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Juventude, educação e desigualdade racial

4 JUVENTUDE E EDUCAÇÃO

4.4.2 Juventude, educação e desigualdade racial

A violência é um grande problema da população não-branca e um grande indicativo da desigualdade. Ela afeta vários segmentos da sociedade, incluindo a educação. Em 2015 a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE 2015, realizada pelo IBGE, trouxe uma série de indicadores a respeito dos estudantes que frequentavam o 9º ano do ensino fundamental naquele ano. Segundo dados da PeNSE 2015:

13,1% dos estudantes brancos e 15,4% dos pretos ou pardos do 9º ano do ensino fundamental não compareceram à escola por falta de segurança no trajeto casa- escola ou na escola, nos 30 dias anteriores à data da pesquisa. Mais da metade dos alunos pretos ou pardos estudavam em estabelecimentos localizados em área de risco, em termos de violência, isto é, em escolas que informaram estar situadas em região com risco de furto, roubo, consumo de drogas ou homicídios. A diferença é mais acentuada quando a comparação é feita entre os estudantes brancos e os pretos ou pardos de escolas privadas. (IBGE, 2015, p. 10)

Os Gráficos abaixo ilustram os dados da PeNSE 2015.

Gráfico 8 - Dados em porcentagem do pense 2015 de escolares freqüentando o 9º ano do ensino fundamental.

Fonte: IBGE, 2015.

O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial (IVJ) classifica as Unidades da Federação em quatro dimensões: violência entre os jovens, frequência à escola e situação de emprego, pobreza no município e desigualdade (UNESCO, 2017). Os valores vão de 0,0 até 1,0 sendo que quanto maior o valor, maior o contexto de vulnerabilidade dos jovens daquele território. Em 2017, os resultados do IVJ classificaram doze estados brasileiros como de alta vulnerabilidade juvenil à violência, sendo oito da região Nordeste e quatro da região Norte. Classificados com média vulnerabilidade, três são da região Norte, dois do Centro-Oeste, dois da região Sudeste, um da região Sul e um da região Nordeste. Na faixa de menor vulnerabilidade estão dois estados do Sudeste, dois da região Centro-Oeste e dois da região Sul. O estado da Paraíba apresentou IVJ de 0,442, ou seja, alta vulnerabilidade (UNESCO, 2017). Na realidade da pesquisa não conseguimos apreender elementos consistentes com corroboram com isso, apenas alguns elementos “intraescolares” já abordados na fala de Eriberto.

O Brasil tem uma área total de 8,5 milhões de km2, nesta área o país conta com 5.570 municípios com cerca de 182 mil estabelecimentos de ensino e teve o número de 48,5 milhões de matrículas na educação básica em 2018. Deste número 5,5 milhões foram matrículas na

zona rural, 256,9 mil matrículas na educação indígena e 258,6 mil matrículas em áreas quilombolas. No sistema escolar brasileiro há uma taxa de 11,7 pontos percentuais entre a taxa líquida de matrículas entre jovens brancos e pretos no Ensino Médio (TPE, 2019).

Além das matrículas, há também de se considerar a frequência escolar. A PNAD 2018 pesquisou a taxa ajustada de frequência escolar líquida que afere a proporção de pessoas que frequentam ou já concluíram o nível de ensino adequado para sua faixa etária, que também aponta desigualdades, em razão de cor ou raça (PNAD, 2018). De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, a taxa de alfabetização que mais cresceu no período de 2012 a 2018 foi a de pretos. Em 2012, 87,7% deles estavam alfabetizados. Em 2018, a taxa subiu para 91%. Entre os pardos, o índice era de 88,1% em 2012 e passou a 90,9% em 2018 (TPE, 2019)

No entanto, “a proporção de jovens de 18 a 24 anos de idade de cor ou raça branca que frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior (36,1%) era quase o dobro da observada entre aqueles de cor ou raça preta ou parda (18,3%)” (IBGE, 2018) como mostra o Gráfico a seguir.

Gráfico 9 - Taxa ajustada de frequência escolar líquida da população residente de 6 A 24 anos de idade, segundo grupos de idade e nível de ensino em porcentagem.

Fonte:IBGE, 2018.

Comparado com os outros anos, o abandono escolar diminuiu entre os jovens pretos ou pardos de 18 a 24 anos, de 2016 a 2018, mas ainda é mais forte que entre os brancos. De acordo com o PNAD 2018, a “proporção de pessoas pretas ou pardas de 18 a 24 anos de idade com menos de 11 anos de estudo e que não frequentavam escola caiu de 30,8% para 28,8%, mas a proporção de pessoas brancas na mesma situação, em 2018, era 17,4%” (IBGE, 2018).

Os dados da pesquisa também mostraram que embora apresentem melhores indicadores educacionais que os homens de mesma cor ou raça, a taxa de conclusão do ensino médio dos homens brancos era maior que a das mulheres pretas ou pardas (72% e 67,6% respectivamente) (IBGE, 2018).

Gráfico 10 - Taxa de conclusão do ensino médio em porcentagem.

Fonte:IBGE, 2018.

Em 2018, a taxa de ingresso no Ensino superior era de 35,4% na população preta ou parda e de 53,2% na população branca. Neste ano,a porcentagem de estudantes pretos ou pardos de 18 a 24 anos cursando o ensino superior foi de 55,6%. Um fator para a diferença de proporção entre os estudantes foi apontado na pesquisa como a proporção de jovens pretos ou pardos que não dão seguimento aos estudos porque precisam de sustento. Da taxa de jovens de 18 a 24 anos com ensino médio completo que não estavam frequentando a escola por terem que trabalhar, 61,8% erapreto ou pardo (IBGE, 2018). A pesquisa também aponta que:

Outro obstáculo é refletido pela taxa de conclusão do ensino médio da população preta ou parda (61,8%), que, embora tenha aumentado desde 2016 (58,1%), continua menor que a taxa da população branca (76,8%). Essa taxa mede a proporção de pessoas com 3 a 5 anos acima da idade esperada de frequência no último ano do ensino médio (de 20 a 22 anos de idade) que concluíram esse nível. Em todas as Grandes Regiões do País, observou-se uma proporção menor de pessoas pretas ou pardas de 20 a 22 anos apta a cursar o ensino superior, sendo a maior distância em relação às pessoas brancas observada na Região Sul (19,2 pontos percentuais) (IBGE, 2018, p. 8)

De acordo com os dados do Censo do Inep/MEC de 2019, o Brasil tem 7.153.671 estudantes matriculados no Ensino Médio, distribuídos percentualmente da seguinte forma:

1,2% no âmbito do ensino federal, 85,9% no estadual, 1,1% no municipal e 11,8% no privado. Dos 85,9% de jovens que estão na escola estadual, mais de um terço o fazem à noite com professores que trabalham em três turnos e em escolas diferentes cujos salários são baixíssimos. Outro dado alarmante é revelado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2010), demonstrando como o Ensino Médio ainda é negado no Brasil. Dezoito milhões de jovens entre 15 e 24 anos estão fora da escola e 1,8 milhão, em idade de estar no Ensino Médio, não o frequentam.