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Investimentos e Financiamentos de Empresas Não-Financeiras

No documento erikaburkowski (páginas 48-53)

CAPITULO 1 – MATRIZ DE CONTABILIDADE SOCIAL E FINANCEIRA BRASILEIRA

1.4.3 Investimentos e Financiamentos de Empresas Não-Financeiras

A variabilidade dos fluxos da MCSF pode ser analisada pela trajetória dos fluxos de investimentos e financiamentos reais e financeiros. Investigando os investimentos realizados e os financiamentos utilizados pelas empresas não financeiras no período de 2005 a 2009, observa-se que as formas reais (investimento em capital fixo e utilização de poupança) apresentam menor variabilidade que as formas financeiras (ativos e passivos financeiros). A Tabela 1.6 apresenta a participação percentual nos investimentos em ativos fixos e financeiros em relação ao total de investimentos e a participação percentual das fontes de financiamentos em relação ao total de recursos utilizados pelas empresas não financeiras brasileiras, valores da média e desvio padrão no período compreendido entre os anos de 2005 a 2009.

Tabela 1.6: Investimentos e Financiamentos das empresas não financeiras brasileiras, média e desvio do período de 2005 a 2009

ATIVOS Média Desvio PASSIVOS Média Desvio

Numerário e depósitos 8,89 5,75 Numerário e depósitos 0 0 Títulos, exceto ações 4,87 7,04 Títulos, exceto ações 2,09 1,52

Empréstimos -2,49 10,87 Empréstimos 16,32 10,44

Ações e outras participações 22,48 2,86 Ações e outras participações 25,84 4,98 Reservas técnicas de seguros 0,21 0,03 Reservas técnicas de seguros 0 0 Outros débitos/créditos 15,99 5,57 Outros débitos/créditos 1,17 8,82

FBCF + VE 50,05 8,6 Poupança 54,57 7,96

48 Evidencia-se que, em relação aos investimentos, as empresas aplicaram metade dos recursos (pouco mais de 50% do total) em ativos fixos, na formação bruta de capital fixo e variação de estoques (FBCF+VE) e a outra metade (pouco menos de 50%) foi investida em ativos financeiros.

A maior parte dos investimentos em ativos financeiros foi em ações e participações. Observa-se que a variabilidade deste investimento é pequena em relação à média. Os investimentos em reservas técnicas de seguros têm uma pequena participação percentual e também pequena variabilidade. Devido à pequena variabilidade, pode-se dizer que investimentos em ações, em seguros e investimentos em capital fixo são políticas permanentes de investimentos de empresas não financeiras brasileiras.

A segunda maior participação dos investimentos em ativos financeiros são em outros débitos e créditos. Entretanto, há maior variabilidade em relação à média. Estes investimentos representam investimentos financeiros no ciclo operacional, são créditos comerciais para clientes e adiantamentos a fornecedores. Estes investimentos foram pouco realizados em 2006 e mais utilizados em 2007 e 2008.

Os investimentos nos demais ativos financeiros parecem ser muito dependentes das condições externas. A Figura 1.9 apresenta a evolução dos investimentos nos ativos financeiros que apresentam maior variabilidade: numerário e depósitos, títulos e empréstimos.

Como se pode observar na Tabela 1.6 e visualizar mais claramente no gráfico da Figura 1.9, os investimentos nestes três ativos financeiros apresentam grande variabilidade. O desvio padrão dos numerários e depósitos, dos títulos e dos empréstimos representam 64%, 144% e 436% da média, respectivamente.

Os investimentos em numerários e depósitos, que têm participação relevante, cerca de 9% do total. A manutenção de ativos líquidos permite que as empresas possam efetuar pagamentos previstos e fazer frente às necessidades ou oportunidades inesperadas. Em 2008, há pouca preferência por liquidez de numerário e depósitos e maior por títulos. Em 2009, isso se inverte: os agentes param de comprar títulos e correm para numerários e depósitos.

Quanto às fontes de financiamentos utilizadas pelas empresas não financeiras, percebe-se que a principal fonte de financiamento, ao longo dos anos, foi a poupança (55% do total de recursos tomados – média do período). A emissão de ações foi a segunda principal fonte (26%) e a terceira fonte de recursos mais utilizada foram os empréstimos (16%). Na sequência, títulos e outros débitos/créditos representaram cerca de 2% e 1%, respectivamente.

A poupança foi a principal fonte de financiamento e o desvio apresentado é pequeno, cerca de 14% em relação à média. Este desvio reflete o crescimento gradual de 2005 a 2008 e a redução ocorrida em 2009. Em valores absolutos, a poupança cresceu quase 50% entre 2005 e 2008 e reduziu aproximadamente 5% em 2009 em relação ao ano anterior.

