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ITAN TI ODÙ EJI-ONILE

No documento O Oráculo e Os Tratados de Ifá Original (páginas 135-147)

Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais velho.

Certo dia, Ashé - criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda. Numa segunda cabaça, Ashé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em panos comuns e de pouco valor.

Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhece uma cabaça para si.

Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a ou- tra para seu irmão.

Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem exitar, tratou de come-la na companhia de alguns amigos.

Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado: ―Que farei com es- tas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guarda-las com muito carinho.‖

No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando-o sobre sua esteira. Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: ―Estou rico! Minha cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!‖

Tempos depois, Ashé reuniu seus filhos e lhes perguntou: ―Muito bem, que encontra- ram dentro das cabaças que lhes presenteei?‖

136 ―Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por me haver regalado com tão maravilhoso presente‖. Afirmou Cabeça.

Então, Ashé sentenciou: Olhos, tu és muito ávido! A visão te atrapalha, tu enxergas sem ver. Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano co- mum, guardava em seu interior uma enorme fortuna. Por este motivo, será Cabeça quem, a partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências.

Depois disto, sempre que tivermos chance, devemos dizer: ―Minha cabeça é boa e não meus olhos são bons‖.

Cânticos do Itan: Ta she dokpo we nõ nu, bo ta yi yo. Ori bo ge, aboge, aboge

Ori she! Ori ta dokpo, O gboge, gboge, gboge!

Tradução: Eu não tenho mais que uma cabeça que pensa. E ela provem de muitas outras cabeças!

Minha cabeça é forte e pensante,

Oh! Cabeça, eu não tenho mais que uma! Mas ela é forte e pensante!

ITAN TI ODÙ EJI-ONILE

Ejiogbe desposou uma mulher, que lhe deu dois gêmeos em sua primeira gravidez. Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a qual- quer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu aman- te, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas conseqüências.

137 Certo dia, o sedutor entregou à mulher um pó negro, poderoso veneno, que deveria ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iria solucionar definitivamente os seus problemas.

No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun (*) e aproveitando-se da ausência do marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presentea- ra seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.

Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de casa.

Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.

Antes do nascimento dos gêmeos, o Bokonõ do local, previra que tal acontecimento, seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se cumprisse. Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele, mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado para seu próprio consumo.

Incontinente, o pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se encontra- va a parte boa, tratando de come-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro gêmeo, chamado Sagbo.

Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando que o marido tentara envenena-la.

O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente, inti- mou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.

Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que, apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado.

Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão, como um sinal de azar para a família, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de sua mãe.

138 Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida des- tinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e dei- xando o envenenado para sua mulher, com a intenção de castiga-la. Tomara a decisão de avi- sar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de que a culpa seria atribuída ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do ad- vinho, traria desgraça a sua família.

Foi então que Metolonfi disse ao pai dos gêmeos: ―Tu es defendido por duas pessoas. Tu chamaras sempre pelo seu nome, em sua proteção, este nome é Ibeje.‖

O consulente que corre o risco de sofrer uma traição, descobrirá tudo em tempo e se livrará do mal que lhe estiverem tramando.

(*) Prato típico do Benin.

ITAN TI ODÙ EJI-ONILE

Naquele tempo, a Terra havia sido criada e sua extensão ainda era muito pequena, es- tando a maioria do globo, coberta pelas águas do oceano.

Olofin ordenou que os orixás, viessem habitar sobre a pequena faixa de terra firme en- tão existente, para ali estabelecerem o ambiente necessário, para o surgimento da vida huma- na.

Todos foram consultar Orunmilá e na consulta, surgiu a figura de Ejiogbe (Ejionile), sendo determinado um sacrifício, que todos os Orixás deveriam oferecer, para que suas mis- sões fossem coroadas de sucesso.

Como o ebó determinado fosse muito dispendioso, todos, com exceção de Orishala, negligenciaram-se a fazei-lo e assim, rumaram para a terra recém criada.

