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I VADIAÇÃO CAPOEIRA NO TEMPO É COMO ÁGUA QUE CORRE ENTRE PEDRAS: LIBERDADE CAÇA JEITO

A seção que segue contextualizará sublinhados acontecimentos do percurso temporal com relação ao movimento que a capoeira arranjou (deu “jeito”) para permanecer, se manter, acontecer, disfarçar e atualizar diante das “pedras” (circunstâncias, necessidades eventuais do contexto em que esteve inserida) no fluxo do tempo.

1.3 ACONTECIMENTOS SUBLINHADOS DA CAPOEIRAGEM NOS ESPAÇOS

DO TEMPO

Os estudos da capoeira produzidos pela academia detêm de uma produção científica considerável de estudos e apontam novas perspectivas e esclarecimentos sobre diversos aspectos da capoeira, sejam sociológicos, antropológicos, históricos, dentre outros campos. Desse modo, não pretenderei aqui aprofundar o tema da história da capoeira ou da capoeiragem no que diz respeito ao seu surgimento até a atualidade. A pretensão é fazer um apanhado sobre a história da capoeira, sublinhando acontecimentos que sirvam de informações prévias para ajudar na compreensão da capoeira do Grupo Muzenza, se esse for o caso.

O jogo orientado para o prazer, o qual envolve o corpo, faz desfrutá-lo em perspectivas e dimensões mais livres e criativas junto ao fluxo do movimento dos acontecimentos que levam a contemplação de instantes efêmeros (de pouca duração) e que podem ser até eternos no cenário dos acontecimentos da capoeira e do capoeirista.

Nesse sentido, do ponto de vista deleuziano, o acontecimento “é inseparavelmente o sentido das frases e o devir do mundo; é o que, do mundo, deixa-se envolver na linguagem e permite que funcione. Assim, o conceito de acontecimento é exposto numa lógica do sentido”80. Desse modo, Deleuze frisa que não se questionará qual o sentido de um acontecimento e sim dirá que “o acontecimento é o próprio sentido”81 e que “pertence essencialmente à linguagem, mantém uma relação essencial com a linguagem; mas a linguagem é o que se diz das coisas”82.

Assim, vamos as literaturas e as fontes orais (re)construir alguns acontecimentos da história da capoeiragem com sentido relevante a este estudo. Ao tratar relacionando os tempos83:

80 (ZOURABICHVILI, 2004, p. 7) 81 (IDEM, p. 6)

82 (IDEM)

83 O curso não necessariamente seguirá a lógica cronológica. Terá apontamentos de instantes que se atravessam numa temporalidade (ora seguindo ideias do tempo ante/depois, sem presente, ora o presente organizando acontecimentos mortos do passado e do futuro).

histórico, do jogo e do diálogo gestual, poético e artístico que é tramado pelos acontecimentos do jogo da capoeira.

Santos84 diz que tudo começa com o conhecimento do mundo e amplia-se com o conhecimento do lugar, tarefa conjunta que é hoje tanto mais possível porque cada lugar é o mundo. É daí que advém uma possibilidade de ação. Assim, o mundo da capoeira ou capoeiragem e seu jogo pode e deve ser um meio extremamente intenso para desenvolver/formar lugares e comportamentos que podem ir além do jogo, para a vida85 ou da vida para o jogo no decurso dos acontecimentos.

Dessa forma, no fluxo dessa ideia do surgimento ao desenvolvimento da capoeira utilizada como luta de defesa para resistir ao processo de escravidão colonial, nos confrontos, nas fugas das senzalas; depois, nos quilombos e logo após a abolição da escravatura nos tempos da República – do campo para a cidade –, o jogo se fez presente, pontualmente, em manifestações lúdicas, festivas ou entre a luta de negros libertos e mulatos que a utilizavam como instrumento para fins ilícitos e como estratégia para manipulação no contexto político. Nessa dinâmica urbana foram criadas algumas organizações sociais, dentre as quais os grupos formados de capoeiras (as maltas86 de capoeira).