A participação das ações no total de financiamentos das empresas não financeiras ao longo dos anos também apresenta pouca variação em relação à média (cerca de 19%) comparado aos demais ativos financeiros (aproximadamente 64%, 73%, 754% para empréstimos, títulos e outros débitos e créditos, respectivamente).

Em relação à emissão de ações, há uma redução de 2005 para 2006, um aumento entre 2006 e 2008 e redução em 2009. De 2006 para 2007, o crescimento é de 50% e de 2007 para 2008 é de 55%. O crescimento do período reflete a grande quantidade de empresas que abriram o capital no ano de 2007 e continuaram a capitalizar no ano seguinte. Já em 2009, há uma redução de 26% na emissão de ações, mas elas continuam sendo a maior fonte de recursos financeiros.

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Figura 1.9: Evolução dos ativos financeiros das empresas não financeiras brasileiras

Fonte: Elaboração própria.

A Figura 1.10 apresenta o gráfico com a evolução das fontes de financiamentos utilizadas pelas empresas não financeiras ao longo do período (2005 a 2009), permitindo melhor visualização da trajetória.

Figura 1.10: Evolução da variação das fontes de financiamentos de empresas não financeiras brasileiras (Em R$1.000.000)

Fonte: Elaboração própria.

A participação dos empréstimos apresenta grande variação em relação à média. De uma participação de 14% em 2005, cresce para 24% em 2006 e reduz drasticamente, (próximo de zero) em 2007, aumenta para 26% em 2008 e volta a reduzir para 18% em 2009. A redução da utilização dos empréstimos em 2007, ocorre simultaneamente ao aumento na utilização de ações (grande número de IPO), o que pode indicar que as empresas optaram pelo financiamento via capital próprio, dado o aquecimento do mercado de capitais nesse período, logo não há retomada de empréstimos nesse ano.

-150.000 -100.000 -50.000 0 50.000 100.000 150.000 2005 2006 2007 2008 2009

Numerário e depósitos Títulos, exceto ações Empréstimos

-100000 -50000 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000 400000 2005 2006 2007 2008 2009

Títulos, exceto ações Empréstimos

Ações e outras participações Outros débitos/créditos Poupança

50 Análise detalhada da Conta Financeira indica que houve variação positiva nos empréstimos de curto prazo e negativa nos empréstimos de longo prazo para as empresas não financeiras. Ao longo do período de 2007, os empréstimos de longo prazo foram vencendo, se tornando de curto prazo e não foram acessados novos financiamentos de longo prazo. Outra observação é que a maior parte dos empréstimos concedidos no ano de 2007, no agregado da economia, foram para empresas financeiras e famílias.

Em 2008, os empréstimos são as fontes de recursos financeiros mais utilizados, como reflexo das políticas anticíclicas do governo, provendo crédito para a economia. Já que o mercado de ações estava desaquecido e os títulos têm baixa participação no financiamento das empresas brasileiras (média de 2% entre 2005 e 2009). A preferência dos agentes em direcionar recursos de numerários e depósitos para títulos afetou apenas marginalmente o financiamento das empresas (observou-se aumento relevante nos títulos emitidos por empresas não financeiras em 2008 e 2009).

Os outros débitos e créditos também têm pequena participação e sua trajetória vai no mesmo sentido da liquidez e em sentido contrário a dos títulos e dos empréstimos.

Em 2009, há uma redução de mais de 50% no total de recursos financeiros (passivos financeiros totais) disponíveis para as empresas brasileiras. O montante captado via empréstimos se reduz praticamente na mesma proporção. As captações por meio de ações e de títulos se reduzem em média 26%.

Analisando conjuntamente a trajetória dos investimentos e financiamentos (investimentos em ativos fixos e financeiros, poupança e variações dos passivos) das empresas não financeiras brasileiras no período de 2005 a 2009, destaca-se a diferença na variabilidade dos fluxos e os reflexos da crise financeira global (meados de 2008 e início de 2009).

A redução no nível de investimentos em ativos fixos e a redução da poupança entre 2008 e 2009 mostram os efeitos negativos no fluxo de capital na economia real. Dada a inter-relação entre ativos e passivos financeiros, observam-se alterações na disponibilidade de fundos para investimentos: Em 2007, os recursos foram obtidos principalmente via mercado de ações e em 2008 no mercado de crédito. No ano de 2009, a oferta de recursos financeiros se reduz e essa redução é maior nos empréstimos.

