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6 Cruzamento dos dados revelados no olhar do pesquisador

2.4 O JOGO DESPORTIVO COLETIVO

De modo geral, verificamos que o desporto coletivo possui maior difusão na sociedade atual. Nos principais ambientes que podem ocorrer essa prática, tais como: escolas, clubes, Universidades e praças desportivas, acontecem as modalidades coletivas as quais chamam mais a atenção dos praticantes e dos espectadores. Para Teodorescu (1984), a difusão do desporto coletivo pela sociedade se deve ao fato da sua prática acumular as influências e efeitos positivos do desporto e do exercício físico, junto às influências e os efeitos educativos do jogo. Graça (2013) escreve que os jogos desportivos coletivos representam um espaço privilegiado para aprender a trabalhar em equipe, em coordenar esforços conjuntos para atingir um objetivo comum, mediante a comunicação, a organização, o apoio mútuo.

Nesse estudo, trabalhamos com a terminologia do Jogo Desportivo Coletivo (JDC), acreditando ser a melhor definição dessa temática. Teodorescu (1984) mostra que os JDC vão além de exercícios, sendo que consistem em um microssistema social, que acontece dentro de um plano físico de ações conjuntas, na condução do objeto de jogo (bola) em direção a um alvo determinado. A qualidade da interação entre os companheiros de uma mesma equipe se opõe a outro sistema de interação de adversários, em ação conjunta para formar a ideia de jogo, em relação não hostil, buscando a vitória desportiva. Teodorescu (1984) aborda fatores característicos deste como a predominância da aciclicidade técnica, por solicitações e efeitos cumulativos (globais e não seletivos); morfológico-funcionais e motores e por uma intensa participação psíquica.

Comungando com as ideias apresentadas sobre o desporto, em defesa da humanização dos indivíduos, estimulando valores éticos e morais, Bento (2013a) esclarece que o jogo desportivo se trata de uma rara oportunidade de o homem

Reencontrar e assumir a variedade e naturalidade de acepções do Ser humano. O jogo desportivo socializa na vitória e na derrota. É uma acção renovadora e enriquecedora, porque permite experimentar acções sem as conseqüências que teriam num acto sério; permite acumular respostas de tipo novo dificilmente atingíveis de outro modo e abordar problemas que normalmente ficariam por tratar. O jogo altera e inverte papéis e situações: quem até agora perdeu pode ser em breve o vencedor; quem ganha hoje pode estar seguro de que isso não acontecerá sempre (BENTO, 2013a, p. 77).

Diante disso, podemos relacionar como JDC o futebol, o futsal, o basquetebol, o voleibol, o handebol, entre outros. Estes jogos possuem características semelhantes. Para Teodorescu (1984), as principais características consistem na existência de um objeto de jogo (bola); disputa complexa (individual e coletiva, correlacionadas); regras de jogo; presença obrigatória da arbitragem; limitação da duração do jogo (tempo ou objetivo); estandardização do inventário do jogo e das dimensões do terreno de jogo; existência de técnicas e táticas específicas; caráter organizado das competições; organização da atividade nacional e internacional; existência de teorias e práticas respeitantes à técnica, tática, treino e suas metodologias e existência do espetáculo esportivo.

Autores como Garganta (1996, 2002); Garganta e Oliveira (1996) e Garganta, Cunha e Silva (2000) enfatizam que o ambiente dos jogos desportivos coletivos apresenta uma grande complexidade. Neles acontecem simultaneamente momentos de aleatoriedade e imprevisibilidade, equilíbrio e desequilíbrio, ordem e desordem, organização e interação.

Destacamos ainda que em muitos momentos de aprendizagem, os professores adotam ações pedagógicas reducionistas, que excluem a lógica e a imprevisibilidade do jogo, descaracterizando sua própria funcionalidade (REVERDITO; SCAGLIA, 2007). Esses momentos são caracterizados principalmente por ações que buscam o ensino dos jogos pela aprendizagem dos gestos técnicos da modalidade. Assim, espera-se que o jogador, ao dominar todos os gestos técnicos da modalidade consiga um bom desempenho no jogo. Nessa abordagem, despreza-se o jogar, aspecto fundamental do ensino e o treinamento dos jogos desportivos coletivos. Salientamos a necessidade de se definir um método de trabalho, de uma proposta pedagógica que esteja fundamentada em teorias metodológicas que privilegiam o jogar, e que por meio dessa atividade seja possível ensinar e desenvolver os principais aspectos do jogo, como as habilidades físicas, técnicas, táticas, psicológicas, entre outras.

