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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ESTADO DA ARTE

3.1 O estado do Espírito Santo e o litoral Sul

O Espírito Santo apresenta aproximadamente 4,8 % da costa brasileira e é o quarto menor estado do Brasil e possui aproximadamente uma população de 3.514.952 habitantes, distribuídos em 78 municípios (BRANCO; SGANZERLA, 2010; IBGE, 2010). O seu litoral se estende por aproximadamente 411 km (Martins et al., 2011), ao longo de 14 municípios costeiros, nos quais existem cerca de 60 comunidades pesqueiras e 72 localidades onde ocorrem desembarques de pescado (SEAP, 2005) (FIGURA 9).

Figura 9 - Estado do Espírito Santo, na região sudeste do Brasil e seus municípios costeiros com destaque para Piúma em cor azul.

A pesca artesanal, de pequena e média escala, predomina em todo estado do Espírito Santo (MPA, 2012; MARTINS et al., 2009), sendo que as informações sobre a quantidade de pescadores e embarcações no Estado variam de acordo com a literatura consultada. Atualmente, estão cadastrados aproximadamente 15.674 profissionais no Sistema Nacional de Informação da Pesca e Aquicultura (SINPESQ) do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA, 2015). Desse total 56,3 % residem na região sul do Estado (TABELA 1).

Tabela 1 - Quantitativo de pescadores/as dos municípios costeiros do estado do Espírito Santo inscritos/as no Registro Geral da Pesca (RGP) no Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA, 2015b).

Região Município Pescadores/as Quantitativo Representatividade no Estado (%)

Norte Conceição da Barra 1.148 7,3

São Mateus 1.240 7,9 Linhares 864 5,5 Aracruz 819 5,2 Fundão 22 0,1 Serra 1.742 11 Total Norte 5.835 37 Sul Vitória 1.607 10,3 Vila Velha 264 1,7 Guarapari 1.378 8,8 Anchieta 806 5,1 Piúma 435 2,7 Itapemirim 2.026 12,9 Marataízes 1.912 12,2 Presidente Kennedy 362 2,3 Total Sul 8.790 56

Total municípios costeiros 14.625 93

Total Espírito Santo 15.674 100

Fonte: http://sinpesq.mpa.gov.br/rgp/. Atualizado em 17/04/2015.

Em 2010 existiam aproximadamente 16.445 pescadores, sendo 9.226 homens (56,07%) e 7.229 mulheres (43,93%) (MPA, 2012). Nota-se o grande percentual das mulheres no setor pesqueiro neste estado, destacando a importância da questão de gênero no envolvimento com as práticas pesqueiras. Ainda assim, o estado do Espírito Santo faz parte da região que possui a menor proporção de mulheres na atividade pesqueira com 25,5% da região sudeste do Brasil, em comparação a 30% no Centro-oeste, 35% no sul, 40% no Norte e 46% no Nordeste, de mulheres cadastradas no Registro Geral da Pesca do MPA (MPA, 2012).

O grande número de profissionais se concentra na faixa de 40 a 49 anos de idade (MPA, 2012). Os homens trabalham, em sua grande maioria, embarcados,

na captura de peixes, camarões e lagostas, enquanto as mulheres coletam mexilhões, búzios e mariscos, trabalhando principalmente em terra, auxiliando também os pescadores na limpeza e venda dos pescados, produzindo na maricultura, confeccionando panelas de barro e/ou trabalhando no artesanato (PAIVA, 2012).

O número de embarcações cadastradas no Registro Geral de Atividades Pesqueiras (RGP) do Estado passou de 2.523, no ano de 2010 (MPA, 2012) para 3.524, em 2012 (PAIVA, 2012). Essas embarcações possuem grande diversidade de tamanhos, podendo variar de pequenas canoas a remo de 2,5 metros de comprimento a grandes embarcações com convés e cabine de 16,5 metros. As embarcações menores, abaixo de 8 metros (n0 de embarcações=1.826) realizam

atividades pesqueiras em regiões costeiras de baixa profundidade, enquanto as embarcações maiores (n0 de embarcações=1.698), acima de 8 metros, realizam

pescarias em regiões de grande profundidade, chegando a mais de 100 m ou em regiões oceânicas na cadeia Vitória-Trindade (PINHEIRO; MARTINS; GASPARINI, 2010). Contudo, as embarcações artesanais correspondem a quase 97,5 % das embarcações em operação no estado do Espírito Santo (FREITAS NETTO; Di BENEDITTO, 2007).

