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D IREITOS DO C ONSUMIDOR P ERANTE A A QUISIÇÃO DE B ENS D ESCONFORMES

7. A D IRECTIVA 1999/44/CE

7.2. O R EGIME J URÍDICO DA D IRECTIVA

7.2.4. D IREITOS DO C ONSUMIDOR P ERANTE A A QUISIÇÃO DE B ENS D ESCONFORMES

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Nos termos do art. 350.º, n.º 2 do CC. 157

DÁRIO MOURA VICENTE, Desconformidade…, cit., p. 134 entende que as presunções de conformidade funcionam para o consumidor como “verdadeiras condições de conformidade: o bem a que falte qualquer desses caracteres será um bem desconforme com o contrato”.

158

Art. 2.º, n.º 3 da Directiva. 159

Relativamente a esta última excepção, ou seja, a não responsabilização do vendedor pela falta de conformidade quando o consumidor não poderia ignorar o defeito têm sido várias as críticas apontadas, já que nestes casos o consumidor menos informado acabaria por estar desprotegido. Nesse sentido, ROBERT BRADGATE, Guarantees…, cit., p.14, que refer que: “The carelessly ignorant consumer is therefore unprotected”. No entanto, na nossa opinião, não obstante o consumidor ser entendido como a parte mais fraca na relação contratual, a verdade é que o legislador deverá atender como critério das suas opções legais o consumidor médio, pois só assim se atingirá uma igualdade contratual entre as partes.

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A entrega deverá ser entendida como o efectivo “momento em que o consumidor recebe o bem”, Proposta de

Vistos os casos em que estamos perante a venda de bens desconformes, bem como em que termos o vendedor responde perante o consumidor pela desconformidade que exista no momento da entrega do bem, cumpre de seguida identificar quais os direitos que a Directiva atribui ao consumidor quando este se encontra nesta situação.

Os direitos do consumidor estão previstos no art. 3.º, n.º 2 da Directiva, que estabelece que este tem direito a que a desconformidade seja reposta por meio de reparação ou substituição, sem quaisquer encargos, ou, verificadas as condições do n.º 5 e 6 através da redução adequada do preço ou a rescisão do contrato. Sucintamente, verifica-se que os direitos atribuídos ao consumidor são a reparação, a substituição, a redução do preço e ainda a resolução do contrato161.

No entanto, a Directiva estabelece uma hierarquia no exercício destes direitos, segundo a qual o consumidor deve, em primeiro lugar, exigir a reparação ou a substituição do bem e só em determinadas circunstâncias poderá exigir a resolução do contrato ou a redução do preço162. Esta ideia de hierarquia decorre desde logo da conjugação do art. 3.º, n.º 3, que estabelece que em primeiro lugar, o consumidor pode exigir (…) a reparação ou substituição com o n.º 5, que determina em que casos o consumidor terá direito à resolução do contrato ou à redução do preço. Mas o considerando 10 da Directiva vem ainda enfatizar esta ideia de hierarquia, ao estabelecer que em caso de não conformidade do bem com o contrato, os consumidores

devem ter o direito de obter que os bens sejam tornados conformes com ele sem encargos, podendo escolher entre a reparação ou a substituição, ou, se isso não for possível, a redução do preço ou a resolução do contrato.

Em conformidade com exposto, poderemos dizer que a hierarquia consagrada na Directiva obriga o consumidor a optar, numa primeira fase, pela reparação ou substituição da coisa. Contudo, este dever só existirá na medida em que estas soluções se revelem possíveis ou proporcionadas163.

A reparação será impossível quando, atendendo ao defeito, seja impossível ao vendedor proceder à sua reparação, seja devido à desconformidade de que o bem padece164, seja devido à inexistência de meios para proceder à mesma165. Por sua vez, também a substituição se pode

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Este direitos correspondem aos que vimos a propósito da venda de coisa defeituosa no CC e do regime previsto pela LDC.

162

DÁRIO MOURA VICENTE, Desconformidade…, cit., p. 137, na sua análise entre a Directiva e a CVVIM refere mesmo que: “Em nenhum destes textos o comprador pode optar livremente entre estes direitos”.

163

Art. 3.º, n.º 3 da Directiva. 164

Será por exemplo o caso dos bens alimentares deteriorados, que em princípio não serão passíveis de serem reparados.

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Pode também suceder que o vendedor não possua, por já não existirem, peças para reparar o bem vendido, pelo que nesse caso a prestação de reparação torna-se impossível.

revelar impossível, por exemplo por não existir outro bem correspondente ao tipo, modelo e com as características do que foi adquirido pelo consumidor.

Mas a reparação e a substituição também não serão devidas pelo vendedor quando se mostrem desproporcionadas. O art. 3.º, n.º 3 estabelece uma presunção de quando é que a solução poderá ser considerada desproporcionada. Assim será desproporcionada uma pretensão que implique custos para o vendedor que não se considerem razoáveis, tendo em conta o valor que o bem teria não fosse a falta de conformidade, a importância desta e a possibilidade de uma solução alternativa ser efectuada sem grave inconveniente para o consumidor. Deste modo, se uma destas duas soluções se revelar desproporcionada em relação à outra, o vendedor poderá opor-se a uma delas. Assim imaginemos que o consumidor exige a reparação do bem, mas devido às especificidades deste ou do próprio defeito, é mais vantajoso e menos dispendioso para o vendedor proceder à substituição da coisa. Mas poderá ainda suceder que ambas as soluções sejam desproporcionadas quando comparadas com os outros direitos colocados à disposição do consumidor, ou seja a redução do preço ou a resolução do contrato, pelo que também nestes casos poderá oferecer outro remédio capaz de repor a conformidade com o contrato.

O consumidor terá ainda direito a uma redução do preço ou à resolução do contrato verificando-se os pressupostos estipulados no n.º 5 do mesmo artigo. Assim, se devido à impossibilidade ou desproporcionalidade da reparação e/ou substituição o consumidor não tiver direito a exigir estas prestações do vendedor, poderá solicitar uma redução do preço ou resolver o contrato166. Mas ainda que a reparação ou substituição sejam possíveis o consumidor também terá direito à redução do preço ou à resolução do contrato caso o vendedor não tenha apresentado uma solução num prazo razoável167 ou sem grave inconveniente para o consumidor168. Quanto ao direito à resolução do contrato acresce ainda uma limitação ao seu exercício, que consta do n.º 6 e que estabelece que o consumidor não poderá exigir a resolução nos casos em que a falta de conformidade é insignificante.