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JORNALISMO TECNOLÓGICO: CONCEITOS EM TRANSIÇÃO

3 NOTÍCIAS NA TV: TEMPO DE TRANSIÇÃO

3.2 JORNALISMO TECNOLÓGICO: CONCEITOS EM TRANSIÇÃO

O mapeamento das alterações que demarcam o estágio contemporâneo da experiência em sociedade torna possível observar que a condição de necessária relativização dos conceitos e flexibilização dos sistemas retira da razão – e de sua herança da Modernidade – o valor supremo sobre todas as coisas. Dessa maneira, conceitos, epistemologias e processos

organizativos flexibilizam-se, entrando na esfera de complexificação e relativização ao não encerrar em si conceitos absolutos. Marcondes Filho (2002) diz que o fim da crença nos pressupostos modernos afetou também a confiança no jornalismo e no seu papel como instância de mediação dos saberes da Modernidade:

(...) a razão (a verdade, a transparência) impondo-se diante da tradição obscurantista, o questionamento de todas as autoridades, a crítica da política e a confiança irrestrita no progresso, no aperfeiçoamento contínuo da espécie, ele se viu órfão quando balançaram os alicerces da modernidade (falência do discurso humanista depois de Auschwitz e Hiroshima) e desorientado quanto esta (“o progresso do homem”) começou a perder terreno diante da sedução mediática irracional e mágica (TV) e da hegemonia das técnicas no fim do século. (MARCONDES FILHO, 2002, p. 9).

Se a razão com a qual se identificava não se traduz mais na epistemologia contemporânea, também o lugar do jornalismo e sua significação mudam na transição da Modernidade para a sociedade atual. Em uma época de conceitos rediscutidos e pouco definidos, a flexibilidade e a volatilidade que passam a se expressar como características fundantes das trocas de simbólicas desse novo momento se apresentam como valores estruturantes da prática jornalística atual. Em conseqüência disso, segundo Marcondes Filho (2002), o jornalismo assume uma nova feição divorciada das suas formas históricas ao entrar em novos domínios e ao assumir novas práticas que podem levar à sua descaracterização. O autor defende a idéia de que a crise do modelo e dos valores ocidentais da modernidade, que gerou o desencanto com as grandes narrativas e grandes embates políticos e promoveu a ascensão do individualismo, retirou do jornalismo sua vinculação a movimentos coletivos de organização e luta, movidos pelo investimento em um mundo melhor, e o enfraqueceu:

Por esse mesmo motivo, o processo de desintegração da atividade, seu enfraquecimento, sua substituição por processos menos engajados (que já não buscam a “verdade”, que já não questionam a política ou os políticos, que já não apostam na evolução para uma “sociedade mais humana”) é um sintoma de mudança dos tempos e dos espíritos. Mudamos para uma época semelhante àquela que Nietzsche atribuía a toda a modernidade: o de uma época fraca, decadente, niilista (MARCONDES FILHO, 2002, p. 14).

É sob esse ideário de crença nas pequenas utopias e no presente “aqui e agora” (Maffesoli, 1995), em substituição às grandes causas humanas que pressupunham uma aposta no futuro, que a prática jornalística passa a constituir a sua valoração e formatação. Para Neveu (2006), o deslocamento da atenção de um público desinteressado na política, mais orientado para a busca da felicidade privada se reflete no que chama de “jornalismo de

mercado” ou “jornalismo de comunicação”. Para o autor, desengajado, o jornalismo de mercado vai se transformando numa instituição outra, de fronteiras pouco claras entre todas as outras instâncias produtoras de informação:

O resultado possível de um jornalismo de mercado é a dissolução da profissão jornalística num continuum de profissões da comunicação ilustrada pelo neologismo americano media worker. Tanto pesquisadores (Lavoinne, apud Martin, 1991) como jornalistas (Guillebaud, 1990) alertaram para esse risco. Os índices de uma evolução como essa são legíveis na mistura crescente das fronteiras entre profissões ligadas à produção de informação. Nas revistas jornalísticas em geral, ou nas revistas locais, o lugar dado às informações produzidas pelas empresas e associações põe em dúvida a realidade de uma fonte clara entre o estatuto de fonte e o estatuto de redator. O desenvolvimento de uma imprensa institucional (de coletividades locais, empresas) suscita debates repetidos sobre a identidade profissional dos colaboradores de suas mídias (NEVEU, 2006, p. 163).

