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5. Desenvolvimento Profissional

5.1. O Treino Funcional na Escola para a Melhoria das Capacidades

5.1.2 Introdução

O presente estudo de investigação-ação enquadra-se no contexto do EP, no qual o PE deve recorrer à investigação como forma de compreender, participar e potenciar a sua prática de ensino na escola. Com o objetivo de “perceber a necessidade do desenvolvimento profissional partindo da reflexão acerca das condições e do exercício da atividade, da experiência, da investigação e de outros recursos de desenvolvimento profissional. Investigar a sua atividade em toda a sua abrangência (criar hábitos de investigação/reflexão/ação) ” (Matos, 2014, p. 7)

A investigação-ação pode ser descrita como um estudo longitudinal em contexto, envolvendo ciclos de planificação, ação, observação e reflexão. Não se limitando a um só ciclo, tendo em conta que o objetivo desta metodologia é alcançar melhorias das práticas realizadas pelo professor – investigador, alterando-as de forma a dar resposta às dificuldades encontradas (Coutinho et al., 2009).

Deste modo e com o intuito de desenvolver a aptidão física de uma turma do 3º ciclo do ensino básico, o presente estudo sistematiza a implementação de um programa de treino funcional (TF) nas aulas de EF, com a finalidade de aumentar as Capacidades Motoras (CM) dos alunos. Seguidamente serão apresentadas algumas definições sobre CM e o TF.

5.1.2.1 Conceito de Capacidades Motoras

As CM são habilidades que permitem a realização de movimentos, de qualidades inatas de uma pessoa, que evidenciam determinado potencial para a realização de movimentos.

As CM podem ser divididas em:

 Capacidades Condicionais (CC) – determinadas pelos processos energéticos e metabólicos, de carácter quantitativo (força,

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flexibilidade, resistência, velocidade);

 Capacidades Coordenativas (CCO) – essencialmente determinadas pelos processos de controlo, organização e regulação do movimento, de carácter qualitativo (destreza geral),

5.1.2.2 Noção de Treino Funcional

"O treino funcional é uma metodologia, que visa dotar o corpo humano com um leque de movimentos eficientes e saudáveis. É um tipo de treino que apela à função motora global (como andar, correr, empurrar, puxar, agachar, saltar, lançar) e em que se podem adotar materiais de treino diversificado e com uso múltiplo." (Garganta,2014)

“O conceito do TF atual surgiu no âmbito da reabilitação física, depois começou a ser utilizado pelo treino desportivo para aproximar o treino físico às exigências impostas pela especificidade do desporto e, hoje em dia, tem sido procurado no âmbito do exercício físico relacionado com a saúde” (Garganta & Santos, 2015, p. 138).

O TF tem características bastante interessantes sob uma perspetiva pedagógica quando tenta ser:

- Integral (não incidindo apenas numa CM, mas integrando, as CC e CCO de forma equilibrada);

- Adaptado (individualizando-se de outros tipos de treino); - Seguro (supervisionado sempre por um professor);

- Eficiente (consegue resultados mais rápidos e em menos tempo).

De acordo com Boyle (2004, p. 3), o TF “é um conjunto de movimentos que ensina os atletas a lidar com o seu peso corporal em todos os planos de movimento”. “Este é também caraterizado por ser uma atividade multiarticular, multiplanar, enriquecida propriocetivamente, envolvendo desaceleração

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(redução de forças), aceleração (produção de forças) e estabilização, assim como um volume de instabilidade controlada e uma gestão da gravidade, das forças reativas do solo e dos momentos de força” (Gambetta, 1999).

Ainda de acordo com Boyle (2004), o TF é um tipo de treino geral, ou seja, aplicável a qualquer modalidade, podendo recorrer a exercícios que abrangem habilidades motoras manipulativas ou simples como correr, saltar, rodar e agachar. Pode ver-se presente na competição e atualmente faz parte dos programas de exercício físico, tanto em escolas, como em ginásios, ou até na preparação de atletas de alto rendimento visto que apresenta uma grande possibilidade de adaptação a diferentes realidades. Relativamente à competição, o TF revela-se de grande utilidade, pois “utiliza muitos conceitos desenvolvidos para melhorar a velocidade e a força, e poder melhorar o desempenho desportivo e reduzir a incidência de lesões” (Boyle, 2004, p. 2).

