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O Terceiro Contrato da Dízima e o Contratador Salvador Fernandes Palhares.

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XVII: articulações inter-regionais e internacionais Recife: UFRPE, 2013 139 p Dissertação (Mestrado

4 Capítulo: Conflitos em torno da “Nova Alfândega de Pernambuco”

4.1 O Terceiro Contrato da Dízima e o Contratador Salvador Fernandes Palhares.

O contrato do qual iremos tratar nesse item não foi efetivado, pois os homens de negócio que compunham tal contrato desistiram da empreitada pouco tempo após o leilão, porém a importância de se analisar tal contrato são as mudanças que foram provocadas nas pautas de Pernambuco e Paraíba, que serão consequentemente similares à pauta utilizada pelo Consulado de Lisboa.

O terceiro contrato da dízima de Pernambuco e Paraíba foi posto em arrematação no ano de 1731 pelo Conselho Ultramarino no mesmo anos que findou-se a arrecadação da terceira frota, referente ao contrato de José dos Santos e Jerônimo Lobo Guimarães.593 Na ocasião, Domingos da Cunha Lima arrematou o referido contrato como Procurador de Salvador Fernandes Palhares, porém nesse contrato foram pagas as fianças na Corte como se estipulava no regimento da Fazenda Real. No processo do contrato, ficava exposto um termo onde apareciam as assinaturas do procurador, do contratador e os fiadores do contrato.594

Entender quem eram esses homens que estavam envolvidos nos contratos do ultramar da primeira metade do século XVIII é primordial para compreendermos as mudanças nas leis e alvarás sobre o comércio. Vejamos como se compunham as alianças do terceiro contrato da dízima:

593 Ant. 14 de Dezembro de1731. Requerimento do contratador da dízima da Alfândega das capitanias de Pernambuco e Paraíba, José dos Santos, ao rei [D. João V], pedindo ordem para o provedor da Fazenda Real da dita capitania, [João do Rego Barros], cobrar os direitos das fazendas aos patachos que ficaram impedidos no Reino ainda no prazo do contrato do suplicante. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 42, D. 3778.

594 Ant. 22 de setembro de 1731. Requerimento de Domingos da Cunha Lima ao rei {D. João V], pedindo alvará de folha corrida com as condições do contrato do rendimento da dízima das alfândegas da capitania de Pernambuco e Paraíba, que arrematou como procurador de Salvador Fernandes Palhares. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 42, D. 3748.

156 Quadro(18): Arrematação do Terceiro Contrato da Dízima de Pernambuco e Paraíba no Conselho Ultramarino (1731).

Fonte: Ant. 22 de setembro de 1731. Requerimento de Domingos da Cunha Lima ao rei [D. João V], pedindo alvará de folha corrida com as condições do contrato do rendimento da dízima das alfândegas da capitania de Pernambuco e Paraíba, que arrematou como procurador de Salvador Fernandes Palhares. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 42, D. 3748.

No topo do contrato estava Salvador Fernandes Palhares, que mandou para essa arrematação o procurador Domingos Cunha Lima. Como fiadores, apareciam Vasco Lourenço Vellozo, Jaques Nobel e Francisco Luís Saião.595 Por meio dessas informações, podemos perceber que os riscos da arrematação eram divididos por quatro, já que as fianças eram garantidas por mais três homens de negócio do Reino.

Outro ponto relevante a ser exposto é a questão da presença de Francisco Luís Saião como fiador do contrato, pois no primeiro contrato do Jerônimo Lobo Guimarães ele também aparece como um dos fiadores do contrato da dízima.596 A presença de Saião, novamente na arrematação do contrato nos faz refletir sobre o porquê desse fiador ter investido novamente na dízima de Pernambuco e Paraíba, já que o primeiro contrato não havia rendido grandes lucros. Qual seria o verdadeiro interesse desse homem de negócios enfrentando mais uma vez a empreitada?

595Ant. 22 de setembro de 1731. Requerimento de Domingos da Cunha Lima ao rei {D. João V], pedindo alvará de folha corrida com as condições do contrato do rendimento da dízima das alfândegas da capitania de Pernambuco e Paraíba, que arrematou como procurador de Salvador Fernandes Palhares. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 42, D. 3748.

596 Arquivo Histórico Ultramarino, Avulsos de Pernambuco, AHU_ACL_CU_015, Cx. 30, D. 2686. Salvador Fernandes Palhares Vasco Lourenço Vellozo Jaques Nobel Francisco Luís Saião Domingos da Cunha Lima (Procurador)

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Podemos conjecturar que existiam interesses que iam além dos valores legais das arrecadações do contrato, que faziam parte do universo da cobrança de impostos de importação em portos ao norte da América portuguesa e que de certa forma nos escapa.

