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Capítulo I. Fundamentação teórica

I.2. Antecedentes da teoria dos polissistemas

I.2.3. Iuri Lotman

O sistema e o extra-sistémico são analisados por Iuri Lotman (1922-1993) em A

Estrutura do Texto Artístico, em que defende que são possíveis duas abordagens: tudo

é sistémico na obra de arte ou tudo representa a transgressão de um sistema. Para o autor, na natureza, é único o que é extra-sistémico, «o que não é essencial para uma dada escritura enquanto tal»1. A literatura, ao imitar a realidade, cria a partir desse material um modelo de extra-sistemicidade, pois, «para parecer “contingente”, um elemento num texto artístico deve pertencer pelo menos a dois sistemas, encontrar-se na sua intersecção»2. Assim, os factos contingentes ou únicos da vida não se inserem em nenhum sistema, ao passo que os factos abstracto-lógicos fazem sempre parte de algum sistema. No caso dos factos na arte, estes pertencem a dois sistemas. Lotman considera que a capacidade de um texto artístico se integrar em diferentes estruturas contextuais e ter diferentes significações é uma das suas propriedades mais profundas. O modelo artístico e cada elemento deste fazem parte de mais do que um sistema de comportamento, mas, em cada um deles possuem uma significação particular. Estas diferentes significações de cada elemento mantêm uma correlação recíproca. «O princípio lúdico torna-se o fundamento de uma organização semântica»3, define Lotman, acrescentando que a construção do texto artístico se faz pela introdução do texto e de cada pormenor em diferentes sistemas de relações. Daí resulta a recepção simultânea com várias significações.

O autor defende que existem dois mecanismos simultâneos na estrutura do texto artístico. Em primeiro lugar, um mecanismo que tende a submeter os elementos

1

LOTMAN, Iuri, A Estrutura do Texto Artístico. Trad. de Maria do Carmo Vieira Raposo e Alberto Raposo.

Lisboa: Estampa, 1978, p. 117.

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DEM, ibidem.

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do texto ao sistema, «a transformá-los numa gramática automatizada, sem a qual o acto de comunicação é impossível»1. Em segundo lugar, um mecanismo com tendência para a destruição da automatização e para tornar a estrutura no portador da informação. Nesse sentido:

o mecanismo de destruição da sistemicidade recebe no texto literário um aspecto particular. Oposto a um sistema artístico dado «como individual», «extra- sistémico», esse facto é na realidade completamente sistémico, mas pertence a uma outra estrutura. [...] Qualquer facto «individual», qualquer «não sei quê» no texto artístico é o resultado de uma complexificação da estrutura fundamental por estruturas complementares. Ele surge enquanto intersecção de pelo menos dois sistemas, recebendo no contexto de cada um de entre eles um significado particular. [...] O extra-sistémico na vida reflecte-se na arte enquanto polissistémico2.

Para Lotman, a estrutura relacional corresponde a um conjunto de relações que são o fundamento e a realidade da obra de arte. Esse conjunto é construído como:

uma estrutura complexa de subestruturas que se intersectam com numerosas penetrações de um único e mesmo elemento em diferentes contextos construtivos. São precisamente estas intersecções que constituem a «coisidade» do texto artístico, a sua multiformidade material, reflectindo a bizarra assistemicidade do mundo ambiente com uma tal autenticidade, que no espectador desatento surgirá a crença na identidade dessa contingência, crença na individualidade não reiterada do texto artístico e das propriedades da realidade reflectida. A lei do texto artístico é: quantas mais normatividades houver que se intersectem num dado ponto estrutural, mais esse ponto parecerá individual3.

1

Ibidem, p. 137.

2 Ibidem, p. 138. 3 Ibidem, p. 145.

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Nesse sentido, para conhecer a multiformidade do texto artístico há que estudar a não reiteração «enquanto função de determinadas repetições, do individual enquanto função da normatividade»1.

Em «Point of View in a Text», Lotman defende que um sistema literário é composto por uma hierarquia de relações e que o ponto de vista se desenrola como a relação do sistema com o seu «sujeito» ou «centro consciente», podendo o «sistema» situar-se no nível linguístico ou num nível superior. «Sujeito» ou «centro consciente» corresponde, para o autor, à consciência que pode gerar uma estrutura desse tipo, reconstruída através do processo de leitura.

