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O jogo que está aqui em jogo possui forma, mas não possui, existe, com limite e, sem; ao movimento que interage e intervém por meio das ações corporal de arranjos e rearranjos que se constrói e apreende a cada situação vivida a cada eventual jogo que é único, apesar de possuir um repertorio básico de movimentos-golpes que constroem o diálogo de perguntas e respostas, destacando condições limites. Porém, a forma de realizá-los e combiná-los vão ser diferentes a cada instante na jogada, mesmo que aparentemente possa ser observado. E a distinção estará na maneira de realizar as ações que apresentam uma forma (movimentos-golpes). Por isso, o jogo não tem forma, e quando digo que não tem é porque a forma é flexível e se molda a situação vivida a cada jogada, ou seja, a cada jogada ela se reconfigura, segundo o diálogo corporal que se trava no calor do jogo da capoeira.

Schechner247 e Zumthor248 afirmam que cada performance apresentada é distinta uma da outra. E cada jogo performado é diferente a cada realização. Nesse caso, a composição de movimentos situacional que o capoeirista apreendeu treinando ou jogando formou maneiras de jogadas e possibilitou visão de limites (ataques e contra ataques existentes para cada jogo). E moldar a partir de arranjos rearranjados no diálogo corporal é o que defende Schechner através do “comportamento restaurado”.

A respeito ao “sem forma” que conduz ao “sem limite” são condições que não estão no âmbito do treino da capoeira e sim na realidade ao vivo do jogo na roda, pois o que o capoeirista aprendeu no exercício do treino, jogadas como possibilidades que poderiam encontrar composições que apontem caminhos para respostas ou perguntas esses arranjos do treinamento não se darão da mesma forma e estabelecendo o mesmo limite do treino, por mais

247 (2012) 248 (2007)

que pareçam as situações de jogo semelhante ao do treino, nunca são, por mais que possuam características comuns a da composição situacional das jogadas que se estabeleceu no calor do treinamento, nunca será no jogo.

É necessário enfatizar ainda que no jogo da roda de capoeira é necessário o capoeirista ter conhecimento das informações básicas que exige o jogo da capoeira, e isso se dá a partir do treino. É importante destacar que o que torna a diferença do treino para o jogo na roda, quanto a realização das ações básicas exigidas para o diálogo corporal da capoeira é a atitude que o jogador toma. Essa atitude requer uma atitude “já pronta”, elaborada para dada situação específica do jogo, uma vez que no treino há uma “abertura” de parar e trabalhar certa situação (ações) de jogada que são mais frequentes acontecer no jogo, e que não são poucas.

Mas essas estratégias que são treinadas no treino, o jogador treinado opera melhor as várias ações na hora do jogo; e se ele for criativo e possuir muita familiaridade com esses fundamentos básicos do jogo ele poderá sempre está em vantagem em relação às jogadas que o outro propõe, ou que ele mesmo estabelece no jogo na roda. A partir da seção que virá essa temática será mais aprofundada.

As atitudes estão envolvidas com a maneira ou arranjos que só se definem com mais clareza na ação. Esses arranjos ou maneiras são considerados por Borges249 como fluxo de forças250, que correspondem mais aos processos de pensamento, de possibilidades e de ponderação e se processam com uma certa autonomia, independente de um querer autônomo do corpo.

E o corpo está envolvido com a oscilação provocada pelo desequilíbrio, contínua oscilação que aumenta quando uma situação nova que nos surpreende, que nos deixa sem jeito, sem saber o que fazer, como agir... e assim ficará até que o corpo encontre um caminho... Nesse sentido, Borges compartilha da ideia de Damásio251, informando que o pensamento é o movimento das sensações e das imagens, e que ele não pode ser confundido com o foco da nossa atenção a cada instante.

Gaiarsa observa que as sensações e imagem provocadas pelos afetos serão espontaneamente modificadas em uma composição vetorial por meio da qual se consegue este ou aquele sentido, direção, significado. “Um afeto não nos alcança como flecha; antes, atinge- nos como marola, onda de calor ou nuvem de pó. O que dá forma compreensível ao afeto é a

249 (BORGES, 2005) 250 (IDEM, p. 23)

construção vetorial da atitude que ele compõe em nós”252. Sobre essa ideia de Gaiarsa paira o sentido de que o afeto enquanto onda está mais próximo do caos e do pensamento por conta da ocorrência da ambiguidade, descontinuidade e abertura para a emergência da novidade.

