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João de Minas, escritor nacional de livros populares

Escritor Popular

4- João de Minas, escritor nacional de livros populares

Maravilhas no sertão do Brasil Central: os livros de aventuras

Enquanto trabalhava no Jornal do Estado, João de Minas almejou alavancar sua carreira literária, divulgando seu romances em entrevista e propagandas. Mas foi no segundo semestre de 1933, ao deixar a interventoria paulista, que pôde dar vazão a vários de seus livros, a iniciar por Mulheres e Monstros. A novidade trazida pelo prefácio dos editores a este livro é informar que Mulheres e Monstros é “uma espécie de segunda edição” reunindo textos de Jantando um Defunto e Farras com o Demdnio, que estavam esgotados: “aqui o autor, com alguns retoques literários, enfeixa os contos e narrativas mais empolgantes de suas duas famosas produções anteriores”404. Nas propagandas e prefácios, é enfatizado muito mais a

narrativa e seus almejados efeitos emocionantes, visando os leitores de aventuras sertanejas.

Capa de Mulheres e Monstros, 1933

A capa leva adiante a linha tomada por Farras com o Demdnio. Além das cores, cuja tonalidade forte e policromática saltam aos olhos, já no título o termo “monstros” promete algo de sensacional, fora do cotidiano e mesmo do possível, tornada ainda mais notável pela

404 Páginas Maravilhosas da Literatura Brasileira. In: MINAS, João de. Mulheres e Monstros. São Paulo:

presença de mulheres, as quais, na década de 30, não são imaginadas enfrentando essas criaturas. No título há uma ambiguidade produtiva ao editor, pois pode-se ler narrativa de mulheres com monstros ou narrativas de mulheres e narrativas de monstros. Contrapostas ao título, as imagens também trazem uma ambiguidade: no primeiro plano, embaixo, uma cabeça de mulher branca e outra de um negro careca, que contrastam com a imagem da onça, em verde. O monstro pode se referir tanto ao felino na floresta quanto ao negro, que tem seus traços faciais (orelhas, queixo) situados entre humano e um símio.

Ao iniciar o texto, o leitor descobriria que a capa se refere a duas narrativas. As faces são do guia caboclo Xaraim, o “homem macaco da Ilha do Bananal”, e de Ana Kremlem, uma estudiosa alemã que vive nua nas florestas brasileiras. A onça aparece no conto “Um assassinato impalpável”. Não há dúvidas sobre a matéria, os “horrores e mistérios” do sertão, com os estereótipos que Belmonte e outros reclamavam dos livros estrangeiros, concebendo o país como uma grande floresta habitada por animais estranhos e índios selvagens.

Os títulos foram mudados. A principal sequencia de narrativas de Farras com o

Demdnio, cada uma com seu subtítulo e sem unidade editorial no seu conjunto (o que lhes

dava aspecto de uma série descontínua), transformou-se no bloco “Beleza, Amor e Horror”, um título vago mas apelativo, além de ganhar capítulos numerados. Também foram alterados os títulos das histórias de Jantando um Defunto, reforçando-se os lances de efeito:

Comparação dos títulos de Jantando um Defunto e Mulheres e Monstros

Jantando um Defunto Mulheres e Monstros

O monstruoso sapo-boi Um monstro das selvas Os 26 assassinatos de homens louros O monstro de meio palmo A escada para o céu Esperando o exército de anjos Uma puisia... ou um sonetu!! Um poeta tenebroso

A porta do inferno Um assassinato impalpável O esqueleto de Santa Maria Clara O túmulo de ouro

O cavalo de Átila Viagem a uma vida anterior

Todavia, o que transforma Mulheres e Monstros em um livro bastante distinto dos anteriores é sua editoração, que pode ser acompanhada na comparação das imagens abaixo. Por exemplo, a narrativa sobre Maria Clara se mantém a mesma: após iniciar com uma longa digressão sobre a solidão nos sertões e seus efeitos, o narrador João de Minas e seu guia

Sérgio Ribas caminham sobre seus burros quando encontram uma mata dourada. Aproximam- se e veem um esqueleto com uma cabeleira, examinada por Sérgio Ribas, que descobre ser Maria Clara, raptada e estuprada enquanto ia com seu noivo para o casamento.

