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(Guenko Gosho, pág. 1465 a 1467)

O kalpa de diminuição tem sua origem na mente humana. À medida que os venenos da avareza, ira e estupidez intensificam-se gradativamente, a duração da vida dos seres humanos decresce correspondentemente e a estatura diminui.

Antes da introdução do budismo nas terras da China e do Japão, os clássicos externos dos Três Soberanos, Cinco Imperadores e Três Sábios eram utilizados para ordenar a mente das pessoas e governar o mundo. Entretanto, como as mentes das pessoas perdiam gradativamente a benevolência e ficavam cada vez mais maldosas, a sabedoria desses clássicos, uma vez que era superficial, não podia mais refrear as ofensas dessas pessoas, pois sua maldade era profunda. Por ter-se tornado impossível governar o mundo por meio dos clássicos externos, os sutras budistas foram introduzidos gradativamente e, quando foram empregados no governo, a tranqüilidade foi restituída ao mundo. Isso se deu unicamente porque a sabedoria do budismo elucida completamente a natureza da mente das pessoas.

O que é denominado atualmente 'escrituras externas' difere essencialmente dos clássicos externos originais. Quando o budismo foi introduzido, os clássicos externos e as escrituras budistas rivalizaram- se. Porém, como oportunamente os clássicos externos foram derrotados e o soberano e o povo deixaram de empregá-los, os adeptos dos clássicos externos tornaram-se seguidores das escrituras internas, e o confronto anterior chegou ao fim. Nesse interim, contudo, os seguidores dos clássicos externos extraíram o âmago das escrituras internas, aumentando deste modo a sua sabedoria, e incorporaram-no

aos clássicos externos. Soberanos tolos presumem que tal sabedoria deriva da excelência dessas obras eternas.

Além disso, enquanto a sabedoria benéfica diminuía gradativamente e uma sabedoria perniciosa passava a dominar as mentes das pessoas, apesar de os homens tentarem governar a sociedade através de escrituras budistas, o mundo não ficava em paz quando eles empregavam a sabedoria dos sutras Hinayana. Nessa época, os sutras Mahayana foram propagados e usados no governo, e a ordem foi, até certo ponto, restaurada no mundo. Depois disso, pelo fato de a sabedoria dos ensinos no Mahayana ter-se tornado por sua vez inadequada, a sabedoria do sutra do veículo único foi produzida e utilizada para governar o mundo e, por um período breve, o mundo esteve em paz.

Na época atual, nem os clássicos externos, nem os sutras Hinayana, nem os sutras Mahayana, nem o veículo único do Sutra de Lótus possuem qualquer efeito. A razão disso é que a intensidade da avareza, ira e estupidez na mente das pessoas compete com a superioridade da benevolência do Grandiosamente Iluminado e Honrado pelo Mundo. Para ilustrar, um cão, na acuidade de seu faro, é superior ao homem; ao farejar o cheiro de pássaros e animais, seu nariz não é inferior ao poder olfativo natural de um grande sábio. A aguçada audição da coruja, a precisão visual do gavião, a graça do linguajar do pardal, e magnificência do corpo do dragão - tudo isso supera até mesmo as faculdades de um homem sábio. Desta forma, o grau extremo de avareza, ira e estupidez na mente das pessoas no mundo impuro dos Últimos Dias está além do poder de controle de qualquer sábio ou homem digno.

Isso porque apesar de o Buda ter curado a avareza com o remédio da meditação sobre a vilania do corpo, de ter sanado a ira com a meditação sobre a compaixão por tudo, e de ter tratado a estupidez com a meditação sobre a cadeia de doze elos de geração dependente, ensinar essas doutrinas agora simplesmente torna as pessoas piores e aumenta a sua avareza, ira e estupidez. Por exemplo, o fogo é extinto pela água, e o mal é vencido pelo bem. No entanto, se a água é derramada sobre o fogo que emergiu da água, terá, contrariamente, um efeito igual ao do óleo produzindo conflagração ainda maior.

