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Jerônimo Lobo Guimarães e as mudanças no espaço físico e tributário da Alfândega de Pernambuco.

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XVII: articulações inter-regionais e internacionais Recife: UFRPE, 2013 139 p Dissertação (Mestrado

1 Cobrador das rendas da dízima da alfândega (76)

3.1 Jerônimo Lobo Guimarães e as mudanças no espaço físico e tributário da Alfândega de Pernambuco.

Após a arrematação do contrato da dízima da alfândega, o contratador Jerônimo Lobo Guimarães, tratou de se informar sobre as dependências da aduana. Acabou se deparando com uma alfândega pequena e sem capacidade de recolha das mercadorias que adentravam no porto do Recife. Ele tratou, logo antes de iniciar a execução do seu contrato em 1723, de fazer um requerimento ao rei informando a situação lamentável em que se encontrava o edifício, que comportava apenas “em si carga de dois navios, sendo certo que quase toda a fazenda, que vai em sua frota, por falta de comodidade, para se recolher dão expediente de a despacharem, sem que entre na alfândega.”386 Por falta da capacidade de bem acondicionar as mercadorias que desembarcavam, a Fazenda Real era lesada na cobrança do imposto da dízima, pois a maioria dos despachos eram feitos sem que entrassem as fazendas na alfândega.387

A situação em que se encontra a sede da alfândega nas primeiras décadas do setecentos foi bem propícia ao descaminho, visto que a não entrada de produtos na instituição facilitava a possibilidade de as fazendas realizarem outros percursos para entrar na capitania de Pernambuco, pois não seria possível controlar a quantidade e qualidade dos produtos sem a abertura dos pacotes e caixas e efetivamente definir um cálculo real do valor a ser pago à Fazenda real pelo imposto da dízima. Além disso, possibilitava que os comerciantes da capitania, negociassem com os capitães dos navios das frotas e permitissem que, envolvidas pela penumbra da noite, várias caixas fossem encaminhadas/desencaminhadas para os armazéns e casas dos comerciantes e caixeiros viajantes que residiam nos arredores do porto sem pagarem o imposto sobre as importações, sem mencionar a possibilidade de extravios de fazendas através de roubos e furtos de pacotes dentro e fora dos navios.

Para tentar solucionar a questão da incapacidade da alfândega, o contratador sugeria ao rei fazer uma obra de alargamento da instituição, tanto em comprimento quanto em largura, para o acondicionamento das fazendas vindas nas frotas. Além de expor a necessidade de se construir uma casa junto à alfândega, para que se selassem as

386 Ant. 4 de março de 1723. Requerimento do contratador da Alfândega da dízima de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães, ao rei [D. João V], pedindo ordem ao provedor ou juiz da Alfândega da capitania de Pernambuco para mandar fazer uma casa que comporte mais fazendas. Arquivo Histórico Ultramarino_ Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 30, D. 2672.

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mercadorias e que toda a obra deveria ser executada pela Fazenda Real, antes do início do seu contrato, que seria em janeiro de 1724.388

O rei, em resposta ao seu requerimento, ordenou ao “provedor da alfândega, ou juiz dela” que se desse logo a execução da obra solicitada, que todo o custo deveria ser assumido pela Fazenda Real, pois, caso o contrário, ela ficaria prejudicada, tendo mais despesas que suas receitas.389

Através dessa resposta, podemos perceber que a Coroa não tinha um controle rígido sobre a alfândega de Pernambuco no primeiro quartel do setecentos, visto que a falta de capacidade de acondicionamento causava um grande prejuízo na cobrança do imposto da dízima, que será o mais importante imposto do século XVIII, sobrepondo-se ao imposto do dízimo que fora o mais importante do século XVII, segundo Angelo Carrara.390

Dez meses se passaram do primeiro requerimento de Jerônimo Lobo Guimarães, iniciando-se a vigência de seu contrato da dízima, em janeiro de 1724. Em relação às ordens do rei sobre a obra da alfândega de Pernambuco, não foram executadas pelo Provedor da Fazenda e Juiz da Alfândega João do Rego Barros391, pois, no caminho para Pernambuco, a ordem real “se perdeu no patacão de avisos quando esta ia para a Bahia[...]”.392

