• Nenhum resultado encontrado

Departamento de Educação de Jovens e Adultos

Paranaense, 49, possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (1986), especialização em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1988) e mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (1999). Atualmente é Professora da Universidade Federal do Paraná. Foi professora do curso de educação de jovens e adultos (EJA) e do ensino fundamental no interior do Paraná e ingressou na SECAD em setembro de 2007.

Entre 1990 a 1995, teve uma importante atuação política no Estado do Paraná quando exerceu o papel de articuladora dos fóruns de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no estado65. O Forum de EJA do Paraná foi criado em 2000, quando ela teve um importante papel na articulação dos foruns estaduais e nacionais. Em 2003, foi coordenadora estadual do Fórum de EJA do Paraná e, em abril de 2007, os movimentos dos Fóruns de EJA indicaram seu nome para ser a gestora da política educacional para jovens e adultos no âmbito do MEC. Foi então, nomeada responsável pelas políticas educacionais para jovens e adultos da SECAD.

A entrevistada informa que a política educacional tem dois referenciais importantes: o dos movimentos sociais e o do processo de gestão da educação, e, como ambos têm tempos distintos, o grande desafio destes dois referenciais é saber dialogar com a diversidade.

Zanetti diz não ter tido militância política no Partido dos Trabalhadores, porém, como sente “simpatia pelos princípios do partido”, já participou como “base ativa” do PT,

“colando cartazes e fazendo panfletagem”, mas nunca foi filiada ao partido. Sua militância

verdadeiramente política sempre ocorreu nos Fóruns de EJA; ou seja, no âmbito dos movimentos sociais.

65 O Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado do Rio de Janeiro inaugurou, em 1996, um movimento social que teve início com a convocação da UNESCO para a organização de reuniões nacionais preparatórias à V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, que aconteceu em Hamburgo, Alemanha, em julho de 1997. A experiência do Fórum do Rio de Janeiro impulsionou o surgimento de outros fóruns estaduais, além da idéia de realizar um Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos – ENEJA anual, o que vem ocorrendo desde 1999. O crescimento nacional dos Fóruns e o fortalecimento dos ENEJAs, transformou a SECAD e o MEC em importantes interlocutores. A representação dos foruns ocupa um lugar na Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos –

Ela esclarece que as ações de alfabetização e educação de jovens e adultos têm um forte vínculo com os movimentos sociais, que fazem parte de sua constituição histórica, como por exemplo, o Movimento de Alfabetização (MOVA). Este movimento surgiu em 1989, durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, com uma proposta de reunir o município e organizações da sociedade civil para combater o analfabetismo, através da oferta de uma educação adaptada às necessidades e condições dos alunos jovens e adultos analfabetos. A entrevistada complementa dizendo que, o vínculo da SECAD com os movimentos sociais se expressa na metodologia utilizada pela EJA, na própria articulação do governo com as demandas, e no conceito de educação popular.

Zanetti garante a importância da necessidade de desenvolver um “currículo contendo

tempos e sujeitos distintos, com outros horários e calendários”, destinados ao aluno do EJA

que respeite suas práticas cotidianas. A entrevistada se mostrou contra a institucionalização do EJA (inserção da educação de jovens e adultos no sistema regular de ensino), pois acha que os elementos da educação popular não devem ser incorporados aos sistemas das redes escolares regulares; deve-se “considerar de fato de os saberes históricos e que a relação entre o aluno

e o saber deve ser dialógica”, mas a “estrutura da escola é hierárquica”. A relação dialógica

tem que ser “horizontal e englobar saberes diferentes, não piores nem melhores, apenas

diferentes”. Cita como exemplo, o conhecimento dos caminhoneiros sobre a geografia, o

relevo, o clima, e a vegetação de determinados lugares por onde costumam trabalhar.

A entrevistada afirma que o diálogo é necessário para conhecimento dos diversos saberes e para a criação de novas estratégias metodológicas e que a EJA expressa a

“diversidade de sujeitos e de saberes na mesma sala de aula”. Para ela, o ensino “é a relação entre dois sujeitos e, tendo o domínio do conteúdo, o professor consegue se relacionar este conteúdo com as diferentes histórias de vida.”

Ela argumenta que uma das dificuldades da SECAD é a articulação entre as equipes gestoras, considerando-se que, os programas desenvolvidos pelo órgão tratam de ações destinadas à grupos sociais diversificados, com tempos sociais e econômicos diferentes. Cita como, por exemplo, o programa Brasil Alfabetizado, sob a sua responsabilidade e que possui abrangência nacional, mas que embora o processo de alfabetização tenha um fluxo contínuo, no Brasil, os tempos regionais são muito diferentes (por exemplo, no Acre, devido aos períodos de chuva, o programa só pode começar em março, enquanto na maioria dos estados

ele tem início em fevereiro; os pescadores que participam do programa também têm horários diferenciados para assistir às aulas, bem como quem cultiva ou planta). Então, ela pensa que se deve criar “outro olhar para os programas de alfabetização”, para que sejam mais flexíveis e possam criar um fluxo contínuo diversificado, além de ser importante superar a idéia de “campanha” que deu origem ao programa Brasil Alfabetizado, para que ele se constituir enquanto uma política pública.