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ITAN DE OFUN MEJ

No documento Buzios(1).pdf (páginas 91-95)

(1) O advinho que consultava Ifa para as duas mulheres Ajrohun e Uutin (*) chamava-se “A Coisa é Inteiramente Branca”.

As mulheres consultaram Ifá queixando-se de jamais haver tido filhos e Ifá prescreveu-lhes um sacrifício que foi feito somente por Uutin.

Ajrorun negou-se a fazer o sacrifício sob a alegação de que, quando fosse chegado o momento, Deus saberia providenciar sua prole.

Um mês depois, Ajronun ficou grávida e disse: “Está vendo? Terei muitos filhos que se reunirão ao meu redor!”

No dia do parto, deu a luz algumas bolas que logo começaram a arrebentar e de seus interiores só saíram pequenos flocos brancos, sem forma, que foram dispersados pelo vento, indo cair alguns em Catavi e outros em Cotonu. Este foi o fim de seus filhos.

Uutin, que havia ofertado o sacrifício, também engravidou e seus filhos caíram aos seus pés e logo que vieram as chuvas germinaram, ficando pra sempre, ao seu redor.

(*) Nomes de vegetais).

Ebó Numa tigela cheia de ebô, coloca-se dezesseis bolas de algodão embebidas em óleo de algodão, cobre-se tudo com pó de efun e deixa-se durante dezesseis dias nos pés de Oshalá. Despacha-se à sombra de uma árvore frondosa, dentro de uma mata.

(Obs.: útil para mulheres que desejam ter filhos e não conseguem engravidar.)

(2) Ofun Meji criou o mundo e todos os demais Odu. Ninguém pode gabar-se de ser seu pai. Depois de haver criado o mundo, Ofun Meji começou a ter filhos. Muitos afirmam que Ejiogbe seria seu primeiro filho, mas isto não é verdade, pois Oyeku Meji nasceu primeiro, embora os dois tenham nascido no mesmo dia.

Quando o mundo foi criado, tudo era trevas. O Criador chamando Oyeku Meji entregou-lhe uma chave com a ordem de com ela abrir a porta da luz. Logo que tal porta fosse aberta, a luz se espalharia pelo mundo iluminando todos os rincões. Recomendou ainda, a Oyeku Meji, que jamais se embriagasse e que jamais bebesse qualquer bebida fermentada.

Oyeku Meji que já era guardião das criaturas, ficou também com a chave dos dias. Certo dia, Oyeku, depois de haver voltado de duas ocupações com o auxilio de seu irmão Ejiogbe, encontrou um grupo de pessoas que haviam preparado uma grande quantidade de emu (*). Esquecendo-se da recomendação, de Ofun Meji, Oyeku pôs-se a beber em companhia das pessoas, não tardando em adormecer de tão embriagado.

Ejiogbe, que a tudo assistia, sentou-se ao lado do irmão adormecido, aguardando que despertasse. Já passava da hora de voltar pra casa com a chave do dia. Oyeku era muito grande e pesado para que Ejiogbe pudesse carrega-lo em suas costas. Depois de tentar inutilmente desperta-lo Ejiogbe recolheu a chave do dia e voltou pra casa onde eram esperados por Ofun.

“Onde esta teu irmão, o guardião da chave que conduzes?” Perguntou Ofun Meji. “Ele bebeu muito vinho de palma e embriagado adormeceu. Tentei acorda-lo, mas foi em vão. Como já era hora de guardar a chave do dia, resolvi trazê-la eu mesmo e entregá-la a minha mãe.”

“Tu não bebestes?” “Não!”

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“Não! Bebeu, na companhia de muitas pessoas!”

“Sendo assim, confiarei a ti a guarda desta chave. Tu substituirás teu irmão.” Quando Oyeku chegou, foi interpelado por Ofun Meji:

“Por que desobedecestes minhas ordens bebendo bebidas fermentadas e te embriagando?”

“Não resisti a tentação diante do vinho. O pior é que perdi a chave que me confiastes”.

“Felizmente ela não está perdida, teu irmão Ejiogbe recolheu-a, enquanto dormia e a trouxe para casa. Não mereces mais a minha confiança. De hoje em diante obedecerás as ordens de teu irmão mais novo.

Foi depois disto que Ejiogbe passou a ocupar o primeiro lugar entre seus irmãos.

Destituído de suas funções, Oyeku Meji resignou-se em servir fielmente a seu irmão, o que despertou a piedade de Ejiogbe, que um dia, disse a sua mãe”

Oyeku é meu irmão mais velho. Em decorrência de sua falha foi reduzido a meu servo. Não poderias tu, dar-lhe uma nova ocupação? Não é muito agradável para mim ter que dar ordens a meu irmão mais velho. Uma vez que me confiastes a guarda do dia e da luz, por que não confias a ele, a guarda da noite e das trevas?”

Ofun aceitou a sugestão e, depois disto, Oyeku passou a ser responsável pela noite. Dele dependem os kuvito (**), o sono dos homens e tudo o que acontece durante a noite, seja na terra, seja no ar, seja sob as águas...

Tempos depois, Ejiogbe pediu a Ofun que criasse, para iluminar a terra, o Sol, uma lua e várias estrelas.

Ofun Meji confiou-lhe então, esta delicada missão, dando-lhe, como auxiliar, nada menos que Elegbara, com ordem de reunir todos os pássaros existentes no mundo, de os matar e lhe entregar o seu sangue pra que pudesse fazer alguma coisa. o mesmo deveria ser feito com todos os animais e com todos os homens.