O tamanho de ambos os contos é o mesmo, dez páginas, mas o segundo tem um formato maior – 20 x 14,5 cm contra 17,5 x 12 cm, além de o tamanho da letra e o espaçamento entre as linhas ter sido aumentado. Mulheres e Monstros também possui um aproveitamento melhor da página, com redução da mancha interna e externa, e da distância do texto ao cabeçalho e rodapé, o qual não possui informação editorial como no primeiro. O aumento do volume de texto também provém dos parágrafos curtos do segundo livro, como se vê nas figuras acima: com frases pequenas, o maior tem 6 linhas. No corpo do texto há parágrafos de até 9, mas nenhum como os de Jantando um Defunto, de mais de 20 linhas.

Todos os elementos da forma textual de Mulheres e Monstros indicam a tentativa de atingir um público amplo, inclusive recém-letrado: a letra e espaçamento grande auxiliam a leitura do texto, enquanto que os parágrafos menores, ao aumentar as pausas e os espaços em branco dentro da mancha, fragmentam sua leitura. Essa não foi a preocupação dos editores de

Jantando um Defunto, que dá a impressão visual de ser composto por grandes blocos textuais.

A estes se somam alguns elementos gráficos já incorporados em Farras com o Demdnio, como o uso da capitular e o sublinhado do título, que diversificam visualmente a página. Para esta nova versão, o texto desse livro também sofreu as modificações relatadas anteriormente, principalmente o desmembramento de grandes parágrafos.

O conteúdo teve leves retoques, trocando imagens como, por exemplo, “o alto e meio fabuloso rio Araguaia” se transformando em “alto e quase fabuloso”, ou então, no final da narrativa acima, a vaga mulher com recém-nascido dá lugar a uma “preta” a qual, em contraste com o fascínio causado pela beleza de Maria Clara, reforçava a ironia do bando em relação ao noivo. Todavia, a mais significativa alteração, também feita em todo o livro, está destacada com linhas de traços vermelhos: as referências à Coluna Prestes são substituídas pelo cangaço, “revolucionários” dá lugar a “cabras”, Prestes ao chefe Gavião Triste ou Lampião etc. A alteração se justificava no período em que a constituição ainda não estava em vigor: no clima de exaltação da “Revolução de 30”, com parte dos antigos revolucionários no poder, não convinha publicar o mesmo texto. Os atos macabros e terríveis de Jantando um

Defunto foram atribuídos aos poderes considerados bandidos pelo Estado, os cangaceiros,

cujas histórias percorreram o noticiário do país nos anos 30. Outra hipótese plausível, que não exclui essa, é que não convinha à editora de orientação trotskista vilipendiar os antigos “revolucionários”.

Dessa forma, Mulheres e Monstros estabelece o padrão editorial que se repetirá em quase todos os livros de João de Minas nos anos 30: capas figurativas e coloridas, com motivos de forte apelo, editoração de texto feita de modo a facilitar a leitura, temas dos romances colados às grandes modas do momento, uso de um dos gêneros em voga – no caso, aventuras, descrição irreverente de cenas macabras e pitorescas, com toques cômicos. Todos esses traços apontam como destinatários o amplo público consumidor dos gêneros populares, que buscavam narrativas “de sensação”, veiculadas pelas grandes coleções ficcionais da década. A despeito disso, Mulheres e Monstros nada diz sobre a veracidade das narrativas que o compõem, ficando a cargo do leitor achar que são mera ficção ou não, apesar de a narrativa em primeira pessoa sugerir implicitamente a última opção.

No livro sertanista publicado a seguir, João de Minas atuou justamente nesse ponto, pegando o rastro de uma das sensações do momento, as expedições em busca de Fawcett. Antes de se embrenhar pela floresta em 1925, o explorador inglês deu ordens expressas para que, caso não desse notícias ou não retornasse, nenhuma expedição fosse enviada à sua procura. Dado como perdido em 1927, mesmo assim tentativas foram feitas, a primeira em 1928 por um membro da Royal Geographic Society, George Miller Dyott, que também havia feito expedições à Amazônia, uma delas para confirmar a existência do rio da Dúvida descoberto por Roosevelt. A expedição de Dyott avançou na mata, mas teve que retornar após lidar com grupos indígenas hostis, o que lhes levou a imaginar que Fawcett e os filhos estivessem mortos, hipótese negada pela família.