«A text is a mechanism constituting a system of heterogeneous semiotic spaces, in whose continuum the message [associated with the first textual function] circulates. We do not perceive this message to be the manifestation of a single language: a minimum of two languages is required to create it2.» É desta forma que Iuri Lotman inicia o seu artigo «The Text Within the Text», em que afirma que o texto não é um receptor passivo de conteúdos introduzidos pelo exterior, mas antes um produtor de outros textos. O processo de produção expande as estruturas e estimula a sua interacção. Se um texto interage com consciências heterogéneas, surgem novos significados e a estrutura imanente do texto é reorganizada sob diferentes formas possíveis. No entanto, o impulso pragmático não pode ser levado a diferentes tipos de reinterpretações do texto: «this principle constitutes the active aspect of textual functioning itsel.»3

Lotman refere que o texto necessita de um interlocutor, tal como a consciência, para funcionar, necessita de outra consciência: «the text within the text, the culture within the culture»4. O texto externo torna-se o campo estrutural de outro significado do texto e é criada uma nova mensagem. Além disso, as poderosas «erupções textuais» externas registadas em culturas concebidas como um texto enorme levam a cultura a adaptar mensagens exteriores e a introduzi-las na sua memória, ao mesmo

1 Ibidem. 2

LOTMAN, Yury M. «The Text Within the Text». Trad. de Jerry Leo e Amy Mandelker. PMLA, vol. 109, n.º

3, May 1994.

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DEM, ibidem, p. 378.

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tempo que estimulam o autodesenvolvimento da cultura. Durante o seu processo de desenvolvimento, o sistema integra textos vizinhos, facilmente traduzíveis para a sua língua:

In moments of cultural (or, in general, semiotic) explosion, the texts incorporated are more distant and are untranslatable (or incomprehensible) from the point of view of the system. In these moments the more complex culture does not always play the role of stimulus for the more archaic one; the opposite tendency is also possible1.

Lotman define a cultura como um sistema de funcionamento complexo e hierárquico, reflectindo que cada texto surge em pelo menos duas perspectivas e contextos, opostos ao eixo homogeneidade/não-homogeneidade. Se for comparado com outros, o texto parecerá homogéneo com eles e será colocado no eixo sintagmático. Contudo, de um ponto de vista externo ao sistema, parecerá incompreensível e estrangeiro e será posto no eixo retórico: «a rhetorical effect occurs when one text is juxtaposed with another that is semiotically nonhomogeneous with it.»2

Iuri Lotman classifica a relação entre texto e audiência como um diálogo, que se distingue pelo código comum de dois enunciados justapostos e pela presença de uma memória comum partilhada pelo emissor e pelo destinatário. Existem dois tipos de actividade discursiva: por um lado, o discurso dirigido a um destinatário abstracto, reconstruído na sua memória como típico do falante de uma língua; por outro, o discurso dirigido a um interlocutor real e cuja memória é conhecida do emissor. No texto literário, a orientação para um determinado tipo de memória colectiva e consequentemente para uma estrutura de audiência adquire um carácter inicialmente diferente. Deixa de estar automaticamente implicado no texto e torna-se um elemento artístico que pode inserir o texto como parte de um jogo.

1 Ibidem, p. 379. 2 Ibidem, p. 380.

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O texto literário faz com que o leitor se familiarize com o sistema de posições na hierarquia e permite-lhe mover-se livremente nas fendas indicadas pelo autor. Enquanto lê, o leitor adquire um grau de convivência com o autor. Este altera a extensão da memória do leitor, que é por isso capaz de recordar o que a sua memória não sabia. Como indica Lotman, «on the one hand the author imposes on the readership its type of memory, and on the other the text preserves in itself the image of the readership»1.

Em «Texte et Hors-Texte», Lotman afirma:

The text is only one of the elements of the account. The real flesh of the literary work consists of a text (a system of intratextual relations) in its relationship to extratextual reality: life, literary norms, tradition, ideas. It is impossible to conceive of a text thoroughly extracted from this network2.