Segundo autores como Teodorescu (1984) e Scaglia (2003), o jogo e o esporte se confundem um no outro, pois ambos possuem a mesma natureza. Assim, devemos criar estratégias para ensinar os desportos coletivos de modo que sejam baseadas na sua forma primária de jogo, orientadas sobre o ato de jogar na sua forma dinâmica. Vale destacar que esse

“jogar” a que nos referimos, necessariamente não envolve somente o jogo formal, mas situações variadas em que o ato de jogar esteja presente, como jogos reduzidos e situações de jogo.

Comungamos com os conceitos trazidos por Garganta e Gréhaigne (1999), que destacam que o mais importante no jogo é o jogador gerir a “desordem” do jogo. Essa desordem é gerada mediante a presença do adversário, que sempre apresenta ações imprevisíveis. Sendo o jogo dinâmico e aleatório, o jogador precisa “enxergar” as possibilidades que o jogo apresenta, lidando com as situações de “como” e “quando fazer”. Para isso, entendemos que o desenvolvimento dos princípios operacionais que regem o jogo é fundamental. Ainda, segundo os autores, uma proposta metodológica que privilegia o domínio dessa desordem do jogo é compreendida como fonte geradora de progresso. Assim, o problema gerado no jogo (situação), pode levar o jogador a um recriar que seja capaz de estabelecer uma nova ordem, conseguindo assim, promover o aprendizado. Para Scaglia (2003, p. 81), “a desordem pode ser vista como um problema gerado pelo e no jogo (jogar o jogo). Essa desordem levará a construção criativa de uma nova ordem. A desorganização é sempre acoplada à ideia de reorganização”.

Entendemos que essa é a função do treinador, ao mediar o processo de ensino e aprendizagem dos jogos desportivos coletivos. Segundo Garganta (1996; 1998; 2002), nós, profissionais do desporto, devemos difundir os conhecimentos obtidos na formação acadêmica, identificando os aspectos indicadores da qualidade do jogo apresentada pelos jogadores. A partir dessa identificação, o treinador deve intervir com diferentes ações pedagógicas, buscando a melhora na qualidade do jogo jogado. Para Garganta (1996, p. 77)

Impõe-se assim que se identifiquem os problemas mais pertinentes do jogo elementar e os indicadores de qualidade do jogo de elevado nível, deles devendo decorrer a sistematização dos conteúdos, a definição dos objetivos e a seleção dos exercícios para ensinar e treinar essa modalidade desportiva.

Quando aplicamos modificações e variações aos elementos estruturais do jogo, podemos alterar consideravelmente toda a organização da unidade complexa do jogo. No plano cognitivo sobre a conjuntura estratégica e tática, o aluno terá de buscar por uma série de elaborações capazes de vencer as adversidades e os problemas, alcançando os objetivos do jogo. Isso também acontece com o plano motor, na adaptação e execução das ações (SCAGLIA, 2003). É esse processo que garante que os jogadores aprimorem suas capacidades de jogo ao longo do tempo. E para isso, o professor torna-se indispensável.

Para que esse processo seja possível, o professor deverá se tornar um pedagogo do jogo, que segundo Reverdito e Scaglia (2007) é aquele que deve “gerir metodicamente o processo, privilegiando o jogo jogado, na dimensão de seu ambiente fascinante e de sua natureza

essencialmente complexa”. Segundo Capra (2005), o professor deve ter, de forma clara, a ideia de que o ambiente de ensino e aprendizagem poderá desencadear diversas mudanças estruturais às ações pretendidas, não sendo o professor capaz de especificá-las e nem dirigi-las. Nesse caso, o professor tem a responsabilidade de especificar e dirigir o processo, mediando às ações e situações que vão acontecendo durante os treinamentos e os jogos.