Outras incursões foram feitas nos anos seguintes por pesquisadores, jornalistas, exploradores de vários países, mas sem nenhum sucesso conclusivo. À medida que os anos passaram, nos jornais em todo o mundo começaram a circular hipóteses sobre o sumiço da comitiva. As mais pessimistas apontavam sua morte por fome, doença ou pela flecha de alguma tribo indígena. As otimistas consideravam que Fawcett estava vivo na Amazônia, em jornada ou como prisioneiro. Durante o “Mistério Fawcett” também se divulgou inúmeras hipóteses mirabolantes, dentre as quais a que ele teria se tornado eremita, chefe de uma tribo, líder na cidade perdida que tanto procurou405 ou agente secreto do governo britânico, que teria

um plano para se apossar do interior brasileiro406.

405Para este parágrafo e o anterior, ver GRANN, 2009, cap. 20.

406Folha da Manhã, 6/3/1934, p. 3. A notícia original teria saído no Moscow Evening. A folha sintetiza a notícia

A ficção ia muito além. Por exemplo, o Diário de Notícias, através da Folha da Noite, divulgou um folhetim de título “O Mistério do coronel Fawcett”, uma narrativa do explorador Capitão Morris em busca do seu amigo no Mato Grosso, sendo atacado por indígenas bravios, visto e perseguido rastros do coronel. O capítulo mais distante do lugar comum é um encontro com Lampeão, no qual Morris descobre como a bolsa, o revólver e o compasso de Fawcett foram parar em poder do cangaceiro407. Tais novelas pareciam ser tão difundidas que um

arqueólogo não só acusou Fawcett de mistificador em busca de lendas fantásticas, o que prejudicaria os etnólogos em seu ideal de ciência desinteressada, como dizia que era necessário acabar com as narrativas do gênero: “Todas as novelas de sensação publicadas sobre Fawcett respiram mistificação. Parece estranho que se possa propalar coisas tão insensatas sobre uma região que se não é conhecida em seus detalhes, o é pelo menos em seus traços gerais”408.

Seguindo tais tendências do momento, João de Minas alardeou um novo livro nas revistas ilustradas e jornais antes mesmo de Mulheres e Monstros ser lançado. A divulgação da viagem iniciou-se com uma entrevista publicada em O Malho no número de 21 de setembro de 1933, seguido da reprodução, no número de 28, de um capítulo da narrativa.

Entrevista de João de Minas a O Malho, 28/09/1933, p. 32

407Folha da Noite, 23/4/1932, 1a edição, p. 4. A notícia divulgando o folhetim, distribuído pela “London General

Press”, veio acompanhada pelo resumo dos nove primeiros capítulos.

408 Os estudos arqueológicos e antropológicos da missão francesa na ilha da Páscoa. Folha da Manhã,

Páginas e fotografias de “Um Monstro Pré-Histórico, o crocodilo Mamuth, vivo num lago misterioso de Mato- Grosso” - O Malho, 28/9/1933, p. 13-15.

A tônica foi enfatizar, como nos dois primeiros livros sertanistas, a veracidade da matéria contada. A entrevista anuncia a viagem, a morte “em circunstâncias trágicas e pavorosas” de membros da comitiva, a descoberta de monstros ou animais pré-históricos como o crocodilo-elefante, toponímia desconhecida como um lago misterioso, sob o qual repousam o resto de civilizações (egípcias ou fenícias) que supostamente teriam migrado para a América do Sul. O capítulo publicado no número seguinte referenda as afirmações ao informar se tratar “mais de uma reportagem do que de um conto”. Dão veracidade à matéria as fotos de uma canoa com quatro pessoas que navega por entre uma paisagem apinhada de árvores, e uma porção de água refletindo o por do sol, com árvores e o céu ao fundo. As legendas que acompanham essas fotos relativamente vagas orientam a leitura: “no coração dos sertões matogrossenses. A expedição buscava a maravilhosa cidade pré-histórica,

frequentemente, tinha de viajar em canoa, por longos e acidentados percursos” e “um pôr-do- sol sobre o lago misterioso era um quadro de imensa desolação e de pensada melancolia”.