O contratador tratou logo de fazer um novo requerimento, informando ao rei a não execução da ordem, por conta da perda da mesma. Pediu que se ordenasse, novamente, ao provedor da Fazenda Real, que executasse a obra com maior brevidade possível. E, para evitar que a ordem não chegasse ao seu destino, ela foi mandada em duas vias.393 Como justificativa de seus pedidos, o contratador alegava que lhe era permitido solicitar tais intervenções na estrutura da alfândega, como constava nas cláusulas do contrato da dízima. Como prova de suas alegações, o contratador anexou em seu requerimento a condição vinte e três do contrato da dízima:

Com condição que se dará a providência na Alfândega com a brevidade possível e no entanto se mandarão tomar a custa de sua

388 Idem 389 Idem

390 CARRARA, Angelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século XVII. Ed. UFJF, 2009 Op.cit. P.72.

391 Ant. 17 de janeiro de 1724. Requerimento do contratador dos dízimos da alfândega das capitanias de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães, ao rei [D. João V], pedindo a retificação da ordem real que estabelece os custos que a Coroa tem nas obras de alargamento de um trapiche. Arquivo Histórico Ultramarino_Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 30, D. 2715.

392 Idem 393 Idem

101 majestade as casas, armazéns e trapiches mais contíguos e perto da Alfândega para este fim e que do contrário todo o prejuízo que houver por esta falta o haverá ele contratador de quem for a casa o que se mandará executar como também que se dê expediente para o selo enquanto senão fazer nova casa para ele que seja capaz para se selarem as fazendas com a brevidade e clareza necessária e que não haja confusão embaraço ou dúvida nas fazendas, entre as partes, o que sua majestade manda muito recomendar ao juiz da Alfândega para que ele o faça ao selador para que não haja discórdia e se dê todo o expediente as partes em razão da brevidade do tempo das frotas e que o selador só trate do selo e expedição dele, e em nenhuma outra coisa se possa intrometer.

E a declaração número trinta e cinco:

Com declaração que os provedores da alfândega, para darem arrecadação às fazendas que não couberem nelas; tomaram os trapiches que forem mais convenientes e imediatos às mesmas alfândegas, fazendo-lhe cômodos para dentro destas passar as fazendas para a mesa da abertura, e nela fazerem-se os bilhetes, e irem ao despacho a mesa grande, e com o recibo passarem a casa do selo.394

Fizemos um esquema das mesas da alfândega que a declaração trinta e cinco cita, vejamos:

102 Quadro (11): Organograma de como as fazendas eram passadas dentro da Alfândega de Pernambuco após o contrato de Jerônimo Lobo Guimarães.

Fonte: Ant. 17 de janeiro de 1724. REQUERIMENTO do contratador dos dízimos da alfândega das capitanias de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães, ao rei [D. João V], pedindo a retificação da ordem real que estabelece os custos que a Coroa tem nas obras de alargamento de um trapiche. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_015, Cx. 30, D. 2715.

Através dos documentos anexados pelo contratador, percebemos que era dever da Fazenda Real proporcionar um ambiente adequado à arrecadação do imposto e, que os oficiais régios que gerenciam a alfândega, a exemplo do Provedor ou Juiz da alfândega, deveriam seguir com brevidade todas as ordens régias referentes à otimização da arrecadação. Exemplo disso, apresentamos o caso explicitado nos dois anexos do contratador de que, se as fazendas não coubessem na alfândega, se deveria armazená-las em um trapiche particular e não permitir que fossem despachadas sem entrar na instituição, como acontecia anteriormente.

Percebemos, através das alegações de Jerônimo Lobo, que ele estava preocupado com seu investimento na arrematação do contrato da dízima de Pernambuco, uma vez que o contrato deveria trazer-lhe lucros. Caso a alfândega continuasse sem uma logística interna e externa para a arrecadação da dízima, as perdas financeiras com a arrematação seriam grandes. Pois, independente das circunstâncias, o contratador deveria pagar o valor estipulado no contrato. Cabia-lhe, então, fiscalizar a arrecadação, pois ele não tinha acesso ao rendimento do tributo, até o término do triênio. Quem cobrava e recebia