Em «Text and Function», Lotman e Piatigorsky definem a função de um texto como o seu papel social, a sua capacidade de satisfazer determinadas necessidades da comunidade que cria o texto, o que significa que a função corresponde à relação mútua com o sistema, a sua realização e o emissor-receptor do texto. Quando se verifica uma ruptura consciente com uma cultura ou se ignora o seu código, tal facto significará a negação do sistema de significados do texto inerente a essa cultura.

À medida que aumenta o significado do texto, surge uma hierarquia de textos. Lotman e Piatigorsky dão como exemplo a hierarquia de géneros no sistema da literatura clássica, em que o recurso «ser uma obra de arte» aumenta proporcionalmente à sua ascensão na escala de géneros. O sistema de significados do texto determina a função social dos textos numa cultura. Os autores apontam três tipos de relação: sentidos de subtexto, significados de texto e funções dos textos num dado sistema de cultura. Consequentemente, é possível descrever uma cultura em três níveis: nível dos conteúdos gerais linguísticos dos seus textos constitutivos, nível dos

1

Ibidem, p. 86.

2

LOTMAN, Yury, «Texte et Hors-Texte». Change, n.º 14, Spring 1973, citado em CHAMPAGNE, Roland A. «A

Grammar of the Languages of Culture: Literary Theory and Yury M. Lotman's Semiotics». New Literary

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conteúdos do texto e nível das funções do texto. Lotman e Piatigorsky advertem que estes níveis não devem ser separados.

Da mesma forma, um sistema cultural também deve ser descrito em três níveis: a descrição das mensagens do subtexto, a descrição da cultura como um sistema de textos e a descrição da cultura como um conjunto de funções servidas pelos textos. Podem ser postulados dois tipos de cultura: por um lado, a cultura que tende a especializar os seus textos ao ponto de existir um tipo adequado de texto para cada função cultural; por outro, a cultura em que as fronteiras entre textos tendencialmente desaparecem para que textos idênticos sirvam o conjunto das funções culturais: «In the first type the text is more important, and in the second, the function1.»

No artigo «On the Semiotic Mechanism of Culture», Iuri Lotman e B. Uspensky consideram que as culturas têm características específicas e todas produzem um modelo especial e peculiar de cultura para si. A cultura:

is never a universal set, but always a subset organized in a specific manner. Cultures ever encompass everything, but forms instead a marked-off sphere. […] nonculture may appear as not belonging to a particular religion, not having access to some knowledge, or not sharing in some type of life and behavior. But culture will always need such an opposition. Indeed, culture stands out as the marked member of this opposition2.

Contra o plano de não-cultura, a cultura é apontada como um sistema de signos. Normalmente, qualquer mudança na cultura surge a par de um aumento acentuado do grau de comportamento semiótico (expresso, por exemplo, pela alteração de nomes e designações). Até a luta contra velhos rituais pode ser ritualizada, afirmam os autores, acrescentando que a introdução de novas formas de comportamento e a intensificação semiótica de formas antigas provam uma mudança

1 L

OTMAN, Yu. M. e PIATIGORSKY, A. M. «Text and Function». Trad. de Ann Shukman. New Literary History,

vol. 9, n.º 2, Soviet Semiotics and Criticism: An Anthology, Winter 1978.

2

LOTMAN, Yu. M., e USPENSKY, B. A. «On the Semiotic Mechanism of Culture». Trad. de George

Mihaychuk. New Literary History, vol. 9, n.º 2, Soviet Semiotics and Criticism: An Anthology, Winter 1978.

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específica no tipo de cultura. «We understand culture as the nonhereditary memory of the community, a memory expressing itself in a system of constraints and prescriptions»1, podemos ler no artigo.