O tempo da capoeira marginalizada, retratada nos livros de história indicam que após a Abolição da Escravatura, em 1888, há um fato importante: os ex-escravos começam a deslocar-se para os centros urbanos das grandes cidades e passam a usar a capoeira em confusões de comícios eleitorais, como serviço de guarda-costas senhorial e de políticos. E ainda usam a capoeira nos conflitos entre grupos (em guerra de gangues, os maltas de capoeiras), como recurso para assaltarem, como um meio de ganhar a vida por conta da reconfiguração trabalhista que estava ocorrendo. No ano de 1890 a capoeiragem passa a ser proibida em todo o território nacional. Ela é praticada às escondidas e noturnamente e vai resistindo até ao ponto de ser quase contida ou extinta por conta da atuação das maltas de capoeiras.87

84 SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e o meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. [pp. 116-117];

85 (SOLER, 2005)

86 Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principalmente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura, entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas: os Nagoas e os Guaiamús. (ARAÚJO, 1997; CAPOEIRA, 2000)

Sabe-se que os capoeiras das maltas introduziram o uso de armas, notadamente a navalha, que era utilizada posicionada entre os dedos dos pés, ou presa a um cordão, sendo essa técnica conhecida como “navalha voadora”. A navalha foi trazida pelos portugueses conhecidos como “lisboetas”, portugueses que em sua terra natal tinham as mais variadas funções, tais como: açougueiros, barbeiros, artesãos ou até mesmo meliantes. Expulsos para a colônia, uma vez no Brasil entraram em contato com a malandragem em geral e assim trocaram conhecimentos com a capoeira pelo manuseio da navalha e até mesmo da bengala, comumente usada por muitos valentões que diziam que uma bengalada desmaiava e duas matavam88.

Devido a violência, a criminalidade e as maltas, os capoeiras foram duramente reprimidos pelo Estado até a quase extinção da capoeira no Rio de Janeiro. Apesar dos capoeiras terem um papel heróico na Revolta dos Mercenários, em 1828, e na Guerra do Paraguai, em 1860, o Governo Republicano, instaurado em 1889, continuou a política de repressão à capoeira do período imperial, deportando os capoeiras considerados criminosos para o Arquipélago de Fernando de Noronha. No ano seguinte, editou-se o Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890, criminalizando a prática da capoeira89.

Com o processo de erradicação da capoeira do cenário brasileiro, como prática que prejudicava a paz dos cidadãos, o jogo/luta brasileira consolidava-se como atividade de criminosos e vagabundos, a capoeira virou sinônimo de marginal. Contudo, sendo nas suas origens uma atividade camaleônica, encontrou estratégias para sobreviver e vir com uma nova pele, com outras cores.

Note-se em seguida que do final da República ao Estado Novo (Brasil, 1937-1945) a capoeira passou a se movimentar cautelosamente, potencializando habilidades e destrezas dentro de uma linguagem que se desenvolveu até conquistar uma forma folclórica de jogo, como estratégia para não permitir sua extinção. Em vista disto, passou de uma luta praticada por arruaceiros e marginais a busca de uma nova roupagem que lhe permitisse apresentar-se como uma prática “cultural folclórica”90, uma maneira de jogar o jogo com a resiliência dos jogadores inteligentemente treinados em corpo e mente; pois num contexto hostil (por conta da extinção) devem-se buscar meios que camuflem, iludam e que deem ao olho que olha uma visão que seja dócil, que não traga perigo à dinâmica do jogo que se instaura.

88 (Rego (1986), Araújo(1997), Capoeira(2000), Soares(2004)) 89 (IDEM)

Dito processo foi facilitado em virtude da valorização folclórica e por conta da ideologia nacionalista característica da década de 30, que permitiu a capoeira dar uma virada no jogo. Passando a ser considerada pelo governo de Vargas como a ginástica brasileira.

Em consequência desses fatores políticos-culturais da época, a capoeira assumiu um lugar privilegiado, lugar o qual iria lhe proteger de ser alvo de extinção; lugar que proporcionou ampla divulgação e difusão e, ainda, a revestiu de uma nova pele camaleônica, que a realçavam como atividade de benéfico saudável. Dando um importante lugar no âmbito do desporto.91 Começa, então, o processo de desportização da capoeira.

A capoeira é um elemento importante da história e da cultura do Brasil, e sofreu influências não só das mudanças institucionais, principalmente no âmbito esportivo, mas social, advinda da modernidade que modificou o cenário brasileiro no século XX, afetando as camadas populares e consequentemente as suas manifestações, hábitos e cultura.

