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4 ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA PESCA ARTESANAL NA REGIÃO

4.3 Descrição dos sistemas de pesca

4.3.1 Jereré/Sarrico

Atividade realizada para coleta de siris (Callinectes spp.) sem a utilização de embarcações. Ocorre captura desse recurso na faixa de praia central, na praia doce, no canal estuarino e no mar litorâneo do município. São utilizadas estruturas circulares de ferro entralhadas com nylon em diferentes tamanhos de malha, podendo variar de 2 cm a 5 cm. Cada estrutura possui, na sua extremidade, um flutuador (bóia) que identifica o local onde o aparelho foi lançado. Os pescadores utilizam restos de peixes e vísceras de frango e porco como iscas para atrair os siris. Existe a comercialização dos siris capturados em Piúma. Porém, é uma atividade, sobretudo, de subsistência, associada a outras atividades de pesca para complementação de renda. Essa pescaria foi categorizada como de baixa renda, por não possibilitar mais de R$ 450,00 mensais para aqueles que a praticam. Muitos pescadores desenvolvem essa pratica há mais de 30 anos principalmente para alimentação. Essa pescaria é desenvolvida principalmente por pescadores (homens) de baixa escolaridade e que não possuem capacitação profissional para exercerem de forma sustentável sua atividade pesqueira.

4.3.2 Cano

Pratica realizada para coleta do crustáceo, conhecido como “corrupto” (Callichirus major). Esses organismos são utilizados como iscas na pescaria de linha de mão e vara no mar litorâneo. A exploração do “corrupto” consiste em utilizar uma estrutura de sucção feita com cano de 5 a 10 cm de diâmetro e 50 a 70 cm de comprimento. Existe um sistema de sucção que, na maré seca, a areia é removida para superfície e os organismos tornam-se disponíveis a captura.

Os corruptos são acondicionados em um recipiente de plástico, geralmente pendurado à cinta do pescador. São desenvolvidas, sobretudo, por aqueles turistas e moradores como lazer ou hobby. Muitos deles não são originários do próprio município e sim de municípios e Estados diferentes. Essa pratica é realizada na faixa de praia da orla principal da cidade, podendo ser desenvolvida na praia de Maria Neném, principalmente nos meses de verão.

4.3.3 Puçá

Atividade desenvolvida no mar litorâneo e praticado há mais de 40 anos pela comunidade pesqueira de Piúma e das regiões vizinhas a esse município. É caracterizado por uma rede de nylon com malha de 2 a 3 cm, trançada em duas varas de madeiras cilíndricas com aproximadamente 2 metros de comprimento. Em uma profundidade média de aproximadamente 1,20 m, os pescadores realizam o arrasto com o artefato de pesca com o próprio movimento do corpo para coleta de camarões. Os camarões capturados são o rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e F.

paulensis) e o sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri).

Esses recursos são utilizados na alimentação familiar dos pescadores e o excedente pode ser comercializado, caso haja demanda local. Os pescadores que praticam essa atividade possuem baixa escolaridade e realizam outras atividades pesqueiras para a garantia da renda familiar. São desenvolvidas esporadicamente por homens, sobretudo após a incidência de chuvas na região, que segundo os pescadores, atrai os camarões para regiões mais costeiras, facilitando assim sua captura.

4.3.4 Coleta manual

Realizada para coleta de mexilhões (Perna perna) e para captura de outros Moluscos bivalves e gastrópodes nos costões rochosos, na faixa de praia e nas ilhas costeiras do município de Piúma. A coleta manual pode ser desenvolvida também nos manguezais para captura dos caranguejos “goiamum” (Cardisoma

guanhumi). Os pescadores e marisqueiras desenvolvem essa pratica de maneira

familiar, com a participação de parentes próximos, como irmãos/ãs, filhos/as, sobrinhos/as, netos/as etc.

Existe na cidade um comércio conhecido de artesanatos de conchas. Essas conchas são historicamente coletadas principalmente na faixa de praia do município. Há relatos que essa atividade tenha surgido na cidade por volta da década de 1960. O trabalho de cata de marisco merece atenção especial, pois garante a renda familiar de uma grande quantidade de trabalhadores/as em Piúma, sobretudo mulheres marisqueiras. Os períodos com maior intensidade nas coletas

acontecem nas marés baixas (secas) das fases de lua cheia e nova, períodos de maior amplitude de marés.

De acordo com os dados levantados nessa pesquisa, o valor de 1 (um) quilo de mexilhão pode atingir um preço de R$ 15,00 a 20,00. Já o peço dos mexilhões comercializados por maricultores de Piúma pode chegar a R$ 25,00, pois agrega valor durante a produção e comercialização dos mexilhões. A grande diversidade de conchas utilizadas para o artesanato é comercializada a menos de R$ 5,00 por quilo.

O elevado nível de exploração do mexilhão Perna perna tornou necessária a intervenção do Governo Federal por meio da lei de defeso dos mexilhões no período de reprodução que vai de 01 de setembro a 31 de dezembro (Portaria IBAMA nº 105 de 20/07/2006). Assim, tanto as mulheres como os homens, cadastrados/as na Colônia de Pesca Z_09, recebem o seguro defeso oferecido pelo governo. Essa medida visa garantir o recrutamento e a manutenção dos estoques do mexilhão Perna perna nos costões rochosos do Estado.

4.3.5 Tarrafa

A tarrafa é utilizada na região costeira de Piúma por pescadores locais, além de outros municípios no Espírito Santo e de Estados vizinhos. É praticada no canal fluvial, canal estuarino, mar litorâneo, recifes costeiros e ilhas costeiras. As espécies alvo são, preferencialmente, peixes marinhos.

Uma pratica comum na cidade é a utilização da tarrafa em cima da ponte principal de Piúma, principalmente em luas cheias e novas no período noturno. Nesses momentos grandes cardumes de peixes migram para áreas estuarinas vindos da maré cheia.

Os pescados são utilizados para subsistência ou para troca por algum outro produto ou serviço na região. Pode ser considerada também uma pescaria de lazer. Os pescadores necessitam desenvolver outras atividades pesqueiras e econômicas para manutenção das despesas e gastos familiares. Durante todo o período de estudo, não foi observado mulheres desenvolvendo essa prática.

4.3.6 Mergulho

Esse sistema de pesca ocorre em recifes costeiros, ilhas costeiras, mar litorâneo e mar pelágico. São exploradas lagostas (Panulirus spp.) e estrelas do mar e outros moluscos bivalves e gastropodes. Os pescadores se utilizam de embarcações motorizadas para o deslocamento para as regiões de pesca. Podem mergulhar por apneia ou com a utilização de compressores de ar para prolongar o tempo de coleta subaquática. A pratica é realizada principalmente nas marés baixas (seca) em fases de lua cheia e lua nova. Pois possibilita as maiores amplitudes de maré, facilitando a atuação dos mergulhadores/as.

Os organismos são capturados para produção de artesanatos elaborados por pescadores e marisqueiras locais. Os produtos são comercializados nos comércios e praças da cidade, sobretudo nos meses de verão (dezembro a março). A produção varia de detalhe de acordo com cada artesão. A pratica do mergulho possivelmente teve origem na cidade em meados de 1960.