Nesse mesmo dia 28 saía no jornal carioca A Pátria outra entrevista de João de Minas, que acrescenta elementos à suas afirmações. Baseada na entrevista ao Malho, a redação comenta o sucesso de crítica de seus livros anteriores e anuncia a matéria que causaria alarme num meio científico pacato: “promete provar num novo livro a existência de monstros pré- históricos, no alto sertão amazônico de Mato-Grosso, por ele vistos numa sua arrancada sertanista, novo bandeirante moderno e destemido”. Na sua fala, João de Minas menciona uma suposição de sábios europeus e norte-americanos sobre os sertões, com outras civilizações, cidades perdidas de origem fenícia e animais pré-históricos ainda vivos. Em busca dessas maravilhas, as comitivas de estrangeiros que adentram à Amazônia seriam de tal forma frequentes que inspirariam uma lei restritiva pelo Ministério da Agricultura. Cita como exemplos o relato de Conan Doyle (“Mundo Perdido”) como inspirado em uma viagem à Amazônia409, a visita do presidente Roosevelt ao rio da Dúvida, a notícia de que Ford

possuiria um pterodátilo vivo capturado no Pará e, é claro, o sumiço de Fawcett410.

O caso Fawcett é melhor delineado pelo escritor mineiro num relato que saiu no início do mês seguinte no periódico quinzenal Revista Sul-América, onde colaborava desde janeiro de 33. Após publicar outro capítulo do futuro livro, uma narrativa da captura de uma onça pelos índios matolés411, o autor anexou uma “explicação necessária”, na qual consta uma

versão particular “que predomina nos meios autorizados dos sertões matogrossenses”. João de Minas mistura as informações circulantes e os aspectos fabulosos já citados com outros conspiratórios: se o explorador inglês, na sua busca pela cidade perdida no meio da selva, não tivesse morrido, teria se tornado rei desse riquíssimo lugar, repleto das “batatas minerais” (diamantes). Não só os catadores das minas de Goiás como a Coroa Britânica tinham interesse no rastro do explorador em busca de riquezas: “disfarçando em piedade o seu interesse por Fawcett, manda emissários em socorro do mesmo. Mas a Inglaterra quer é as batatas diamantinas, ou pelo menos as ilustres jazidas, parecidas com as da África do Sul”412.

409

Conan Doyle inspirou-se nos relatos e na figura de Fawcett para criar a ficção.

410 Monstros Pré-Históricos nos Sertões Amazônicos de Mato Grosso. A Pátria (Rio), 28/9/1933. Apud

MINAS, João de. Este livro. In: Horrores e Mistérios dos Sertões Desconhecidos. p. IX-XII.

411

O mesmo capítulo foi divulgado também em A Noite Ilustrada, em 28/3/1934, p. 26-27 .

412 MINAS, João de. Monstros e Histórias dos sertões desconhecidos do Brasil Central. Sul América, outubro de

Em todos os textos para a imprensa, João de Minas reafirma a veracidade dos elementos fantásticos da sua viagem, a serem provados com farta documentação a quem desejasse. A explicação na Sul América termina com esse apelo:

Não faço, nunca fiz, sertanismo de gabinete, sertanismo de bigodinho cinematograficamente falando. A minha obra é científica, dura e penosa, e ajuda a descobrir o Brasil. A ciência oficial muita coisa não entenderá destes lances de brasilidade operante. Mas a ciência oficial é uma coitada, de perninhas moles! E não sai de casa, como medo de se constipar... Apelo, todavia, para as criteriosas Sociedades de Geografia e correlatas, do meu país413.

O prefácio autoral, que reproduz esse e outros trechos de entrevistas para convencer o leitor da veracidade das narrativas, termina no mesmo tom: “fora do livro, na imprensa ou pela palavra, travo com quem quiser o ônus da prova da verdade de tudo que narro. Estou às ordens”414. Na divulgação das narrativas de aventuras, João de Minas parece aprimorar o

recurso à verossimilhança que permeou suas obras políticas: apelo ao testemunho próprio e de a autoridades capazes de confirmar sua versão, uso do poder de criação de fatos da imprensa para divulgar suas afirmações, existência de suposta documentação guardada e divulgada como fotos, citação de notícias e fatos correlatos ao tema.

