partir de um ou mais verbos (ou locuções verbais). A frase, ou a parte de uma frase, que se organiza a partir de um verbo ou locução verbal recebe o nome de oração. A frase estruturada em orações constitui o período, que pode ser simples (formado por apenas uma oração) ou

composto (formado por duas ou mais orações). Observe: A vida (vale) muito pouco neste país.

Trata-se de um período simples, formado por apenas uma oração organizada a partir da forma verbal destacada.

A vida neste país (vale) tão pouco (que) não se (sabe) (se) (há) limite para o pior. Trata-se de um período composto, formado por três orações organizadas a partir dos verbos destacados e conectadas pelas conjunções grifadas.

A Sintaxe se ocupa do estudo do período simples e do período composto.

- nota da ledora: Campanha da Casa do Hemofílico do Rio de Janeiro, um cartaz vermelho com as seguintes palavras: Você desmaia quando vê sangue?

- fim da nota.

Na frase acima, temos um período composto formado por duas orações, organizadas a partir das formas verbais desmaia e vê.

2 TIPOS DE FRASES

Muitas vezes, as frases assumem sentidos que só podem ser integralmente captados se atentarmos para o contexto em que são empregadas. É o caso, por exemplo, das situações em que se explora a ironia. Pense, por exemplo, na frase "Que educação!", usada quando se vê alguém invadindo, com seu carro, a faixa de pedestres. Nesse caso, ela expressa exatamente o contrário do que aparentemente diz.

A entoação é um elemento muito importante da frase falada, pois nos dá uma ampla possibilidade de expressão. Dependendo de como é dita, uma frase simples como "É ele." pode indicar constatação, dúvida, surpresa, indignação, decepção, etc. Na língua escrita, os sinais de pontuação podem agir como definidores do sentido das frases: "É ele."; "É ele?"; "É ele!"; "É ele?!"; "E ele..."; etc.

Existem, na língua portuguesa, alguns tipos de frases cuja entoação é mais ou menos previsível, de acordo com o sentido que transmitem. Observe:

a)frases declarativas: informam ou declaram alguma coisa. Podem ser afirmativas, como:

Começou a chover. ou negativas, como:

Ainda não começou a chover.

- nota da ledora: campanha da Casa do Hemofílico do Rio de Janeiro: cartaz, em preto, com o seguinte texto: Tem gente que morre porque não vê.

- fim da nota.

Acima, temos exemplo de frase declarativa. Esta, porém, só faz sentido quando lida como resposta à frase interrogativa da página anterior. (da mesma campanha) b) frases interrogativas: ocorrem quando se quer obter alguma informação. A interrogação pode ser direta, como nas frases:

Começou a chover?

Quem quer um louco na presidência? ou indireta, como nas frases: Quero saber se começou a chover.

Não sei quem quer um um louco na presidência.

c) frases imperativas: são empregadas quando se quer agir diretamente sobre o comportamento do interlocutor, o que ocorre quando se dão conselhos, ordens ou quando se fazem pedidos. Podem ser afirmativas, como:

Manifeste claramente o seu pensamento ou negativas, como: Não seja inoportuno.

emotivo. É o caso de: Começou a chover!

Vai começar tudo de novo!

e) frases optativas: são empregadas para exprimir desejo. São exemplos de frases optativas:

Deus te guie!

Bons ventos o levem!

3 AS FRASES E A PONTUAÇÃO

Uma frase é um conjunto de elementos lingüísticos estruturados para que se concretize a comunicação. Na língua oral, esses conjuntos se estruturam em sequências cuja

ordenação em boa parte é feita por recursos vocais, como a entoação, as pausas, a melodia e até mesmo os silêncios. Para perceber a importância da participação desses elementos sonoros na organização da linguagem falada, basta observar alguém que esteja se comunicando em voz alta:

você vai notar que essa pessoa controla os recursos vocais mencionados para que suas frases se articulem significativamente. Assim, as frases faladas e os recursos vocais que as organizam constroem os textos falados.