Considerar o afeto como vetor é tê-lo mais próximo do cosmos e da linguagem, pois dessa forma ele é organização, continuidade, especificação. Isso porque “toda ação, ao exigir uma atitude de base, nos dá forma e ao mesmo tempo informa o mundo”253. Então, levando em conta o que foi dito acima, Borges e Gaiarsa consideram que o sistema de equilíbrio desenvolve e informa sobre as estruturas dinâmicas e abstratas: dada a forma tensional do corpo em um movimento determinado (posição), podemos deduzir com bastante rigor a cena (orientação), a localização do objeto (direção da intenção) e sua natureza (conformação).

É importante entender, portanto, como é compreendido o momento que se joga o jogo da capoeira na roda, como funciona a organização da linguagem, para a ação do diálogo corporal ao que é submetida a ação das movimentações e golpes que descrevem o jogo de perguntas e respostas, tentando manter um diálogo sobre o sistema de equilíbrio. Ou seja, harmonioso e fluido, em unidade mantendo a fundamentação do que exige o jogo específico jogado. Durante o jogo, o corpo vai assumir atitudes previstas e imprevistas, assim, na imprevisão, o corpo buscará caminhos para tentar responder ao diálogo do jogo, em outras palavras, resposta que apresentará atitudes do “jeito que o corpo dá”.

Os autores citados também ensinam sobre o sistema de equilíbrio que desenvolvem e informa sobre as estruturas dinâmicas e abstratas. Aquelas são composições submetidas às ações e estas são chamadas de abstratas porque a composição vetorial não é parecida ao desenho anatômico do corpo, indiferente tanto à natureza destes quanto a sua função dentro do sistema de forças que mantêm o equilíbrio. De uma substância real nascem esforços reais que admitem uma resultante de todo o imperceptível e de todo operante, que não está em concorrência com nenhum lugar ou estrutura determinada nem no local onde o esforço se realiza, nem no sistema nervoso onde o local está representado.

No aparelho motor está contido a possibilidade demonstrável de abstração que nele acontece a todo instante. Por isso, Gaiarsa concebe que toda ideia bem compreendida e não apenas bem dita ou repetida é exatamente a consciência de uma resultante virtual, pura percepção de uma ação possível ou de uma possibilidade de ação. Em outras palavras, para Gaiarsa, a razão não tem uma característica não corpórea, nem definitiva, nem transcendental.

252 (GAIARSA, 1988, p.136 apud BORGES, 2005, p. 23) 253 (GAIARSA, 1988, p.153 apud BORGES, 2005, p. 23)

Como afirma Borges, ela pode concordar que a razão não é completamente consciente, mas principalmente inconsciente.254

Assim, trazendo a ideia dos autores para o âmbito do jogo da capoeira, as atitudes condizentes à preparação para reagir a responder e/ou perguntar, atacar e/ou contra-atacar no diálogo do jogo corporal vão definir-se com mais clareza com a ação no jogo, que reage para manter o sistema de equilíbrio que equipara os jogadores em comum unidade no processo de comunicação entre perguntas (ataque) e respostas (contra ataques) no jogo da capoeira. No que se refere ao sistema de equilíbrio, o movimento ou a sustentação do corpo só é possível por meio da síntese de forças contrárias que garante o equilíbrio.

O movimento ou a sustentação do corpo só é possível através da síntese de forças contrárias. Estas oposições não são fixas e nem sempre são as mesmas, mas múltiplas e dependentes das relações nas quais estão vinculadas [...] O centro de gravidade é móvel, dependente dos movimentos e das relações, acontece no invisível, e não se localiza em nenhum lugar do corpo, nem no cérebro, mas é o fundamento através do qual os movimentos são unificados e harmonizados. 255