Sem precisar apoiar grupos políticos, essa prática está a serviço da promoção não só da obra, como do próprio escritor. Por exemplo, beneficiavam-se da ênfase na veracidade das narrativas as palestras dadas ao grande público, em geral realizadas em teatros da capital paulistana. Sobre esta estratégia de promoção, informa-nos o escritor Caio Porfírio Carneiro:

tinha uma que ele queria provar que encontrou o jacaré-elefante. Diz que ele provava, e quando ele descia, e ele cobrava ingresso, quando o pessoal descia das palestras dele diziam que, saiam discutindo, porque alguns estavam convencidos que existia mesmo. Ele tinha um poder de convencimento incrível. Ele entrava por detalhes, ele dizia até a pulga onde estava no jacaré.415

A capa mantém a mesma perspectiva. Apesar de tipográfica, o destaque gráfico é a foto do escritor, com uma expressão facial bravia, olhar penetrante rumo ao observador, que parece sugerir temeridade necessária para uma aventura como a que propõe relatar. O título é

413 MINAS, João de. Monstros e Histórias dos sertões desconhecidos do Brasil Central. Sul América, outubro de

1933, p. 51.

414 MINAS, João de. Este livro. In: Horrores e Mistérios dos Sertões Desconhecidos. p. XIII. 415

destacado não só pela cor vermelha, contrastando com o sublinhado preto, como, novamente, reúne termos sugestivos das emoções do texto (horrores) quanto das novidades fantásticas que promete (mistérios, sertões, desconhecidos), semelhantes às notícias sobre o tema. Mas é o subtítulo que especifica o assunto, fazendo gancho com os relatos jornalísticos da época: “fatos tenebrosos vividos pelo autor, numa expedição em procura do explorador inglês cel. Fawcett, nos sertões amazônicos de Mato-Grosso”.

Capa de “Horrores e Mistérios dos Sertões Desconhecidos” (1934)

A narrativa contada em vinte e três capítulos pode ser dividida três partes. Na primeira, entre os capítulos um e seis, o narrador João de Minas e Antenor, um paraguaio que se tornou coronel em Cuiabá, decidem sair em busca da cidade perdida de Fawcett, onde acreditam haver diamantes. Juntos com um guia caboclo de nome Xoda e um indigena matolé chamado Kaii, lideram uma comitiva rumo ao sertão profundo de Mato-Grosso. Embrenhados na floresta, enfrentam uma série de aventuras envolvendo animais como a onça perseguidora de Kaii; um crocodilo pré-histórico no fundo do lago, que devora um índio da comitiva; uma

sucuri ágil em terreno seco; uma imensa ave de rapina que, vendo sua companheira capturada pela comitiva, a assassina e se suicida com uma erva venenosa. A comitiva também adota um macaco batizado de “Brasil Maior” e uma cobra não venenosa, a “Legalidade”, devoradora dos mosquitos que incomodam a trupe. O guia Kaii, além de defender o grupo com seu conhecimento da floresta e dos animais exóticos, é o responsável por explicar os estranhos fenômenos da paisagem, como coqueiros que boiam no lago, dando a impressão de uma floresta em movimento, as plantas de folhas com água gelada, ou a região pantanosa cujo chão suga aquele que nele pisa, uma espécie de areia movediça.

Os seis capítulos iniciais de Horrores e Mistérios nos Sertões Desconhecidos foram os primeiros a ser compostos. Originaram-se de uma versão não publicada em livro da aventura de Fawcett que João de Minas queria escrever em meados dos anos 20. As partes anteriores versariam sobre uma cronologia exata da vida do protagonista Fawcett até a Primeira Guerra Mundial, seu plano nos anos 20 para descobrir a cidade perdida de Z, e um perfil detalhado do explorador inglês, baseada na obra de Conan Doyle. A quarta parte trataria da última viagem de Fawcett, com as fantasias descritas acima, junto com as informações que João de Minas publicou na imprensa. O romance seria contado ao narrador por Kaii, que nesta versão seria o guia de Fawcett e lhe ensinaria a língua matolé. O final seria aberto: Percy poderia ter sido devorado pelos xavantes ou ser um rei riquíssimo na cidade encontrada416.

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