Como Orishalá oferecera o seu sacrifício, foi o primeiro a chegar, já que Exú lhe indica- ra o caminho mais curto e sem qualquer obstáculo. Aos outros, Exú criou todos os tipos de dificuldades e desta forma, ao chegarem a terra, encontraram Orishalá já estabelecido.

139 Durante o tempo em que Orishalá permaneceu sozinho sobre a terra, teve que fazer, com suas próprias mãos, todo tipo de serviço pesado, como cortar e carregar lenha para a construção de seu palácio, o que lhe provocou uma deformação nas costas, passando, a partir de então, a caminhar apoiado num cajado.

Um a um, os Orixás foram chegando e todas as terras já estava cercadas e plantadas, sendo Orishalá seu legítimo dono.

Sem ter onde ficar e estabelecer seus reinos, reuniram-se em assembléia, para delibera- rem de que maneira iria proceder, para que pudessem cumprir suas missões e a esta reunião, Orishalá também compareceu.

―Que desejam, agora que realizei todo o trabalho pesado? ‖Perguntou o poderoso Fun- fun. ―Só lhes resta habitarem as profundezas de Okun (*), já que ao chegarem, encontraram toda a terra trabalhada por mim!‖

Diante da posição do Orishalá, os demais Orixás prostraram-se diante dele e com os rostos encostados no solo, suplicaram que lhes desse um pedaço de terra firme, para que pu- dessem realizar seus trabalhos e que ficasse ele mesmo com os mares e toda a riqueza neles contidas.

Orishalá então, nomeou Olokun, seu filho mais velho, para reinar sobre os Oceanos, enquanto ele reinava sobre todo o planeta, concordando em distribuir, entre todos os Orixás, um setor da natureza, para que ali pudesse estabelecer os seus reinados, sempre prestando obediências a ele, coroado e aclamado por todos, como o rei dos reis.

A partir de então, por ter feito o ebó determinado, Orishalá passou a ser o mais impor- tante dentre todos os Orixás, seus reinos se expandiram, na medida em que as águas do mar iam deixando mais e mais terras habitáveis e os demais Orixás puderam cumprir suas mis- sões, governando os elementos e as diversas manifestações da natureza.

Este Itan se aplica as pessoas que por seus próprios esforços e méritos, pretendem ob- ter um lugar de destaque na vida.

140 Naquele tempo, Orunmilá não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.

Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais encontrava-se aprisionada uma belís- sima donzela denominada Sabedoria.

Muitos jovens aventureiros, guerreiros poderosos, príncipes e monarcas, já haviam sucumbido, na tentativa de resgatar a bela jovem.

Determinado a conquistar Sabedoria, Orunmilá dirigiu-se ao local onde estava edifica- do o palácio e no caminho encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida. Metendo a mão em seu embornal, Orunmilá dali retirou um pequeno saco com um pouco de farinha de inhame, que era tudo o que tinha para comer e de uma pequena cabaça que levava pendurada à cintura, um pouco de epô pupa, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo uma pequena parte do alimento.

Depois de alimentar-se, o mendigo revelou a Orunmilá o seu nome, dizendo chamar-se Elegbara e como agradecimento, ofereceu ao jovem aventureiro um pedaço de marfim enta- lhado, dizendo: ―Com este marfim, denominado Irofá, deveras bater em dada uma das portas dos dezesseis quartos do palácio, pois só assim elas se abrirão. Do interior de cada quarto, ouvirás uma voz, que te perguntará: ―Quem bate?‖ ―E tu identificarás, dizendo que és Ifá, o Senhor do Irofá. A voz, então perguntará então, o que estás procurando e tu dirás, estando diante da porta do primeiro quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de Ejiogbe. A porta então se abrirá e conhecerás os mistérios da vida.