E isso vai gerar a mudança dos conceitos sobre ela, resumidamente como uma prática lícita, esportiva; que joga/dança/luta e, ao mesmo tempo, como vivência folclórica, lúdica, festiva, competitiva, artística, etc. Assim, a potência da capoeira-luta é adaptada ao contexto do desporto e sua prática é potencializada como jogo, que incorpora atenuando a tríade luta/dança/jogo92, potencias que estão contidas na multiplicidade da capoeira e que atualmente está sendo praticada em quase o mundo todo.

Atualmente ela é praticada em vários países e vem conquistando cada vez mais espaço e abordagens no meio acadêmico, sendo considerável crescimento de pesquisas relativas a esta arte-luta. Não obstante, essas produções científicas ainda são poucas diante da vastidão de seu potencial para o esporte e arte brasileira e, principalmente, do seu intrínseco relacionamento com a história e a cultura do Brasil. A capoeira, de origem brasileira, atualmente incentivada, protegida e amparada por lei federal, é considerada uma das práticas esportivas mais complexas e completas da humanidade93. Desta feita, o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – em 2008, a reconheceu como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através do registro das Rodas de Capoeira no Livro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro dos Saberes, e certamente o seu próximo passo é ser candidata a patrimônio da humanidade.

Sublinhados acontecimentos a partir do Grupo Muzenza de Capoeira

91 (Capoeira (2000), Campos (2004), Araújo (1997))

92 (REGO (1986); SALLES (2004), REIS (2000), ARAÚJO (1997), SOARES (2004)) 93 (C.f. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988)

Os elementos constitutivos que o jogo apresenta para o grupo que o vivencia, como sentimentos e ações fisiológicas e psicológicas. Ajudam a evidenciar a vida, a história, as memórias, os esquecimentos e acontecimentos que jogam na/com a capoeira e o Grupo Muzenza através de tramas, as quais se construiu a teia textual que teremos a seguir. Tramas que elaboram conexões diante dos momentos e instantes que surgiram da colheita deste estudo. E o berimbau n´gonga94, que comanda o jogo, inclina-se autorizando o início da jogada. É um jogo de mandinga, sentimentos, manha, expressão e malandragem. E que (re)comece a “vadiação”95.

Cada instante de tempo é um portal para possibilidades ilimitadas. No entanto, se o indivíduo não estiver aberto a percebe-las, possivelmente acabará restringindo-se a julgar tudo através de um campo visual limitado. Princípio que ajudou a nortear o presente estudo, visualizando o amplo leque de possibilidades que em soma provocaram mudanças96 e modificações reflexivas em mim e em quem participou desta investigação. Uma pesquisa que sobre a luz dos Estudos da Performance caracterizou como evento ao vivo elencado a partir da etnografia junto aos sujeitos capoeiristas participante deste estudo.

A este respeito cabe destacar que a alteração percebida no campo sensorial por causa dos acontecimentos deste jogo (estudo) sinalizou o envolvimento e um estado de alteração dos que participaram das várias vivências com a capoeira. Acontecimentos que serão apontados no decurso da dissertação, além disso, haverá possibilidades através deste, a portais para perceber visões simplistas e contraponto a outras mais aprofundadas que registrem em sua discordância a contribuição de maneira singular e generosa para o campo do conhecimento cientifico.

É essencial destacar que o jogo que se instaurou a partir deste estudo requereu um tempo de percepção e atenção para observar visões de mundo expressas também nos silêncios nas pausas, negações e contradições que, antes que tentar restringir nossa visão, de algum modo, nos ajudam a compreender as entre linhas de situações que não são da realidade ou, simplesmente, servem para camuflar ou silenciar, de fato, partes de um universo de discordâncias entre os fazedores da capoeira, como acontece em muitas outras pesquisas etnográficas.

94 N´gonga (do dialeto africano, Quibundo) – é um berimbau de som grave, que comanda a roda e possui o mando na percussão; é o berimbau que rege o tipo de jogo que se vai jogar e autoriza os jogadores a jogar ou a parar de jogar. Ele fica na condução do mais graduado (na hierarquia da capoeira), que é geralmente, o mestre;

95Para esta seção se iniciará a “vadiação”, será jogar com a capoeira ou capoeiragem nos instantes/momento que ela provocou na história e nas memorias dos capoeiras ou da capoeira.

