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de julho de 1908, aprova o regulamento que reorganiza a Colônia Correcional de Dois

Ascenção Social e Cultural da Capoeira

de 19 de julho de 1908, aprova o regulamento que reorganiza a Colônia Correcional de Dois

Rios, cuja parte referente ao capoeira está assim

elaborada:

“Título II, Capítulo I–Dos casos de internação. Art. 51. A internação na Colônia é estabelecida para os vadios, mendigos, capoeiras e

desordeiros.903

Em nossos dias, embora na prática não funcione, a Consolidação das Leis Penais estabelece no seu artigo 46 que: A pena de prisão correcional será cumprida em colônias fundadas pela União ou pelos Estados para a reabilitação, pelo trabalho e instrução, dos mendigos válidos, vagabundos ou vadios,

capoeiras e desordeiros.904

Munida de um instrumento jurídico, pôde a polícia dar vazão aos seus instintos, massacrando a torto e a direito os capoeiras que encontrava: estivessem ou não em distúrbios, a ordem era o massacre. O Brasil, que nasceu sem uma polícia organizada, começou a pensar nisso a 24 de outubro de 1626 com a primeira ideia de se organizar, no Rio de Janeiro, uma polícia inspirada nas Ordenações Filipinas, tendo como patrono o ouvidor-geral do crime Luís Nogueira de Brito. O trabalho era gratuito e executado por funcionários chamados

quadrilheiros devido à atuação no serviço ser

feita por quadras tendo cada uma um responsável. A tarefa era manter a tranqüilidade da cidade e evitar o vício e a delinqüência. Como esta estivesse proliferando com o crescimento da cidade, surge em 1725 o governador Luís Vahia Monteiro, com punho de ferro, para impedir o crime e por isso foi apelidado de O

Onça, devido à semelhança de sua ferocidade

com a do animal. Dai a polícia só veio sofrer reestruturação e por sinal de base, em 1808.

Com a chegada de D. João VI ao Brasil em 1808, a coisa tomou outro rumo. O medo dos capoeiras e o receio de ser liquidado por espiões estrangeiros ou mesmo intrigas da corte, como medida de segurança cuidou, mui de logo, dar uma nova e mais segura estrutura à polícia. Como houvesse o Marques de Pombal, por alvará de 25 de junho de 1760, instituído uma Intendência Geral de Polícia de Portugal, D. João VI não perdeu tempo em fazer a transposição do mesmo para o Brasil, através de um alvará de 10 de maio de 1808. Coma o dito fosse por demais despótico e desumano, foi violentamente criticado, em Londres, por

Hipólito José da Costa, no Correio

Brasiliense.905

D. João, como era natural, pensou em colocar no alto posto uma pessoa de sua extrema confiança, que no caso seria Diogo Inácio de Pina Monique, que havia sido intendente de polícia em Portugal, durante 28 anos. Na impossibilidade de se concretizar a escolha, a preferência recaiu no brasileiro, a desembargador Paulo Fernandes Viana, homem famoso pela desempenho de cargos importantes no Brasil e em Portugal e também pela sua inteligência, honestidade e rigidez. Uma vez nomeado o primeiro intendente de polícia do Brasil, tratou de organizar uma Secretaria de Polícia, nos moldes da de Lisboa. Assim, contando já com alguns elementos necessários à expansão do seu programa de realizações, Paulo Fernandes Viana propôs a criação da Guarda Real de Polícia, o que foi conseguido pelo decreto de 13 de maio de 1809. Mantida a

princípio com seus próprios recursos e de amigos, confiou a sua direção a uma pessoa de estrita confiança que foi o major Miguel Nunes Vidigal, verdadeiro terror dos capoeiras, daí importante destaque de sua administração na história da capoeira. A sua pessoa era algo atemorizante. Chegava inesperadamente nos quilombos, rodas de samba, candomblés e fazia miséria. Aos capoeiras, que foram a sua mira principal, reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava

Ceia dos Camarões. Em Melo Barreto Filho e

Hermeto Lima se lê esta notícia sucinta de sua personalidade: – Era um homem alto, gordo, do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um sangue-frio e de uma agilidade a toda prova respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que no golpes de

cabeça e de pés era um todo inexcedível.906 Deu

conta do recado, prestando os serviços desejados por D. Pedro I e D. Pedro II, principalmente no combate fulminante aos quilombos, candomblés e capoeiras, merecendo promoções várias, até quando faleceu, a 10 de junho de 1853, como Marechal de Campo e Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Depois da criação da Intendência de Polícia, o capoeira não teve mais sossego, tendo por algozes os seguintes intendentes, em ordem cronológica:

1. Conselheiro Paulo Fernandes Viana, de 10 de abril de 1808 a 26 de fevereiro de 1821; 2. Desembargador Antônio Luís Pereira da Cunha, de 2 de fevereiro de 1821 a 16 de janeiro de 1822;