Da mesma forma que Francisco Luís Saião esteve envolvido no contrato da dízima no ultramar, Vasco Loureço Veloso, o outro fiador do terceiro contrato da dízima de Pernambuco, foi o arrematador e contratador do primeiro e o segundo contrato da dízima da alfândega da Bahia.597 Tais informações só comprovam as ligações desses grandes comerciantes no controle sobre as arrecadações das alfândegas no ultramar, que poderiam facilitar a lucratividade de seus negócios. Ou seja, um contrato podia cobrir o déficit do outro.

Vasco Lourenço Veloso, em seu segundo contrato da dízima da alfândega da Bahia, conseguiu fazer uma alteração na pauta soteropolitana, instalando uma nova que, segundo o historiador Hyllo Nader era “quase toda em conformidade com a do Consulado de Lisboa[...]”598.

A nova pauta da Bahia foi aprovada pelo Conselho Ultramarino pelo alvará de 3 de março de 1727, o que provocou grande alvoroço entre os homens de negócio da praça599 questionando os valores elevados com que, a partir da nova ordem, se taxariam as mercadorias importadas. E não foi por coincidência que o terceiro contrato da dízima de Pernambuco e Paraíba, arrematado por Salvador Fernandes Palhares, teve uma nova condição que ordenava que fosse seguida a mesma estratégia de Vasco Lourenço Velloso. A partir do novo contrato todos os “despachos de direitos destas alfândegas (Pernambuco e Paraíba) se pagaram pela pauta porque atualmente se despacha na Alfândega da Bahia[...]”600.

Com base nessa citação, podemos supor que tal condição deve ter sido proposta por Vasco Lourenço Veloso, que provavelmente queria que os valores das mercadorias e, consequentemente, do imposto fossem majorados nas alfândegas de Pernambuco e Paraíba. Como já havia experimentado um aumento substancial na arrecadação da

597 SALLES, Hyllo Nader de Araújo. Negócios e negociantes em uma conjuntura crítica: o porto de Salvador e os impactos da mineração, 1697-1731. Dissertação (mestrado acadêmico) - Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, 2014.p. 60.

598 Idem

599 Para mais detalhes sobre os conflitos em torno da nova pauta da Bahia, buscar a dissertação de Hyllo Nader. Ibidem. p. 61.

600 Ant. 22 de setembro de 1731. Requerimento de Domingos da Cunha Lima ao rei [D. João V], pedindo alvará de folha corrida com as condições do contrato do rendimento da dízima das alfândegas da capitania de Pernambuco e Paraíba, que arrematou como procurador de Salvador Fernandes Palhares. Avulsos de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 42, D. 3748.

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dízima na Bahia com a aplicação da nova pauta, esperava lucrar mais com o novo contrato.

No entanto, algum conflito que não foi possível identificar até o presente momento aconteceu, pois a aliança do terceiro contrato da dízima de PE e PB de Salvador Fernandes Palhares se dissipou. Percebemos isso por meio de uma carta régia enviada ao governador Duarte Sodré Pereira, de 12 de dezembro de 1731, na qual o contratador e seus fiadores ficavam desobrigados de suas responsabilidades sobre o contrato. Nessa mesma carta, o rei ordenava ao governador que colocasse o contrato em leilão, na capitania de Pernambuco, e que se acrescentasse uma nova cláusula esclarecendo que a partir desse contrato se despachariam todas as fazendas das alfândegas de Pernambuco e Paraíba com a mesma pauta que era utilizada na alfândega da Bahia.601

Podemos concluir que através dessa nova ordem, todos os valores sobre os produtos de importação subiram nas capitanias de Pernambuco e na Paraíba e que o aumento dos valores arrecadados na Bahia com a implementação da nova pauta sobre a dízima foram o laboratório para se aplicar a mesma ordem nas capitanias de Pernambuco e Paraíba.

Se analisarmos que a Pauta da Bahia era parecida com a pauta do Consulado e, consequentemente, a mesma foi aplicada em Pernambuco e Paraíba, praticamente todos os valores dos produtos importados estariam com os valores bem aproximados do praticado no Reino, que beneficiaria, de certa forma, esses grandes comerciantes da praça de Lisboa, em detrimento aos concorrentes de seus aliados no ultramar.