No segundo quarto, quando a voz te perguntar o que desejas, depois de haver-te iden- tificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer Ikú. A Morte e que queres domi- na-lo, por intermédio de Oyeku Meji. A porta se abrirá e conheceras a morte, seus horrores e mistérios. Se não demostrares medo em sua presença, haverás de adquirir domínio absoluto sobre ela.

Na terceira porta, encontrarás um guardião denominado, Iwori Meji, que depois de reverenciado, te colocara diante dos olhos, os mistérios da vida espiritual e dos nove Orun, onde habitam deuses, demônios e todas as classes de espíritos que irás conhecer.

Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espirito e o guar- dião desta porta chama-se Odi Meji a quem deveras demonstrar respeito sem submissão.

141 E necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e os prazeres que se decorticarão diante de teus olhos pois podem escravizar-te para sempre, interrompendo tua busca.

Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do ho- mem sobre seus semelhantes, através do uso da força e da violência, da tortura e do derra- mamento de sangue. Aprende, mas não utilizes jamais, as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, uma vítima delas.

Na sexta porta, serás recepcionado por um gigante de sexo feminismo, que saudarás pelo nome de Owonrin Meji e a quem solicitaras ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no universo e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte, o mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali, serás tentado pela possibi- lidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens inenarráveis. Resiste a estas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxurias.

Agora, já estarás diante da sétima porta. O habitante deste quarto chama-se Obará Me- ji, é velho e de aparência bonachã, poderá te ensinar prodígios de cura, soluções para os pro- blemas mais intricados, te dará a possibilidade de realizar todos os anseios e desejos de reali- zações humanas. Toma cuidado no entanto, pois o domínio deste conhecimento pode condu- zir-te a prática da mentira, a falta de escrúpulos e à loucura total.

No oitavo aposento, deverás solicitar a permissão de Okanran Meji para conheceres o poder da fala humana, que infelizmente é muito mais usada na prática do mal que do bem. Este guardião te falará em muitas línguas e de sua boca só ouvirás lamentações e queixas. Aprenda depressa e depressa foge deste local, onde a falsidade é a traição.

Diante da nona porta, pedirás permissão ao seu guardião, Ogundá Meji, para conhece- res a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis da exis- tência. Naquele quarto, encontrarás todos os vícios que assolam a humanidade e que a escra- vizam em correntes inquebráveis, verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a co- vardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.

No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é Osa Meji. Ela vai te ensinar o poder que a mulher exerce sobre o homem e o porque deste poder, conhecerás seres poderosos que funcionam na prática do mal, todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços, malefícios que, caso aceites, fará de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influên-

142 cia da Lua sobre os seres vivos. Cuida para que estes conhecimentos não te transformem num bruxo maldito.

Bate agora teu Irofá na décima primeira porta e a voz de seu guardião, Iká Meji, o gi- gante em forma de serpente, te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele, per- missão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abiku, que nascem para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e desta forma poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.

A décima segunda porta te reserva surpresas e sustos sem fim. Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne, quase sem forma. Trata-se de um gênio muito poderoso, que po- derá te revelar todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas inimagináveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros, depois, parte respeitosamente em busca do próximo aposento.

Aqui está a decima terceira porta, bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se, de forma intima e constante, com a Deusa da Criação, Oduduwa, a Grande Mãe. Aprende agora, como é possível separar as coisas, domi- nar o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Apren- de também a utilizar a força mágica que existe nos sons da fala humana, mas usa esta força terrível com muita sabedoria.

Já diante da décima quarta porta, irás defrontar-se com Irete Meji, que nada mais é que o próprio espirito de Ile, a Terra. Faz com que desvende os mais íntimos segredos, agrada-o, presta-lhe permanentemente reverências e sacrifícios. Contacta, por seu intermédio, os Espíri- tos da Terra, transforma-os em teus aliados, conhece os segredos de Sakpata, o Vodum da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver, aprende com ele, o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.

