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Coordenação de Educação Integral, Direitos Humanos e Cidadania

Gaúcha, 48, possui graduação em Pedagogia pelo Centro de Ensino Superior de Erechim, especialização em Educação Popular pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, especialização em Alfabetização pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e concluiu o doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Inicialmente, trabalhou no MEC, na Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC); em 2007, foi convidada pelo secretário André Lázaro para ingressar na SECAD como coordenadora da área de Educação Integral, Direitos Humanos e Cidadania. Está cursando o doutorado na UFRGS na área de educação, onde desenvolve o tema de tese sobre pedagogias urbanas.

A entrevistada diz ter forte identidade política com o governo Lula apesar de não ser filiada ao PT e que sua militância política tem duas origens distintas que se interagem: a universidade, a partir da qual ela criou uma trajetória acadêmica, e os movimentos sociais, onde ela militou e participou quando jovem, principalmente, do Movimento Pastoral Rural; exerceu liderança na Pastoral da Juventude, e participou do Movimento dos Atingidos por Barragens em Erexim, no Rio Grande do Sul, que lutava contra a construção das hidrelétricas pela Eletrosul.

Ao longo de sua trajetória acadêmica, foi vice-presidente do Diretório Acadêmico da Universidade Regional Integral de Erexim, no Rio Grande do Sul, e participou da organização e sindicalização dos professores do ensino médio e superior do Estado.

Jacqueline Moll diz que, enquanto especialista em educação, utiliza os cânones acadêmicos, mas que sua trajetória ligada aos movimentos sociais lhe mostrou “os saberes

fora do âmbito acadêmico”. Diz que sua vida como militante tem dois momentos: o primeiro,

quando cursava a graduação e participava de movimentos sociais em Erexim, e o segundo, quando ingressou no curso de pós-graduação em Porto Alegre e se envolveu com os sindicatos e os movimentos acadêmicos. Jaqcueline afirma que sempre esteve ligada à “agitação política” e sempre foi ligada ao PT mas que não participava de nenhuma tendência partidária, pois julgava ser “do interesse do país, encontrar um PT sem facções”. Em 1987, quando chegou em Porto Alegre, encontrou um PT com muitas facções.

Para compreender sua trajetória devemos conhecer antes a trajetória de Tarso Genro, a quem ela sempre foi politicamente ligada.

Em 1988, Tarso Genro foi vice-prefeito na chapa de Olívio Dutra pelo Partido dos Trabalhadores, quando o partido ocupou pela primeira vez a Prefeitura de Porto Alegre. Candidato ao cargo de prefeito de Porto Alegre, foi eleito em dois mandatos: 1993-1996 e 2001-2004.

Em 1990, se candidatou pela primeira vez ao governo do Rio Grande do Sul, e perdeu para Alceu Collares, ficando em quarto lugar. Tarso regressou à vice-prefeitura e, em 1992, e candidatou-se como sucessor de Olívio Dutra, sendo eleito no segundo turno com 60% dos votos. À frente da prefeitura (1993-97), Tarso deu continuidade às políticas de Dutra, principalmente o orçamento participativo, marca da gestão petista na capital gaúcha.

Em 2001 (2001-2002), voltou a se eleger prefeito de Porto Alegre novamente no segundo turno, quando obteve 63,5% dos votos e derrotou Alceu Collares, mas desligou-se do cargo em 2002 para concorrer ao governo do Estado. Perdeu a eleição no segundo turno para Germano Rigotto (PMDB); ficando sem cargo eletivo, Tarso foi convidado por Lula para comandar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, função na qual ficou até o início de 2004, quando Lula fez a sua primeira reforma ministerial. Tarso então, assumiu o

Ministério da Educação em substituição a Cristovam Buarque, deixando o cargo em 2005, para ocupar a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores em substituição a José Genoíno.