Também Berger (2002) fala da indefinição do jornalismo e de sua essência como resultado de um fenômeno próprio da sociedade contemporânea:

Se o primeiro jornalismo, dizem os estudiosos, corresponde à modernidade como função crítica e esclarecimento do mundo, o atual está associado ao impacto das imagens – o jornalismo de tevê que se alastra como conceito para o jornalismo impresso – e a inversão dos papéis profissionais: o jornalista (senhor dos relatos) não descobre mais os fatos, mas é buscado pelos interessados em versões. Quando o jornalismo se confunde com as outras profissões da área – publicidade e propaganda e relações públicas – se apresenta coerente com a sociedade contemporânea. Nela não se reconhece mais a essência das coisas e já não há condições para discernimento (BERGER, 2002, p.147).

Além de se dissociar do engajamento político e assumir as características de um jornalismo de mercado, para seguir a expressão de Neveu (2006), a prática jornalística vem mostrando outras alterações por conta das mudanças tecnológicas, políticas e econômicas que integram o processo de transição para a Sociedade em Rede.

Conforme aponta Fonseca (2005), essas mudanças que dizem respeito aos efeitos do neoliberalismo e à formação dos grandes conglomerados multimídia, vão promover alterações sensíveis na prática jornalística, uma vez que esta vai abandonando tanto sua vocação de instituição esclarecedora do mundo, quanto seu processo fordista de produção, para atingir um lugar outro de produção da notícia, muito mais “produto” e muito mais próximo do entretenimento, em sintonia com as próprias características do regime de acumulação flexível. Ou seja, as novas tecnologias em associação à imposição das altas taxas de rentabilidade dos negócios de mídia mostram que a prática jornalística abandona gradativamente a busca de mediação de saberes para ser tornar um serviço/produto:

A notícia, entendida como o relato, a interpretação e a análise de fato/evento de

interesse público, vem perdendo o caráter de expressão do jornalismo. Em algumas dessas novas organizações multimídia, vem se definindo cada vez menos por critérios de noticiabilidade vinculados ao interesse público e mais por critérios relativos à prestação de serviços e entretenimento. A cada dia, novos cadernos, seções e produtos são lançados com a finalidade muito mais de entreter que de informar, explicar e analisar o que é, por natureza, complexo na realidade social. Assim, o jornalismo vai se desfigurando, deixando de significar forma de conhecimento para se configurar como mero serviço. Da mesma forma, o jornalista distancia-se da condição de mediador - aquele que relata, explica, interpreta e analisa questões de interesse público para a sociedade, contribuindo para o esclarecimento e a formação da opinião pública (FONSECA, 2005, p.16).

Para Bucci (2004), a transmutação do jornalismo, dentro da perspectiva da Sociedade em Rede, promovida pela interligação das possibilidades tecnológicas e mirando o aumento da rentabilidade mostra que o “negócio” do jornalismo fundiu-se com o entretenimento por conta da fusão das empresas jornalísticas com as empresas de entretenimento. E Neveu (2006, p.158) se agrega a esta idéia para dizer que este movimento de busca pela rentabilidade máxima do jornalismo e os procedimentos a ele associados produzem um investimento nas

soft news por serem elas capazes de atender ao objetivo da maximização dos públicos81:

Esse tipo de escolha, que constitui uma evolução internacional, se traduz pelo aumento das soft news e de uma informação-serviço e pelo declínio da cobertura do exterior, do parlamento. A redefinição de uma hierarquia das editorias se completa com a importância dada às informações com forte conteúdo emocional, à velocidade da cobertura (NEVEU, 2006, p.158).

Neveu (2006) acredita ainda que o investimento nas soft news coloca o jornalista num lugar de “conselheiro” em relação ao público, o que também acaba por contribuir para a tendência de erosão dos limites claros da profissão na sociedade contemporânea:

Ele valoriza as soft news, uma informação-serviço que vá ao encontro dos interesses de seus públicos nos domínios da saúde, do lazer e do consumo. Funcionando como a interface entre uma oferta de bens, de serviços e de conselhos e os públicos de consumidores, ele pena hoje para marcar sua autonomia em relação aos promotores dessa oferta. O jornalista de comunicação age como conselheiro, até como amigo, mantendo uma relação de familiaridade com seu público, divertindo-o. Ele se despoja então de toda postura de autoridade, de autor de uma relação cívica (NEVEU, 2006, p. 164).

