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A empresa “Folha” foi fundada no ano de 1921, pelos então sócios: Olival Costa, Pedro Cunha, Léo Vaz, Mariano Costa e Artêmio Figueiredo. À época, Olival e Pedro Cunha dividiam a liderança desse primeiro grupo, responsável pela direção.

Olívio Olavo de Olival Costa participou não só da criação da Folha da Noite (1921), como da Folha da Manhã (1925), chegando em 1930 a dirigir sozinho os dois jornais. Esteve na direção da empresa, que fundou, até 1931, um ano antes de sua morte, ocorrida a 13 de dezembro de 1932, aos 65 anos de idade.

A vida de Olival Costa, um autodidata, ilustra com nitidez o sentido inicial da empresa que ajudara a montar. Sua personalidade marcante bem como a concepção de jornalismo, de política e de cultura definiram o perfil do novo periódico, nesse fim da primeira república. (MOTA; CAPELATO, 1981, p13).

No ano de 1925, Costa e Cunha se tornaram os únicos sócios da empresa e, no mês de junho de 1925, decidiram fundar mais um periódico. Folha da Noite e Folha da Tarde já circulavam pelas ruas da cidade de São Paulo quando foi dado o início das distribuições do periódico denominado Folha da Manhã.

Olival Costa tinha um conceito muito bem definido e claro de como deveria ser um jornal. Em sua concepção, ele deveria, acima de tudo, ser informativo.

Um jornal não é uma poliantéia. Quem quer literatura busca-a nos livros. A função do jornal é informar. Mas informar não é apenas noticiar: é, a um tempo, selecionar e orientar. No esforço de selecionar se acha subentendida a obrigação de criticar (PATI, Francisco, apud MOTA; CAPELATO, 1981, p15).

No ano de 1930, o caráter da “Folha”, definido desde sua fundação, sofrera consideráveis alterações. Os princípios por ele defendidos deram lugar a outros. Definidamente reformista, a empresa passou a assumir uma posição contrária ao movimento, tornando-se a favor das causas das oligarquias paulistanas. A ação fez parte da chamada “Revolução dos 30”.

São Paulo foi a grande preocupação jornalística de Olival Costa. Doía-lhe ver o descaminho por onde se arrastavam os nossos costumes políticos. Suas simpatias se voltaram sempre, nas horas de inquietação e tumulto, para o lado dos que nos prometiam melhores dias, mas em chegado a campanha da “Aliança Liberal” tendo à frente, em Minas Gerais, o sr. Antônio Carlos e o sr. Getúlio Vargas no Rio Grande do Sul, teve, a bem dizer, uma visão profética dos fatos. No fundo daquele namoro da “Aliança liberal” com a opinião pública paulista, viu claro a hostilidade de um grupo de políticos de outros Estados contra a posição, a importância e o prestígio de São Paulo na República.

Ficou, então, ao lado de São Paulo, contra a aliança de mineiros, paraibanos e gaúchos (PATI, Francisco, apud MOTA; CAPELATO, 1981, p. 20).

Ao analisarmos, é bastante perceptível que, nesse período inicial, a “Folha” buscou ser a ligação entre o “povo”, na concepção de Olival, e o governo. As edições dos periódicos focavam em temas urbanos e de agrado dos populares.

É possível afirmar por subsequência que as publicações feitas nos periódicos pertencentes à empresa “Folha”, nessa época, expunham com nitidez o posicionamento e o perfil do jornal de São Paulo, uma vez que nele se aglutinavam os temas de maior interesse ao povo.

Em suma, o jornal, à essa época, buscava exigir melhorias à classe trabalhadora e exercer uma função que, hoje, se assemelha muito com o trabalho desempenhado pelo Ministério Público do Trabalho.