Surge então a questão do sistema de regras semiótica pelo qual a experiência da vida humana é transformada em cultura: «these rules can, in their own turn, be treated as a program.»2 Outra questão é a longevidade da cultura, em dois planos – a longevidade dos textos e a longevidade do código na memória colectiva –, que podem não estar sempre relacionados. A longevidade dos textos forma uma hierarquia dentro da cultura, enquanto a longevidade do código depende do comportamento dos seus princípios básicos estruturais e do seu dinamismo interno. Lotman e Uspensky identificam três formas de prolongar a memória colectiva através da cultura: o aumento do conhecimento; a redistribuição na estrutura dos nós, provocando uma alteração na noção de «facto a ser recordado» e uma avaliação hierárquica do que foi registado na memória; e, finalmente, o esquecimento, que surge inevitavelmente da selecção e condensação de acontecimentos. Nesse sentido, «a semiotic analysis of a document should always precede a historical one»3.

Outra forma de esquecimento é produzida pela exclusão de textos pela cultura. Contudo, esta destruição surge a par da criação de novos textos. Como indicam os autores, cada novo movimento recusa a autoridade dos textos de referência de épocas anteriores e classifica-os como «não-textos» ou destrói-os. No entanto, a cultura, sendo por natureza contra o esquecimento, supera-o e transforma-o num mecanismo da memória. «Despite their apparent similarity, there is a profound difference between forgetting as an element of memory and forgetting as a means of its destruction»4, alertam Lotman e Uspensky.

Ambos defendem que o dinamismo das componentes semióticas da cultura se relaciona com o dinamismo da sociedade humana: «Man is included in a more mobile world than all the rest of nature, and in a very basic way he regards the very notion of

1 IDEM, ibidem, p. 213. 2 Ibidem, p. 214. 3 Ibidem, p. 216. 4 Ibidem.

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movement differently1.» O dinamismo é inseparável da arbitrariedade das causas externas. Por outro lado, o processo da transformação gradual de uma cultura pode não ser percebido como contínuo e as várias etapas do processo podem fazer parte de diferentes culturas. Num sistema cultural, as mudanças estão relacionadas com a acumulação de informação pela comunidade humana e com a introdução da ciência na cultura como um sistema relativamente autónomo. Por outro lado, há elementos que podem ser explicados desta forma, como é o caso do dinamismo gramatical ou fonológico da língua ou o sistema da moda. Este último pode ser estudado tendo em conta os processos sociais externos, como as leis da propriedade industrial ou as concepções estéticas.

Se se verifica a oposição entre o antigo e o novo dentro do sistema da cultura, temos igualmente a oposição entre unidade e multiplicidade. Todavia, a cultura necessita de unidade. Esta é alcançada no momento em que a cultura passa a ter consciência de si e cria um modelo de si própria. O sistema cultura tem como função servir como memória e como característica principal a autoacumulação. É possível concluir que:

structure, nonsemiotic systems (those outside the complex "society- communication-culture"), presupposes some constructive principle of interconnection between elements. It is precisely the realization of this principle that allows one to speak of the given phenomenon as structural. Therefore, once a phenomenon exists, it has no alternative within the limits of its qualitative definition. A phenomenon may have structure, that is, be itself, or not have structure and not be itself. […] The semiotic mechanism of culture created by mankind is constructed according to a different principle: opposed and reciprocally alternating structural principles are essential2.

Lotman e Uspensky comparam a cultura à indústria, na medida em que ambas devoram recursos de forma ávida e destroem facilmente o seu ambiente.

1 Ibidem, p. 223. 2 Ibidem, p. 228.

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Iuri Lotman considera que a consciência literária e ideológica de um período, bem como a sua visão de mundo e a estética das suas tendências e correntes, têm uma qualidade sistémica. Estas categorias correspondem a um grupo hierárquico de valores cognitivos, éticos e estéticos. Na antinomia natureza-cultura, Lotman defende um ponto de vista antinaturalista: a cultura é informação, depende da consciência humana e não é transmitida pelo código genético, ao passo que a natureza ou mundo externo fornecem o material para os artefactos culturais e constituem um campo de conhecimento. Como indica Boguslaw Zylko em «Culture and Semiotics: Notes on Lotman's Conception of Culture», Lotman adoptou um ponto de vista diferente nos seus últimos trabalhos, questionando a existência de uma fronteira clara entre as duas esferas e defendendo que esta depende do humano, pois o homem é comum tanto à natureza como à cultura. Os dois universos interpenetram-se. Boguslaw Zylko afirma que:

the boundary is continuously penetrated by noncultural elements, which simultaneously transform the sphere of culture and are themselves subject to substantial transformation. The «culturization» of elements of the natural world occurs by means of language, and more precisely through naming. Through this process parts of the natural world are «humanized» and included in some of culture's languages1.2

Para Lotman, o texto é apresentado em relação à realidade e contém conhecimento do mundo.