Egiogbe, auxiliado por Legba, fez todo o possível pra reunir todos os pássaros e, matando-os recolheu o seu sangue, fazendo o mesmo com todos os animais e com todos os homens.

Apesar dos esforços, muitos pássaros, animais e homens, conseguiram escapar. É por isto que, ainda hoje, Elegbara percorre os quatro cantos do mundo em busca de pássaros, animais e homens, na tentativa de captura-los.

Os sangues recolhidos foram depositados em três grandes jarras e cozidos no fogo. Do sangue dos homens foi fito o Sol.

Do sangue dos animais foi feita a Lua.

Do sangue dos pássaros foram feitas as estrelas.

Obtida a transformação desejada, Elegbara apresentou o resultado a Ofun Meji e então Oduduwa ordenou;

“Levanta-te Sol e lá do alto reina sobre o dia!” “Lua levanta-te! Tu reinarás sobre a noite!”

Estrelas, subam ao céu, Vocês reinarão sobre a madrugada! (*) Bebida obtida a partir da seiva fermentada da palmeira.

(**) Espíritos dos mortos.

Cânticos do Itan: (Tradução desconhecida). Eori oshukpa Orun,

Timanlan lelegun! Aworna lodifa fun igun Ijo tiwon she awo

Lati kole Orun bowa kole aye Orañi kañi

Kole ogun mwõna le mon Orañi lani lani!

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(3) Naquele tempo, a galinha d’Angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata.

Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o advinho de Obatala, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orisha do Branco era cultuado, pois cor preta era considerada como uma grande ofensa.

Desolado o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar, em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.

Depois de muito caminhar, encontrou numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:

“Dá-me um pouco de comida e de água pois estou exausto e já não posso conseguir alimento para minha própria sobrevivência”.

Condoído, Etu serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.

Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etu que preocupado, velava por seu sono.

Já refeito, o velho perguntou:

“Que fazes sozinho no interior desta floresta? Não sabes por acaso que ela é sagrada e que só os iniciados podem penetrá-la? “

“Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito repugnante e minha feitura impede que as pessoas permitem que me aproxime delas!” Replicou a ave.

“Tua feitura exterior nada é, comparada com tua beleza interior. Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência!”

Pegando pó de efun, o velho que outro não era que o próprio Obatala, soprou sobre o corpo de Etu, deixando-o, a partir de então, todo pintado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:

“A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Orishas, Nada poderá ser feito sem tua colaboração e como sinal desta importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o oshu, símbolo da aliança formalizada entre o iniciado e seu Orishá. Possuirás além disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se espalhará sobre a Terra”.

Por este motivo a galinha d’Angola possui o corpo coberto de pintinhas brancas e carrega sobre a cabeça uma crista de forma cônica, assemelhando-se ao iniciado durante o ritual de iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciaticas é indispensável e todos os Orishás a exigem em seus rituais.

Ebó: Igbin, efun, osun, e ori da costa. Puxa-se o Igbin sobre Oshala, frita-se sua carne, depois de limpa, em banha de ori, cobre-se com efun e oferece-se pra Oshalá, depois que esfriar. O casco do igbin é untado com banha de ori e depois de pintalgado com efun e osun, é oferecido a Elegbara.

(Este ebó é para tirar a pessoa de qualquer tipo de dificuldades na vida.)

Orishala por adquirir o costume de embriagar-se, caiu em desgraça diante de Olofin que, como castigo, impôs-lhe o descrédito e o desrespeito dos homens.

Por onde passasse, era apontado como ébrio e irresponsável e as mesmas pessoas que antes lhe prestavam reverências, agora viraram-lhe as costas e riam de sua presença de forma irreverente e zombeteira.

Cançado de tanta humilhação, o Orishá resolveu buscar auxílio no oráculo de Ifá e na consulta surgiu Ofun Meji que além do sacrificio de praxe, proibiu que voltasse a se aproximar de emu.

O sacrificio exigido era composto de uma ovelha, duas galinhas, um eleke de contas brancas, panos brancos e dezesseis penas de ekodide.

Depois de oferecidos os bichos a Elegbara, Orishalá teve que envolver-se em panos brancos e arrumar as dezesseis penas ao redor de sua cabeça. Isto foi feito antes do nascer

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do Sol e o orishá foi então, com o eleke no pescoço, colocar-se no alto da montanha que ficava na entada da cidade.

Na alvorada, os raios do Sol nascente surgiram por trás de Orishalá e passando entre as penas causaram a impressão de que labaredas de fogo saiam de sua cabeça. Apavorados diante de tal visão, os moradores da cidade lançaram-se ao chão gritando aterrorizados””Hekpa Baba!” E todos mantinham os rostos colados sobre o solo.

Foi então que o poderoso orishá, livrando-se do vício da bebida pode recuperar o prestígio entre os homens e as graças de Olofin.

Por este motivo, os filhos de Orishalá tem o emu como uma das suas principais interdições, não devendo sequer permanecer onde se quer esteja sendo consumido por seres humanos.

Ebó: Uma Ovelha, duas galinhas brancas e emu que são sacrificados para Elegbara. O Igba de Oshalá e inteiramente coberto com panos brancos e sobre eles arruma-se os dezesseis ekodides espetandos numa bola de ori, como se fosse uma coroa. Depois de dezesseis dias leva-se ao alto de um monte e entrega-se na hora em que o Sol estiver nascendo.

Este ebó é indicado para acabar com qualquer tipo de vício que prejudique a vida da pessoa.

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SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO

No documento Buzios(1).pdf (páginas 91-95)