Neste sentido, o jornalismo deixa, cada vez mais, a idéia de informação como direito público e transforma o público cada vez mais em mercado consumidor. Vilches (2006)

81 Segundo Neveu (2006, p. 158) a escolha organizacional realizada em 1995 pelo Miami Tribune (Cook, 1998)

é ilustrativa. As editorias ficaram em número de nove, consideradas “úteis e importantes” pelos estudos sobre os leitores: educação, esporte, meio ambiente, política local, saúde, geral, Flórida, América Latina, consumo.

observa que muitos dos grandes jornais pertencem a empresas submetidas ao intercâmbio de fluxos de recursos tecnológicos, de capital, de pessoal, que produz bens e serviços, entre outros o jornalismo. Segundo o autor estas relações que estruturam a atividade do grupo podem chegar a perturbar a representação patrimonial ou o valor que desfruta, entre as quais estão as identidades estáveis como liberdade de expressão ou exercício vocacional do jornalismo.

Para o autor, a mutação da essência do jornalismo conduzida pelos valores de mercado é um fenômeno próprio da virtualização e desterritorialização das relações, especialmente econômicas. Por essa perspectiva, Vilches (2006) diz que a informação, é tratada e distribuída sob a orientação do que chama de “criação de valor”. Ou seja, a informação, ainda que sem confirmação ou imprecisa, é publicizada por meio da instituição jornalística, no sentido de produzir um discurso valorativo superestimado de produtos e serviços das grandes organizações econômicas mundiais, concedendo a essas empresas, dessa forma, vantagem competitiva, num tempo onde a informação, como lembra Castells (2003) é matéria-prima. O jornalismo, então, trabalha no sentido de “lubrificar continuamente a máquina de criação de valor”, por tratar e distribuir a informação que, com o suporte das novas tecnologias, contribui para a “criação de valor sem discussão”:

O apagão de Nova Yorque em 2003 causado pelo mau funcionamento das hidrelétricas e que devolveu a cidade emblema da pós-modernidade à época pré- industrial, as quebras das superempresas como a Enron e a WorldCom, afetadas pela corrupção, bem como a explosão das empresas ponto.com têm como denominador comum: a criação de valor acima da qualidade dos serviços. Se a função das empresas é gerar benefícios imediatos, o objetivo principal é lubrificar a máquina de criação do valor (VILCHES, 2006, p.157).

Nessa perspectiva, Ramonet (1999) retoma a ironia feita por Halimi (1997) quando, ao nomear os jornalistas “cães de guarda”, por conta de sua esperada função como fiscalizadores do Estado nas sociedades democráticas, acabam reverenciando o poder econômico:

(...) a imprensa escrita e audiovisual é dominada por um jornalismo de reverência, por grupos industriais e financeiros, por um pensamento de mercado, por redes de comunicação de conivência. Um pequeno grupo de jornalistas onipresentes impõe sua definição de informação-mercadoria a uma profissão cada vez mais fragilizada pelo medo do desemprego. Eles estão a serviço dos donos do mundo. São os novos cães de guarda (RAMONET, 1999, p. 40).

Neste sentido também Steinberger (2003) chama a atenção para o fato de os possíveis efeitos das informações jornalísticas interferirem no tratamento dado às notícias. Segundo ela, essa dinâmica é fruto da aplicação da lógica do capitalismo globalizado aos discursos jornalísticos que promove mudanças acerca do valor do discurso informacional:

Já não se estrutura apenas a partir de representações do mundo (conhecimento), mas de efeitos potenciais que o ato de informar provoque sobre o mundo (resultados). Perdeu valor de uso e adquiriu valor de troca. O grau de previsibilidade de seus efeitos é, contudo, muito menor do que o das representações (STEINBERGER, 2003, p. 177).

