• Nenhum resultado encontrado

3 ANÁLISE DE DISCURSO: ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

4.2 Jornalismo de revista O estilo magazine

É comum ouvirmos uma conhecida expressão que diz “saiu na revista”, como argumento para atestar a validade de um fato ou acontecimento reportado pela mídia e levado aos debates cotidianos da sociedade.

Scalzo (2006) explica essa questão ressaltando que a revista impressa normalmente é reconhecida com certo teor de credibilidade, justamente pelo fato de ser um material impresso, ou seja, tangível e palpável. De acordo com a autora, “[...] o que é impresso, historicamente, parece mais verdadeiro daquilo que não o é”.

Dessa maneira, quando ocorre um fato que mobiliza a população e o mesmo é intensamente coberto pela televisão e pelo rádio, é certo que jornais e revistas venderão mais no dia e semana seguintes. Isso ocorre porque comumente os meios impressos, sobretudo a revista, são tidos como veículos com capacidade de aprofundar, confirmar e explicar os acontecimentos já reportados pelos noticiários de TV e rádio. A revista, em particular, não tem a intenção de falar com todo mundo (como propõem a televisão e os jornais) e também não busca individualizar o leitor (como no caso da Internet). Sua especificidade está no potencial de reafirmar a identidade de grupos de interesses específicos, funcionando até mesmo como meio de acesso a determinados grupos (SCALZO, 2006).

Revista é também um encontro entre um editor e um leitor, um contato que se estabelece, um fio invisível que une um grupo de pessoas e, nesse sentido, ajuda a construir identidade, ou seja, criar identificações, dá sensação de pertencer a um determinado grupo (SCALZO, 2006, p. 12).

Em relação às revistas semanais de informação, classificação em que se enquadram Carta Capital e Veja, Vilas Boas (1996) afirma que elas preenchem os espaços informativos deixados pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão. Especificamente em comparação ao jornal impresso, o autor aponta que, além de notadamente mais sofisticada, a revista também se diferencia substancialmente em outro fator: o texto. No estilo magazine é muito comum o apelo estético da palavra e a exploração de ferramentas gráficas e artísticas quanto aos aspectos de programação visual. Com mais tempo para tratamento analítico dos fatos, as revistas podem produzir textos mais criativos, utilizando recursos estilísticos geralmente incompatíveis com a velocidade do jornalismo diário, e mais aprofundados em termos de cobertura, produzindo reportagens que trazem interpretações dos fatos e acontecimentos sociais. Assim, essas duas características, criatividade e profundidade, tornam-se exatamente

o principal atrativo das revistas, nas quais os leitores buscam uma complementação das informações recebidas de forma objetiva pelo jornalismo diário.

O jornalismo de revista é guiado pelo estilo magazine, no qual não existem regras muito rígidas para a produção dos textos, exceto as determinadas pelos valores ideológicos de cada veículo. A interpretação dos fatos é o que se propõe abertamente no texto de revista. No entanto, essa interpretação deve ser totalmente atrelada às ordens de tempo e espaço, ou seja, o contexto dos acontecimentos. Dessa forma, Vilas Boas (1996, p. 15) considera que “[...] a narrativa de um texto de revista é também um documento histórico”.

Nesse sentido, outra importante característica da revista semanal de informações é seu papel de formadora de opinião declaradamente mais assumido. Para extrair conclusões de um fato ou acontecimento é preciso interpretar as informações coletadas de acordo com um raciocínio lógico e embasado em outras informações. “Assinar um texto é como assinar um cheque: a matéria também tem que ter fundo” (VILAS BOAS, 1996, p. 34).

Segundo Vilas Boas (1996), no âmbito do jornalismo de revista, interpretar é expor ao leitor o quadro completo de uma determinada informação e, de um modo geral, deve ser um trabalho detalhado. Dessa maneira, uma matéria publicada contempla a informação captada, selecionada e analisada pelo jornalista. No entanto, o autor ressalta também que é preciso permitir ao leitor interpretar o texto e não lhe oferecer o conteúdo de forma digerida. “As matérias de uma revista semanal de informações devem oferecer ao leitor discussão e conhecimento, por meio de um texto ágil e bem redigido” (VILAS BOAS, 1996, p. 78).

A intenção é justamente a prática de um jornalismo de maior profundidade, mais documental, interpretativo e, sobretudo, mais opinativo do que o jornal, rádio ou TV. Devido à periodicidade semanal preponderante, as revistas comumente cobrem acontecimentos que ainda estão em evidência na mídia e no debate público, acrescentando informações, opiniões, pesquisas, documentação e exploração textual (VILAS BOAS, 1996).

Também em relação à periodicidade, Scalzo (2006) aponta que as revistas exercem uma função sociocultural mais complexa do que a transmissão de notícias. Segundo a autora, as revistas podem oferecer entretenimento, análise, reflexão, concentração e experiência de leitura.

Nesse sentido, Vilas Boas (1996) destaca uma série de passos normalmente utilizados na elaboração de textos para revistas: enumerar, descrever detalhes, comparar, fazer analogias, criar contrastes, exemplificar, lembrar, ilustrar e dar testemunhalidade. O autor aponta ainda que toda matéria jornalística de revista traz um posicionamento que é primordial ao desenvolvimento do texto. Esse ponto de vista é exatamente a intenção, explícita ou não,

de se propor alguma coisa ao leitor, por meio da interpretação dos desdobramentos de um fato. Dessa maneira, é possível considerar que quando escrevemos transferimos noções de nosso pensamento para o discurso escrito.

Ainda sobre o estilo magazine, é importante destacar que, mesmo pertencentes a um mesmo tipo de estilo jornalístico, diferentes periódicos, por exemplo, Carta Capital e Veja - ambas revistas semanais de informação -, possuem variados estilos de cobertura, caracterizados pela decisão de escolher um elemento dentre inúmeros possíveis. Assim, o estilo de cada revista é determinado por escolhas, seleções e combinações. Desse modo, cada revista tem um estilo próprio, ou seja, um perfil editorial específico e delimitado (VILAS BOAS, 1996).

No entanto, cabe ressaltar que o perfil editorial abrange não somente peculiaridades textuais, mas sim todo o conjunto de normas que define a orientação e posicionamentos ideológicos de um determinado veículo de comunicação. Esse perfil editorial pode ser tratado também como linha ou política editorial (BELTRÃO, 2006).

Nesse sentido, Hernandes (2006) alerta que o processo de edição de uma revista ocorre sempre atrelado à política editorial do periódico, que é constituída pelo conjunto de normas e recomendações que direcionam a atividade jornalística e a construção de textos e discursos. Com isso, a linha editorial de uma revista, além de estabelecer uma identidade à publicação, também estabelece a forma como determinados tipos de acontecimentos devem ser abordados pela cobertura jornalística, sobretudo a cobertura de assuntos políticos que devem corresponder ao posicionamento ideológico do periódico em questão.

Segundo Alsina (2009), cada componente da mídia possui características e limitações que determinam sua produção discursiva, principalmente a existência de conveniências políticas e ideológicas. Dessa forma, a política editorial do meio e seu viés ideológico influenciam diretamente em alguns critérios de seleção de informações e acontecimentos, assim como na produção de seus discursos em torno de determinadas temáticas. Em outras palavras, cada veículo opera de acordo com regimes próprios de discursividades e é nessa condição que podem surgir diferentes efeitos de sentido.

Por seu turno, Fowler (1991) destaca que diferentes revistas reportam de maneira diferente, em conteúdo e apresentação. Nesse sentido, o discurso de uma determinada revista pode relatar seus posicionamentos institucionais, econômicos e políticos.