São inúmeras as possibilidades com o aumento dos impostos da dízima, que podem variar de apenas um aumento no lucro do contrato, até mesmo a uma estratégia traçada por esses comerciantes e pelo rei para terem um controle maior sobre o que entrava nos portos do ultramar. Ainda carece de mais estudos que desenvolvam essa perspectiva, aqui nos propomos mais a trazer questionamentos e possibilidades de se pensar a logística comercial atlântica sobre a circulação de produtos do que trazer conclusões definitivas sobre o assunto.

Acreditamos que a pauta da Bahia deve ter sido usada pela Alfândega de Pernambuco por todo o restante do século XVIII, seguindo as mudanças e alterações

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feitas pela alfândega da Bahia, pois ainda encontramos ordens, nos anos iniciais do século XIX, de que se deveria regular a pauta de Pernambuco por meio da pauta da capitania da Bahia. 602

Voltando à carta enviada ao governador Duarte Sodré pelo rei, sobre se colocar em leilão o contrato da dízima, também ficava exposto que, durante o período em que o contrato não fosse arrematado, este deveria ser administrado pela Fazenda Real, porém na ordem régia se recomendava que se fizesse a arrematação o mais rápido possível e que não ultrapassasse os meses de janeiro e março de 1732, pois esse era o tempo necessário para que os arrematadores da cidade do Porto fossem para a capitania de Pernambuco.603 Também se expunha que todos os contratos, “daqui por diante”, deveriam ser arrematados “nas capitanias desse Estado” e deveriam durar exatamente três anos604, sem se prolongar mais os contratos por incidentes externos, como tinha ocorrido com os dois primeiros contratos da dízima de Pernambuco e Paraíba.605

A partir do ano de 1732, todos os contratos das capitanias da América portuguesa deveriam ser arrematados nas suas respectivas capitanias ou nas que estavam acima de sua jurisdição, como no caso dos contratos referentes às capitanias anexas ou juntas. O período de arrematações no reino, mais especificamente no Conselho Ultramarino que estudamos nesse trabalho, durou apenas sete anos, de 1724 a 1731, não sabemos até o presente momento as causas dessa mudança, que pode ter sido provocada pelos repetitivos questionamentos dos contratadores lisboetas, pelo não cumprimento das cláusulas do contrato e, consequentemente, pelos pedidos de diminuição dos valores do contrato606; ou por conta da desistência dos contratadores, como exemplifica o caso exposto de Salvador Fernandes Palhares.607

Outra possibilidade sobre essa retomada das arrematações nas capitanias pode ser derivada das pugnas travadas entre contratadores lisboetas, elites coloniais, sejam as

602 Recife 15 de Fevereiro de 1803. Ofício (1ª via) da Junta Governativa da capitania de Pernambuco ao D. Rodrigo de Sousa Coutinho, [secretário de estado da Fazenda Real], sobre se regular a pauta da Alfândega da capitania de Pernambuco pela da capitania da Bahia. Avulsos da capitania de Pernambuco_AHU_ACL_CU_015, Cx. 241, D. 16160.

603 APEJE_ Ordens régias 4, Folha 10. 604 APEJE_ Ordens régias 4, Folha 10. 605 Idem

606 FERNANDES, Valter Lenine. Os contratadores e o contrato da dízima da Alfândega de cidade do

Rio de Janeiro (1726-1743). Rio de Janeiro: UNIRIO, 2010. 217p. Dissertação (Mestrado em História) –

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. págs.16-22. 607 APEJE_ Ordens régias 4, Folha 10.

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mercantis ou aristocráticas, que não viam com bons olhos as imposições desses grandes homens de negócio lisboetas.

Como foi ordenado pelo rei em 1732, efetuou-se a arrematação do contrato da dízima na capitania de Pernambuco, sendo arrematado o contrato pelo Tenente Coronel Antônio Garcia Amaral608, em nome de Manoel Gomes de Carvalho e Silva609 que suspeitamos que vivia em Lisboa, sendo seu procurador João Machado Gaio negociante da praça do Recife.610

No entanto, no ano de 1736, encontramos o contrato da dízima da alfândega de Pernambuco e Paraíba sendo arrematado novamente no Conselho Ultramarino a Francisco Leite de Moraes, para o triênio (1736-1740), no valor anual de 34:400$000 réis.611

Deteremo-nos, a partir do próximo item, às querelas em torno da “Nova Alfândega de Pernambuco”, em busca de esclarecer a luta de diversas autoridades em relação à localização dessa instituição.

4.2 A Congregação dos Oratorianos do Recife e a instalação da Alfândega de

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