Borges esclarece que o centro de gravidade não corresponde a uma coisa que está no homem e “se coloca para fora”. O equilíbrio biomecânico não acontece dentro para fora, para, depois, ser manifestado. Não pensamos antes de agir. O equilíbrio é automático, singular e uma resultante contínua de compensação e integração das forças do conjunto. A autora afirma ainda que é essencialmente uma unidade comum da diversidade, ou seja, é a própria definição de comunidade. A comum unidade na qual consiste o sujeito que se auto impõe é continuamente balançada, reorganizada, transformada e mantida. Assim, o comum não é o semelhante, a média, mas o composto, o que está em relação, sem o que nada “em si” faz sentido. Será o mesmo que dizer: na diferença somos o mesmo.256

Nesse caso, como já comentei antes um movimento-golpe existe no jogo e compõe o diálogo corporal, por mais que ele seja comum em diversas jogadas, não será semelhante na realização de cada jogada. O exercício dele que é trabalhado no treino para o jogo, na roda busca estar coerente, em equilíbrio com a fundamentação do jogo, e, para isso deve ser desenvolvido informações, arranjos diversos, que sejam comuns, que submetido à ação da linguagem corporal na roda, concomitantemente, obedecendo ao sistema de equilíbrio e a

254 (BORGES, 2005)

255 (GAIARSA, 1988 apud BORGES 2005, p. 21) 256 (BORGES, 2005)

fundamentação que exige o jogo da capoeira, vai melhor se enquadrar nas condições situacionais do jogo.

É revelador que nessas composições matriciais que se aprende e apreende junto ao corpo-capoeira, a partir do exercício do treino e no jogo de capoeira,o jogador constrói no momento do diálogo com o outro, comparativos com as situações apresentadas no jogo que foram vistas semelhantes no treino e/ou nas jogadas que já vivenciou na roda. Em outras palavras, o jogador organiza readaptando os elementos da composição corporal ou matrizes de jogadas para melhor responder a situação nova do jogo, por mais que ela tenha aparentado semelhança próxima com a do treino ou de outras jogadas.

Comportamento de performance é comportamento aprendido e/ou praticado – ou duplamente, comportamento treinado, comportado: comportamento restaurado. Então, ensaio prévio, aprendido por osmose desde a infância, revelado durante a performance pelos mestres, guias, gurus ou, generalizando, pelas regras que governam de fora, como em esporte ou teatro improvisado […]. 257

Assim, a realização desse diálogo corporal confere como comportamento praticado, restaurado como se refere Schechner da performance. Atualmente, houve a sistematização de alguns padrões de composições matriciais que estabelecem a fundamentação para o tipo de jogo que hoje geralmente se joga na roda. Essas composições foram sistematizadas pelos mestres experientes e antigos, juntamente com seus alunos, por exemplo, pelos Mestre Bimba258, Mestre Pastinha259, Mestre Canjiquinha260, Mestre Burguês261, entre outros. São convenções que o Mestre, o grupo ou a escola de capoeira se afilia como prática ou filosofia de vida do seguimento da capoeira que propõe. Então, comparando com a capoeira de outrora para a de hoje, as convenções possibilitam que fique mais fácil preparar jogadas e perceber estratégias que mais se encaixam para o tipo de jogo que se deve preparar técnico-esteticamente.

Sendo assim, o “jeito que o corpo dá” será uma matriz única que ocorrerá a cada jogada, e dela serão criadas variações a qual se servirá ao jogo na roda. Por conta dessa convenção, a fundamentação da capoeira está pautada em suas tradições que sofrem mudanças. Entende-se, portanto, que a tradição não é imutável, mas se atualiza em continuidade e descontinuidade de seus elementos que a compõe. E essas mudanças que ocorrem na

257 (SCHECHNER, 1988, p. 118 apud SILVA, 2005).

258 Através de sua metodologia de ensino que fundamenta a capoeira regional baiana a qual criou.

259 Por meio, também, de uma metodologia que organizou para fundamentar a capoeira que ensinava e jogava. 260 Assim, fez Mestre Canjiquinha, criou também fundamentação para a capoeira que ensinava e praticava. 261 E Mestre Burguês, criou através de suas pesquisas, que compreende mais de 15 anos de investigação sobre a capoeira – a metodologia, fundamentos da capoeira do Grupo Muzenza. As quais podem ser observadas, algumas no vídeo documentário: “Muzenza uma Filosofia de Vida”, que fora lançado e divulgado ao público em geral, em 2002. C.f em:<< http://muzenza.com.br/2013/795/>>

fundamentação são autorizadas pelas concepções dos velhos mestres de capoeira. Quanto ao acréscimo de outros elementos que são incorporados, esses são autorizados pelo ou pelos mestres fundador(es) da escola de capoeira que desenvolve.