De acordo com o Boletim Estatístico do Ministério da Pesca e Aquicultura a produção pesqueira do Espírito Santo, em 2010, foi de 22.535, 6 t, sendo o 13º Estado com maior produção no Brasil naquele ano (MPA, 2012). Já no último Boletim Estatístico realizado pela Universidade Federal do Espírito Santo, a produção no Estado para o ano de 2011 foi de 12.236 t (UFES; MPA, 2013). Marataízes, Itapemirim, Piúma e Conceição da Barra são os municípios com maior produção pesqueira (MARTINS; DOXSEY, 2003; PROZEE, 2006; PAIVA, 2012; UFES; MPA, 2013).

As principais espécies capturadas e registradas nesse estudo foram os dourados (2.836.808 kg), camarão sete barbas e branco (2.667.015 t), albacora lage (1.136.341 kg), pargos (487.387 kg) e corvina (348.559 kg). Em algumas regiões inexistem informações detalhadas sobre o setor pesqueiro, sendo isto um fator de extrema dificuldade em ações de manejo e conservação das espécies e dos ecossistemas.

Foram identificadas um total de 27 sistemas de pesca desenvolvidos no estado do Espírito Santo (MARTINS et al., 2009, 2011; FREITAS NETTO; Di BENEDITTO, 2007; SEAP, 2005; UFES; MPA, 2013). Esses sistemas de pesca estão associados a diferentes agrupamentos, tais como: espinhel superfície de fundo, armadilha, redes de emalhar; linheiros (são barcos que usam linha e anzol para captura de grandes pelágicos ou em área com recifes); rede de arrasto; coleta manual e pesca de lagosta com compressor. As redes de espera são utilizadas principalmente nos portos localizados na região norte do Estado, enquanto as redes de arrasto e linheiros (pargueiras, jogada e espinhel) são utilizadas por comunidades localizadas na região sul. Essas pescarias capturam espécies com maior valor comercial (UFES; MPA, 2013). Em relação à produção por tipo de pescaria, as linhas pargueiras capturam, sobretudo, espécies do grupo dos lutjanideos. As pescarias com corrico produzem elasmobrânquios e escombrídeos. A rede de arrasto é eficiente na captura dos camarões e as redes de espera para captura de cações, robalos e lagostas (FREITAS NETTO; Di BENEDITTO, 2007) e os espinhéis capturam principalmente atuns e afins (SILVA, 2005; STEIN, 2006).

O litoral sul possui estudos com maior riqueza de detalhes que fazem com que a região seja estudada em suas relações pesqueiras e ambientais. Nesse litoral, existem melhores condições de infraestrutura de apoio à atividade e ocorrem as maiores produções pesqueiras. Ainda é registrada uma maior quantidade de pescadores, além de possuir uma maior frota pesqueira (FREITAS NETTO; Di BENEDITTO, 2007; PROZEE, 2005; UFES; MPA, 2013). A frota atuneira, em 2005, era composta por 260 embarcações que fazem porto no município de Itapemirim no litoral sul do Estado. Essa frota tem grande potencial produtivo para o Estado. Essa relevante frota pesqueira para o Estado desenvolve atividades, geralmente, em 13 dias de pesca e utilizam diferentes tipos de aparelhos de pesca, tais como diferentes tipos de linheiros. Para recursos pelágicos são utilizados os espinhéis de superfície para dourado e espinhel de fundo para meca, além do corrico e linha de caída. Já para os recursos demersais são utilizados os espinhéis de fundo e/ou linhas de fundo ou linhas pargueiras. Essas pescarias capturam aproximadamente 41 espécies de peixes com grande peso e comprimento. A maior produção é de atum (Thunnus spp.) e albacoras (Thunnus albacares) (SILVA, 2005; STEIN, 2006).