Essa valoração de troca, no que diz respeito à informação, está em consonância com a dinâmica do Tecnocapitalismo (Kellner, 2006), onde o conhecimento técnico e científico, bem como a informatização e a automatização desempenham papel análogo à força humana na era do Industrialismo. Assim, a informação é cada vez mais produto ou mercadoria, e por isso, não avaliada por sua conotação de uso, enquanto direito do cidadão, mas como valor de troca, igual a qualquer mercadoria. Por isso, McChesney (2004) diz que o “melhor jornalismo” é o afinado com a classe empresarial e adequado às suas necessidades e preconceitos. Essa condição torna-se especialmente perigosa na medida em que, mesmo não estando mais totalmente identificada com os pressupostos racionais da modernidade, a condição de transparência da prática jornalística a partir dos pressupostos de objetividade e imparcialidade não foi dissolvida completamente por ser ainda defendida pela instituição como seu grande valor, garantidor da credibilidade. Por essa razão, o que da fonte jornalística se originar sempre desfrutará de algum grau de “verdade” na medida em que, comprometido com a retratação da realidade, sua produção é assim compreendida e simbolizada. No dizer de Fonseca (2006):

Para sustentar a hipótese de que a cada etapa do capitalismo, e a cada regime de acumulação dominante na organização da produção, predomina uma concepção de jornalismo, argumenta-se com a prevalência da notícia como sua expressão durante todo o período fordista e parte do pós-fordista, apesar do aprofundamento do seu caráter de mercadoria. Diz-se em favor dessa tese que, apesar da mercantilização crescente, vinha prevalecendo um esforço em delimitar espaços editorias e publicitários, em preservar a neutralidade, ainda que aparente (…) (FONSECA, 2006, p. 6).

Vê-se que o jornalismo converte-se num claro exemplo da dupla função que os produtos da indústria cultural assumem na sociedade contemporânea (Moraes, 2004), na articulação dos processos mundiais, conforme já apontado neste trabalho. Na medida em que os meios de comunicação passam a ser, em tempos globais, tanto a infra-estrutura por meio da

qual as informações circulam, quanto a superestrutura enquanto produção simbólica, o jornalismo assume neste particular uma condição estratégica por estar associado à instância comprometida com a referencialidade. Segundo Moraes (2004):

A virtualização de informações passa a ser elemento-chave para a diminuição do tempo de respostas de executivos e investidores diante das sucessivas variações dos mercados. Não é casual o boom dos sofisticados sistemas em tempo real de agências noticiosas transnacionais, como Bloomberg e Reuters, que coletam, selecionam e fornecem, a peso de ouro, um volume ininterrupto de dados específicos. Os informes formam uma cadeia de conhecimentos que, processados de modo diferenciado, ajudam a instituir as intervenções de trades, corretores e analistas (MORAES, 2004, p. 195).

A virtualização das informações, que vai contribuir para a aceleração das trocas simbólicas, põe em foco a velocidade como valor e característica no jornalismo contemporâneo, por conta da aceleração dos movimentos em sintonia com a compressão tempo-espaço (Harvey, 2001) da sociedade atual. Moretzshon (2002) diz que as próprias corporações de mídia, ao trabalharem de acordo com a lógica do "tempo real" do capital financeiro, concorrem para a desqualificação do trabalho de mediação fundamental ao exercício do jornalismo. Para a autora, a impressão do ritmo do tempo real e da instantaneidade inviabiliza a tarefa de interpretação dos fatos, que é um dos requisitos básicos dessa profissão.

Neste sentido, o jogo de informações está especialmente amarrado à tecnologia, evidenciando, mais uma vez, que as transformações políticas e econômicas estão no entorno dessas inovações tecnológicas. É nessa perspectiva que Marcondes Filho (2002) explica as alterações da prática jornalística como conseqüência das transformações tecnológicas a ponto de constituírem, como já se disse, a fase do jornalismo tecnológico. Nesta fase, diz o autor, a relativização do lugar do jornalismo é explicada pelas novas tecnologias de comunicação e informação por promoverem novos fenômenos na sociedade contemporânea.

Um deles diz respeito ao que chama de expansão da indústria da consciência no plano das estratégias de comunicação e persuasão dentro do noticiário e da informação. O jornalismo da era tecnológica, movido pela aceleração dos processos informacionais, promove a superabundância da produção jornalística, possibilitada pelas novas condições tecnológicas, a partir de órgãos especializados na produção da informação em escala. No entanto, ao tentar qualificar a prática, produzindo um sentido de atualização contínua da

informação, o jornalismo promove o excesso que, na visão de Marcondes Filho (2002), justamente, acaba por depreciá-lo, retirando de si o status de referencial da razão inquestionável associado à modernidade.

