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O LABIRINTO NOS TEMPOS DA JUVENTUDE

1.1. Juventude ou juventudes?

O objetivo deste capítulo é fazer uma análise do que se entende por juventude e como essa categoria se constitui historicamente. Nos estudos realizados para sistematização dos dados ora apresentados foram identificadas duas vertentes de análise do que se está buscando no momento: a construção do conceito teórico de juventude.

Essas vertentes são independentes e, ao mesmo tempo, complementares. Uma delas identifica o jovem a partir da análise histórica da construção das etapas do aprendizado, da relação com o velho, ou seja, com a pessoa que “teria” a responsabilidade de ensinar, de transmitir, e que não necessariamente seria o pai ou a mãe, colocada esta relação numa situação de submissão. Outra vertente analisa a juventude pela relação conflituosa com “tudo e com todos”: o jovem que contesta, que tem o potencial de mudança, mas essas mudanças sempre estão associadas com o “desvio” ou com a “anomia”.

A rebeldia, que ora é vista pela positividade, quando enviesada pelo processo histórico de ruptura com as diversas formas de exploração do capital, logo é interpretada como resistência ao sistema; ou, pela negatividade, quando o jovem ganha o papel do delinquente e nesse perfil é identificado o jovem oriundo da classe trabalhadora que vive na periferia.

O rótulo construído pela sociologia da juventude é claramente influenciado pelas escolas francesa e norte-americana de Chicago, sendo que ambas assumem um olhar positivista em sua análise, mesmo quando pensam o jovem e sua atitude contestadora como forma de resistência, pois essa visão é feita única e exclusivamente para o jovem burguês e a este sempre é dado lugar de destaque nas análises. Sua contestação seria parte do processo de formação de uma classe dominante que está sempre à frente daqueles que são dominados e tidos como sujeitos sem qualificação e sem causa.

Pensar uma sociologia da juventude significa entender como o conceito de juventude foi construído a partir dos resultados das pesquisas na temática, para que se possa avançar nas reflexões. Trata-se de outra forma de olhar

esses trabalhos, tendo em mente algumas orientações teóricas, a começar por aquela expressa por Bourdieu11 (1998, p. 24), quando nos alerta para o perigo da construção do objeto, marcado pela oposição entre “teoria” e “metodologia”. Ainda seguindo Bourdieu (1998)12, tomar a juventude por objeto implica

pensá-la num contexto de relações na qual está inserida, adotando como método uma luta constante contra qualquer forma de percepção do mundo social como substancialista. Pensar em termos de relações significa, aqui, também colocar em evidência os mecanismos relativamente arbitrários na categorização de populações pré-construídas. Para Bourdieu (1998, p. 28), “[...] seria tomar para objeto o trabalho social de construção do objeto pré- construído: e aí que está o verdadeiro ponto de ruptura”.

Juventude não é simplesmente uma categoria etária ou biológica. Compreende-se, pois, porque, mesmo modernamente, a conceituação da juventude não é consensual. Uma hipótese observada para a ausência de consenso diz respeito à transformação de indicadores “objetivos” de base biológica valor, sustentados por estilos de vida considerados apropriados e modernos.

Segundo Novaes e Vannuchi13 (2004) e Novaes14 (2004)15, na concepção das sociedades clássicas grego-romanas, a juventude se referia a

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De origem campesina, filósofo de formação, foi docente na École de Sociologie du Collège de France. Desenvolveu, ao longo de sua vida, diversos trabalhos abordando a questão da dominação e é um dos autores mais lidos em todo o mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política. Também escreveu muito sobre a Sociologia da Sociologia. A escolha do autor se deu pelo fato de que, para o objeto em estudo, ele é uma importante referência.

12 BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 13

Paulo de Tarso Vannuchi é graduado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, de 1977 a 1980, com mestrado em Ciência Política também na USP. Ocupou o cargo de Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República de dezembro de 2005 a dezembro de 2010. Teve participação efetiva nos movimentos de esquerda durante o regime de exceção. Trabalhou na elaboração do livro "Brasil Nunca Mais", coordenado por dom Paulo Evaristo Arns.

14 Regina Célia Reynes Novaes possui graduação em Ciências Sociais pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979) e doutorado em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1989). Professora do Programa de Pós- graduação em Sociologia e Antropologia, do IFCS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, orientou pesquisas de iniciação científica, dissertações e teses nos seguintes temas: movimentos sociais, juventude, religião, cultura, cidadania e violência. Foi editora da Revista Religião e Sociedade de 1995 até 2005. Aposentou-se da UFRJ em 2005, prosseguindo com

uma idade entre os 22 e os 40 anos. Juvinis vem de aeoum, cujo significado etimológico é “aquele que está em plena força da idade”. Naquela cultura, a deusa grega Juventa era evocada justamente nas cerimônias do dia em que os mancebos (adolescentes) trocavam a roupa simples pela toga, tornam-se cidadãos de pleno direito. Hoje, de acordo com a maioria dos organismos internacionais, considera-se como juventude a faixa etária de 15 a 29 anos. No entanto, outras idades já são propostas em abordagens acadêmicas, na dinâmica da vida política e na mídia. Com essas idades oscilantes, convivem contraditórias imagens e expectativas: “juventude perigosa, juventude como lugar de esperança e juventude como o paradigma do desejável e muitas outras” (NOVAES; VANNUCHI, 2004, p. 38).

A Organização Internacional da Juventude (OIJ)16 define os limites etários entre 15 e 24 anos, já a Organização Mundial da Saúde (OMS/OPAS) os define entre 10 e 20 anos. A UNESCO17 fez um marco comparativo e utiliza como referência a idade entre 14 e 20 anos, indicando em seus documentos que é nessa idade que o jovem constrói sua identidade. Pois é nessa fase que o desenvolvimento físico, as capacidades cognitivas e as experiências sociais coincidem, facilitando ao adolescente rever e sintetizar suas identificações orientações de teses e dissertações anteriormente iniciadas no PPGSA. Foi Secretária Nacional de Juventude - Adjunta e presidente do Conselho Nacional de Juventude de 2005 até março de 2007. Entre março de 2007 e setembro de 2009, como consultora do Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas (IBASE), participou da coordenação geral da pesquisa Juventude e Integração Sul Americana, desenvolvida simultaneamente em seis países vizinhos. Em 2009 também atuou como consultora sênior do PNUD/Nações Unidas para a realização do Informe Juventude e Desenvolvimento Humano nos países do Mercosul. Em 2010 coordenou, em conjunto com Silvia Ramos, a pesquisa da UNESCO sobre políticas públicas de Juventude no Brasil. Como pesquisadora do CNPq, desenvolve projetos de investigação na área de Juventude, Religião e Política.

15 NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.). Juventude e Sociedade: trabalho,

educação, cultura e participação.. São Paulo: Editora Perseu Abramo e Instituto cidadania, 2004.