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Jogadores Patológicos Puros, Mistos Semelhantes e Mistos Diferentes

PARTE IV A DISCUSSÃO

4.4. Jogadores Patológicos Puros, Mistos Semelhantes e Mistos Diferentes

Este subcapítulo responde à quinta questão de investigação: Qual a percentagem de jogadores patológicos puros e mistos? Os jogadores puros, offline ou online, não são, como esperado, os mais numerosos. Os jogadores mistos diferentes e, em particular, os jogadores mistos semelhantes, são quem representa a maioria dos jogadores patológicos nesta amostra. Estes resultados não eram expectáveis e são diferentes dos resultados obtidos fora de Portugal. Considera-se jogador misto semelhante aquele que joga em, pelo menos, um tipo de jogo igual, no modo online e no modo offline, sendo o jogador misto diferente aquele que joga em modo online e offline, em diferentes tipos de jogos. Tendo em conta os estudos já avaliados, com base na evidência sobre as diferenças entre jogo offline e online, ainda há caminho por percorrer, mas existe seguramente uma certeza, de que raramente os jogadores são “puros” nesta escolha (Griffiths & Auer, 2011).

Percebe-se facilmente que existam mais jogadores offline puros, por serem mais velhos, porventura menos abertos à mudança perante as novas tecnologias, mais habituados e fiéis a um tipo de local e de jogo, em que sentem ter adquirido competências, por haver menor diversidade e por ainda não dominarem muito bem, ou capazmente, as novas tecnologias. Na Grã-Bretanha, o subgrupo mais representado foi exatamente este, dos jogadores puros offline, com 80.5% dos jogadores no British Gambling Prevalence Survey em 2010 (Wardle, et al., 2011). Os JPON puros são menos numerosos pelos motivos contrários, mas também pela grande oferta que existe hoje, seja nos jogos sociais, seja pelos casinos físicos, que oferecem entretenimento mais ajustado às camadas jovens. Na Grã-Bretanha, onde várias formas e modos de jogar estão legalmente disponíveis, afirmar uma distinção absoluta entre os jogadores online e offline torna-se cada vez mais problemático (Wardle, et al., 2011).

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Apesar de não se terem incluído a lotaria e o euromilhões, por estarem sistematicamente presentes, existem muitas alternativas ao jogo online, como a raspadinha, o totobola, mas também, noutra dimensão, os bingos e os torneios de poker, cujas fases finais, e não só, se desenrolam nos estabelecimentos físicos. Numa primeira abordagem, verifica-se que o grupo dominante é constituído pelos jogadores patológicos mistos semelhantes, offline e

online, ou seja, os jogadores que apostam em ambos os modos, mas no mesmo ou nos

mesmos tipos de jogos. Os jogadores patológicos mistos semelhantes offline e online são preponderantes (69% e 60% respetivamente), ao passo que os jogadores patológicos diferentes nos modos offline e online apostam apenas (8,8% e 31,6%, respetivamente). Estes valores demonstram equilíbrio nos jogadores patológicos semelhantes de ambos os modos, mas uma clara tendência para os jogadores patológicos diferentes no modo online apostarem mais indiferenciadamente em vários tipos de jogos offline. Seria importante avaliar que motivações possuem os jogares online para ir procurar outros jogos offline: serão jogos sociais ou de casino? Em que horários? Este estudo não conseguiu apurar estas opções nos diversos tipos de jogadores mistos, fossem diferentes ou semelhantes, online ou offline.

Na Grã-Bretanha, o segundo subgrupo mais representado foi exatamente este, dos jogadores mistos semelhantes, com 10,6% dos jogadores no British Gambling Prevalence Survey em 2010 (Wardle, et al., 2011). Esta fidelidade a um ou dois tipos de jogos poderá representar: a ilusão de controlo ou de competência num tipo de jogo específico, a tentativa de resgate ter de ser nesse tipo de jogo particular onde se perdeu e agora se saberá recuperar, a lealdade, fidelidade ou mesmo o estatuto ganho no mundo circundante daquele tipo de jogo ou, simplesmente, a incapacidade para mudar devido à obsessão instalada.

Os jogadores patológicos mistos diferentes, offline e online, são menos numerosos, mas, no desespero das perdas, na vontade de ganhar e recuperar e na procura da intensidade emocional, é expectável que acabem por experimentar ganhar noutros tipos de jogos e, por isso, estejam mais representados. Segundo Griffiths (2011), o jogador misto diferente seria aquele com mais problemas de jogo, que estaria com menos controlo e mais sujeito à impulsividade e vontade de jogar. Existe, caso se considere os JPON nas categorias mistos semelhantes e diferentes que também jogam no modo offline (91.8%), um número superior de jogadores patológicos online a jogar no modo offline, do que inverso. Tanto o modo offline oferece atrativos ao modo online, como o modo online se apresenta, por variadíssimas razões, deveras apelativo ao modo offline, como atrás descrito, mas, e em sentido contrário ao aparentemente expectável, os JPON apostam mais offline do que os JPOF apostam online.

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O JPON reconhece atrativos no apostar offline, como sejam: a existência de finais de torneios de poker em casinos (onde eventualmente já se teriam deslocado por motivos de entretenimento), o sentimento que a possibilidade de influenciar resultados é superior, o acreditar também no conceito de que os prémios são mais elevados nos estabelecimentos físicos, e, porventura, um certo prazer associado à componente social.

Por sua vez, o JPOF encontra no modo das apostas online, entre outras motivações: a acessibilidade, a comodidade, a diversidade, um prolongamento dos horários, um reconhecimento e estatuto que, por ser virtual, não se deve subestimar e um aproveitamento maior do jogo virtual pelo conhecimento informático mais generalizado que foi obtendo. Independentemente de haver um modo de jogo preferencial, onde se joga maioritariamente, o facto é que por volta de 80% dos jogadores patológicos nesta amostra utilizam o modo online para jogar. Se juntarmos o total da amostra, significa afirmar, com todos os jogadores, recreativos, abusivos e patológicos, observar-se-á que quase 70% dos jogadores apostam, de uma forma ou outra, no modo online. Estes jogadores mistos possuem os maiores índices de envolvimento no jogo e os resultados mais elevados na prevalência de problemas de jogo (Wardle, et al., 2011), sabendo-se que associado ao aumento de problemas de jogo está o aumento de consequências negativas. Seria importante perceber como se distribui a intensidade do tempo, de sentimentos, as motivações e, obviamente, o dinheiro apostado entre estes dois modos.

Este extraordinário incremento do modo online, em pouco mais de uma década, é talvez o mais flagrante indício da perigosidade desta nova forma de jogar.