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Não isenção de PIS/PASEP/COFINS sobre as receitas conexas ao frete contratadas em separado do próprio frete

As hipóteses de isenção e suspensão de incidência relativas às contribuições ao PIS/PASEP e COFINS previstas nos artigos 14, II, IX, § 1°, da MP 2.158-35/01; 6°, I e III, da Lei 10.833/03; 5°, I e III, da Lei 10.637/02 e 40, §§ 6º-A, 7º e 8º, da Lei 10.865/2004 não abrangem as receitas conexas ao frete contratadas em separado do próprio frete de mercadorias destinadas à exportação com a entidade Operadora de Transporte Multimodal de Cargas (OTM) por Empresas Comerciais Exportadoras - ECE.

PIS/PASEP

O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:

 PIS: Programa de Integração Social.

 PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.

O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser denominados de PIS/PASEP.

Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil.

COFINS

Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.

A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo, instituída pela Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.

A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003).

Isenção de PIS/PASEP e COFINS

A MP 2.158-35/2001 e as Leis nº 10.833/2003, 10.637/2002 e 10.865/2004 previram hipóteses em que haveria isenção e suspensão de incidência de PIS/PASEP e COFINS.

Tais dispositivos estabelecem que não incidirá PIS/PASEP e COFINS sobre as receitas auferidas pela pessoa jurídica com a exportação de mercadorias para o exterior.

Elas estão ligadas a situações em que a pessoa jurídica exporta mercadorias para o exterior. Veja:

Medida Provisória n° 2.158-35/2001

Art. 14. Em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 1º de fevereiro de 1999, são isentas da COFINS as receitas:

(...)

II - da exportação de mercadorias para o exterior; (...)

VIII - de vendas realizadas pelo produtor-vendedor às empresas comerciais exportadoras nos termos do Decreto-Lei nº 1.248, de 29 de novembro de 1972, e alterações posteriores, desde que destinadas ao fim específico de exportação para o exterior;

IX - de vendas, com fim específico de exportação para o exterior, a empresas exportadoras registradas na Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

(...)

§ 1º São isentas da contribuição para o PIS/PASEP as receitas referidas nos incisos I a IX do caput. (...)

Lei nº 10.637/2002

Art. 5º A contribuição para o PIS/Pasep não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de: I - exportação de mercadorias para o exterior;

(...)

III - vendas a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação. (...)

Lei nº 10.833/2003

I - exportação de mercadorias para o exterior; (...)

III - vendas a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação.

Lei nº 10.865/2004

Art. 40. A incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS ficará suspensa no caso de venda de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem destinados a pessoa jurídica preponderantemente exportadora.

(...)

§ 6º-A. A suspensão de que trata este artigo alcança as receitas de frete, bem como as receitas auferidas pelo operador de transporte multimodal, relativas a frete contratado pela pessoa jurídica preponderantemente exportadora no mercado interno para o transporte dentro do território nacional de: I - matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem adquiridos na forma deste artigo; e II - produtos destinados à exportação pela pessoa jurídica preponderantemente exportadora.

§ 7º Para fins do disposto no inciso II do § 6º-A deste artigo, o frete deverá referir-se ao transporte dos produtos até o ponto de saída do território nacional.

§ 8º O disposto no inciso II do § 6º-A deste artigo aplica-se também na hipótese de vendas a empresa comercial exportadora, com fim específico de exportação.

Essa isenção e suspensão de incidência de PIS/PASEP e COFINS abrange as receitas auferidas pelas pessoas jurídicas que fazem frete para o exterior? Assim, por exemplo, se a empresa recebeu pagamento para fazer o frete de mercadorias para o exterior, isso significa que ela estará dispensada de pagar PIS/PASEP e COFINS?

SIM. Isso está previsto no art. 40, §§ 6º-A, 7º e 8º, da Lei nº 10.865/2004:

Art. 40. A incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS ficará suspensa no caso de venda de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem destinados a pessoa jurídica preponderantemente exportadora.

(...)

§ 6º-A. A suspensão de que trata este artigo alcança as receitas de frete, bem como as receitas auferidas pelo operador de transporte multimodal, relativas a frete contratado pela pessoa jurídica preponderantemente exportadora no mercado interno para o transporte dentro do território nacional de: I - matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem adquiridos na forma deste artigo; e II - produtos destinados à exportação pela pessoa jurídica preponderantemente exportadora.

§ 7º Para fins do disposto no inciso II do § 6º-A deste artigo, o frete deverá referir-se ao transporte dos produtos até o ponto de saída do território nacional.

§ 8º O disposto no inciso II do § 6º-A deste artigo aplica-se também na hipótese de vendas a empresa comercial exportadora, com fim específico de exportação.