Este tipo de treino não é muito diferente do treino tradicional. Neste tipo de treino, os grupos musculares são alternados de uma estação para outra não forçando assim os mesmos. Assim, enquanto um grupo muscular é submetido ao exercício, os restantes recuperam ativamente e o circuito inteiro é repetido diversas vezes consoante o tipo de atletas ou objetivo (Scholich, 1994).

Dentro dos vários tipos de treino (Treino Intervalado, Treino de Circuito, Pliometria, Crossfit) para desenvolver o programa de treino, a nossa escolha centrou-se nos High Intensity Interval Training (HIIT), que se encontram dentro do tipo de treino intervalado. Os HIIT envolvem uma alternância entre exercícios de alta intensidade (perto do VO2max) e períodos de baixa intensidade, que possibilitam ao corpo a eliminação do ácido lático do sangue e ao indivíduo recuperar para o próximo período de alta intensidade (Sorace, 2009). Este tipo de treino permite, assim, agregar o treino aeróbio ao desenvolvimento das CC. Entre as principais melhorias do HIIT, sublinham-se as melhorias a nível aeróbio e anaeróbio, cardiovascular e perda de gordura abdominal (Kravitz, 2014).

Dentro dos HIIT, TF. O paradigma que atualmente caracteriza o TF surgiu através de Gary Gray, durante os anos noventa (Boyle, 2004). Antes deste paradigma, as funções musculares eram vistas de forma independente, não atendendo ao seu funcionamento. No novo paradigma, surge o conceito de

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cadeias cinéticas, que descrevem a relação existente entre grupos musculares e articulações, que trabalhando em conjunto, melhoram a performance do movimento (Boyle, 2004).

Atualmente, o Treino Funcional (TF) é extremamente popular e tem vindo a ser potenciado pela indústria do fitness como uma ótima forma de obter bons resultados ao nível da força, resistência, equilíbrio e coordenação. Inicialmente surgiu no âmbito da reabilitação para a recuperação de lesões em atletas e atualmente visa a melhoria da AF, no seu expoente máximo – a funcionalidade (Garganta, 2014). De acordo com (Garganta, 2014), o corpo é visto como um todo, em vez de músculos isolados, apela à função motora global através de exercícios que respondem às exigências do movimento humano, exigindo que funcione de forma integrada, multidimensional e para o qual foi concebido. Para o desenvolvimento integral do corpo, Santana (2014) define quatro Pilares do Movimento Humano, nos quais podemos desenvolver o TF:

 Postura Bípede e Locomoção: é fundamental para a nossa existência porque suporta o centro de massa de corpo. A locomoção é a habilidade mais básica e aquela que está subjacente a todos os outros pilares.

 Puxar e Empurrar: estes movimentos deslocam o centro de massa usando o trem superior e traduzem-se em movimentos do quotidiano tais como o abrir uma porta, o lançar uma bola.

 Baixar e Elevar (Mudança de Nível): caracteriza-se por movimentos realizados pelo tronco, pelo trem inferior ou por uma combinação de ambos, como é o caso do baixar para apanhar um objeto que caiu ao chão ou do colocar um objeto numa prateleira alta. São movimentos de deslocamento vertical do centro de gravidade.

 Rotação e Mudança de Direção: é o pilar mais importante dado que a maioria das ações humanas são explosivas e executadas no plano transverso. É fundamental que se incluam movimentos de rotação contra resistência.

O trabalho do TF desenvolvido ao longo do ano letivo pretendia o desenvolvimento da AF dos alunos e a motivação para a prática regular de

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exercício físico, recorrendo ao TF como um meio alternativo e diferente do tradicionalmente empregue (exemplo: flexões de braços, corrida contínua, saltos de canguru), além da possibilidade de atenuar as assimetrias causadas pelas solicitações unilaterais da maioria das modalidades. Para tal, procurou-se averiguar se existiam diferenças significativas ao nível do desempenho motor dos alunos, no decorrer das sessões do programa de trabalho com o TF.

Quanto à avaliação das CM, neste estudo recorreu-se a bateria de testes FT. Esta é baseada em programas de TF e surgiu como alternativa à bateria de testes Fitnessgram (Garganta & Santos, 2015, p. 147). A bateria de testes Fit

School é constituída por um conjunto de teste que avaliam movimentos, ou seja,

avalia padrões de movimentos básicos do ser humano como: saltar, agachar, lançar, tracionar, elevar uma carga do chão e equilibrar (Garganta & Santos, 2015, p. 148).

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