Em «On semiosfere», Iuri Lotman propõe o termo «semiosfera», adaptação do conceito «biosfera» de Vladimir Vernadskii e que corresponde à actividade permanente de todos os níveis de cultura, «from the relations between the hemispheres of the brain, to dialogue, to the productions and consumption of cultural

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YLKO, Boguslaw, «Culture and Semiotics: Notes on Lotman's Conception of Culture». New Literary

History, vol. 32, n.º 2, Reexamining Critical Processing, Spring 2001.

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Mais à frente faremos referência à dificuldade de nomear novas realidades ou realidades desconhecidas pelos europeus que participaram nos processos de expansão a partir do século XV e como tal é reflectido por escritores nossos contemporâneos.

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artifacts, to large scale changes in nation cultures»1, como explica Vladimir Alexandrov. O mais importnte é o sistema no seu conjunto, a semiosfera, não os seus elementos. Nesse texto, Lotman defende que todos os fenómenos fazem parte de um contínuo especialmente organizado, a chamada semiosfera. Esta relaciona-se com uma determinada homogeneidade e individualidade, havendo uma separação do espaço circundante. A fronteira funciona como filtro especial e mensagens exteriores têm de forçar a sua entrada para se transformarem em factos numa semiosfera. «To do this, they have to adapt to the conditions of a given semiosphere, in such a way that the alien may become familiar. What is external becomes internal; what is nontextnontext becomes text»2, refere Boguslaw Zylko. Internamente, a semiosfera é composta por irregularidades estruturais, não existindo uma ordem predeterminada. Por outro lado, há uma heterogeneidade interna e a organização e estrutura de cada centro podem ser bastante diversas. As periferias, por seu lado, são formalmente menos organizadas e mais flexíveis, além de serem menos limitadas por metadescrições, como os sistemas gramaticais. Nesse sentido, «peripheries are considered a reservoir of innovation and a source of dynamic processes, within semiosphere»3. Vejamos outras duas características da semiosfera: os fragmentos particulares são envolvidos de uma forma não sincrónica e a lei fundamental é o diálogo entre as diferentes esferas, o que implica a existência de níveis dentro da semiosfera. Estes níveis variam conforme a semiosfera autónoma de cada pessoa e a semiosfera do mundo contemporâneo. A dimensão da estrutura mais alargada tem vindo a aumentar.

Sendo dinâmica, a cultura é caracterizada por variadas contradições. A primeira está relacionada com as relações que mantém com elementos sistémicos e não- sistémicos, simultaneamente absorvendo os segundos e expelindo os primeiros. O material extra-sistémico apresenta diversidade e poderá constituir a base de uma oposição estrutural. A segunda contradição diz respeito à ambiguidade/ambivalência: o sistema é flexível e o seu comportamento imprevisível, devido a ambivalências internas, que, por sua vez, resultam das várias opções e possibilidades sem qualquer

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LEXANDROV, Vladimir E., «Biology, Semiosis, and Cultural Difference in Lotman's Semiosphere».

Comparative Literature, vol. 52, n.º 4, Autumn 2000.

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ZYLKO, Boguslaw, «Culture and Semiotics: Notes on Lotman's Conception of Culture». New Literary

History, vol. 32, n.º 2, Reexamining Critical Processing, Spring 2001.

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escolha predeterminada. «Ambivalence would therefore mark any cultural transformations, when paradigms formerly used erode, and new ones have not yet taken shape»1, indica Boguslaw Zylko. A contradição núcleo/periferia relaciona-se com o espaço: o centro tem uma organização mais formal, concentrando-se numa energia autodescritiva que ignora a periferia. Contudo, os núcleos e as periferias podem trocar