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o imposto era o tesoureiro da alfândega que era um oficial régio e não estava subordinado ao contratador, mas à Provedoria da Fazenda Real. Como já dissemos, existiam oficiais nomeados pelo contratador e que trabalhavam na alfândega como oficiais do contrato, conjuntamente aos oficiais régios, porém somente esses do contrato estavam subordinados ao contratador.395

Em resposta ao segundo requerimento do contratador, o monarca ordenou que se seguisse o determinado no contrato procedendo ao alargamento da alfândega de Pernambuco e/ou transferência para um trapiche e que se anexasse a ratificação, a condição e a declaração, exposta pelo contratador. Além de ordenar que se fizesse uma nova casa do selo, junto à alfândega.396

Para resolver a questão do edifício da alfândega, cogitou-se duas possibilidades: a primeira, transferir a alfândega da rua trapiche397 para o armazém que foi da Junta de Comércio, que era pertencente ao Conselho da Fazenda e/ou o armazém do trapiche de Pedro Mascarenhas, futuro Conde de Sadomil, que era particular.398

Em consulta o Conselho Ultramarino o Provedor da Fazenda João do Rego Barros, informava a comodidade de se fazer a alfândega no armazém que foi da Junta, visto que esse era muito grande e poderia acomodar todas as fazendas que se quisessem “descaminhar”, além de se poder recolher as armas e o pau-brasil.

Os conselheiros se posicionaram a favor da proposta de que se tomasse o armazém da Junta de Comércio que havia em Pernambuco, pertencente ao Conselho da Fazenda, que devia muitas letras ao Conselho Ultramarino, por conta dos gastos com as “Naus das Capitanias do Estado do Brasil”399, que era obrigação do Conselho da Fazenda.

Tomar o armazém que fora da Junta de Comércio de Pernambuco seria uma forma de minimizar as dívidas acumuladas do Conselho da Fazenda com o Conselho Ultramarino. Antes do fim da Junta de Comércio, era ela quem administrava os

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Lisboa, 2 de julho de 1723. AVISO do [secretário de estado], Diogo de Mendonça Corte Real, ao [conselheiro do Conselho Ultramarino], João Teles da Silva, sobre o requerimento do contratador dos contratos dos dízimos da Alfândega de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães. Arquivo Histórico Ultramarino_Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 30, D. 2686.

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Ant. 17 de janeiro de 1724. REQUERIMENTO do contratador dos dízimos da alfândega das capitanias de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães, ao rei [D. João V], pedindo a retificação da ordem real que estabelece os custos que a Coroa tem nas obras de alargamento de um trapiche. Arquivo Histórico Ultramarino_Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 30, D. 2715.

397 Segundo Godoy, a alfândega foi transferida de um edifício da praça do Corpo Santo para a rua Trapiche após 1711. GODOY, José Eduardo Pimentel de. As Alfândegas de Pernambuco. Brasília: ESAY, 2002. pág. 12.

398 Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, per094536_099, p. 244. 399 Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, per094536_099, p. 245.

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comboios que vinham para o Estado do Brasil e após sua extinção, acabaram sendo assegurados pela Provedoria de Pernambuco que estava sobre jurisdição do Conselho Ultramarino que consequentemente acumulava as dívidas.400

No entanto, apesar da posição dos conselheiros ser favorável ao armazém da Junta, a documentação nos comprova que o trapiche e armazém do Pedro Mascarenhas foi alugado em agosto de 1724. A alfândega foi transferida na mesma Rua Trapiche, para o trapiche de Pedro Mascarenhas.401 O que percebemos é que já havia uma prática de que quando não houvesse alfândega capaz de comportar as fazendas que chegassem no Porto do Recife, deveria ser tomado o trapiche de Pedro Mascarenhas e “nele se deveria fazer por conta da Fazenda Real, cômodos” para se despacharem as fazendas, porém só se deveria fazer os “inescusáveis”.402

Ficou sobre a alçada da Provedoria da Fazenda Real executar as devidas reformas estritamente necessárias na nova alfândega. Dois anos depois, em agosto de 1726, João do Rego Barros prestou conta à Coroa sobre os gastos feitos com a obra da alfândega que havia importado 1:103$890 réis, pois essas reformas eram indispensáveis para “a boa arrecadação dos direitos das dízimas e bom expediente[...].”403