Agora, neste maléficos Últimos Dias, o grande mal surge menos de más ações seculares do que os relacionados com as doutrinas do mundo religioso. Pelo fato de as pessoas hoje não terem consciência disso e tentarem cultivar raízes de mérito, o mundo decai ainda mais. Dar apoio aos sacerdotes da Tendai, Shingon e outras seitas de hoje pode parecer um ato de mérito, mas na realidade é um grande mal que supera até os cinco pecados cardeais e os dez maus atos.

Por esse motivo, se houver um homem sábio no mundo com sabedoria igual à do Grandiosamente Iluminado e Honrado pelo Mundo, o qual,

para restaurar a ordem no mundo, encontre um soberano sábio como o Rei Sen'yo, e se juntos derem um fim completo a esses atos de 'bondade' e cometerem o grande 'mal' de censurar, banir, suprimir donativos ou mesmo decapitar as pessoas das oitos seitas que julgados homens de sabedoria, então, o mundo com certeza seria até certo

ponto pacificado.

Isso é explicado no primeiro volume do Sutra de Lótus, onde consta: "O Verdadeiro Aspecto de todos os fenômenos só pode ser compreendido e compartilhado por budas". Na frase "consistência do início ao fim", 'início' indica a raiz do mal e raiz do bem, ao passo que 'fim' significa o resultado do mal e resultado do bem. Aquele que despertou completamente para a natureza do bem e do mal, de suas raízes aos seus ramos e folhas, é denominado Buda. Tientai afirma: "A vida a cada momento é dotado dos Dez Mundos". Chang-an afirma: "O Buda considerou esta doutrina a razão máxima (de seu advento). Como poderia ser fácil de compreender para algum ser ?". Miao-lo acrescenta que "essa é a revelação última da verdade final e suprema". O Sutra de Lótus proclama: "(E não importando o que ele pregue de acordo com a sua compreensão) jamais ira contradizer a verdade". E, Tientai interpreta isso como "nenhuma questão da vida ou do trabalho difere de forma alguma da realidade última". Uma pessoa de sabedoria não é alguém que pratica o budismo separadamente dos assuntos mundanos mas, ao contrário, é alguém que compreende inteiramente os princípios pelos quais o mundo pode ser governado.

Quando a dinastia Yin tornou-se corrupta e as pessoas estavam sofrendo, Tai-Kung Wang surgiu no mundo e decapitou o Rei Chou, acabando com a angústia do povo. Quando o segundo soberano (da mesma dinastia) levou o povo a experimentar a amargura, Chang Liang apareceu e restaurou a ordem no mundo, possibilitando-lhe conhecer a doçura. Embora esses homens tenham vivido antes da introdução do budismo, eles ajudaram as pessoas como emissários do Lorde Sakyamuni. E, apesar de os adeptos dos clássicos externos não terem consciência disso, a sabedoria desses homens incorporava em sua essência a sabedoria do budismo.

Se no mundo atual, na época do grande terremoto da era Shoka ou na ocasião do enorme cometa da era Bun'ei tivesse havido um soberano de notável sabedoria, ele certamente teria dado atenção a mim, Nitiren. Ou, mesmo se não o fizesse, quando irrompeu a disputa dentro do clã dominante no nono ano de Bun'ei (1272) ou quando os mongóis atacaram no nono ano da mesma era (1274), ele deveria ter-me recebido como o Rei Wen da dinastia Chou recebeu Tai-kun Wang, ou me procurado como o Rei Kao-ting da dinastia Yin procurou Fu Yueh percorrendo sete ri de distância. Assim, afirma-se que o sol e a lua não são tesouros para alguém que é cego, e que um homem digno será odiado por um governante tolo. Em vez de prosseguir detalhadamente, encerrarei aqui. O âmago do Sutra de Lótus é exatamente como explanei. Não deve considerá-lo de outra maneira. Um grande mal pressagia a chegada de um grande bem. Se a totalidade de

Jambudvipa foi atirada ao caos, não poderá haver dúvidas de que (este sutra) irá 'propagar-se por todo o continente de Jambudvipa'.