Nesse sentido, o acréscimo de elementos que foram autorizados a fazer parte da fundamentação da capoeira do Grupo Muzenza passa por avaliação técnico-estética de modo a não ferirem os fundamentos basilares da capoeira a qual o grupo é filiado. E o GMC prima que é preciso respeitar a tradição dos velhos mestres de capoeira, que estruturaram a capoeira que hoje comumente se joga em qualquer roda de capoeira. No caso do jogo da capoeira, por mais que se tenha pré-estabelecido convenções matriciais pela fundamentação exigida pelo tipo de jogo, ocorrerão situações de jogada uma diferente da outra, como já foi explicado anteriormente, quando falamos de ação e atitude regidas pelo sistema de equilíbrio.

Assim, por mais que as situações de jogadas sejam semelhantes no jogo da capoeira ao vivo, elas vão possuir referências de arranjos que serão rearranjados para aquela situação peculiar e singular, propriamente dita, na ação do jogo. Assim, o jogo na roda de capoeira é um potente espaço do movimento criador. Enfim, é no jogo mesmo, na roda, que o corpo-jogador vai dá o ethos do jogo dele, ou representar o jogo do seu grupo ou escola de capoeira, caracterizando limites e formas, mas atualizando-se sempre, pois cada jogo é um jogo, por isso é um jogo em jogo.

Ora que tempo tem... ora se tem tu vens...!

“[...] o como cria um onde e um ser: um espaço significativo; “o espaço físico, como o biológico é uma propriedade dos acontecimentos, só é concebível em função daquilo que, ao

acontecer, ‘produz’ o espaço” (José Gaiarsa) 262.

As rodas de capoeira da Praça da República desde quando conheço o GMC, observo que de alguma maneira a pessoa que participa delas não sae delas da mesma forma. Mas o que existe nelas? Hoje, está mais claro perceber alguns caminhos para apontar algumas respostas. E o que existe nela produz mudanças junto aos participantes que vivenciam a roda do GMC. E isso se dá a partir dos efeitos provocados pela estética e a

262 C.f em GAIARSA, José A. A Engrenagem e a Flor. Ed. Ícone, São Paulo, 1992, 4ª edição. [p. 41 – grifo do autor];

Figura 09 - Roda de Capoeira do GMC na Praça da República, 2011.

Fonte: arquivo pessoal de Sant’Clayr Solano, Belém-Pará.

técnica que são produzidos pelos capoeiristas durante a roda nas apresentações em Praça pública. Dentre o que produzem tem a ver com o vestuário, a organização da roda, as simulações de luta, as acrobacias, a festividade da roda, etc.

Para melhor entendimento contarei minha história. Em outubro de 1998, num dia de domingo, fui passear à Praça da República, em Belém. Minha intenção maior era presenciar os jogos de capoeira, pois haviam me contado que no domingo existiam várias rodas de capoeira, de vários grupos da cidade. Assim, o passeio a praça, uma das intenções era de encontrar com a capoeira e me filiar a ela por algum grupo em Belém do Pará. Na época havia muitos grupos na Região Metropolitana de Belém que se fundamentavam na mesma linha de capoeira que eu desejava praticar: mistura da primitiva com a estilizada.

Repentinamente na praça avistei um aglomerado de pessoas por volta das dez horas da manhã. Ouvi uma composição sonora envolvente e familiar, a qual fez latejar um calor ardente em meu corpo. Ardia... e levantava ao mesmo tempo uma pressão de ar que comprimia a um sopro, pressionando meu estômago. Essa sensação fez aquecer minhas orelhas, fazendo ficar mais ofegante minha respiração.

Além disso, ouvia o pulsar em meu peito e ondulações aparentes nas batidas que marcavam um encontro com as propriedades dos acontecimentos do passado, presente e do futuro, que se intercruzavam concebendo o que estava acontecendo e a acontecer... No evento que me aguardava tentava manter o equilíbrio e puxava o ar para retomar a sobriedade e normalizar-me emocional e organicamente...