Na décima quinta porta, serás recepcionado por Oshe Meji, que irá te falar de degene- ração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depressa possível, para não seres também vitimado por tanta negatividade, toda gerada numa relação incestuosa.

Finalmente, a décima sexta porta. O último obstáculo que te separa de tua desejada musa. Aí reside Ofun o mais velho e terrível dos dezesseis gênios guardiões. Saúda-o com terror, gritando ―Hepa Baba‖! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito,

143 más não o encare de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas quinze portas que a esta precediam. Este é Ofun Meji, aquele que gerou todos os gênios que o precedem, é a reunião de todos os demais, que nele habitam e que dele se dissociam só de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todos os segredos do universo. É isto que buscavas, oh Orunmilá! Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria. Toma-a para ti e possua-a para todo o sempre, pois agora és Ifá e nada pode mais que tú.

Este Itan determina que o cliente deve ser iniciado no culto de Orunmilá, devendo para isso, ser conduzido e confiado aos cuidados de um Babalawo.

ITAN TI ODÙ EJI-ONILE

Titigotin, passarinho muito pequeno e malvado, de penas acinzentadas, afirmou um dia ao elefante Ajinaku, que poderia vencê-lo em combate singular. Espantando com tamanha ousadia, Ajinaku indagou: ―Como poderás, pequeno como és, ocasionar-me algum dano para derrotar-me?‖

O pássaro no entanto, continuava a afirmar que podia derrotar o elefante que, para não ficar desmoralizado, teve que aceitar o desafio.

No dia marcado, Titigotin, antes do combate, aconselhou ao elefante que se alimentas- se bem, para que não viesse atribuir a derrota a algum estado de fraqueza, por encontrar-se mau alimentado.

Antes da luta, Titigotin reunira algumas pedras vermelhas chamadas zen, que depois de transformadas em pó, foram misturadas com água, produzindo um líquido pastoso, muito parecido com sangue, tendo em seguida, guardado o líquido numa pequena cabaça chamada atukungwe.

Do fundo do rio, recolheu pedaços de calcário, com os quais produziu uma pasta bran- ca ainda mais espessa, que guardou noutra cabaça.

O mesmo foi feito com pó de carvão vegetal que, depois de misturado com água e transformado numa pasta negra, foi guardado numa terceira cabaça.

144 Naquela época, reinava no pais um rei muito bondoso, cujo nome era Dada She. Curio- so em saber de que forma o valente passarinho tencionava derrotar seu enorme adversário, Dada She dirigiu-se a floresta para, em companhia dos animais selvagens, assistir à curiosa luta.

Em dado momento, Titigotin declarou-se pronto para o combate e solicitou ao rei que autorizasse o inicio da luta.

Ao sinal, munido de suas três cabaças, pousou na cabeça do elefante que pôs-se a rir, sacudindo a tromba, na tentativa inútil de afugentar Titigotin que, dotado de grande agilida- de, mudava sempre de lugar. Da orelha do elefante, voava rapidamente para a testa e dali para o alto da cabeça, evitando as violentas pancadas que o elefante desferia com a tromba, na intenção de atingi-lo.

Agora, o elefante já estava realmente irritado, vários golpes desferidos com sua própria tromba haviam martelado violentamente sua própria cabeça e o passarinho continuava incó- lume.

Em determinado momento, Titigotin derramou, sobre a cabeça do elefante, o liquido vermelho que armazenara na primeira cabaça, voando em seguida até Dada She, a quem soli- citou um médico para examinar Ajinaku que, segundo ele, estava acometido de forte hemor- ragia, proveniente de um grande ferimento no alto da cabeça.

Ao ver o que julgou ser san gue, Dada Shé admoestou Ajinaku: ―Como pudestes ser tão gravemente ferido por um passarinho tão pequeno?‖ Ajinaku, como não sentisse nenhu-

No documento O Oráculo e Os Tratados de Ifá Original (páginas 135-147)