Na primeira gestão de Tarso Genro na Prefeitura de Porto Alegre (93 - 96), Jaqueline foi convidada para trabalhar como assessora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação e, na segunda gestão de Tarso Genro (2001– 2002), ela foi coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. Quando Tarso Genro foi nomeado Ministro da Educação, ela foi convidada para trabalhar no MEC em 2005, na Secretaria de Educação Tecnológica (SETEC), e em 2007, o Fernando Haddad, ministro da Educação e André Lázaro, secretário da SECAD, a convidaram para trabalhar no órgão.

A entrevistada acredita que a SECAD vai dar “institucionalidade à temáticas e aos

sujeitos outsiders, de acordo com o conceito de Elias e com os cânones do senso comum e da tradição pedagógica brasileira. São sujeitos historicamente silenciados na educação brasileira em nome de um currículo homogêneo.”

Ela argumenta que existe “um movimento político de busca de legitimidade das vozes

historicamente excluídas da agenda pública”, o que, do ponto de vista epistemológico,

significa que a legitimidade dos saberes produzidos em contextos diferentes dos clássicos, ou a revisão dos cânones da ciência moderna. Ela acha que a ciência moderna “é branca,

católica, letrada e masculina”, e que a diversidade compreendida pelos formuladores da

SECAD, envolve “uma resposta epistemológica aos saberes e temas excluídos, e

compreensão de pensar o mundo na perspectiva e na relação com o mundo, de inúmeras formas de expressão, comportamento, linguagem e cultura de paz”. A entrevistada conclui

que a estrutura do processo educativo deve lidar com a diversidade com mais respeito, e ela deve vir par a o espaço público.

Jacqueline Moll argumenta que o governo Lula permitiu que o PT tivesse uma relação, uma interface com os movimentos sociais; no governo FHC não havia interlocutores para esses movimentos, como por exemplo, a definição dos parâmetros curriculares nacionais e que tratavam de temas transversais que no período do FHC, quando os movimentos sociais encontraram um lócus de discussão no interior do MEC muito restrito para debater o tema. No final dos anos 80 e início de 90, com o final da ditadura e o crescimento das contradições, os

temas sobre os excluídos e desigualdade emergem no Brasil, e o governo Lula vai ser a expressão das “vozes dos movimentos sociais em diferentes campos”.

A entrevistada diz que a perspectiva da SECAD não considera que os sujeitos sociais, em suas várias expressões, possam ser subsumidos às políticas públicas porque se essas vozes se calarem “poderíamos pensar que foram diluídas em discursos comuns e

práticas governamentais”. A articulação que faz a SECAD entre o governo e os donos das

vozes permite existir um diálogo que produz o “inédito viável, o que não existia antes e

produz também a interface que se instaura nas políticas públicas”. Assim, vai se criando uma

nova esfera pública, a partir da articulação entre redes sociais e políticas educacionais.

De acordo com a entrevistada, a articulação ocorre em 5 planos distintos e que podem deslocar os atores excluídos para a esfera pública:

1) A legislação, que garante os direitos na relação entre os atores;

2) O financiamento para as políticas que garantem direitos;

3) A produção do conhecimento, através da relação com a universidade e outras

organizações sociais que produzem conhecimento, e a formação de profissionais educadores (gestores, professores e funcionários.) Os processos de formação mais as informações adquiridas podem “mudar o olhar e trazer novos currículos para

o conteúdo escolar”; e

4) A articulação permanente com os movimentos sociais.

A entrevistada argumenta que André Lázaro sempre diz que “Para superar a

exclusão não se pode incluir o outro na sua visão, mas ampliar a visão e constituir uma arena pública onde todos possam estar presentes”, articulação que acontece no nível cultura,

valorativo e simbólico. Para ela, a SECAD deve buscar dar unidade á diversidade e compreender o mundo plural através da compreensão das trajetórias das pessoas e nas diferentes metodologias de trabalho. Os movimentos que lutam por afirmar sua própria diferença nascem da sociedade civil e da base de sustentação que é forte, como por exemplo, o programa Brasil Sem Homofobia que não sofreu críticas ou ataques. A entrevistada argumenta que o órgão busca uma mudança paradigmática na escola.