Mas ali paralisado estava. Como já se sabe que o movimento ou a sustentação do corpo só é possível por meio da síntese de forças contrárias tive esta experiência paralisado pela reação que o som produziu em mim, pois trazia afetos provocando sensações e imagens...por outro lado, produzia uma força que tracionava como uma catapulta, pronto para ser disparado. Eram forças contrárias mesmo.

Então, me veio a atitude quase consciente de organizar aquela situação, o que me provocou paralisia e me induziu ao chamado. Assim, quando percebi já havia sido transportado da paralisia, pois quando recobrei os sentidos já estava perto de um aglomerado de pessoas que perfilavam uma circunferência, juntamente com uma orquestra de instrumentos.

Tinha chegado ao local onde se encontrava a fonte sonora que havia me chamado. Percebi que havia saído desesperadamente de onde estava rumo ao local que saía o som e que estava o aglomerado de pessoas. Fui aproximando-me do aglomerado para saber do que se tratava aquele evento.

Vi pessoas vestidas de branco com uma espécie de cinto (corda), o qual amarrava ou adornava a calça e variava de cor. E sobre a calça branca do lado da perna, que corresponde o local onde o coração bate mais forte, havia uma marca que ao tom de suas cores e forma impactava. Parecia um escudo representando um clã. Contudo, o escudo encontrava-se na camisa branca, na região do peito e na costa. Sua representação visual descrevia um escudo circular com duas cores fortes: o preto e o vermelho, respectivamente, significando a força do negro e a potência efervescente da vida. Havia um nome em outro dialeto escrito sobre esse escudo: Muzenza.

Esses signos e essas imagens e sensações impulsionaram-me a buscar mais sobre o que estava apresentando-se. Então, agreguei-me aos perfilados do círculo. No entanto, de repente, senti invadir-me um calor inesperado e uma onda de energia, agora causando um arrepio na coluna. Era porque via corpos que transpiravam se contorcendo, subindo e descendo, girando, saltando e se equilibrando em posturas e movimentos que aos meus olhos eram novidades.

Neste instante senti-me como uma criança que estava pela primeira vez ao um gigantesco parque de diversões. As composições corporais que desenhavam eram bem feitas. Nossa! Não era brincadeira, mas era! Produziam artefatos artísticos com o corpo. A novidade que via nesses artefatos era apresentada a partir de formas simples e básicas de composições de movimentos de meu conhecimento a formas para além dessas. Eram muitas variações diferentes, algumas até estilizadas demais. Pareciam formas de alta complexidade, como as da ginástica artística ou as da ginástica olímpica. E a forma que aqueles capoeiristas apresentavam- se impressionou-me por sua estética misturada com uma técnica mais elaborada e eficiente.

Enfim, quantas coisas pude ver e sentir ao mesmo tempo, ali naquela roda com aqueles capoeiristas! Assim, decidi que queria aprender a fazer tudo o que eles faziam, entender o que era aquilo tudo, e mais, queria sentir estas sensações e imagens... e o arrepio mais vezes! Acredite, “se tempo tem dado a oportunidade com a capoeira, eu decidir ir... e se na Muzenza tem capoeira boa, pra ela eu fui. E realmente ela tem...!” 263

Desde a 1ª seção venho explanando sobre o grupo Muzenza. Começo a abordar parte de sua história como acontecimento no Pará. No entanto, é importante destacar ainda que o GMC surgiu na “Cidade Maravilhosa” do Rio de Janeiro, mas se consolidou na cidade de Curitiba (PR). O Grupo Muzenza de Capoeira foi fundado em 5 de maio de 1972, tendo como

seu fundador Paulo Sérgio da Silva (Mestre Paulão), oriundo do grupo Capoarte de Obaluaê, do Mestre Mintirinha (Luís Américo da Silva).

Em outubro de 1975 chega a Curitiba por meio de Mestre Burguês (Antônio Carlos de Menezes), que depois de lecionar nos bairros do Méier e Madureira, no Rio de Janeiro, decide fundar mais um núcleo do Grupo Muzenza no Sul do Brasil, implantando e desenvolvendo uma metodologia e uma filosofia própria, voltada para as raízes da capoeira. Esse trabalho resultou na introdução da capoeira em clubes, quartéis, escolas, academias, comunidades carentes e