Outro fato importante a ser mantido no pensamento no percurso da leitura deste trabalho, é que a capoeira disponível para apreciar ou vivenciá-la a partir do(s) jogo(s) pode ser compreendida como acontecimento performático97. Nesses termos, a capoeira pode criar no jogo possibilidades envolventes98 que de alguma forma ecoam nos sentidos, deixando-os alterados – abertos, atentos e produzindo sensações de micro mudanças no instante presente do acontecimento.

Uma trama surge a partir do jogo da capoeira e do GMC não para ser apenas olhada, mas também para ser vista nos instantes das memórias e dos/em territórios da capoeiragem. Os acontecimentos que se deram durante a etnografia deste estudo chegavam ao exercício do pensamento, muitas vezes, em campo fizeram-me encontrar com acelerações bruscas, associações inusitadas, lentidões, vertigens... que foram todo o contrário de uma impassível “reflexão sobre” o mundo, seja a partir de uma razão idealizada, de um bom senso ou de um consenso qualquer que nos conecta aos acontecimentos que (re)significam no presente. Nesses termos, estou referindo-me inicialmente ao tempo histórico que revela a capoeiragem, tal como ela se constitui, e não como muitas vezes é escrita nos livros.

O rio histórico da capoeira é pautado a construir uma análise que relacione o tempo histórico passado e o tempo presente. Nesse sentido, pensar sobre o tempo é como um exercício dialético interessante para a vida, para a compreensão de lugar e do instante presente. A professora e publicitária Tatiana Silva99 comenta que o

[...] tempo, da mesma maneira que se dá a ver, por ser medido e observável pela própria sucessão entre dias e noites, estações do ano, horas, é também interiormente apreendido. Da mesma forma, quando falamos em memória, dizemos de um tempo passado delicadamente interiorizado. 100

Assim, os tempos (presente, passado, futuro) contidos ou representados num só tempo, como “pontes-encruzilhadas” de tempos que vão sinalizando os fluxos em suas imagens ampliadas e/ou compactadas que nos descreverão memórias dos acontecimentos que se instauram no tempo da capoeiragem e em especial do GMC.

Por outro lado, o tempo e os seus mistérios, seus limites, traços, fugas e potencialidades são pontos complexos de se lidar, de se pensar. É prazeroso até tocá-los. Assim, no que condiz

97 (SCHECHNER, 2003)

98 C.f o texto da Introdução desta dissertação.

99 Mestra em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Desenvolveu pesquisa sobre corpo e espaço através das narrativas urbanas. Também é publicitária formada pela Universidade de Fortaleza (Ceará-Brasil) e foi professora na Universidade Vale do Acaraú.

ao tempo histórico da capoeira, Mestre Paraná101 expressa no trecho de sua música: “capoeira se faz com tempo, e esse tempo vai demorar e vai crescendo e treinando pro seu corpo (na totalidade) aprimorar”102.

Por falar em aprimorar...com o surgimento da fotografia houve uma grande revolução, um tremendo espanto, pois o que a fotografia podia produzir provocava a ideia, como se tudo não passasse de alegoria. Assim, no período do surgimento da foto, o evento tornou-se um acontecimento de mágica em que o público apreciava a demonstração da mais revolucionária máquina de todos os tempos. Por outro lado, quem diria que esse número de mágica e o uso incorreto103 deste não fosse provocar consequências imprevisíveis e significativas para as gerações vindouras.

Em outras palavras, naquele instante que surgia a fotografia as pessoas testemunhavam que era “aprisionado numa folha de papel, um fragmento do tempo, um instante preservado, que não se perdeu como se perdem todos os instantes”104. Hoje, é inválido pensar que o uso incorreto do acontecimento daquele número mágico da fotografia surtiria o efeito impactante que surte em nossa geração. Temos a possibilidade de registar os vários momentos dos acontecimentos de nossa história, de um nascimento de uma criança, eventos celebrativos e festivos, à morte de uma pessoa, etc. Realmente quem poderia imaginar que se tornaria imprescindível e muito significativo para uma geração vindoura?

