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3 ANÁLISE DE DISCURSO: ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

4.4 O Partido Verde

No âmbito desta pesquisa, consideramos também como parte do contexto, um breve histórico do Partido Verde no Brasil, salientando os fatores que motivaram sua criação, assim como o fomento de um discurso político voltado para a preocupação com o meio ambiente.

Em decorrência do reconhecimento dos problemas ecológicos, gerados pela ação do próprio homem, a partir dos anos 1960, um discurso ambientalista, a favor da proteção da natureza e conservação dos recursos naturais, começou a ganhar cada vez mais destaque em diferentes setores de nossa sociedade. Mais adiante, a partir dos anos 1970, as preocupações ecológicas foram absorvidas também pelos espaços políticos, ganhando destaque nas campanhas e debates de diferentes partidos. Desde então, a política passou a se apropriar do discurso ecológico. Dessa maneira, a presença do meio ambiente como temática incontornável da política implicou o advento pelo mundo de vários partidos, frequentemente denominados como ‘verdes’, unidos por um mesmo conjunto ético-político e pelo compromisso em praticar uma política voltada à preservação da natureza e ao desenvolvimento sustentável (RABÓCZKAY, 2004).

Em relação ao Partido Verde, o mesmo surgiu como instituição política na Austrália, mais especificamente no Estado da Tasmânia, quando um grupo constituído por ecologistas se reuniu pela primeira vez em 1972, com o objetivo de impedir o transbordamento do Lago Pedder. Após esse encontro inicial, o grupo adotou o nome de Green Party (Partido Verde, em inglês). Da Austrália, o Partido Verde se estendeu para a Nova Zelândia, depois para a

Europa, onde alcançou grande força, e atualmente existe em mais de 120 países (TURTELLI, 2009).

Segundo histórico apresentado no site oficial11 do Partido Verde brasileiro, no Brasil, a primeira tentativa de formação de um partido ecologista foi em 1981 com a ideia do Partido Ecológico, projeto que não foi realizado. Posteriormente, em 1985, um grupo composto por escritores, jornalistas, ecologistas, artistas e também ex-exilados políticos começou a planejar a criação de um partido ambiental. Participavam desse grupo inicial Alfredo Sirkis, Carlos Minc (que depois voltou para o PT), Domingos Fernandes, Fernando Gabeira, Guido Gelli, Herbert Daniel, José Luiz de França Penna, Liszt Vieira, Lucélia Santos, Melo Viana, entre outros. Finalmente, esse partido foi fundado em 1986, na candidatura de Fernando Gabeira para governador do Rio de Janeiro, e oficializado como Partido Verde (PV) em 1987.

Segundo Turtelli (2009), diversos integrantes que contribuíram para constituir o Partido Verde no Brasil passaram, durante o regime militar, por exílio na Europa e, com isso, mantiveram contato com diferentes movimentos ecologistas e alternativos. Por esse motivo, o Partido Verde brasileiro surgiu tendo como fundamentação as tendências ambientais em curso na Europa, em especial, as influências dos verdes da Alemanha Ocidental. A intenção era criar um exemplo de partido “reformista” detentor de ações significativas em relação às questões ecológicas, assim como propostas relacionadas a outras problemáticas e movimentos sociais. Erroneamente, pensava-se que a política verde poderia ser efetivada somente dentro dos partidos de esquerda.

Turtelli (2009) ainda explica que o principal problema encontrado pelos verdes no Brasil foi conseguir legalizar o partido, em virtude das dificuldades impostas pela legislação eleitoral vigente na época. A conquista do registro legal provisório se deu somente em 1988, quando o Partido Verde brasileiro participou das eleições municipais pela primeira vez, conseguindo eleger 20 vereadores, distribuídos entre os Estados da Paraíba, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Nesse mesmo ano, o PV expandiu para outras regiões brasileiras, especialmente a região amazônica, onde os verdes conquistaram como aliado o líder dos seringueiros, Chico Mendes, que participava como observador de diversas reuniões e convenções do PV. Chico chegou a cogitar sua filiação ao partido, a fim de disputar uma vaga a deputado pelo Estado do Acre, no entanto, foi assassinado em 22 de dezembro de 1988. Sua morte repercutiu por todo o planeta.