3. Desembargador João Inácio da Cunha, de 16 de janeiro de 1822 a 28 de outubro de 1822;

4. Desembargador Francisco da França Miranda, de 29 de outubro de 1822 a 17 de julho de 1823;

5. Desembargador Estevão Ribeiro de Resende, de 29 de outubro de 1823 a 9 de novembro de 1823;

6. Desembargador Francisco Alberto Teixeira, de 11 de novembro de 1824 a 15 de agosto de 1827;

7. Desembargador José Clemente Pereira, de 1827 a 1828;

8. Dr. Nicolau de Siqueira Queirós (interino ), 1828;

9. Desembargador Antônio Pereira Barreto Pedroso (interino), 1828;

10. Desembargador Antônio Augusto Monteiro de Barros, 1829;

11. Desembargador Antônio José Araújo Bastos, 1829;

12. Desembargador José Pita Gavião Peixoto, 1831;

13. Conselheiro Caetano Mário Lopes Gama, 1831.

Com a promulgação do Código de Processo

Criminal de Primeira Instância do Império do Brasil, a 29 de novembro de 1832, foi extinto o

cargo de Intendente de Polícia e criado o de Chefe de Polícia ocupado somente por juiz de direito no artigo 6 do Capítulo I das Disposições

Preliminares.907 Daí em diante o regime

monárquico conheceu uma dezena de chefes de polícia sendo o último nomeado quando da constituição do 36º e último gabinete do Império, sob a presidência do Visconde de Ouro Prêto, que foi o turbulento capoeira e inimigo dos mesmos, Conselheiro José Basson de Miranda Osório. A seu respeito Raimundo Magalhães Júnior transcreve este relato de Almeida Nogueira: Baixo, claro, louro, olho azuis e imberbe. Perito na arte da capoeiragem, destro e

valente cacetista. Bom estudante, ainda que muito amigo da caçadas noturnas de perus, cabritos e até cavalos, esporte em grande voga nas rodas académicas daquele tempo. Sorteado uma vez para se apoderar de rotundo peru que os caçadores haviam descoberto num quintal, o Basson executou com toda a audácia o mandato. Foi, porém, surpreendido quando já havia deitado a unha na cobiçada presa. Apesar da chuva de pancadaria que lhe caiu sobre o costado, não largou o peru raciocinando, explicou ele depois, que pior seria apanhar a sova e ainda ficar sem o peru. Teve que guardar a cama, no satisfeito dos carinhos contundentes

com que fôra mimoseado.908

A criação de uma Intendência de Polícia e o punho forte de Vidigal não extinguiu os capoeiras e muito menos o problema dos constantes conflitos entre eles e a polícia, sobretudo no que tange ao uso de armas por parte dos capoeiras. A arma comum a todos eles era a navalha, a qual manejavam com uma destreza invulgar. Na Bahia, segundo Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado), usavam uma faca feita de braço ou canela de defunto, cuja furada fazia uma ferida difícil de cicatrizar, justamente por isso a polícia vasculhava tudo e todos em busca dessa arma, daí o seu preço altíssimo. Usava também outro tipo de faca chamada faca de ticum. O ticum é uma palmácia também conhecido por tucum (Bactris setosa, Mart.), que dá uma fruta também conhecida pela garotada por Mané Velho e cujas fibras são usadas na fabricação da famosas redes de

ticum. Pois bem, segundo me informou capoeira

Cobrinha Verde (Rafael Alves França) a madeira tem a resistência do ferro, daí a confecção de facas, e também tem poderes mágicos contra

mandinga. Besouro (Manuel Henrique), o temível

capoeira, seu primo e seu mestre, segundo corre entre os capoeiras antigos, confirmado pelo próprio Cobrinha Verde, foi morto em 1924, em consequência de um ataque com faca de ticum, em Maracangalha, não morrendo de imediato, sendo transportado para o hospital da Santa Casa da Misericórdia de Santo Amaro da

Purificação; somente quinze dias depois é que veio a falecer.

Usavam pouco a navalha. Geralmente entregavam às mulheres de saia, como eram chamadas as negras africanas ou decendentes, para esconderem na cabeça entre o cabelo e torso, tomando-a no momento preciso.

No Rio de Janeiro usavam o petrópolis, uma espécie de bengala grossa, às vezes esculpida e encastoada ou simples porrete, assim chamado por analogia a Petrópolis, cidade do Rio de Janeiro.909 A propósito da origem e história

dessas bengalas, há o seguinte depoimento de Taunay:

Na esquina as ruas D. Afonso e Protestantes (hoje 13 de Maio) o prédio do barão do Pilar, o qual pertenceu depois ao capitalista Delfim Pereira e posteriormente à princesa D. Isabel, que ainda possui, depois de o ter aumentado muito.

No morro fronteiro, fazia figura o chalet, em estilo quase clássico grego (que singular enxerto arquitetónico!) do falecido Carlos Spangenberg, cujas bengalas, algumas bem artisticamente esculpidas, concorreram para também dar voga popular ao nome Petrópolis. Ainda nos nossos dias costuma-se dizer um bom petrópolis por um bengalão respeitável e capaz de dar valentes cacetadas sem se lascar.910

Após ter assistido a uma desordem de capoeiras em que o petrópolis teve ação destacada, o viajante alemão Carl Von Koseritz ecreveu em 1883:

No dia 29 à noite fomos convidados apra uma

soirée em Botafogo, e quando, à meia-noite,

deixávamos na Lapa o bonde de Botafogo, a fim de pegarmos o Plano Inclinado, vimos um grupo de indivíduos patibulares ocupados em pegar fogo, com auxílio de petróleo, nas portas do “Cassino Fluminense”. De repente chegou a