Nesse sentido, muitas coisas sobre a capoeira perderam-se no curso do tempo por conta da possibilidade de registro dos seus acontecimentos. Na pesquisa, pude verificar que foram perdidos muitos registros da história do Grupo Muzenza de Belém do Pará, pois na época compreendida entre os anos finais da década de 90 até meados de 2006 – foram realizados registros a partir da fotografia analógica, as quais com o tempo foram desaparecendo das mãos dos capoeiristas porque se extraviou, criou umidade ou a traça consumiu.

Além da fotografia, verifiquei que o GMC realizou registros através dos vídeos gravados em fitas VHS. Contudo, esse registro passou por semelhantes situações que os registros fotográficos – o desaparecimento com os capoeiristas, o problema de mofar a fita por

101 Oswaldo Lisboa dos Santos - baiano, foi um excelente carpinteiro e um fantástico tocador de berimbau. Foi um dos que desenvolveu uma das grandes Escola de Capoeira no Rio de Janeiro, de onde saiu Mestre Mintirinha, que foi mestre do Mestre Paulão, e Mestre Paulão é mestre de Mestre Burguês – presidente e fundador do Grupo Muzenza de Capoeira.

102 Música gravada pelo GMC – ver o volume.

103 Quando refiro “uso incorreto” quer dizer que o número de mágica que registrava a imagem naquele evento pontual, como um espetáculo. Foi colocado a realizar em outro contexto, em outra situação o registro da imagem, não com o objetivo de magia. Mas outros...

conta da umidade. Também o desuso do vídeo cassete, sendo substituído para DVD, contribui para muitas perdas de registros. Alguns vídeos em VHS foram transformados para a mídia em DVD, mas foram poucos. Esse conjunto de fatores comprometeu de certo modo, o levantamento de imagens históricas e tornou o depoimento dos capoeiristas mais antigos, fontes de pesquisa de primeira importância para (re)construir memórias sobre a história do GMC.

Figura 01105- GMC após o término da Roda da Praça da República, em 2000

Fonte: arquivo pessoal de Fabricio Araújo, Belém-Pará, 2000.

Penso que são mágicos os instantes que se instauram em uma imagem fotográfica, eles vêm carregados de um antes e um depois da hora do click! E com sua exibição nos ajuda a lembrar de episódios significativos dos acontecimentos ali representados.

A imagem conta história. Reconstitui acontecimentos. Então, dando um salto mortal da fotografia ao cinema, observando a imagem videografica pude refletir ao assistir imagens de um filme criando relações com o acontecimento histórico da capoeira do passado para o presente. E o filme Besouro106 produzido em 2009 ajudou-me a refletir como os tempos históricos e fictícios da capoeira da época de Besouro e o da atualidade podem ser observados. A capoeira da época de Besouro era para festejar, jogar, brincar e também ocultava a arma corporal que era proibida. Época que tentavam conter e exterminar a capoeira. Hoje, se festeja, joga e brinca na capoeira, mas o uso da arma corporal é raramente utilizado, a não ser nos

105 Alguns dos integrantes do Grupo Muzenza de Capoeira, dos polos de Belém, Ananindeua, Castanhal e Igarapé- Açu; uma das poucos fotos que se tem registro após a tradicional roda da Praça da República que o Grupo realizava. Data o ano 2000. Acervo pessoal de um ex-integrante do Grupo, que se afastou do convívio do GMC: Fabricio Gomes de Araújo, mora em Castanhal. Ressaltar que nem o grupo de Belém é detentor desta foto.

106 Besouro é um filme brasileiro que conta a vida de Besouro Mangangá (Ailton Carmo), um capoeirista brasileiro da década de 1920, a quem eram atribuídos feitos heroicos e lendários. O filme estreou nos cinemas do Brasil no dia 30 de outubro de 2009. Foi dirigido por João Daniel Tikhomiroff. (Fonte:<< http://pt.wikipedia.org/wiki/Besouro_(filme)>>).

ringues de MMA107. E quanto a contê-la e exterminá-la, hoje, ocorre o contrário, há a intenção de expandi-la e mantê-la sempre viva.

O filme Besouro mostra que a capoeira foi resiliente, percorrendo e caçando jeitos para permanecer nos contextos de repressão e “permissão” com que se dispunha. Desta feita, foi