Através dessas campanhas, a “Folha” procurava sensibilizar, por um lado, os setores de classe média: exigindo por outro lado, que o Estado se incumbisse de providenciar habitações condignas para os operários, a melhoria dos transportes urbanos, o direito a férias, a ampliação da rede escolar, o combate aos cortiços (focos de tuberculose e outras doenças), as estações de repouso e cura, a fundação de hospitais, maternidades, creches e postos de saúde e assistência à infância, a fiscalização e regulamentação do trabalho de menores nas fábricas. Além disso, o jornal era portador de uma visão urbanística modernizadora, preocupado com o alargamento das ruas e avenidas, além de implementação de obras de infra-estrutua como água, luz e esgotos. (MOTA; CAPELATO, 1981, p. 24)

Entre os anos de 1931 a 1945, as ainda denominadas “Folhas” passaram a caracterizarem-se como jornais lavouras. A rotulação pode ser explicada pelo fato de que após a Revolução de 1930 e o apoio político malsucedido da empresa, a redação dos periódicos acabou sendo invadida e depredada. À época, as redações da “Gazeta” e do “Correio Paulistano” também sofreram o empastelamento.

O ocorrido fez com que, logo depois, o grupo de Octaviano Alves de Lima comprasse os jornais “Folha da Manhã” e “Folha da Noite”.

Esse investimento, um tanto quanto perigos, era a forma do grupo supracitado, composto por homens ligados à lavoura; dirigir um jornal que tratasse exclusivamente de seus interesses latifundiários.

Como ideologias descabidas, Octaviano Alves de Lima, que era cafeicultor; acreditava que a Revolução de 1930 abrira oportunidades para que fosse implantado um projeto político que, em sua visão, era inovador e que os lavradores do Estado de São Paulo deviam ter participação. A ideia de um sistema político independente, que se assemelhava em grade parte à extinta monarquia.

Em síntese, a época que Alves de Lima manteve-se no cargo de presidente da empresa responsável pelos jornais “Folha”, a natureza considerada romântica, construída por Olival, esvaiu-se.

O jornal tornou-se, portanto, muito mais empresarial do que jamais fora. O conteúdo voltado para a burguesia de São Paulo era extremamente capitalista e industrial; voltado para a temática e interesses agrários.

Analisemos, então, a fase percorrida exposta acima. Segundo dados oferecidos pela OIT, a maior concentração de trabalhadores em situação análoga a de escravos é encontrada justamente nos serviços de ordem campestre. Nas fazendas de manejo de animais e plantação, o número de resgates é expressivo. Lembremos, portanto, desta época ao analisarmos o resultado de nossa pesquisa.

Folha Hoje

Segundo a Métrica Única de Audiência, lançada em 2016 pela AJN (Associação Nacional de Jornais), a Folha de São Paulo é o jornal de maior alcance no Brasil. A audiência da Folha é de 20,2 milhões de brasileiros, na média mensal, que acessam o conteúdo não só através do jornal impresso, mas também na internet, pelos smartphones e computadores. Este número, à época, correspondia a um quinto dos usuários de internet no país e a um décimo da população do país.

Também de acordo com a pesquisa, a Folha tem audiência 41% maior que a dos concorrentes diretos "O Globo", que atinge 14,3 milhões, e 91% e do também periódico "O Estado de S. Paulo", com 10,6 milhões. O jornal também supera os veículos das categorias popular e esportiva.

A Folha De São Paulo e a cobertura do trabalho escravo no Brasil

A análise dos jornais para a obtenção de características e informações dos mesmos é prática costumeira no curso de graduação em jornalismo de diversas faculdades. Os estudos de conteúdos elaborados pela imprensa impressa são base para elaboração de materiais produzidos nas grandes universidades Brasileiras. Um exemplo desse caso são os jornais experimentais, como o Zero, produzido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Lampião, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop); elaborados pelos discentes na matéria da grade curricular comumente denominada Jornal Laboratório.

Além da carga teórica e prática absorvida durante os anos de faculdade, aprendemos também a analisar o referido tema trazido como objeto de estudo desta monografia no desempenho das funções realizadas no Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso, órgão no qual estagiamos durante os últimos 14 meses e onde surgiu a grata oportunidade de, não só estar em contato direto com o tema aqui abordado, mas também por intermédio dele, juntamente com a graduação, obter o engrandecimento profissional e a adição e prática de assuntos discutidos todas as manhãs, durante os quatro anos que passamos na Universidade Federal de Mato Grosso, formando então os jornalistas responsáveis pelo desenvolvimento desta monografia.