Essa transferência e reforma da alfândega de Pernambuco se deveram aos diversos requerimentos de Jerônimo Lobo Guimarães. Ele solicitava uma sede maior para a instituição que comportasse as fazendas da frota. O trapiche escolhido para ser a nova sede da alfândega ficava bem próximo ao ancoradouro, tinha casas de sobrado na parte superior e possuía uma escada de pedra para a rua que facilitava a retirada das mercadorias. Seu aluguel estava avaliado em 320$000 réis, pago anualmente pela Fazenda Real de Pernambuco.404

400 Idem

401 COSTA, Pereira da. F. A. op. cit. 1983 Vol.3 p. 508. E Ibidem. p. 206. 402 Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, per094536_099, p. 205-206. 403 Ibidem. p. 244.

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Vejamos na imagem abaixo onde se localizava o trapiche do Pedro Mascarenhas:

Figura(3): Mapa do Cais do Porto do Recife: APEJE: Iconografia, Arquivo Permanente. Sem datação, porém pelas descrições do documento, são do segundo metade do século XVIII.405

Através desse mapa, é possível localizar o armazém alugado em que se encontrava a alfândega de Pernambuco referente ao número 1 que era as “casas da alfândega e ao seu lado está o “trapiche da fazenda”, destacado pela seta azul; o número 2 evidenciado, pela seta vermelha, compõe as casas da Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba que se localizava em frente à alfândega e consequentemente na mesma rua Trapiche, informação para um período posterior a 1759; os números 3 que aparecem na imagem correspondem as pontes do trapiche, que está ao lado no número 1, as outras pontes foram construída posteriormente. O número 4 é o lugar onde o guarda do trapiche ficava observando o desembarque dos pacotes e caixas que eram carregados pelos negros que trabalhavam no mesmo trapiche. Ao lado do trapiche da alfândega se encontrava o Reduto da Companhia, que aparece na documentação da

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segunda metade do XVIII, ficava nele uma lingueta que está marcada com o número 6, onde eram desembarcados os produtos da terra, como açúcar, tabaco, pau-brasil, couro, entre outros.406

A seta verde corresponde a um edifício de sobrado que suspeitamos ser o antigo Armazém da Junta de Comércio que existia no início do século XVIII, em Pernambuco, para onde se cogitou transferir a alfândega em 1724, porém não temos como comprovar até o presente momento essa informação. No Mapa, é informado que esse edifício deveria ser demolido, visto que ele era um refúgio para os produtos contrabandeados que nele eram escondidos e armazenados.407

Mas em 1724, percebemos que Jerônimo Lobo deparou-se com uma alfândega muito simples, sem uma sistematização fiscal, pois sendo um grande comerciante reinol, deveria ter intimidade com as burocracias alfandegárias de embarque e desembarque de produtos e os impostos que insidiam sobre eles no reino. Transformar a alfândega de Pernambuco em uma instituição lucrativa não seria uma batalha fácil, o primeiro entrave que o contratador teve que enfrentar foram as condições do edifício, mais outras questões seriam levantadas durante a vigência de seu contrato.

Atender as exigências e pretensões de um comerciante de grosso trato reinol em reorganizar a logística do Porto do Recife, em relação às importações, entrou em rota de colisão com uma série de interesses de grande parte dos grupos da capitania, envolvendo tanto a nobreza da terra, que consumia os produtos vindos nas frotas, quanto dos comerciantes que revendiam essas fazendas. Remexeu os poderes locais, como o do Provedor da Fazenda Real e Juiz da alfândega; os oficiais da instituição da alfândega e da provedoria, esses já tinham uma “logística” de cobrança sobre a dízima, organização essa que permitia que seus interesses particulares fossem garantidos, incomodando-se muito com a nova ordem.

Outro problema foi que Jerônimo nunca pisou no Brasil, como foi comum, ele comandava seus investimentos ultramarinos408 do outro lado do Atlântico. Assim a única forma de controlar tal investimento seria através de homens de confiança que atravessavam o Atlântico e atuavam na cobrança de seus contratos, assessorado por cláusulas estabelecidas no ato da arrematação.