Por outras palavras, é dizer que a produção e a distribuição de informação em grandes quantidades acaba por produzir o efeito de banalização dos fatos. O tempo real tenta dar à notícia uma condição de compartilhamento do fato “em tempo real” a quem a recebe por, supostamente, ter acesso a ela no momento em que acontece. No entanto, freqüentemente, a sobrevalorização da informação atual e “ao vivo”, impõe-se à informação precisa e com conteúdo na medida em que o sentido de urgência não disponibiliza tempo para a apuração e para a interpretação dos fatos. Diz Neveu (2006) que a velocidade torna-se, por isso, significado de “excelência dos fatos”:

A possibilidade técnica de uma informação em “tempo real” contribuiu para uma forma de redefinição do acontecimento, hoje associada à transmissão ao vivo, tomando como referência seu poder de fazer compartilhar com o público uma ação, se possível emocional, no momento em que ela acontece. O revés do movimento reside na valorização de informações de fraca significação (o míssil das 20 horas” no telejornal da Guerra do Golfo), a quase impossibilidade de um distanciamento analítico dos atentados ou catástrofes. Os perigos dessa conversão da velocidade em excelência profissional que a tecnologia autoriza se mostram mais consideráveis ainda nas redações multimídia como a do Chicago Tribune (Klinenberg, 2000). O princípio torna-se aqui lançar a informação, desde sua coleta, no canal mais propício a garantir o furo e a acessibilidade imediata. Algumas horas de reflexão e de antecipação entre coerência de redação e fechamento se evaporam, substituindo os prazos já angustiantes da informação cotidiana pelo que um jornalista descreve como “ciclone informacional” permanente, em que o imperativo de apuração da informação se torna uma dificuldade. O volume de informações tornadas tecnicamente disponíveis na Internet introduz também um fantástico desafio para o jornalista. O acesso direto a conjunto de fontes nas quais se abastecem os jornalistas (notas de agência, comunicados oficiais) os priva de um recurso estratégico. Firmas, associações e instituições multiplicam os sites, oferecendo uma informação preocupada em não levar prejuízo a sua imagem (...) (NEVEU, 2006, p. 166).

Ramonet (1999) diz que a conseqüência para o jornalismo, nesse momento, da “abundância da informação” a partir das novas condições tecnológicas é resultado do que chama de mimetismo mediático. Todos os meios de comunicação e ou suportes, especialmente os de referência, apontando para a o jornalismo, lançam-se na cobertura precipitada dos acontecimentos, dispensando uma importância excessiva aos mesmos. Os diferentes media, assim, se auto-estimulam. Quanto mais falam de um assunto, mais se convencem coletivamente de que o assunto é indispensável, central, capital, e que é preciso

fazer a cobertura. E a mídia, sujeita à concorrência, é levada, quase apesar dela, a esta superoferta (RAMONET, 1999).

Na mesma perspectiva de Ramonet (1999), também Marcondes Filho (2002) aponta outro ingrediente do contexto da superinformação que diz respeito à dramaticidade e à hiperemoção da narrativa jornalística. Segundo Marcondes Filho (2002) a exploração desses elementos vai condicionar a “verdade” de uma informação ao seu potencial de emocionar e tocar o público. E nesse processo, os recursos tecnológicos são fundamentais.

Marcondes Filho (2002) também aponta como característica do jornalismo tecnológico a substituição do agente humano jornalista por sistemas de comunicação eletrônica, pelas redes, pelas formas interativas de criação, fornecimento e difusão das informações. São várias fontes tecnológicas que recolhem material de todos os lados e produzem notícia. Cada vez mais, a tecnologia faz pelo e no lugar do jornalista. E um bom exemplo é o que acontece na redação. Segundo Marcondes Filho (2002), as novas tecnologias agem em dois planos, virtualizando o trabalho e interferindo radicalmente nos conteúdos:

Em relação ao trabalho, o homem da redação, acostumado a escrever sobre o papel, a participar fisicamente do ambiente com os colegas, a ver seu produto “realizado” como objeto jornal, passa a se submeter à lógica imaterial da tecnologia (...) e a se adaptar à completa volatilização do ambiente de trabalho e do produto final (MARCONDES FILHO, 2002, p. 30).

Em relação aos conteúdos, o autor acredita que a tecnologia interfira priorizando algumas linguagens em favor de outras. A visibilidade técnica cobrada na qualidade das imagens acaba se impondo como um modelo estético no jornalismo, tanto de televisão, quanto impresso, ou mesmo na web. A prioridade, assim, é a cena perfeita, depois, um texto, uma narrativa, uma notícia e é exatamente o que a tecnologia pode viabilizar através de seus