Operador de Transporte Multimodal de Cargas (OTM)

O OTM é conceituado pela Lei como sendo a pessoa jurídica, transportadora ou não, contratada para a realização do Transporte Multimodal de Cargas, da origem até o destino, por meios próprios ou por intermédio de terceiros (art. 5º da Lei nº 9.611/98). Este operador assume a responsabilidade pela execução desses contratos, pelos prejuízos resultantes de perda, por danos ou avaria as cargas sob sua custódia, assim como por aqueles decorrentes de atraso em sua entrega, quando houver prazo acordado. Tais entidades (OTM) são regidas pela Lei nº 9.611/98 e fiscalizadas pela ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), onde precisam ser registradas.

Suas atividades incluem, além do transporte, os serviços de coleta, unitização, desunitização, consolidação, desconsolidação, movimentação, armazenagem e entrega da carga ao destinatário.

Empresa comercial exportadora (ECE)

Empresa comercial exportadora é a pessoa jurídica que tem como objeto social a realização de operações de exportação.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:

A "TLG Ltda." é uma empresa que presta serviços como Operadora de Transporte Multimodal de Cargas (OTM). A TLG prestou serviços para uma empresa comercial exportadora. No entanto, os serviços que ela desempenhou não foram de "frete" das mercadorias, mas sim serviços conexos (auxiliares) ao frete. Ex: coleta, ovação/carregamento do container, retirada, armazenagem e etiquetagem de cargas, paletização (colocação nas "paletas") etc.

A TLG argumentou que esses serviços conexos ao frete deverão receber o mesmo tratamento tributário e que as receitas auferidas com essa prestação também gozam de isenção e suspensão de PIS/PASEP e COFINS. Em outras palavras, a TLG não queria pagar as contribuições pelas receitas que auferiu prestando serviços conexos ao frete.

A tese da TLG foi aceita pelo STJ?

NÃO.

As hipóteses de isenção e suspensão de incidência relativas às contribuições ao PIS/PASEP e COFINS previstas nos artigos 14, II, IX, § 1º, da MP 2.158-35/01; 6º, I e III, da Lei 10.833/03; 5º, I e III, da Lei 10.637/02 e 40, §§ 6º-A, 7º e 8º, da Lei 10.865/2004 não abrangem as receitas conexas ao frete contratadas em separado do próprio frete de mercadorias destinadas à exportação com a entidade Operadora de Transporte Multimodal de Cargas (OTM) por Empresas Comerciais Exportadoras - ECE. STJ. 2ª Turma. REsp 1.577.126-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2016 (Info 596).

As receitas decorrentes da prestação de serviços conexos ao de frete não são receitas de exportação de mercadorias ao exterior, pois o que está sendo vendido pela empresa transportadora que pleiteia o benefício é o serviço conexo ao de frete e não a mercadoria em si.

Além disso, o serviço conexo ao de frete está sendo vendido para empresa que atua no mercado interno e não para o exterior. Isso porque os serviços conexos ao frete são prestados enquanto os produtos transitam dentro do território nacional até os Portos Marítimos, Portos Secos e/ou até Recintos Especiais para Despachos Aduaneiros de Exportação (REDEX), conforme solicitação dos clientes. Logo, não se aplicam a eles os arts. 14, II, IX, § 1º, da MP 2.158-35/01; 6º, I e III, da Lei 10.833/03; 5º, I e III, da Lei 10.637/02 e 40, §§ 6º-A, 7º e 8º, da Lei 10.865/2004

Muito embora os textos do art. 14, IX e §1º, da MP 2.158-35/2001, do art. 6º, III, da Lei nº 10.833/2003, e do art. 5°, III, da Lei 10.637/2002 concedam expressamente a isenção (não incidência) das contribuições ao PIS⁄PASEP e COFINS para as receitas decorrentes das operações de vendas a Empresa Comercial Exportadora - ECE é de se inferir que a isenção não abrange a prestação de serviços em geral (onde se encontram as receitas conexas ao frete) existentes na cadeia de exportação. Os referidos incentivos fiscais se prendem às mercadorias objeto de exportação, isto é, foram concentrados nas empresas industriais que vendem mercadorias para a Empresa Comercial Exportadora - ECE, mercadorias estas que serão exportadas e não na venda de serviços prestados na cadeia de exportação no mercado interno.

Desse modo, observa-se que esses dispositivos não traduzem uma isenção genérica para toda a prestação de serviço que ocorre internamente em uma cadeia de exportação a abranger a prestação de serviços conexos ao frete em si.

Por seu turno, o art. 40, §§ 6º-A, 7º e 8º, da Lei nº 10.865/2004 prevê a suspensão do tributo exclusivamente nos casos em que a Pessoa Jurídica Preponderantemente Exportadora - PJPE contrata o frete com a Operadora de Transporte Multimodal de Cargas (OTM) para transportar a mercadoria para

exportação ou para Empresa Comercial Exportadora com fim específico de exportação. No entanto, não há previsão expressa na lei para abarcar as operações conexas ao frete contratadas em separado deste. Não havendo previsão legal expressa e considerando que se interpreta literalmente a legislação tributária (art. 111 do CTN) que disponha sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário, deve ser negado o direito de desoneração pretendido pelo contribuinte.