406 Idem 407 Idem

408 AZEVEDO, Beatriz Líbano Bastos. O Negócio dos Contratos: Contratadores de escravos na primeira metade do século XVIII. São Paulo, 2013. Dissertação. Programa de Pós graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo. P. 95

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A arrematação do contrato da dízima foi mais uma estratégia para diversificar suas atividades mercantis, como Jerônimo era um reconhecido homem de negócios da Praça de Lisboa, o ser contratador de impostos reais possibilitava alcançar vários privilégios. Segundo George Cabral, o contratador poderia “prejudicar concorrentes, atravancando a liberação de suas mercadorias para embarque ou para distribuição no mercado ou simplesmente pelo fato de poder colocar seus próprios produtos com preços mais baixos por não recolher os impostos sobre eles.”409 Sendo essas apenas

algumas possibilidades e benefícios do ser contratador.

Para se precaver dos possíveis equívocos que poderiam acontecer com a implementação da nova logística de se selar todos as fazendas que entrassem no Porto do Recife, Jerônimo Lobo enviou ao rei uma carta em 1724. Na missiva pedia que fosse declarada a condição 43 em editais na Capitania de Pernambuco. A condição rezava sobre as fazendas não seladas que tivessem sido despachadas antes da chegada de sua primeira frota. Pedia que fossem colocados editais quando a frota do reino partisse para Pernambuco, orientando a todas as pessoas que possuíssem fazendas sem selo que, ao chegar ao Recife, levassem seus produtos à alfândega para serem seladas no tempo de três meses. Insistia que era para prevenir confusão em relação aos produtos anteriores ao princípio da daquele contrato.410

Através dessa carta, foi possível perceber como se fazia cobrança da dízima antes do contrato, pois, segundo o contratador: “[...]até agora muitas se despacharam sem serem seladas” e em relação a essas fazendas sem selo, irem a alfândega, seria apenas e exclusivamente para o período anterior a primeira frota, visto que a partir dela todas “deveram ir selar, pois seladas devem sair, ter saído da alfândega[...]”411

Tais palavras do Jerônimo, nos permitiu perceber que a logística da alfândega iria mudar, visto que o mesmo iria usar as condições estabelecidas no contrato todas as vezes que lhe for necessário e em seu benefício. 412

O Jerônimo Lobo Guimarães aparece duas vezes nas arrematações do Contrato da dízima de Pernambuco e Paraíba, mais especificamente nos dois primeiros contratos,

409 SOUZA, George F. Cabral de. Tratos e Mofatras: o grupo mercantil do Recife colonial (c.1654- c.1759). Recife, Ed. Universitária UFPE, 2012. p. 172.

410 2 de Janeiro de 1724. Requerimento do contratador dos dízimos da Alfândega das capitanias de Pernambuco e Paraíba, Jerônimo Lobo Guimarães, ao rei [D. João V], pedindo provisão que declare a condição do contrato que estabelece a forma de como se devem selar as fazendas.

411 Idem 412 Idem

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o primeiro como contratador e, no segundo, como fiador de José dos Santos. Ao todo a administração de Jerônimo sobre as importações da alfândega de Pernambuco, deveria ter vigido por 6 anos, porém o contrato acabou durando 8 anos, por conta dos atrasos nas frotas. A primeira frota do contrato, que deveria ser do triênio (1724-1726), chegou em 1725; a segunda, entre os anos de 1726-1727 e a terceira do primeiro contrato, no ano de 1728. O segundo contrato que foi arrematado para o triênio de (1727-1729), já iniciou-se com um ano de atraso. A primeira frota em 1729; a segunda, 1730 e a terceira, em 1731 findando o segundo contrato com dois anos de atraso.413

No universo dos contratos, as redes mercantis eram primordiais para a manutenção do sistema. As estratégias de articulação dos comerciantes para a manutenção de seus investimentos, entendidos aqui como grandes capitalistas lisboetas, constituíam-se a partir da colocação de prepostos em vários portos nas conquistas portuguesas.

Estruturamos abaixo um quadro que demostra o funcionamento dessas redes internas dos Contratos da Dízima de Pernambuco e Paraíba nos anos de (1724-1738). Identificamos quais eram os contratadores; os fiadores que na maioria das vezes eram reinóis; os procuradores e administradores que atuavam na esfera local. Também foi

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