Por seu turno, Rabóczkay (2004) aponta que o registro definitivo do Partido Verde foi alcançado somente em 30 de setembro de 1993, mediante decisão unânime do TSE - Tribunal Superior Eleitoral.

Em 1992, durante a Conferência da UNCED (United Nations Conference on Environment and Development), também conhecida como RIO 92, por ter sido realizada na cidade do Rio de Janeiro, o Partido Verde brasileiro promoveu uma reunião planetária dos verdes. Era a primeira vez que todos se encontravam para trocar experiências e, a partir desse encontro, iniciou-se a organização das Federações de Partidos Verdes que têm como objetivo o compartilhamento de aprendizados, ideias e vivências, assim como também impulsionar a consolidação programática dos partidos (RABÓCZKAY, 2004).

Em 2001, em Camberra, na Austrália, foi promovido um encontro mundial dos Partidos Verdes denominado Global Greens. Na ocasião, foi aprovada a Carta Verde da Terra – primeiro documento unificado de todos os Partidos Verdes do mundo. Em 2008, na cidade de São Paulo, o Brasil sediou a já oitava edição desse encontro, reunindo quase cem Partidos Verdes de diferentes nações. Ainda em 2008, nas eleições municipais, o PV brasileiro alcança sua maior representatividade no cenário político do país, elegendo 76 prefeitos (entre eles a primeira prefeitura de uma capital - Natal (RN), com a vitória da então deputada estadual Micarla de Sousa), 152 vice-prefeitos e 1.237 vereadores (TURTELLI, 2009).

Os verdes se organizam em quatro Federações: a Federação Européia dos Partidos Verdes, a Federação dos Partidos Verdes das Américas (na qual o PV brasileiro está inserido), a Federação dos Partidos Verdes da África e a Federação dos Partidos Verdes da Ásia e Oceania. Na Europa, o Partido Verde possui grande expressividade política, participando de diversos governos e representando a quarta maior bancada no Parlamento Europeu (RABÓCZKAY, 2004).

No Brasil, o código eleitoral do PV é o 43, sua cor é o verde e seu símbolo, destacado abaixo, é um círculo (representando o planeta) com a inserção da letra V no centro.

O Programa Partidário12 do Partido Verde brasileiro aborda, concomitantemente, temas de ordem ambiental e também social, tais como: economia verde, educação para cidadania, ecodesenvolvimento, cultura e comunicação, ecologia urbana, saúde, reprodução humana, cidadania feminina, justiça e segurança, defesa nacional, energia, política nacional de meio ambiente, grandes ecossistemas, globalização da economia e política externa planetária (PARTIDO VERDE, 2013b).

Segundo o Programa, o PV no Brasil representa um instrumento da ecologia política. Assim, sua existência só deve fazer sentido na medida em que servir para avançar suas ideias e programa na sociedade, transformando concretamente a realidade do país. O PV brasileiro relaciona-se com os partidos e movimentos verdes de outros países com base na autonomia, fraternidade e solidariedade. Ele se propõe a aplicar uma estratégia conjunta e ações coordenadas em favor do ecodesenvolvimento, da solução negociada de conflitos políticos e do respeito às liberdades democráticas, justiça social e direitos humanos em todos os países do mundo (PARTIDO VERDE, 2013b).