Na escrita, os elementos vocais da linguagem são substituídos por um sistema de sinais visuais que com eles mantêm alguma correspondência. Esses sinais são conhecidos como sinais de pontuação e seu papel na língua escrita é semelhante ao dos elementos vocais na língua falada: participam da estruturação das frases na construção dos textos escritos. O estudo do emprego dos sinais de pontuação está ligado à percepção de seu papel estruturador na língua escrita. Isso significa que não se aprende a usá-los partindose do pressuposto de que eles representam na escrita as pausas e melodias da língua

falada: não é esse o papel desses sinais. O estudo de seu emprego baseia-se na organização sintática e significativa das frases escritas e não nas pausas e na melodia das frases faladas.

Levando em conta tudo isso, decidimos organizar o estudo da pontuação tomando como ponto de partida os estudos de Sintaxe. Você perceberá, assim, que o conhecimento da organização sintática da língua portuguesa é um poderoso instrumento para que se alcance a pontuação correta e eficiente.

Neste primeiro capítulo, vamos falar dos sinais que delimitam graficamente as frases. Observe:

a) o ponto final (.) é utilizado fundamentalmente para indicar o fim de uma frase declarativa:

Não há país justo sem equilíbrio social.

Não é possível que ainda se pense que há pessoas que têm mais direitos do que outras. "A vida é a arte do encontro, embora haja muito desencontro pela vida." (Vinicius de Moraes)

b)o ponto de interrogação (?) é o sinal que indica o fim de uma frase interrogativa direta:

O que você quer aqui?

Até quando os brasileiros vão se negar a entender que miséria e desenvolvimento são inconciliáveis?

Nas frases interrogativas indiretas, utiliza-se ponto final: Quero saber por que você não colabora.

c) o ponto de exclamação (!) é o sinal que indica o fim de frases exclamativas ou optativas (as que expressam desejo):

Que bela companheira você é! Que Deus te acompanhe!

- nota da ledora: quadrinhos de Ziraldo, representando dois hones se encontrando, um bem humorado e o outro mau humorado: diálogo

- bem humorado: tudo bem?

- mau humorado: - em que sentido? - bem humorado: como vai?

- mau humorado: por que pergunta? - bem humorado: quanto tempo?! - mau humorado: duas e quinze. - bem humorado: Adeus!

- mau humorado: ao diabo! - fim da nota.

Aí estão os pontos de interrogação e de exclamação! Mas, diante de tantos diálogos bizarros, melhor renunciar às explicações, e apenas rir.

Também pode ser usado para marcar o fim de frases imperativas: - Vá-se embora! 1

É comum como recurso de ênfase a repetição do ponto de exclamação ou sua combinação com o ponto de interrogação:

Quê?! De novo?! Não suporto mais isso!!! Ele outra vez?! Não!!

d) o sinal de reticências (...) indica uma interrupção da estrutura frasal. Essa interrupção pode decorrer de hesitação de quem tem sua fala representada ou pode indicar que se espera do leitor o complemento da frase (muitas vezes com finalidade irônica): Veja bem, não sei... Quem sabe seja... É, na verdade eu não sei...

Bem, eu queria... Você sabe muito bem o que eu quero... O árbitro é muito eficiente, mas os auxiliares...

Pelo jeito, ainda será preciso esperar muito tempo para que os brasileiros compreendam em que consiste a verdadeira modernidade social...

Também o sinal de reticências é constantemente combinado com pontos de interrogação ou exclamação, para acrescentar à frase particularidades de significado:

Você faria isso por mim?... De novo!...

e) na representação gráfica de diálogos, utilizam-se os dois pontos (:) e os travessões (-): Depois de um longo silêncio, ele disse:

- É melhor esquecer tudo.

- É melhor esquecer tudo - disse ele, depois de um longo silêncio. - É melhor - concordei.

Também é possível empregar vírgulas no lugar dos travessões intermediários: - Convém tentar esquecer tudo, disse ele, para que ninguém mais seja prejudicado. A situação parece ter chegado a um impasse. "Muitos sem-terra atingiram os limites do desespero", afirmou o sociólogo, "e parecem decididos a ir até o fim".

CAPÍTULO 19