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O itinerário da viagem se debruça pelos meandros da educação profissional em Campina Grande-PB, tomando como recorte investigativo a Escola Técnica Redentorista, nos anos de 1975-1985, rastreando novas relações de gênero em um contexto histórico-sociológico hegemônico da política desenvolvimentista, ancorada pela ditadura militar. Esta jornada interpretativa se consubstancia, através do entrecruzamento analítico de dissertações de mestrado, teses de doutorado, assim como de bibliografias que abordam a educação profissional no Brasil e na Paraíba, ferramentas investigativas contundentes na esteira compreensiva almejada.

Contudo, a primeira parte deste trabalho de tese, subscreve uma interpretação da educação profissional em seu percurso histórico-sociológico, trazendo à tona a relação da educação com as transformações históricas ocorridas nessa configuração. Compreendemos que a criação da ETER se confunde com as análises da história social. Fizemos, assim, a história da educação da ETER, trazendo para a superfície as tramas do cotidiano escolar desta instituição de formação profissional.

Uma interpretação construída pelo entrelaçamento de fontes tradicionais (estatutos, regulamentos, currículo, projetos de criação da ETER, dos cursos técnicos de Eletrônica e

Telecomunicação) e outras fontes (narrativas feitas por ex-alunos e antigos funcionários, jornais, fichas dos (as) alunos (as)). Um encontro realizado pelos meandros da memória, evidenciada por dissonantes narrativas que se complementam.

Nesse movimento investigativo, tecemos a memória da ETER como um “lugar próprio” (CERTEAU, 1996), normatizado por estratégias racionalmente planejadas em uma configuração histórica da construção desta escola, desnudando a sua superfície, de forma a evidenciar os comportamentos dos sujeitos sociais e históricos (alunas e alunos) que ressignificaram os lugares de formação da ETER.

No capítulo I situamos o leitor quanto ao nosso lugar social enquanto pesquisadora, definindo os conceitos trabalhados na tese, assim como a metodologia utilizada nesta tessitura acadêmica. Adentramos nos muros da ETER, conhecendo a transição do Colégio Redentorista para Escola Técnica.

Buscamos definir os passos seguidos ao longo da tese, definindo as ferramentas teóricas e metodológicas usadas para a análise das narrativas dos sujeitos em curso, tanto individualmente como enquanto grupo, de modo a entender como interpretam suas trajetórias, táticas e suposições, dilemas e alegrias no cotidiano das práticas escolares vividas alhures. Pois, por meio das narrativas nos aproximamos da forma como as/os alunas(os) se apropriavam das diferentes normas e prescrições da ETER.

A tese levantada no II capítulo é a de que as estratégias de poder do Estado militar autoritário e da igreja católica, agenciadores do ensino profissionalizante, nos anos de 1975- 1985, reinventaram Campina Grande com a fabricação de novas subjetividades de gênero. Por meio de levantamentos realizados em jornais, livros da história campinense, dentre outras fontes pesquisadas, percebemos a ausência das mulheres em eventos políticos e históricos registrados nesses periódicos. Ao mesmo tempo em que a cidade vivia as transformações históricas que permitiram a profissionalização das mulheres em Campina Grande-PB.

A tese que emerge no III capítulo é a de a criação da Escola Técnica Redentorista ter sido uma idealização de homens conservadores que estrategicamente beneficiaram essa instituição escolar através da competência de alunas e alunos, oriundas(os) das camadas pobres campinense e de cidades circunvizinhas.

A tese do IV capítulo discute a construção de subjetividades de gênero, a partir de técnicas de disciplinamento e vigilância dos comportamentos, difusas no currículo e nas notas escolares. Defendemos que a estrutura curricular da ETER foi tecida também pelo tecnicismo, presente na estrutura curricular da escola. Esse método estava presente na organização do tempo e espaço escolar, tomados aqui como operadores estratégicos que selecionavam

conhecimentos e saberes, evidenciados na grade curricular, uma vez que as disciplinas técnicas tinham carga horária maior que as demais. Desse modo, ocupavam um lugar de poder que excluía e incluía alunas e alunos no processo educacional, tomando o critério do desempenho individual como balizador desta organização interna.

Por outro lado, o humanismo encontrava-se difuso nas disciplinas de geografia, história, religião, uma vez que elas trabalhavam com os aspectos sociais, políticos e religiosos. Um campo de saberes e conhecimentos que enfatizavam os valores humanos, norteadores da formação religiosa, mesclados com os valores técnicos/racionais para a qualificação profissional, proposta pela escola.

E no V capítulo a tese suscitada é a de que houve negociações de gênero tecidas nos eventos festivos da ETER (festa de formatura, nos encontros de memória) realizados por ex- alunos(as). Tomadas aqui como atividades escolares controladas pelo calendário escolar e reguladas pelas regras instituídas pela escola. Assim como pelas outras maneiras de lazer e diversão realizadas pelas(os) jovens estudantes fora da escola, aonde encontramos também “usos e abusos”, realizados por múltiplas práticas de jovens estudantes que se desviavam de alguma maneira da disciplina e vigilância cotidiana.

Através deste percurso, buscamos a aproximação da realidade que inicialmente se apresenta problematizadora da construção de novas relações de gênero na educação profissional em Campina Grande-PB, tomando a ETER como lugar de racionalidade técnica, articuladora das relações do feminino e do masculino, que redescobrem novas maneiras de viver as regras em uma estrutura de formação profissional de educação para a “liberdade” em uma configuração histórico-social direcionada para o “trabalho”.

2 “SOB A TORRE DE MARFIM”: AS ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS DO