Ainda segundo seu programa partidário, no 4º parágrafo do capítulo ‘Princípios’, o PV brasileiro afirma que não tem a intenção de se classificar em polos políticos:

O PV não se aprisiona na estreita polarização esquerda versus direita. Situa- se à frente. Está aberto ao diálogo como todas as demais forças políticas com o objetivo de levar à prática as propostas e programas verdes. O PV identifica-se com o ideário de esquerda no compromisso com as aspirações da grande maioria trabalhadora da população e na solidariedade com todos os setores excluídos, oprimidos e discriminados. Defende a redistribuição da renda, a justiça social, o papel regulador e protetor do poder público em relação aos desfavorecidos e os interesses da maioria dos cidadãos, não só diante do poder econômico, como dos privilégios corporativistas. Mas não segue os cânones da esquerda tradicional, da mesma forma com que questiona a hegemonia neoliberal, duas vertentes do paradigma produtivista do século XIX. Os verdes buscam na ecologia política, novos caminhos para os problemas do planeta (DIREÇÃO EXECUTIVA ESTADUAL DO PARTIDO VERDE BAHIA, 2009, p.15).

Por fim, de acordo com o seu site oficial13, o Partido Verde é centrado em 12 valores principais, quais sejam:

Ecologia: a preservação do meio ambiente, o ecodesenvolvimento (ou desenvolvimento sustentável), a reciclagem e a recuperação ambiental permanente;

12 Disponível em: < http://pv.org.br/opartido/programa/>. Acesso em: 16 fev. 2013. 13 Disponível em: <http://www.pv.org.br>. Acesso em: 16 fev. 2013.

Cidadania: o respeito aos direitos humanos, o pluralismo, a transparência, o pleno acesso à informação e a mobilização pela transformação pacífica da sociedade;

Democracia: o exercício da democracia representativa, por meio do processo eleitoral e da existência de um poder público eficiente e profissionalizado, combinado com mecanismos participativos e de democracia direta, sobretudo em âmbito local, por meio de formas de organização da sociedade civil e conselhos paritários com o poder público;

Justiça Social: condições mínimas de sobrevivência com dignidade para todas as pessoas. Direitos e oportunidades iguais para todos. O poder público como regulador do mercado protegendo os mais fracos e necessitados, garantindo o acesso a terra e promovendo a redistribuição da renda através de mecanismos tributários e investimento público;

Liberdade: a liberdade de expressão política, criação artística, expressão cultural e informação; o direito à privacidade; o livre arbítrio em relação ao próprio corpo; a autonomia e a iniciativa privada, no âmbito econômico;

Poder Local: o fortalecimento cada vez maior do poder local, das competências municipais e das formas de organização e participação da comunidade. Para transformar globalmente é preciso agir localmente;

Espiritualidade: a transformação interior das pessoas para a melhoria do planeta. Reconhecimento da pluralidade de caminhos na busca da transcendência através de práticas espirituais e de meditação ao livre arbítrio de cada um;

Pacifismo: o desarmamento planetário e local, a busca da paz e o compromisso com a não violência e a defesa da vida;

Multiculturalismo: a diversidade, a troca e a integração cultural, étnica e social para uma sociedade democrática e existencialmente rica. Preservação do Patrimônio Cultural. Contra todas as formas de preconceito e discriminação racial, cultural, etária ou de orientação sexual;

Internacionalismo: a solidariedade planetária e a fraternidade internacionalista diante das tendências destrutivas do chauvinismo, etnocentrismo, xenofobia, integrismo religioso, racismo e do neofascismo a serem enfrentados em escala planetária, assim como as agressões ambientais de efeito global;

Cidadania Feminina: a questão masculino/feminino deve ser entendida de forma democrática, avançando no sentido de se conceber uma profunda interação entre os dois polos, nos diversos setores da sociedade, visando a uma real adequação às necessidades circunstanciais. Homem e mulher devem buscar, como integrantes do sistema social, mudanças e transformações internas que venham a se traduzir numa prática de caráter

fundamentalmente cooperativo. Maior poder, maior participação e maior afirmação da mulher e dos valores e sensibilidade feminina, além do combate a todas as formas de discriminação machista ou sexista, por uma comunidade mais harmônica e pacífica;

Saber: o investimento no conhecimento como única forma de sair da indigência, do subdesenvolvimento e da marginalização para uma sociedade mais informada e preparada para o novo século. Erradicação do analfabetismo, educação permanente e a reciclagem de conhecimentos durante toda a vida. Prioridade ao ensino básico, garantia de escola pública, gratuita e de qualidade para todos.