Este trabalho de conclusão de curso é uma monografia sobre a análise da imparcialidade das notícias que abordam a temática do trabalho escravo contemporâneo no Brasil e que foram publicadas em diversas edições da Folha de São Paulo; sendo o jornal objeto de recorde de acesso de leitores no âmbito nacional. Estão reunidas neste trabalho as notícias publicadas e distribuídas do dia 09 ao dia 23 de outubro do ano de 2017 e tem como objetivo mostrar, por meio das análises feitas, o posicionamento e a informação, ou falta dela, repassadas aos leitores por intermédio de um jornal de grande circulação.

Usaremos para a execução deste trabalho de conclusão de curso o método de raciocínio dedutivo. Partiremos da premissa de que todos os periódicos analisados publicam notícias sobre a temática definida e neste trabalho mencionada, e que todos eles são imparciais. A partir desse ponto, daremos andamento à pesquisa para definir a questão levantada.

O exemplo clássico de lógica dedutiva é o silogismo familiar: "Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; portanto, Sócrates é mortal." Um pesquisador poderia dar seqüência a este exercício dedutivo testando empiricamente a mortalidade de Sócrates. Esta é essencialmente a abordagem discutida antes como a "perspectiva tradicional ela ciência". A lógica dedutiva é um sistema muito antigo, remontando no mínimo a

Aristóteles, que predominou na filosofia ocidental até os séculos XVI ou XVII. O nascimento da ciência moderna foi marcado pelo surgimento da lógica indutiva em vários contextos científicos. Cada vez mais conclusões gerais derivadas de observações cuidadosas contradiziam os postulados gerais que ancoravam muitos sistemas dedutivos (BABBIE, 2003, p.25)

Com o objetivo de verificar a forma como o jornal Folha de São Paulo noticiou a mudança das leis de fiscalização do trabalho escravo no Brasil, decidimos conhecê-lo a partir da descrição das edições por nós analisadas neste trabalho.

A análise por nós elaborada foi baseada nos títulos e conteúdos das matérias e reportagens publicadas pelo jornal, buscando conhecer particularidades, mencionando-as na descrição, tais como: número de páginas, cadernos, capas e ausência ou presença do tema nelas.

A análise de conteúdo, método por nós usado, auxilia na identificação da frequência com que as expressões trabalho análogo à escravidão e portaria 1.129/2017 utilizadas nas 15 edições selecionadas neste trabalho; relacionando o contexto em que essas palavras foram inseridas e de que forma elas foram usadas, identificando se foram seguidas de elogio, críticas ou utilizadas com neutralidade.

A unidade de registro utilizada para a construção da análise foi o tema trabalho escravo contemporâneo foi escolhida por:

[...] estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc. As respostas a questões abertas, as entrevistas (não directivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo, de inquérito ou de psicoterapia, os protocolos de testes, as reuniões de grupo, os psicodramas, as comunicações de massa, etc., podem ser, e são frequentemente, analisados tendo o tema por base (BARDIN, 1979, p. 131).

A semana corrida foi o método escolhido para a coleta de dados. Ao total, 15 dias foram analisados. Este método foi por nós escolhidos para que percebêssemos de que forma o jornal Folha de São Paulo abordava a temática uma semana antes e uma semana após a assinatura da portaria 1.129/2017.

Para entendimento da temática das notícias, devemos esclarecer que, as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho e sua legalidade estão previstas e resguardadas através da Consolidação das Leis do Trabalho e pela Constituição brasileira, aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em 22 de setembro de 1998 e promulgada em 5 de outubro do mesmo ano. Apesar desse fato, as leis do trabalho são comumente e lamentavelmente ignoradas e desrespeitadas todos os dias.

De acordo com o artigo 149 do Código Penal brasileiro, os fundamentos que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo são: condições degradantes de trabalho, que ferem a dignidade humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais ou que arrisquem a vida do trabalhador; jornadas exaustivas em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que levam o trabalhador a exaustão e acarretam danos à sua saúde; trabalho forçado, mantendo a pessoa no serviço através de cárcere privado, isolamento, ameaças e violências físicas e psicológicas; e servidão por dívida, fazendo o trabalhador contrair ilegalmente um débito, geralmente na venda de produtos alimentícios ou de higiene superfaturados. Os elementos podem vir juntos ou isoladamente.

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