Estou enviando Daishin Ajari para visitar o túmulo do falecido Rokuro Nyudo. No passado, era da opinião de que se houvesse pessoas na região de Kanto que tivessem ouvido este ensino eu próprio iria até seus túmulos e recitaria o Jigague. Contudo, se fosse lá sob as atuais circunstâncias, toda a província saberia no mesmo dia, e isso causaria um alvoroço que alcançaria até mesmo Kamakura. E embora elas possam ter uma fé inabalável, onde quer que eu vá, as pessoas deste lugar têm de temer os olhos dos outros.

Como ainda não fui visitá-lo, pensei no quanto o falecido Rokuro Nyudo deveria estar ansiando por me ver, e que deveria haver algo que pudesse fazer. Portanto, antes de tudo, enviei um discípulo para recitar o Jigague diante do túmulo. Peço sua compreensão em relação a isto. Com meu profundo respeito.

Fundo de Cena

Tanto a data como o destinatário deste Gosho são desconhecidos, embora se acredite que tenha sido escrito no Monte Minobu algum tempo após 1276. A julgar pelo parágrafo conclusivo, Nitiren Daishonin pode tê-lo enviado, por intermédio de seu discípulo Daishin Ajari, a alguém do clã do falecido Takahashi. Rokuro Hyoe Nyudo, um praticante que viveu em Kajima, no distrito Fuji, província de Suruga. A partir da afirmação inicial: "O Kalpa da diminuição tem a sua origem na mente humana", Nitiren Daishonin explica que o mundo decai em conseqüência da ilusão humana. À proporção que a avareza, ira e estupidez na mente das pessoas intensificam-se, ensinos progressivamente mais elevados tornam-se necessários para contê-las. Nos atuais Últimos Dias da Lei, esses venenos estão tão difundidos que os ensinos provisórios não só são incapazes de refreá-los, mas também, na realidade, agravam-nos muito mais. Nessa era, esclarece Nitiren Daishonin, os piores males na verdade não advêm dos delitos seculares, mas do apego as formas provisórias de budismo, cuja prática não serve mais para se acumular o mérito conducente à iluminação.

Citando a passagem do capítulo Hoben (2) do Sutra de Lótus que diz, "O verdadeiro aspecto de todos os fenômenos só pode ser compreendido e compartilhado entre budas", Nitiren Daishonin explana que somente a sabedoria de Buda consegue discernir a verdade suprema que trará paz ao mundo. Ele também explica que uma pessoa de verdadeira sabedoria não é alguém que efetua a disciplina budista isolado do mundo, mas alguém que entende totalmente os princípios

pelos quais o mundo pode ser gerido. Isso está de acordo com o ensino do Sutra de Lótus de que a realidade última manifesta-se em todos os fenômenos. Nesse sentido, pode-se dizer que até mesmo os sábios ministros do passado, que ajudaram a trazer paz às suas dinastias nas épocas anteriores à introdução do budismo, compreenderam uma parte da Lei Budista.

Embora o soberano do Japão não tenha ouvido a admoestação de Nitiren Daishonin de que somente a fé na Lei Mística poderia devolver a paz ao país, este continuou convicto de que o seu ensino um dia floresceria. Conforme sugere o título deste Gosho, "O Kalpa da Diminuição", os desastres que atormentavam a sociedade em seu tempo, tais como o grande terremoto da era Shoka (1275) e o cometa da era Bun'ei (1264) foram considerados por Nitiren Daishonin, num sentido, como fatos gerados pela ilusão humana e apego a ensinos inferiores. Entretanto, num outro sentido, de acordo com o que indicam as palavras do Gosho "um grande mal pressagia a chegada de um grande bem", Nitiren Daishonin também interpreta-os como prenúncios da ascensão e propagação da Lei. O Gosho é concluído com expressões de preocupação com o bem-estar do devotado seguidor, o falecido Rokuro Nyudo.

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