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Primeiro secretário da SECAD (2004 – 2006)

Ex- Secretário- executivo do Ministério de Desenvolvimento Social (2003 – 2004).

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.

Nascido em Portugal, é formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em economia e, atualmente, cursa o doutorado em Economia Social na Ècole de Haute Études, em Paris. Concebeu a idéia da SECAD em 2004, atendendo a uma solicitação do ministro de educação da época, Tarso Genro, para tentar equacionar o problema da desigualdade social e educacional.

Henriques aprofundou os estudos sobre o tema da desigualdade quando ainda estava na Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. E, apesar da SECAD não ter sido criada com o objetivo de atender demandas sociais, Henriques argumenta que sua conformação institucional lhe permite veicular as demandas e dialogar com os movimentos sociais da diversidade. A criação da SECAD foi um desafio ao tratamento da desigualdade social e a constituição de uma dimensão para criar uma interface com os movimentos sociais.

De acordo com as palavras de seu principal formulador, a SECAD atua em duas dimensões principais: uma dimensão estratégica fundamentada no entendimento de como equacionar o problema da desigualdade, que é o principal desafio social do sistema educacional brasileiro; e uma dimensão operacional para tratar da efetividade da política educacional.

Quanto à dimensão estratégia, Henriques argumenta que, o entendimento sobre a pobreza deve ser deslocado para a reflexão sobre a desigualdade. “É necessário organizar a

política social em torno da desigualdade, e não apenas, da pobreza.” O eixo principal das

ações da SECAD deve estar no reconhecimento da diferença, para que não haja a “naturalização da diferença”, considerando-se que a desigualdade não é igual ao ser diferente.

“É necessário compreender a diferença para lidar com a desigualdade, trata-se de uma questão aristotélica.”. A SECAD pode atuar sobre a desigualdade, mas, não, sobre a pobreza;

as ações do órgão devem ser norteados pelos movimentos sociais para que a diversidade seja o elementos organizador do processo analítico. Ele confirma que a pressão dos movimentos sociais encontrou uma contra pressão no governo Lula.

Quanto à dimensão operacional, o entrevistado argumenta que ela deve aumentar a efetividade das ações da SECAD e “envolver os segmentos e temas excluídos da educação de

qualidade que precisa ser diferenciada.” Neste sentido, cabe ao MEC reestruturar o sistema

de ensino em torno da idéia de diversidade, para garantir a coerência da educação. Ele diz que se deve- se “caminhar em direção a fronteira da exclusão” para levar o ensino ao sistema prisional, ao homem do campo, a escola aberta nos finais de semana para as comunidades carentes. Foi sua a idéia de levar alfabetização de adultos para o sistema prisional, para “

radicalizar a qualidade da educação nas prisões para acabar com o preconceito”.

Henriques esclareceu que a SECAD atua em quatro planos distintos: (i) no plano das idéias e valores, ou seja, no plano simbólico; (ii) no plano metodológico para a formação docente; (iii) no plano do desenvolvimento de conteúdos curriculares, e (iv) no plano da gestão do sistema educacional. Apesar da SECAD trazer impactos para o plano cultural e simbólico, a operacionalização de suas ações encontra grandes dificuldades, pois significa transformar o sistema de ensino naquilo que ele “considera como exótico”, em um elemento de organização estratégica para educação no país.

O entrevistado considera que a dimensão operacional da SECAD diz respeito ao significado dos conteúdos da educação orientada para tratar igualmente os desiguais, valorizando “a organização dos saberes locais”, como por exemplo, letras de rap, de músicas sertanejas, repentistas, travestis, entre outros; argumenta a importância dos saberes locais e diz ser a “cultura oral brasileira muito sofisticada em termos de música e

subestimada no conteúdo curricular da educação”.

Considera a diversidade um conceito complexo, e informou ser importante que as políticas educacionais tenham foco para tratar os diferentes. Considera que a SECAD atua através de políticas focalizadas, mas, não no sentido em que o Banco Mundial as utiliza, “de focalizada passa a ser darwinista”, mas no sentido de “acelerar o trajeto histórico na

educação dos segmentos estruturalmente excluídos”. E continua: “Se a política é universal, ela melhora a qualidade do serviço entre os desiguais, mas mantêm a distancia da desigualdade; se a política é diferencialista ou focalizada, ela irá melhorar mais rapidamente a trajetória dos desiguais, e consequentemente, reduzir as diferenças”.

Ricardo Henriques acrescenta que apenas no governo Lula foi possível unir a dimensão analítica à dimensão operacional das políticas diferencialistas, considerando-se que, uma parte do PT concorda com esta forma de “fazer a mudança a partir da mudança do

conteúdo dos profissionais da educação e da gestão da educação”, o que implica em

transformar todo o sistema operativo da educação. Mas, esclarece que apesar do governo Lula criar “espaços e materialidade política que acolhem a discussão sobre a diversidade”, não acha que este seja um tema hegemônico no interior do Partido dos Trabalhadores.

O entrevistado argumenta que o sistema de ensino tem rotinas claras e definidas que são impermeáveis à diferença, e o ensino brasileiro está atrelado à “um pensamento iluminista

que concebe ser a educação universal o único caminho da educação de qualidade”, e que,

transformar o ensino universal em ensino focalizado é o grande desafio da SECAD. A alfabetização é uma palavra com grande peso político no interior do tema da exclusão; a educação continuada expressa a preocupação com a continuação da educação ao longo da vida, e a diversidade é o grande destaque a ser feito.

O entrevistado esclarece que a estrutura da SECAD foi pensada para implementar múltiplos programas, além de criar um sistema com capacidade de coordenação, aumentar efetividade e aumentar a transferência de recursos, devendo também coordenar a agenda da diferença para “criar sinergia e ter força própria”. Ou seja, o órgão deve constituir um campo de formação educacional mais adaptado ao mundo contemporâneo e ao mercado de trabalho, porque, se a escola conseguir corrigir as desigualdades no início da trajetória do aluno, ensinando-o a “apreciar o valor de temas que ele não domina totalmente, como uma

musica clássica de Beethoven, e valorizando os seus interesses, ela seria mais republicana”.

Para Henriques, a SECAD “não deve ser especular; não deve refletir o paradigma

dominante que exclui o diferente, mas sim, criar uma unidade na diversidade, um terceiro paradigma que é o seu desafio”.

Henriques finaliza dizendo que a SECAD, desde o inicio, causou estranhamento no interior da estrutura do MEC, com a lógica de reconhecer e valorizar o diferente. O desafio da SECAD é “como produzir uniformidade na diferença ? A força da diferença produz mais

qualidade e a valorização do diferente, não significa o esfacelamento, mas, sim, um princípio republicano de equidade; é necessário ser contraditório para que o todo melhore. A melhoria da qualidade do ensino para os diferentes irá significar a expansão da virtude para todos. “