1.5 Considerações Finais

Neste capítulo, buscamos propor uma metodologia para elaboração de Matrizes de Contabilidade Social e Financeira para o Brasil e apresentar as Matrizes construídas para os anos de 2005 a 2009. Destacamos no processo de construção a união da base de dados das Matrizes de Insumo Produto (NEREUS/USP) e das Contas do Sistema Nacional, entre elas a Conta de Produção, a Conta de Distribuição da Renda, a Conta Capital e a Conta Financeira, pertencentes às Contas Econômicas Integradas (IBGE).

A matriz financeira ampliou as informações das matrizes anteriores (MIP e MCS), principalmente no que se refere à abertura das contas corrente, capital e financeira. Com a matriz financeira foi possível verificar relações entre o setor produtivo, os agentes econômicos e o setor financeiro, evidenciando o padrão de transferência de renda, capital e poupança da economia, bem como a relevante participação dos ativos e passivos financeiros na economia.

A partir das informações geradas pelas MCSF brasileiras, foi possível analisar o comportamento dos setores e dos agentes econômicos no período, além de questões estruturais relacionadas aos fluxos econômicos.

51 Com foco no fluxo de produção é preciso ressaltar a constatação dos setores que mais cresceram no período, setores de serviços e comércio enquanto que os setores da indústria de base, como fabricação de aço e produtos da madeira, se retraíram.

No agregado, a atividade produtiva contribuiu com 48% da renda gerada na economia. Entretanto, somente para empresas não financeiras, a fonte primária de receita são as rendas recebidas pelos fatores; para famílias, empresas financeiras e governo, as transferências de renda entre os agentes representam a maior parte da renda gerada. Obviamente, empresas financeiras e governo dependem de transferências (principais fontes de renda são juros e impostos, respectivamente), o destaque se faz para a grande dependência das famílias em relação às transferências recebidas do governo (benefícios sociais), que representam parte da renda maior que a renda gerada com o trabalho nas atividades produtivas (Remuneração/salários).

Outras duas informações evidenciadas no fluxo da renda merecem ser destacadas: quanto à grande concentração dos fluxos das empresas financeiras entre as próprias empresas financeiras. Obviamente, empresas financeiras dependem de juros, a contribuição é a observação de que quase 90% ocorre entre as próprias empresas financeiras; e quanto à grande dependência do governo em relação à obtenção de passivos financeiros para financiar seus gastos.

Em relação ao uso da renda, no agregado, mais da metade é alocada para consumo, boa parte também vai para transferências e uma pequena parcela para formação de poupança. Destaca-se aqui, a pequena parcela destinada à poupança, enquanto que 95% da renda é gasta com consumo e transferências, somente 5% da renda é destinada para poupança. Este grande aumento do consumo, sem aumento proporcional nos investimentos, certamente leva ao aumento da pressão inflacionária e ressalta a fragilidade do sistema.

O fluxo de investimento e financiamento, também pode ser destacado e observou- se que os fluxos financeiros (investimentos em ativos financeiros e obtenção de passivos) representam maior parte dos investimentos e fontes de recursos na economia brasileira. A alta participação dos investimentos financeiros e dos passivos financeiros na economia, somados a baixa formação de poupança, destacam novamente a fragilidade do sistema. Fragilidade que se reflete na variabilidade dos fluxos de investimentos e financiamentos das empresas não financeiras.

Acreditamos ter contribuído suprindo uma lacuna existente na literatura brasileira com a elaboração dessas matrizes, que poderão ter diversas aplicações futuras. No capítulo 2 desta tese, estas MCSF serão utilizadas para avaliar as ligações reais e financeiras na economia brasileira por meio da análise de multiplicadores.

As limitações do trabalho se referem ao detalhamento realizado nas contas da MCSF e à definição do período analisado, que foram limitados à disponibilidade de dados existentes nas bases originais, em especial, da desagregação da Conta Financeira (IBGE) em agentes e instrumentos financeiros disponível somente para o período de 2005 a 2009. Neste capítulo não aprofundamos as discussões políticas, mas a base de dados formada pela MCSF, gerou informações substancialmente importantes, que ressaltam fragilidades do sistema e que merecem ser melhor entendidas. Além disso a MCSF permite que os elementos analisados de forma agregada sejam detalhados conforme o interesse da pesquisa. Assim, sugerimos aprimoramento nas discussões quanto aos mecanismos de transmissão dos fluxos financeiros para os setores produtivos; quanto aos mecanismos de transmissão de políticas; quanto à distribuição da renda; quanto ao déficit público; quanto aos fluxos interbancários, quanto a volatilidade dos fluxos financeiros para as empresas, dentre outros.

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CAPITULO 2 – LIGAÇÕES REAIS E FINANCEIRAS NA ECONOMIA

No documento erikaburkowski (páginas 48-53)